domingo, 9 de junho de 2013

1- Demar/ 2- Visita ao moribundo


Parte I – Demar

1 – Enfim...você conhece aquele cara gordão, barba meio cinzenta e coisa assim...um sujeito gigante que tá sempre de porre? Cabelo estilo soldado.

2 – Conheço um mundo de sujeitos assim, cara. Um monte de motoqueiros metidos a nazi, mamados de pinga e pó e breja.

1 – Não, esse é fácil de reconhecer. Tava sempre com uns dois ou três pacotinhos daqueles M&M's de amendoim no bolso, saca? Aquele amarelo, sabe? Comia direto, falava que era a melhor coisa do mundo.

2 – Não fode, cara. Como alguém consegue preferir aquele lixo de amendoim? Odiava quando tinha só esse na caixa de bombom.

1 – Não gostava também, não.

(Silêncio)

2 – Mas o que tem ele? Acho que lembro quem é...acho.

1 – É, o cara bebeu até o fígado dele virar uma pedra etílica dentro do corpo e agora precisa de um novo pra tipo...ontem. Tá no hospital, nas últimas. O fígado parou de funfar de vez e agora ele tem umas alucinações e tal...tá ficando meio demente também por causa disso.

2 – Hmmm...que azar, puta merda. Mas por que?

1 – Como "por que"? Ele bebia umas duas garrafas por dia desde moleque.

2 – Não, por que ele tá demente e alucinando e tal?

1- Ah, por causa daquele fígado inútil dentro do cara. Para de limpar o sangue e zoa todo o cérebro, sabe. Coisa louca...bem cruel.

2 – Eu sei, perdi um padrinho por isso. Coitado dele. (SILÊNCIO) Faz você pensar em parar de beber?

1 – Não. E você?

2 – Não muito.

1 – Não é um problema pra mim

2- Pra mim também...não muito, pelo menos. Mas provavelmente ele devia pensar isso também

(SILÊNCIO)

2 – Ele era meio quietão quando a gente saia, por isso não lembrava dele. Nunca tava com ninguém, nunca tinha namorada e coisa assim. Lembrei dele agora...é...ele bebia que nem um cão de rua sem ninguém. Mas ele não vai conseguir um fígado novo no hospital? Não vai tentar doação?

1 – HAHAHA, doação, cara? Quem é que vai doar um fígado novinho em folha pra um cara desses diluir ele inteiro em álcool e drogas de novo? Não...vão deixar o cara lá no hospital, morrendo lentamente, querendo um drink e um cigarro, mas não vai dar nada pra ele porque vão dizer que é para que ele fique melhor, mesmo sabendo que vai morrer. Ele não é o Raul Seixas, né? Não...o fígado novinho em folha vai pra algum paciente com câncer ou com alguma doença que não foi ele quem causou. Ou talvez pra algum empresário alcoólatra podre de rico que mereça mais um orgão novo do que ele.

(SILÊNCIO)

2 – Lembra aquela vez lá no Estádio que ele levou um tapa na cara e umas cuspidas de umas garotinhas que tinha começado a conversar do nada? Do nada, cara, elas apenas riram do que ele disse e começaram a azucrinar o sujeito. Depois disso ele chegou com um sorriso no rosto pra gente, como se não tivesse acontecido nada...puta, foi engraçada a cara dele. Aí depois ele bebeu até quase desmaiar, mas não sem vomitar dentro do decote da Bia antes.

(RIEM)

1 – HAHAHA...lembro, cara. Ri muito nesse dia.

2 – Ele era meio patético de se ver assim...acho que combinava mais com porres e ressacas mesmo.

1 – Aquele cortezinho de cabelo...parecia o carinha daquele Nascido Para Matar, saca?

2 – Gommer Pyle. Hahaha, é. Mas ele era firmeza. Quando abria a boca falava umas coisas hilárias...às vezes saia alguma outra coisa interessante também.

1 – Ou às vezes só gorfava álcool puro.

(SILÊNCIO)

2 – Qual era mesmo o nome dele?

1 – Não lembro o primeiro nome. Nunca soube. Chamavam ele sempre de Demar.

Corta.


Parte II – Visita especial ao moribundo

Passos de salto alto no corredor da UTI. Passos ritmados e sem pressa de uma garota que anda serena no meio daquele ambiente tão denso e triste. Portas abertas e semi abertas, casais, famílias, crianças, idosos, muitos idosos com seus entes e visitantes em seus quartos, sofrendo a morte sorrateira e sozinha, mesmo rodeados pelos que se importam por eles. A moça desbrava aquele corredor branco e vazio, enfermeiras e médicos estão todos ocupados no momento, aparentemente. Ou estão fumando cigarros no térreo, no último andar, nas janelas abertas apenas por frestas para que os que estão nas últimas não cheguem às vias da morte mais cedo. Ela passa tomando um café fumegante, não olha para ninguém. Sua pele é branca e seus lábios vermelhos e grossos. Um enfermeiro perdido no corredor a vê caminhando e pensa numa cena de Kill Bill que lhe veio direto do inconsciente, tamanha semelhança com o personagem.
Ela termina o corredor branco, vira para a direita, outro corredor branco. Vai até o final desse, como no outro. 502, 504, 506, 508, 510. 512. A porta do 512 era a única fechada em todo o corredor. E a única que não parecia ter ruído algum por dentro, sem choramingos ou gemidos de dor, apenas um som semelhante ao do começo do sono profundo, minutos depois de deitar na cama após um dia cheio. A garota branca bate na porta três vezes, ninguém diz nada do outro lado da porta. Ela bate novamente, uma voz morta e decadente responde um "entra" bem baixinho e a garota killbilliana abre e disfarça um sorriso de alegria quando vê o homem deitado na cama. Não que estivesse fingindo a alegria de vê-lo, apenas não queria deixar transparecer o olhar de horror para o seu amigo havia virado depois que internado. Triste, muito triste.
  • Demar, como você tá, meu amor? - pergunta a bela dama
Demar está afundado em seu leito, com aparelhos hospitalares por todos os lados, infinitos barulhinhos incontáveis vindo das máquinas que estão pelo quarto, pequenas luzes desses grandes aparelhos vão do escuro ao vermelho, do escuro ao verde, do escuro ao vermelho. Todas sincronizadas com os apitos das máquinas. A garota não sabia como era possível aguentar uma internação na UTI por meses e meses. Demar estava lá havia um mês e meio e parecia já estar completamente insano com tudo aquilo. Seu olhar era vazio, seus olhos duas bolas amareladas e suas olheiras botavam medo até em assassino psicopata. Havia perdido muito do seu notório peso nesse tempo. Ao seu lado havia uma bandeja com comida que não foi tocada por ninguém. Uma sopa com cara de vômito de cenoura e uma gelatina azul. A moça sentiu seu estômago embrulhar e um gosto amargo vindo de dentro de seu corpo. Segurou aquilo e se aproximou do moribundo lentamente, ele fazia força para poder falar:
  • Ótimo...tirando que...tô na merda – e ri
Ela ri junto.
  • Você não perde a piada nem nessas situações, né?
  • Não – respondeu após alguns segundos lutando contra sua fraqueza
A garota sorri para Demar, um sorriso branco e grande. Aquilo foi a coisa mais agradável que o rapaz havia visto naquele hospital até agora, nem as enfermeiras estagiárias tinham chance com o sorriso dela. Então ele reparou que, além do sorriso, a garota passava a mão carinhosamente por seus cabelos que começavam a crescer mais do que ele já tinha deixado antes. Demar se sentiu como um cachorro abandonado, que recebe atenção e comida de alguém na rua durante o inverno. Pensou que deveria sentir vergonha de tamanha comparação, mas achou que era o retrato mais fiel da cena, ainda mais quando percebeu que estava de olhos fechados enquanto ela passava a mão pelos cabelos dele. Ele não sabia porque ela fazia aquilo, não era a hora certa para brincadeiras de provocações, no leito de quase morte daquele diabo. Achou estranho que não reconhecia a cor do cabelo da garota, aliás, não sabia qual cor escolher. Mudava do moreno total para o loiro escuro e depois pra um ruivo mais claro. Seus olhos também não tinham uma cor única quando ele os encarava. Iam do verde claro para o azul e depois um castanho esverdeado. Uma hora pareciam pretos como o de algum demônio e Demar achou que havia perdido a cabeça de vez para sua doença e, dali pra frente, só descida.
  • Você tá magro demais, Demar. Não tá com fome nenhuma? - Pergunta a garota preocupada
  • Pouco. A comida também...lixo
  • É, eu sei como é a comida do hospital.
É, ela sabe como é, disse Demar para si mesmo. Sabia porque o avô havia sido internado ali e ia visita-lo com seus diferentes namoradinhos durante a semana, depois da aula, há anos atrás. Sabia porque o avô comia a porcaria da comida hospitalar enquanto ela se agarrava com os garotos embaixo do blusão da escola, sentados ao lado do enfermo. Ela na verdade só sabia que a comida do hospital é um lixo porque o avô vomitava aquela gororoba vira e mexe e sobrava pra ela avisar a enfermeira sobre a necessidade de limpar aquele nojo. Mas ela não tinha experimentado, não. Ela não ficou deitada na cama sozinha por dias, semanas, comendo aquela bosta, furado por agulhas e torturado por exames, notícias ruins, mortes, visitas de antigos amores não correspondidos ou a falha quase total do seu fígado.
  • E quem tem te visitado aqui?
Demar ficou em silêncio e imóvel por um instante, como se não tivesse nem ouvido a garota falar algo.
  • Ninguém – respondeu com um tom de voz saudável
  • Ninguém? Claro que sim, o pessoal sabe que você tá aqui. Alguém te visitou.
  • Ah...não lembro de ninguém ultimamente.
  • Devia tá dormindo aí.
  • Durmo pouco.
Ficaram em silêncio um tempo, ouvindo os sons do quarto, como uma família de grilos hospitalares procriando por todo o cômodo. A janela estava um pouco aberta, mas o Sol ainda não conseguia entrar por completo. Ela foi até lá e abriu tudo, deixando a luz dominar o quarto. Demar sentiu a luz queimar sua retina, mas achou bom sentir o Sol mais uma vez, parecia até que estava fora daquela cama, fumando um cigarro na esquina de sua casa enquanto conversava com alguém e bebia uma cervejinha. Sentiu-se triste após esse pensamento feliz e a garota já havia voltado para seu lugar, numa cadeira que posicionou ao lado de Demar. Continuaram em silêncio mais alguns segundos e ela falou, dando um pequeno pulo como se tivesse acabado de se lembrar:
  • Ah...o Dani e o Heitor mandaram um beijo pra você. Falaram que vão colar aqui um dia desses, mas você sabe, né...tão ocupados demais fazendo nada.
  • Hahaha doidão aqueles dois haha – aquela risada saiu como um urso morrendo na floresta e pareceu tirar parte do que restava de energia do rapaz – Queria ver aqueles retardados mais uma última vez.
  • Para de falar besteira, Demar. Você...- e parou de falar, porque no fundo sabia que Demar tinha razão.
Ele olhou para a garota sem palavras e ela ficava linda com aquele olhar de duvida e seus cabelos e olhos multicoloridos analisando toda a decadência do ser Demar. Pensou em comentar com ela sobre isso, mas achou melhor não. Permaneceram em silêncio por mais tempo dessa vez, Demar com o olhar distante e vazio, ela observando aquele corpinho que agora não é nem metade do que foi antes. Antes gordo e ereto, postura quase militar, agora decadente e magricela, indo cada vez mais fundo em sua existência, chegando nas últimas goladas de água fria de sua vida. E só queria que nesses últimos goles tivesse 20% ou 30% de teor alcoólico, com grãos escoceses especialmente selecionados. Seus olhos agora pareciam de um verde vivo, brilhavam para ele, os cabelos foram do loiro para o preto. Estou perdendo a cabeça, pensou Demar, mas era melhor do que morrer são.
Alguns minutos mais tarde, Demar teve uma crise de tosses e começou a vomitar sangue quase que aos pés de sua visitante. Sentiu o líquido quente vindo de sua garganta e não pode evitar aquilo, vomitou tudo e quase desmaiou com a falta de ar. O sangue estava de um vermelho vivo, não havia nem um resto de comida não digerida no meio daquilo, apenas bílis e sangue. Demar virou-se envergonhado para a garota, que estava horrorizada com o sofrimento do amigo, tentou pedir desculpas mas quando abriu a boca apenas mais sangue saiu dela, como se tivesse levado um soco. Sentiu que havia se cagado todo na camisola do hospital, não sabia aonde enfiar sua cara. Não agora, por favor, não agora na frente dela, implorou para seu corpo. Não sabia se havia se cagado, não conseguia falar nada, sentiu sangue descendo lentamente pelo seu queixo e caindo na parte de cima da roupa que usava. A garota agora recuperava-se do susto e limpava a boca do amigo com a fronha de um travesseiro sem dono que estava por lá.
  • Dê...você tá bem? - perguntou assustada
Ele recuperava o fôlego aos poucos, ainda sem saber se tinha se sujado por trás também. Achou que não porque a garota ainda estava com ele. Viu que os olhos dela quase transbordavam lágrimas que ela teimava em não deixa-las descer pelo seu rosto liso e atraente. Ele se sentiu ridículo e teve dó de si mesmo por aquilo.
  • Tô. Legal que isso acontece, sabe...só quando você chega - ele ainda tinha dificuldade em falar
Ela passava a mão lentamente pelo cabelo dele.
  • Você viu que bonito fica o olho? Todo amarelo aonde era branco...diferente, né? - perguntou Demar para a garota, refirindo-se ao branco de seus olhos que estavam totalmente amarelados devido à doença.
  • Eu vi, Dê...eu vi – respondeu como uma mãe responde ao filho quando não está interessada em suas brincadeiras. - Você tá bem mesmo, Demar? Você vomitou muito sangue! Aonde tá a enfermeira? Não existe por aqui, não?
  • Tão trepando, caralho – a voz de Demar parecia de nervosismo e impaciência, mas depois ele se tocou – Desculpa. Tão fumando...comendo, demoram muito. Quarto escondido do... caralho.
  • Você quer alguma coisa? Eu vou pegar uma coisa no banheiro pra colocar nesse chão, pera aí – correu até o banheiro e Demar aproveitou para dar uma olhada no rabo dela com seus olhos amarelados de azar. Uma bela visão final, pensou. Ela voltou com a mão embolada em metros de papel higiênico e jogou em cima do vômito sanguinário, ao lado da cama de Demar – Pronto, quando eu sair eu chamo alguém pra vir limpar e depo...
  • Por que você veio aqui? - Interrompeu Demar e a garota não entendeu muito bem a pergunta
  • Como assim...pra te ver, Dê.
Ele soltou um riso sem vida e olhou para o teto, permaneceu em silêncio alguns segundos e a garota também, esperando que ele continuasse.
  • Por que você veio aqui? Pra me ver fodido? Ter certeza dos boatos? - ele levantava sua voz e ela enfraquecia aos poucos, depois teve um acesso de tosses e pensou que iria se vomitar todo novamente.
  • Que boatos, Demar. Eu vim te ver quando soube que você tava por aqui. Você sumiu e ninguém sabia aonde você tava, acharam que você tinha morrido atropelado quando tava bêbado. Quando me contaram eu vim assim que deu, pô. O que deu em você?
  • Você...você nunca me quis, filha...nem banhado em prata com grãos de ouro...por cima....me via e....
  • O que você tá falando, Dê? Isso de novo? Já tivemos discussões o suficiente em cima disso, não vim aqui pra isso, ok?
Ele ficou quieto olhando para o teto e depois fechou os olhos. Uma lágrima escorreu pelo lado que a garota não podia ver tão bem e ele ficou feliz por isso. Sugou as lágrimas para dentro dos olhos e pediu desculpas para ela. Estava perdendo a razão.
  • Eu não queria...você sabe – tentou se explicar
  • Eu sei, Demar, eu sei. Relaxa.
  • Que essa não seja, sabe, última lembrança minha que você guarde, sabe. Não fique...puta.
  • Para de falar assim, meu, sério. Não tô puta com você. Você que devia estar com você mesmo, ter se estragado todo assim. Você é novo pra caramba, Demar. Vai fazer o que agora?
  • Vô morrê.
Ela não respondeu e ele não teria ouvido se ela o tivesse feito. Olharam o silêncio, o sol entrando no quarto, o cheiro azedo subindo do chão, vindo direto do vômito asqueroso que ele soltou por lá.
  • Melhor você ir, sabe.
  • Eu fico mais, Dê. Vai ficar sozinho aí...zoado.
  • Não, não é um ambiente que eu gostava de frequentar antes...não quero que fique vindo aqui por mim.
Ela hesitou um instante, mas cedeu.
  • Você é quem sabe, Dê. Eu só queria te ver hoje, sentia sua falta, sinto mesmo...você que acha que não faz falta.
Demar pensou em comentar o fato de não ter recebido uma visita sequer nas últimas cinco ou seis semanas, mas já tinha injetado sua dose diária de sarcasmo hoje. Apenas sorriu para sua amiga e balançou a cabeça suavemente. Sentiu o calor das mãos dela nas suas, a pele macia e branca, o suor, a pontinha dos dedos rosada. Queria enfiar aqueles dedos na boca. Sentiu algo perto de sua virilha e torceu para que ela não olhasse mais pra baixo, já estava constrangido o suficiente deitado todo vomitado naquela cama dura. Fechou os olhos e dessa vez foi duro não chorar e a garota percebeu isso com a força com que ele fechava a mão dele na dela, como se não quisesse que ela soltasse nunca mais. Ela se sentiu triste por isso e teria ficado mais tempo com ele, se não tivesse ouvido:
  • Melhor ir andando, sabe. Gostei de te ver mais uma vez, coisa mais bonita que vi...não que seja difícil ser bonito nesse lugar, só tem velho pelado se cagando todo na porta do banheiro e gente chorando em cima de cadáver.
Ela riu. Até ele riu um pouco daquilo e não forçou.
  • Ok, eu tô indo, Dê. Gostei muito de te ver, tá? Muito. Melhore...logo, sabe? Por favor
  • Sim.
A garota abraçou-o com força, ela nunca tinha feito isso antes. Ele passou as mãos fracas e agora quase ossudas pelos cabelos dela, sentiu o cheiro de shampoo de limão, adorava aquele cheiro. Apertou ela mais forte ainda e imaginou como seria um grande desfecho beija-la, uma última brincadeira antes do fim. Ela se afastou de seu corpo mas ficaram a apenas alguns centímetros do rosto um do outro, ele olhando para os olhos multicoloridos e ela para os olhos amarelados. Ele se aproximou dela, de sua boca, ela elevou-se um pouco e deu um beijo molhado e longo em sua testa. Faz sentido, pensou Demar. A garota lembrou de um presente que havia comprado para ele:
  • Olha, olha...comprei pra você, sei que você ama isso.
Tirou de sua bolsa um pacote amarelo de M&M's. Ele riu um pouco e agradeceu.
  • Faz tempo que não como um desses. Meu preferido, valeu.
Ela se virou para ir embora e ele reparou novamente nos cabelos mudando de cor, agora do ruivo para um moreno amarronzado. Não se aguentou e perguntou:
  • Ei, o que fez no cabelo?
  • Ah eu cortei um pouco.
  • Haha, eu gostei bastante.
Ela sorriu o sorriso mais lindo que ele havia visto até aquele momento em toda a sua vida.
  • Sabe, ninguém reparou nisso, só você, Dê.
Ele não respondeu, apenas acenou um adeus para ela acompanhado de um sorriso. Ela mandou um beijo para Demar do batente da porta e saiu de sua vista, deixando seu cheiro, seu suor e a janela aberta com o Sol batendo no rosto do moribundo.



N.A: Algumas semanas depois, quando foram retirar o corpo sem vida de Demar, encontraram o M&M's amarelo jogado no lixo do quarto. Ainda fechado. Ele não recebeu outras visitas depois dessa, seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas em uma praça perto do centro por um enfermeiro que lhe concedia cigarros escondidos de madrugada.

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