sábado, 23 de julho de 2011

em um refúgio de imbecis numa sexta

leon grita meu nome várias vezes do portão
e quando finalmente ouço e ele finalmente entra
começamos a falar de assuntos corriqueiros e
bobos
vamos esquecer assim que mudarmos cada palavra
me troco e saímos daqui o mais rápido
o possível
para entrarmos em sua casa e ele procurar
dentro de uma luva de boxe
uma pequena coisa da cor das fezes de algum
animal
de cheiro forte
e uso conhecido
e proibido
ao longo do mundo
ele começa o que alguns chama de
arte
no seu quarto
com sua irmã
mulher
e avô
sentados na sala
vendo tv
programas sensacionalistas e inválidos
que não valem a pena nem que tenha sintonizado-os
alguma vez na vida;
e sua irmã
sua maravilhosa
pura
rosada
irmã
entra no quarto
e nos assusta
quase nos flagrando
e flagrando seu inocente irmão.
mas  não pega ninguém
e não vê não
ou fingi não ver nada
mas não importa para mim
nem para ele
e ela entrega o presente de aniversário dela para ele
uma calça cara
“ahh olha só, valeu tha”
“haha, nada demais, le”
e eu apenas admiro-a lentamente
tentando salvar um pedaço de seu rosto na minha mente
e apreciar um pouco os olhos azulados dela
mesclando com sua pele branquíssima
e sua boca rosada e linda
:se tem algo lindo nesse mundo
algo que vale a pena que soframos
são as bocas rosadas dessas mulheres:
e ela sai do quarto timidamente
e olho para o chão timidamente
enquanto ela volta para seu canto no sofá da sala
e com os programas sensacionalistas que não valem a pena serem sintonizados
:acho que são sintonizados, não sei:
leon sai e termina sua
arte
lentamente
e despreocupadamente
sem medo dos problemas
do desemprego
dos estudos
sem medo da vida
e muito menos da morte
apenas continua enrolando e
lambendo
aquele pequeno papelzinho
um  guardanapo de lanchonete
cortado com saliva
guarda no bolso aquilo e descemos as escadas
dou um tchau tímido à sua família
e sua irmã
com aquela boca inesquecível
e olhos da cor do paraíso
e tenho vontade de agarra-la
mas volto à minha realidade
e saimos da casa
e meu coração volta a bater normalmente novamente
livrando-me do nervosismo que é em situações como
esta.
andamos uns metros e acendemos sem pestanejar aquele comprido
e gordo
baseado
e passamos de mão para mão
enquanto subimos e descemos ruas e mais ruas de nosso bairro
e me canso rápido
e sinto o cheiro forte que vem das minhas mãos
e da minha boca
e do ar
a nossa volta
e minhas pernas já estão mais amaciadas
minhas mãos aquecidas e úmidas
meus olhos pequenos e marejados
e percebo que esse é o melhor momento que tenho desde
 muito tempo
e tento aproveitar enquanto estamos a caminho do metrô
encontrar um pessoal
alguns que vão sumir da minha vida em pouco tempo
outros que vão demorar para sumir
mas vão sumir de qualquer forma;
e uma garota diabólica me encara e canta algo sem sentido para mim e
para leon
e o rosto dela olhando para os meus
olhos
marejados
enquanto tentava não olhar para ela
e a estação parecia não chegar nunca;
nunca;
e nunca;
e quando saímos do trem
a corja
de pessoas
ao redor de nós
me dá vontade de vomitar
e sinto como se não conseguisse
lidar com aquela realidade
de pessoas ridículas
e no caminho para aquele bar
sinto que vou me arrepender de tudo aquilo
mas leon e eu continuamos caminhando por lá
com nossas cabeças flutuando por cima de nós
papeando coisas
sem muita profundidade
como nos velhos tempos;
ficamos naquele bar de esquina
por horas
no frio nórdico que fazia
sentindo cheiro de cigarros
etílicos
bucetas novas
rosas
que nunca teremos
se esfregando nas mãos de outros sujeitos
metidos a marginais
a bêbados
a viciados e conseguindo
tudo o que querem
sempre
e eu e leon continuamos tentando não falar muito
tentando sair de perto do cheiro de tabaco vagabundo queimado
mas cada vez sendo mais bombardeados com esse cheiro
e o excesso de pessoas ao nosso redor
conhecidas e não conhecidas
decentes e marginais
me fazem ter mais crença na minha teoria
de que todos os bares
de todos os tipos
só são o refúgio
 dos mais diferentes tipos de imbecis
que temos nas nossas cidades
e realmente me sinto inferior a todas as outras pessoas que conseguem se divertir
fora dos bares
e me sinto mal por haver tantas outras pessoas passando por nós
em  seus carros e motos
com suas famílias e mulheres e filhos e acompanhantes e transas casuais e amigas de foda
e me sinto envergonhado porque eles estão olhando para nós
cada um de nós tentando ser um melhor que o outro
em um bar semi-limpo de uma cidade toda suja;
conversas sobre brigas e ressacas são predominantes em recintos assim
cheias de exageros e gírias
execráveis
cheios de garotos da periferia que conseguem tudo o que querem
usando os mais diferentes meios
-legais ou ilegais-
e nunca tomando em seus
cus.
e me sinto mal novamente pensando nisso
a vontade de voltar pra cá era forte
e comento com leon sobre isso
que ainda estava preso em seus devaneios esfumaçados
“é, vamo”
                                                                responde cansado

e voltamos para nosso bairro
quando sentimos que nosso momento em um lugar daqueles
já passou há muito tempo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

salmão cru é meio ruim

sozinho em casa
sozinho na cidade
sozinho lendo
sozinho com música
sozinho tocando
sozinho sempre
graças a deus eu
estou
sozinho e
quando me vejo ao lado de alguém
eu fujo
sempre olho para todos os lados quando ando por aí
mas quando vejo um rosto familiar
eu desvio o olhar
fixo meu
                                                       belíssimo
rosto
em algum ponto fixo e continuo a
 a n d a r
tranquilamente
tentando fugir de quem quer que seja do meu ciclo social
alguém que conheci há anos e não olho mais no rosto
um rapaz alto
com regata e bermuda
parecendo uma lombriga com cabelo bem arrumado
gilbert
acho que se chamava
gilbert;
foda-se
depois passou duas vezes por mim e reparou em toda minha banha & bunda tentando ficar confortáveis em uma mureta que não abriga nem o cu de um gato friorento
ele passa por mim
“vai lá?”
“sair com o primo”
“ah, tchau”
“té”
se foi e agradeci por ter sido tão rápido
confesso e talvez tenha que
                                                   jurar
que senti calafrios quando me fez a pergunta
senti que teria que perguntar algo
e ser educado
com um cara que vejo uma vez por vida
e não estava muito no clima para ser educado com ninguém naquele momento
na verdade não quero muito ser educado com as pessoas este ano;
eu me mando para o lugar mais escuro que encontro, longe da “casa do pastel”, longe das pessoas voltando de seus trabalhos e jogando alguma coisa nada aceitável dentro de seus estômagos. longe de fumantes pensativos, pensando em como seria bom largar o cigarro enquanto dão mais uma tragada. longe de viciados em outras drogas. longe de mendigos. longe das mais belas garotas que o horário pode proporcionar
que fumam
e usam calças apertadas
enquanto ignoram o meu olhar para elas
implorando por um pouco de solidariedade
que nem um cachorro faz
quando olha para os mais cheirosos frangos fritos da cidade
rodando e dourando,
com batatas cheias de molho sendo assadas
                   saborosamente
e igualmente
douradas;
entro no carro do meu primo depois de me estressar procurando novamente a
                                                                                                                    ;casa do pastel;
e nos perdemos no caminho
e minha barriga roncava profundamente
junto com a de meu primo
sua namorada
e seu amigo;
e no restaurante japonês
eu passei vergonha
e comi
que nem um filho da puta
e toda a minha solidão pareceu ir embora de uma hora pra outra
enquanto brincava com aqueles pauzinhos inexplicavelmente inúteis
e mandava mais peixe e molho preto pro meu
rabo >que agradecia a cada mastigada
e no final ainda não precisei pagar
e não me sentia só
mas isso logo passaria
e um quarto de hora
 depois
eu já me sentia
bem
novamente
enquanto voltava desatento pelas ruas sombrias
                                                                                                 ;literalmente falando;
do meu bairro.
pensando sobre o que poderia escrever quando chegasse no meu quarto
para
novamente
me sentir
sozinho.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

E é daí que vem o cheiro de esgoto

O sistema matemático desta
                  cidade
no período matutino
pode ser dividida em algumas simples
                   características
e nada mais que isso.
Pessoas se empurrando, se apertando
suando, arrastando e peidando
se odiando e fedendo
e de dentro de suas bocas costuma sair
um hálito podre, mortífero
nojento
algo que faria o encanador da
periferia
vomitar
já que o suburbano está acostumado com tal
po dri dão

às vezes gosto de pensar que esse cheiro
nada mais é do que a alma deles
destas pessoas >incluindo eu,
é claro<
e, a cada
bafada
que dão no meu nariz; e eu no deles;
enquanto chacoalham em um vagão
mal iluminado
estão (estamos)
simplesmente limpando
as almas de toda  a
                         sujeira
que se acumula durante o dia anterior
e
claro
durante à noite
para que se possa suja-la de novo durante o dia
e
claro
durante à noite
                                          E é daí que vem o cheiro de esgoto

esse é realmente um bom jeito de se refletir:
*apodrecer durante o dia, limpeza durante a manhã*
mas não é verdade.
não temos essa porra de alma
                                                 -talvez não tenhamos, melhor não brincar com isso-
mas
se a temos
ela com certeza não é autolimpante
nós com certeza não somos cordiais
nem muito amigáveis
talvez um grupo de chimpanzés mutantes que souberam como ganhar dinheiro e
se proteger
das severas mudanças climáticas.

Fega

Fega and I are talking
to each other
again
talking is the most interesting thing
that we  
do
in this place; talking about
girls
tests
girls
food
hungry
how we want to take a piss
girls
fuck
e
t
c.

Felipe is sitting on a white chair
with his hands holding the head
a head that don’t want to be here
and actually it's not
here
he’s sleeping awake
again
and the people around us like to joke
about the
fact
everybody laughing at the funny face of
Fega

we keep touching
squeezing
calling his name
and it takes a long
long time to Fega
realize that there is
life around he
-maybe some intelligent life-
even if he don’t care about it
like me

buddy, we need to pay more attention.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

como lidar com os escritores.

quem dera todos nós tivéssemos a habilidade de
escrever
realmente
mais de um poema por dia
algo como os marginais estadunidenses
das décadas de 50, 60, 70;
até o maior dos vagabundos escrevia um bocado de poemas de uma só vez
mesmo que não fosse diariamente.

ainda penso que
para se ser um bom escritor
você tem que ser um fodido
e a cada novo sujeito que leio
com uma infância agoniante
uma mãe puta
e um pai beberrão que espancava o filho
ou um lunático capaz de degolar a mulher com uma faca descartável
percebo que é verdade;
mas eu não sou um fodido
e não sei se queria ser ou não
queria ser um escritor
isso é um fato
mas só os fodidos que se tornam bons
só os fodidos possuem sensibilidade o suficiente
para os grandes poemas
os grandes contos
as maravilhosas crônicas
e os eternos romances
que saem nas mais variadas versões
tamanhos
fontes, que tem os mais diversos
leitores
gordos, feios, banguelos, perdedores
fedidos e fodidos.

mas se todos escrevessem
-ou se todos os que pensam que escrevem-
fossem valorizados
tudo isso seria uma merda
pior do que já é
porque nunca se pode dar bola para um escritor
porque ele vai se achar o Paulo Coelho assim que ouvir o elogio
e
a partir daí
já se considerará um escritor nato em tudo o que escrever
e tudo ficará uma merda

- perdi o raciocínio-

bom, trate mal os escritores
cague nos poetas
não dê bola para nenhum deles
xingue-os
cuspa em suas bocas
esmague o ego deles assim como esmagam o nosso ego

porque os bons não ligam para isso
escrever é só a válvula de escape
os ruins são sensíveis com críticas ruins.
e assim filtraremos a literatura contemporânea.



mas por favor não me critiquem.
por favor.

Obrigado, Jay Kay.

Costumava pensar em Jay Kay todos os
dias
sem pular um
sem pular um segundo, um minuto, uma hora
não pulava um
maldito
dia

e ela pulava  também, sempre pulava
de homem para homem
fodendo corações e pintos
caçoando dos outros para mim e comparando-os comigo
sempre me humilhando
e eu, eu ria
eu ria.
ria de pena de mim mesmo, ria com o nervosismo
ria com a trombose que aquelas comparações e toda a agonia que a situação causava
e do conhecido aperto que dá no peito quando
vivenciamos
experiências de merda
como essa.

E  para sua boca
 rosada
eu chorava
para mim mesmo
                          TODOS
                               OS
                            DIAS
e não conseguia derramar uma lágrima
por ela
talvez no fundo soubesse que ela não valesse nada
nem uma gozada
nem uma jorrada de filhos meus em potencial
mas eu me deitava
:me banhava;
                      :me masturbava;
                                                   :me cortava;
                                                                        :me xingava;
                                                                                           :me amaldiçoava;
                                                                         :me odiava e
ME matava
pensando nela. sempre nela
nenhuma outra valia a pena pensar
nenhuma outra valia a pena ouvir
nenhuma outra valia a pena existir
só queria ela;

gostamos de nos foder
e sofrer.
sempre penso que se as pessoas fossem menos
frias
talvez o mundo fosse um lugar menos detestável
e eu não estaria aqui escrevendo isso
e sim me embriagando
como todo bom jovem deveria fazer
e tentando arranjar uma transa para hoje à noite.
mas sinto-me melhor assim
pra falar a verdade
com a humanidade sendo fria e egoísta
pensando que todos são tão diferentes um
do outro e
tentando passar por cima um
do outro e
conseguindo.

e devo agradecer à Jay Kay e os vários pseudônimos que criei para ela
                                                                                   -inclusive esse-
em contos e poemas
por me deixar nesse estado durante tantos meses.



graças a deus eu nasci com essa vontade de escrever e me manter longe de todos.

sábado, 2 de julho de 2011

algo que escrevi que não faz e nem era pra fazer sentido nenhum e só o fiz para as pessoas baterem o olho e pensarem "nossa, como esse gordo gosta de escrever", ou algo do tipo

uma música extremamente
         a g i t a d a
fica tocando no meu ouvido
e eu só quero digitar
porque puta merda
essa porra me faz querer pular por essa porra de quarto que nem um
f
i
l
h
o

d
a

p
u
t
a

estou me aquecendo pra tentar escrever alguma coisa
acabaram de falar
bem
bem
                                            b e m
de mim
falaram que sou um
poeta

um

legítimo

de um

P O E T A

PUTA MERDA
isso é surreal
levantei da cadeira
e dei cerca de
dezesseis                                                                                 voltas
pelo quarto
que deve ser um dos menores cubículos do bairro
mas que serve muito bem
para um cara
gordo
que nem
eu

eu

um poeta, haha




provavelmente isso vai –martelar-  na minha cabeça
até a hora que eu conseguir pegar no sono e
meu cérebro
desligue meu narcisismo
a nível
consciente
e deixe o inconsciente me fazer sonhar
novamente
com coisas como
conversas sobre amizades
conturbadas com Beck
e passeio de metrô mal iluminado com um
Eric Clapton todo surrado e
fe
di
do
falando merda com merda pra mim
e pra umas garotas que eu queria levar
pra cama

música caribenha realmente muda o ritmo de uma escrita, acredito
os dedos digitam na mesma batida
e a cada série de palavras
meus dedos
                        -esTalam
automaticamente e me dou conta de que não estou escrevendo nada com nada
mas que o tamanho disso está massageando meu ego
uma simples massa de palavras desconexas formando versos
também
desconexos, tem  o incrível
PODER
 de massagear um ego, que anda
te    rr i ve    lm ent                 e
~incrivelmente~ e
APELATIVAMENTE
fodido

mas eu continuo escrevendo e digitando agora sem pontuar e sem parágrafos e sem pica nenhuma porque eu to com preguiça de fazer qualquer coisa do gênero
e começa a tocar um dos blues que eu mais admiro e que mais tocam a minha alma e eu fecho os olhos e vou digitando sem olhar para o teclado nem para a tela nem para a barra de espaço nem para meus instrumentos, livros, caixa de som, amplificadores, caixa com pães de mel alemães e não dando a mínima que isso aqui está uma merda
-nossa
-porra
-talvez estrague a minha reputação
                                                                     [-que reputação?
- a de poeta, seu idiota
                                                           [- cala a boca
- ok, vou terminar isso.

                                                                                       ***

abro os olhos e me lembro que tenho que terminar de escrever aquele conto que acabou virando um romance e que não vou mostrar pra ninguém até que esteja pronto.