sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Conversa final entre duas estrelas e um astro andarilho.


   Duas estrelas conversavam através de energias cósmicas do Universo. A conversa pode ser resumida da seguinte maneira:

  • Caramba, cara...não estou me sentindo nada bem ultimamente.
  • Verdade? O que sente? - perguntou a outra curiosa
  • Cansaço, calor...acho que é a idade – disse cansada à amiga estelar
  • E há quanto tempo você está sentindo isso?
  • Alguns bilhões de ciclos...não sei, acho que minha hora está chegando, sabe? Já suguei todo o hidrogênio que podia ter sugado e o transformei em hélio e agora estou velha e meu brilho já não é o mesmo.
  • Achas que vai explodir por todo o Universo que nem aquela outra fez alguns ciclos atrás?
  • Sim, sim...aquilo foi realmente lindo.
Um astro passou por entre as duas estrelas, num espaço de bilhões e bilhões de anos luz, e sentiu a presença cósmica das duas:
  • Bom ano luz, estrelas. Como vão as senhoras e suas luzes brilhantes nesse momento infinito? - Saudou e perguntou o astro andarilho
  • Bom...Eu vou bem, mas a dona estrela nível quatro aqui não parece muito bem – disse a estrela que estava bem
  • Pois é...acho que vou me explodir logo menos – comentou a fraca estrela
  • Puxa, mas que pena hein dona estrela – disse o astro - Mas sua explosão será um belíssimo de um show e estou honrado de estar passando por esse canto do Universo no exato Tempo cósmico em que acontecer.
  • Obrigado, seu astro. Acho que será melhor mesmo...meu núcleo se transformar em ferro, explodir radiação pra tudo quanto é lado, uma supernova...acho que estava na hora disso. Mas o que não queria era estar agonizante desse jeito – tinha um voz triste
  • É a lei do Universo, amiga. Todas nós sentimos isso no final de nossa luz e brilho. O que mais sente? Perguntou a estrela mais jovem e menor
  • Como se tudo no meu interior estivesse batalhando entre si. Parece que vou vomitar toda a matéria. Meu núcleo parece estar todo fodido.
  • Pobre estrela...-lamentou o astro andarilho
Nesse momento uma forte energia foi sentida por todos os astros e galáxias e outras estrelas próximas dos três colegas, uma energia vinda da estrela agonizante e aquilo realmente parecia algo violento acontecendo dentro da pobre coitada. O astro se assustou:
  • Meu cosmos! Isso foi dentro de você, estrela? Está mal mesmo...
  • Eu sei, cazzo! O que mais posso fazer? Estou ficando fraca...
  • Esperar aí pela explosão...que será das grandes!
  • Será mesmo, amiga. Se importa se eu assistir sua explosão?
  • De forma alguma, estrela. Fique à vontade...Mas quando chegar a hora saiam de perto ou serão varridas junto com tudo o que estiver no meu caminho. Vou crescer, encolher e explodir com tudo o que tenho dentro de mim saindo mais rápido que nove bilhões de Ferrari juntas, entendem?
  • Pode deixar – falaram a estrela e o astro andarilho
  • Pelo Cosmos...que cansaço...
  • Quem sabe não vira um buraco negro, hum? - sugeriu o astro, querendo anima-la
  • Comer tudo eternamente, até que não me parece ruim – e a estrela doente riu
Alguns ciclos depois, o que para nós pode ser chamado de milhões ou bilhões de anos, a estrela entrou em todo o processo que disse que aconteceria com ela e o astro andarilho e a estrela amiga tentaram tomar cuidado. Cresceu e engoliu tudo à sua volta primeiro. Depois encolheu e ficou menor que um átomo e toda sua energia e matéria ficaram presas lá dentro até a hora em que explodiu, mandando tudo pra tudo quanto é canto do Universo e sua explosão cósmica foi uma das mais belas que a estrela sua amiga havia visto e uma das mais brilhantes que o astro andarilho, que já havia passado por muitos cantos do Universo e visto muitos fenômenos inimagináveis aos nossos olhos, tinha presenciado. Eles aplaudiram e se despediram de sua amiga estrela explosiva, que agora era uma fria e modesta anã branca, sem muito brilho e calor. Mas com uma belíssima nebulosa contornando-a.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Longe de carnaúbas e carvalhos.


É bom falar da natureza, ela é completa e perfeita e infinita.
E sua beleza é o maior presente que o Universo pode nos dar
Além da vida e do próprio Universo
                e nosso cérebro humano, que é como um micro universo já que não sabemos muito sobre ambos.

Mas o Verde é puro.
A maldade é filha do Humano, o resto é puro instinto animal.
A avareza é Humana.
A feiura é Humana.
A arte é Humana.
Assim como a bondade também é
                                      apesar de ser uma filha prostituída hoje em dia]

A Natureza é o meio de onde viemos e a abandonamos há muito.
Hoje é uma realidade distante
Nem mesmo os cavalos tão comuns há alguns séculos
Nem mesmo com eles nós temos mais contato.

Nós, da cidade. Aos retalhos
Longe de carnaúbas e carvalhos.

Nossa natureza aqui é cinza e as chuvas são ácidas
As árvores rígidas e sem clorofila
O melhor ataque é o ataque em dobro
O melhor amigo é o que não entra no seu caminho
Nosso nicho é o lixo
Nossos cavalos peidam mais metano do que os bois
As roseiras estão presas atrás das grades
E os pássaros são os únicos inocentes de verdade
                                  e seus crimes foram o belo conto e as belas cores que a Natureza lhes concedeu.

Oceanos do tamanho de uma tigela de cereal
são a imensidão azul de peixes ornamentais
A presa é o próximo
O bote é trocado pelo ócio.

Mas como sentiríamos falta da Natureza
se não vivêssemos e morrêssemos na nossa própria?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sobre ciclos e o sono das árvores.


As árvores completam seus ciclos
de milhares de anos
Paradas lá como árvores milenares.

Nosso ciclo não dura mais do que algumas décadas
dos outros seres vivos é menos do que isso às vezes
E passamos metade desse tempo dormindo
assim como os outros seres vivos.

Isso me faz pensar se as árvores não dormem.
Se é um ser vivo e tem seus ciclos e come e respira e reproduz...
então ela dorme também, como todos.

  • Mas você já viu uma árvore roncando?
  • E você já viu uma árvore comendo um filé?
E mesmo assim ela continua sua fotossíntese invisível aos nossos olhos
e depois vai para sua ciesta.

terça-feira, 27 de novembro de 2012


Enquanto a ignorância existir
Existiremos e abençoados seremos
Vivendo ilusões perante olhos serenos
Dizendo-nos o que ver, pensar e sentir.

Obstruir é a eterna oração
Dos que comandam a ordem de palhaços
Colocando nossas cabeças juntas como em maços
Cantando sempre a mesma porra de canção.

Que continuemos sem pensar
Pois se alguém achar a verdade
Talvez todos comecem a sonhar a liberdade
Ao invés de continuar a apenas sonhar.

Ignorância, você é uma benção, sim
Se não vê, não sente, não sabe
Mundos seguem e giram na mesma fase
Quadrado, reaça e cinza do começo
ao fim.

domingo, 25 de novembro de 2012

Domy Chepooka Nadsat.


Home
Alone
Hi.

A Clockwork Orange
Pizza
William Tell all fuck up
Pomp & Circumstance
Nadsat – Bezoomy

Yogurt with cereals and bananas
with only my neezhnies on
More pizza then
Ludwig Van
I don't miss the cut of the britva for a long time
now;
nothing to do later
only read and
type
Alone
Oddy-knocky
Hi!

No soomka.
No sin.

I
fucking
looove
this,
devotchka.



Bezoomy – Mad
Domy – House
Chepooka – Nonsense
Devotchka – Girl
Britva – Razor
Neezhnies - Underpants
Oddy-Knocky – Lonesome
Soomka - Woman


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A teimosia das folhas verdes com a chegada do outono.


Ilustração: Edmilson Silva  
http://eddie-art.tumblr.com/

 O verão havia acabado e a árvore ainda estava pesada, carregada de folhas verdes e largas e vivas e belas. Com o outono todas elas deveriam sair e deixar a árvore nua com seus galhos parecendo ramificações de ossos estruturados pelo grande tronco vertebral daquela planta anciã.
"Vamos, folhas, hora de vocês amarelarem." falou
"Como assim?"
"O outono chegou! Agora vocês devem cair e me deixar em paz até o inverno chegar."
As folhas verdes e largas e vivas e belas ficaram em silêncio na floresta e o comandante árvore esperou pela resposta.
"Mas aqui é tão confortável, aqui do alto conseguimos ver toda a floresta" protestou um galho cheio de folhas no topo da árvore.
"Não quero saber. É a natureza, vocês devem cair e morrer. É a lei."
"Pois foda-se a lei, árvore. Não sairemos daqui nesse outono."
Escutem, estou existindo aqui há muito tempo e todos os anos as folhas caem no outono e me deixam careca. Vocês não são as primeiras a reclamarem e não serão as primeiras a desobedecerem a Natureza."
"Nós não sairemos" insistiram.
"Sejam razoável, folhas. O que falo para nossa Mãe se forem mal criadas? Que não me ouviram e que deixei assim? Não me importa de vocês ficarem ou não, apesar de estar cansada de toda essa cabeleira, mas nossa Mãe não gosta de ser desobedecida."
"Deixe que nós lidamos com ela" tentaram tranquilizar a árvore.
A árvore desistiu de discussão com as teimosas folhas verdes e largas e vivas e belas e deixou que o outono chegasse e o tempo fizesse seu trabalho, temendo o que sua Mãe faria quando visse uma árvore verdinha e cheia de vida no meio do outono. Tremeu de medo e algumas de suas folhas verdes caíram na terra.
O outono já estava na metade do seu caminho e as folhas teimosas ainda estavam lá naquela árvore, todas elas chamando a atenção dos animais que habitavam aquela região. Estavam todas verdes e largas e vivas e belas enquanto todo o resto era laranja e amarelo e decadente pela floresta. A árvore ainda temia a repreensão da Mãe quando ela decidisse manifestar-se. E aquilo aconteceria exatamente naquele momento, quando a árvore com as folhas verdes estava distraída sendo uma árvore com folhas verdes e uma voz falou e amedrontou a todos e fez a árvore tremer do começo de suas raízes ramificadas até o último galho de sua copa. Era sua mãe:
"Árvore, porque suas folhas ainda estão de pé quando todas as outras de todas as outras árvores da floresta estão no chão?" perguntou irritada
"Bom..é, Mãe...eu falei que elas teriam que sair. Ordenei que saíssem mas são a leva de folhas mais teimosas que já tive. Não quiseram sair nem com um raio caindo aqui e queimando-as todas."
"Mas elas tem que cair, árvore. É a lei. Se elas não caem outras não vão querer cair e isso pode desequilibrar tudo por aqui. Elas DEVEM cair ou você será a responsável pelo que acontecer depois, ouviu?"
"Mãe, fale com elas, elas haviam dito que conversariam com você quando você chegasse."
"Pois bem, manifestem-se" ordenou a Mãe Natureza.
As folhas permaneceram em silêncio e a árvore ficou tão envergonhada que começou a balançar até todas concordarem em abrir a boca, derrubando dezenas de folhas verdes no chão:
"Mãe, nós não queremos sair daqui. É um bom lugar, com uma boa vista e nós queremos ficar mais. Por que raios não podemos?" protestaram
"Eu preciso explicar tudo de novo?!" disse mais irritada ainda "Não podem ficar, é a lei do Universo. As coisas funcionam assim desde sempre, crianças, vocês não querem que o Universo tenha que descer até aqui e fale com vocês. Ou querem?
"É...não"
"Pois caiam e deem espaço para novas folhas verdes e largas e vivas e belas."
"Não" insistiram
"ORDENO QUE SAIAM!" E a voz carregada de fúria da Mãe Natureza ecoou por toda a floresta, fazendo a árvore e muitas outras árvores tremerem e derrubarem suas folhas mortas ou vivas pelo chão de terra.
As folhas pararam sua respiração por um momento e suaram frio:
"Mãe, desculpe, mas nós já conversamos bastante sobre isso entre nós e não vamos sair dessa árvore nesse outono. Aceite isso. Ok?"
Não obtiveram resposta alguma. Haviam ganhado, pensaram. A árvore percebeu as outras árvores olhando para ela e sabia que aquilo não havia acabado ainda. Pensou no que poderia acontecer, tremeu e mais folhas caíram.
Algumas semanas depois tudo continuava o mesmo, tirando o tempo que estava fechado há alguns dias. Quase todas as árvores estavam peladas e suas folhas mortas adubando a terra enquanto a árvore com as folhas verdes e largas e vivas e belas continuava lá como uma árvore teimosa. A árvore pensava menos na punição da Mãe, mas ainda tinha certeza que haveria represálias contra tamanha desobediência daquelas folhas. As folhas verdes falavam que ela não devia se preocupar, que era apenas uma árvore e aquilo não mudaria a natureza e não causaria desequilíbrio algum. A árvore ficava quieta e atentava-se à tempestade que sabia que estava a caminho.
Alguns dias depois a árvore com as folhas teimosas notou uma completa falta de vida pela floresta. Os únicos animais que havia visto durante o dia estavam refugiando-se em tocas ou estocando providências e ela soube que a tempestade finalmente havia chegado e avisou às folhas, que sentiram medo do que estava por vir. Um vento forte começou a balançar os galhos secos das árvores e folhas vivas e mortas começaram a voar de lá pra cá. Então a tempestade começou pra valer, e foi uma das mais fortes que aquela floresta passou desde muito tempo. O vento derrubava galhos e a chuva forte encharcou toda a floresta, amedrontando todos os seres daquele lugar. A árvore teimosa balançava com o vento e suas folhas verdes e largas e vivas e belas voavam dos galhos, indo parar centenas de metros adiante, varridas pela tempestade. Um raio acertou o galho no topo que tinha a melhor vista da floresta e quase botou fogo na pobre coitada, o galho cheio de folhas verdinhas também saiu voando para longe com o fortíssimo vento que abalou a tudo por lá, mas principalmente a árvore teimosa.
A tempestade varreu toda a árvore e quase a incendiou, se não fosse pela água da chuva. Ela estava agora igual a todas as outras devem estar no outono: nua, com ramificações de ossos galhosos e seu tronco vertebral apenas, sem cabelo, apenas sua estrutura esperando pela próxima leva de folhas do inverno. Quando chegariam folhas verdes e largas e vivas e, principalmente, belas. A tempestade chegou ao fim logo depois que a pobre árvore se viu completamente sem suas belas folhas e o céu se abriu azul e tranquilo, acentuado por um frio suave e reconfortante de um outono completo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ao inseto voador misterioso que foi acidentalmente esmagado por minhas páginas.


Me desculpe, esmaguei-te
poderias ter sido esmagado por entre as folhas de
Dosto ou Hemingway
encontrarias teu momento último
por entre palavras de Machado,
sido parte de obras imortais de Manuel Bandeira
ou um poema de Drummond
Grudado num quadro de Tarsila
Uma música de Chico Buarque de Hollanda
seus zumbidos zumbindo com as zabumbas da Nação Zumbi; mas não.

Cismou de pousar em meu caderno sem valor
arranjando um jeito que ainda me é desconhecida,
                                                               e aqui permanecerá]
e agora fará parte de minhas palavras
parado
grudado
morto
Sem zumbido, sem mãos expulsando-te dos lugares que queres zumbir.

estás estático
como as palavras, como os poetas mortos ou abandonados
e sinto por você, meu amigo mosca
e agradeço-lhe tão nobre companhia numa hora em que é, por certo, necessária.
E agradeço-lhe novamente por embelezar minha página
és a mórbida visão mais agradável que jamais conheci.

Me desculpe, inseto voador misterioso
minhas palavras não importam-te de nada
mesmo quando estavas zumbindo pela vida e pelos ares do mundo.
Elas não eram-lhe importante
mas não posso oferecer-te mais nada além delas
e rodea-lo com essas palavras em seu óbito
à tua memória
como uma coroa de letras.

Porém, foste imortalizado
estarás vivo por toda a eternidade desse caderno
nessa folha de margem amarela
e muitos insetos não morrem com tal prestígio.
São esmagados por mãos odiosas
vozes turbulentas
pés gigantes esmagam teus semelhantes...
mas você, seu mosca,
morreu rapidamente, sem raiva, sem dor
prensado pelo meu caderno
e pelos contos e poemas
pelas folhas rotas e sentimentos destruídos
e simplesmente deixou de existir
até agora.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Jane Revisited.


I was thinking about her
and maybe dreaming
again.

I woke up with her nude white body on my head
if it was at least on my sight...
but no, ok.

I lost my chance with Jane
I wish I have just one more
everybody deserves one more chance
even myself
but no.

I text saying that I was missing her
And have no idea why I did such thing
but I did, cos' I miss her everyday.

And she answers me back! Jane...
She said she was talking about me these days
I laughed
And asked what she said
Jane didn't answer me back
maybe she knew it could hurt me
and finally show up that she
HAS
a heart,
at least,
and remains in silence.

And she was talking about me these days!

And I missed her everyday
In a certain way.
Again.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Haicai II


Folhas seguem o ar
Secas e mortas a revoar
mar de ar a alaranjar.

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A árvore Bodhi
aonde a iluminação
foi encontrada.

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As ondas azuis
solenes dançarinas na
margem litoral.

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O vento existe?
Sua pura perfeição apenas
não pode ser vista.

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Areia fina,
que pode cobrir toda a Terra
Só não o Universo.

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Writing haikus
to pass the time
on the physics class.


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Vida eterna?
Se a eternidade cabe
em três linhas.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O problema que tiveram com cães e gatos numa vila no Belém.


  Numa vila no Belém, dona Constanza vivia sozinha em sua casa. Bem, não exatamente sozinha. Constanza vivia com seus quatro cães, dois vira latas, um bulldog e um pastor alemão, todos escuros como a noite, noite que será aliada deles na história. Dona Constanza e seus quatro cães pretos também desfrutavam da companhia de Bia, uma gata de rua que a velha senhora acolhera muitos anos antes, também escura como a noite eterna. Os seis viviam juntos na vila há anos, os cães se davam bem entre si e se davam bem com a gata também, nas noites frias até se aconchegavam juntos no quarta da velha senhora para lhe fazer companhia. Além disso, os cães de dona Constanza não tinham problemas com os outros moradores da vila, eram dóceis com os conhecidos e brincavam com as crianças da vila nas tardes de verão.
   A história começa quando o segundo roubo termina de acontecer na vila. A segunda vez em que alguém conseguiu misteriosamente invadir a vila na madrugada e levar as jóias e outros pertences sem acordar os outros moradores. Então todos eles se reuniram naquela madrugada e pensaram em uma solução que lhes trouxesse segurança e paz nas noites que viriam. Alguns propuseram segurança, outros câmeras, alarmes, alguns queriam se armar e esperar para que o invasor entrasse e tivesse seus miolos espalhados na parede. Mas tudo isso custava dinheiro e dinheiro não é um luxo para todos, precisavam de uma decisão que não custasse muito e desse proteção imediata para todos. Foi assim que chegaram à decisão unânime de deixar os cães de dona Constanza soltos pela vila durante a noite, ninguém seria louco de pular um muro ou um portão com quatro cães daquele porte de tocaia do outro lado e, se pulassem e não vissem os cães, eles certamente estariam escondidos em algum canto, camuflados pela sua cor natural que era a melhor amiga deles junto com a noite cálida. Dona Constanza também concordou com a ideia, contanto que não tivesse que limpar toda a sujeira dos cães pretos quando acordasse de manha.
   Esses foram os fatos que levaram a essa história, mas esse conto não roda entre ladrões de casas de idosas, jóias de família ou vileiros. Ela fala sobre esses cães e o que eles faziam durante essas noites em que ficaram fora, porque não eram todas. Sobre como uma espécie ajuda a uma outra em detrimento da própria, sobre animais como todos nós, que se revelam na noite, quando as sombras não julgam ou enganam os olhos, são apenas o que se vê, acredite ou não.

* * *
   Às 23h00, em dias variados, dona Constanza se preparava para dormir e se despedia de seus cães e de sua gata, Bia. Deixava uma fresta da janela aberta para quando Bia voltasse de seu passeio e deixava comida e água para seus cachorros na porta de casa, depois abria o portão da frente e deixava os seus cães pretos lá para que garantissem a segurança de todos. E eles faziam isso. Faziam isso bem, quando ouviam algo suspeito acordavam ao mesmo tempo e iam com sua curiosidade e instinto vasculhar. Latiam para estranhos na rua que não fossem com a cara(esse era o único revés) e para outros animais que passassem pelo portão da frente. Todos lá, o pastor alemão, o bulldog e os dois vira latas, escuros como o limiar da madrugada, soldados que guardavam aquela vila.
   Mas um trabalho desses pode tornar-se maçante, ficar preto a noite inteira atrás de um grande portão que te mostra como a realidade e o Universo são maiores do que se vê pode ser cansativo e frustrante às vezes. E os caninos ficam sedentos quando a Lua se revela branca e perfeita no céu, sua natureza os chama para a noite, para a caça. Foi nessa situação, nessa sede que eles sentiam, que descobriram a melhor válvula de escape que podiam descobrir naquela vila.
   Bia, a gata preta que saia para dar seus passeios durante a noite, como todo bom gato, tinha seus métodos para pular aquele portão, e isso não vem ao caso também, mas Bia saia por algumas horas e sempre voltava suja ou cercada de gatos lutando por sua atenção. E era isso o que interessava aos cães pretos que ficavam de guarda, mas apenas latiam e rosnavam para os gatos, que faziam seus sons felinos e ameaçavam os cães com suas garras afiadas. Não podiam fazer mais nada, apenas sonhar em atacar aqueles gatos e destroça-los na calçada enquanto latiam até alguém da vila espantar os bichanos, furioso por ter sido acordado por latidos e batidas no portão. Bia olhava para aquela situação e ficava curiosa, imaginava o que seria dos gatos pretendentes se uma noite um dos cães saísse e fosse para cima deles. Ou se um deles entrasse na vila e topasse com os quatro camuflados nas árvores e em outras sombras noturnas.
   Então um dia, enquanto ela e seus amigos caninos descansavam sob o Sol após o almoço, avisou-os para ficassem escondidos no meio dos carros ou das árvores quando a noite caísse, para que ficassem lá em completo silêncio esperando por sua volta, que lhes traria um presente que adorariam. Ficaram curiosos e perguntaram o que era, mas Bia não respondeu, apenas se alongou e foi deitar em alguma sombra fresca.
   Na noite seguinte, quando Bia viu que dona Constanza ia deixar os cachorros de guarda, lembrou-os para que ficassem escondidos em algum lugar no mesmo horário que ela costumava voltar e eles disseram que estariam esperando. Bia pulou aqui e ali e saiu pelos vãos do portão, como de costume. Os guardas negros da vila fizeram sua ronda, comeram e dormiram um pouco, o mesmo que faziam nas outras noites, só que empolgados com o que Bia os traria quando voltasse para a vila. Quando já estavam quase pegando no sono novamente, escondidos cada um em um canto, qualquer lugar escuro que escondesse aquela massa escura, sentiram a presença de Bia se aproximando da vila, abriram os olhos e ficaram alertas para a chegada da gata com o presente prometido. Da vista do portão enxergaram a gata preta aparecer como uma atriz no começo de uma cena no teatro, andava com classe e calma, sua cauda balançando pela noite como um periscópio no meio do Pacífico e seus olhos brilhando como a Lua cheia. Ela veio e os cães procuraram pelo presente em suas garras ou na boca de Bia, não viram nada, acharam que ela estava de brincadeira ou que havia esquecido, mas perceberam que estavam sendo precipitados quando um gato malhado veio atrás de Bia, miando alto e grave para chamar a atenção da fêmea. Os cães olharam um para o outro, cada um em seu canto, e suas línguas ansiosas saltaram da boca molhando o chão com saliva quente. Continuaram assistindo à atuação da amiga felina como uma verdadeira peça. Bia ia parando e chamando o gato até perto dela, quando se aproximava ela andava mais uns passos e lá ia o gato malhado atrás dela, miando e ansiando pela parceira. Bia chegou ao portão da vila e o gato já estava chegando perto novamente quando ela fez uma de suas mágicas e foi parar em cima do muro que separava a vila do mundo. Os quatro cães já se preparavam para o ataque mútuo e o chão estava bem molhado com saliva, viram quando o gato subiu atrás da gata e aquele seria o último pulo de sua vida felina. A gata pulou dentro da vila e foi até uma árvore com bastante sombra e percebeu os cães vigiando cada lufada de ar que o gato dava antes de pular. E pulou. Uma vez lá dentro, os cães esperaram ele se afastar do portão para que não pudesse fugir da morte. Ele andou sorrateiro procurando pela gata. Andou sorrateiro. Latidos altos e quatro cães pretos e enormes dispararam em direção ao gato malhado, que teve tempo apenas de olhar para onde não estava vindo nenhum cão, entre a vida e a morte havia apenas um portão alto, apenas um pulo e ele escapava. Mas os cães foram mais rápidos e crués e Bia assistiu a tudo como um cientista assiste a um coelho sendo aberto ao meio como cobaia para um cosmético. Bia ficou satisfeita com os resultados, havia agradado seus amigos caninos mais uma vez.
   Essa história se repetiu mais algumas vezes durante as próximas semanas. Bia trazendo um ou até mais gatos para que aqueles quatro cães os matassem no meio da madrugada, enquanto assistia a tudo em silêncio e dava-se um banho antes de dormir até a próxima manha. Depois de um tempo, os moradores daquela vila se cansaram de ter que acordar de manha e dar de cara com um gato morto para limparem e deixaram de lado aquela história de soltar os cães de dona Constanza na vila para protege-los. Quando tivessem dinheiro comprariam câmeras ou algo do tipo, por enquanto deixariam de lado a segurança de suas casas para que mais gatos não fossem estraçalhados em suas portas no Belém.

Uma retórica sobre o entrelace entre Realidade e Tempo.


Realidade subjetiva
Nós a criamos
Nós a tememos
e a seguimos
tememos filhos que são de todos
dos antigos, dos de hoje
Nossos filhos; o passado é apenas a realidade que criamos sobre ele
não sabemos o que ocorreu lá, apenas sabemos o que nos contaram de antigos papéis e pinturas, mais nada.
                      o presente é a realidade do que se vê agora, nesse momento
e apenas nesse momento
depois é distorcido pela mente
por nós, pela memória falha de todos ao longo da história
                       o futuro é tão incerto quanto a ficção, talvez mais.
A ficção é filha da nossa visão de uma realidade futurística e tão
distorcida quanto todo o resto.

Então o tempo é incerto
doido
ninguém entende, quem diz que entende [
                    não entende
é mais distorcido ainda pelas peças que a mente e a realidade Universal pregam em todos a todo o tempo.

    ~  Tempo sem momento   ~
   ~   Relógios gosmentos     ~

E assim, sem saber o que raios é passado, presente, futuro
ou o que pode-se entender por memória e Realidade trabalhando juntas no entrelace da mente; subrdinada do Tempo;
a única pergunta que parece lógica de ser feita mas tão irracional que só pode ser uma espécia de retórica
é

QUE PORRA É ESSA?

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Deus protege as crianças e os loucos.


   "Deus protege as crianças e os loucos". É isso o que Paulo vivia dizendo para as pessoas ao seu redor, que o infernizavam pelo seu abuso de manguaça e uso de drogas muitas vezes desenfreado. Alguém começava a aborrece-lo com algum sermão e ele logo repetia aquela sua filosofia que havia entrado em sua cabeça e em sua vida como uma espécia de escudo, uma defesa que o protegia da merda que os outros queriam enfiar em seu ouvido todas as vezes que o encontravam em um bar, bebendo pinga e, às vezes, cheirando pó. Com o passar do tempo, seus conhecidos foram gradativamente desistindo de aconselha-lo e deixaram as coisas irem até onde seria possível ir, mas isso não o fez parar de sempre repetir sua famosa sentença: "Deus protege as crianças e os loucos".
   O encontrei uma vez no bar, mais uma vez. Estava sentado com um vagabundo que cheirava a feijão, cachaça e sangue pisado, tinha seus olhos inchados como duas bolas de golfe e já estava mais pra lá do que pra cá. Os dois conversavam em uma língua dos ébrios com a qual não consegui uma tradução livre, não riam ou estavam sérios, apenas conversando naquela língua estranha dos loucos de pedra, balbuciando palavras e dando pequenos socos na mesa quando se empolgavam. Olhei aquela cena por uns segundos e me aproximei da mesa, Paulo me viu de longe e acenou com a mão. Cumprimentei os dois e Paulo me apresentou se amigo vagabundo, "E ae, cara?", disse ao bêbado todo acabado, ele ergueu seu copo e virou num trago e sorriu mostrando uma fileira escura aonde deveriam estar alguns de seus trinta e dois dentes.
   Começamos a conversar sobre qualquer coisa e fiz parte da alcoolização, conversamos por meia hora e aqueles dois pareciam mais bêbados que macacos comendo marulas nas savanas africanas. Fumavam cigarros como duas chaminés e agora falavam menos enrolado para que eu pudesse entender. Iam para o banheiro de vinte em vinte minutos, revezando entre um e outro, sabia que eles estavam cheirando cocaína e eles sabiam que eu sabia, mas eu não dava a mínima e eles certamente cagavam e andavam para o que eu ou qualquer um lá pensava sobre qualquer coisa que eles faziam. Então Isabelas chega ao bar. Isabela era uma amiga nossa que não bebia, não fumava, não cheirava e provavelmente nem peidar a desgraçada peidava, em suma, eu não sabia o que caralhos ela queria fazer num maldito bar, mas era uma boa amiga e uma boa pessoa na maioria das vezes. Ela nos viu da entrada e sorriu, acenamos para que viesse para a mesa e ela se aproximou, reparei em seu olhar quando viu o estado em que Paulo e seu amigo estavam, o sorriso foi substituído por um olhar de leve desprezo e nos cumprimentou apenas esticando a mão e apertando a nossa. Sentou na cadeira e também a vi limpando as mãos em seu vestido azul depois de cumprimentar os dois. "O Zeca tá só achando uma vaga e já vem", falou.
   Eramos cinco agora sentados, o casal Isabela e Zeca, eu e os dois bêbados Paulo e seu amigo estropiado. Um garotinho maltrapilho entrou no bar e se dirigiu diretamente para a nossa mesa, como se as outras antes da nossa simplesmente não existissem, nem olhou para os outros, só chegou até nós com aquele olhar de cachorro abandonado e suas roupas que já tiveram ao menos três donos antes dele e pareciam um vestido naquele projeto de pobre coitado. Paulo olhou para o garoto e, antes que o jovem falasse alguma coisa, ele perguntou "Quer comer, menino?", o garoto arregalou os olhos e balançou a cabeça para cima e para baixo, "Vem cá" chamou Paulo. Levou o garoto até o balcão e perguntou o que ele queria comer dentre os salgados na estuda, o menino apontou para uma coxinha e Paulo falou ao dono do bar "Agnaldo, dá uma coxola pro garoto aqui", o dono tirou o salgado e o entregou ao menino, que agradeceu aos dois com vergonha, sorriu para a coxinha e depois saiu do bar para a amarga rua. Paulo pediu uma PL, virou e foi até o banheiro novamente. Quando voltou, estava mais pego que Tony Montana no final de Scarface e seu nariz estava branco e seu corpo exalava o cheiro forte de cachaça. Isabela olhou com desapontamento e Paulo apenas arrotou e continuou com a conversa sobre cinema que estávamos tendo antes do garoto chegar.
   "Algum dia você vai parar de ser esse doido varrido que você é?", perguntou Isabela nervosa após a segunda volta de Paulo do banheiro desde a chegada do casal ao bar. Ele e seu amigo olharam para a garota ao mesmo tempo e Paulo disse "Baby, Deus protege as crianças e os loucos", ela virou os olhos para e começou: "Você só anda com vagabundo, só faz merda e usa droga. Sempre que eu te vejo você tá chapado e fodido em algum canto, todo nojento e cheirando essa merda aí e..." Paulo interrompeu o sermão e virou para o companheiro da amiga: "Cara, segura sua garota ou terei que doutrina-la da minha forma", estalou os dedos e abriu um sorriso psicótico. O casal pareceu não gostar do que ouviram e Isabela olhou para o namorado, que se sentiu obrigado a falar "Paulo, você já está bem chapado, pega leve aí com ela, bicho", "Foda-se", respondeu, "Fodam-se vocês todos, não posso nem respirar pela boca que já vem alguém me dar algum sermão furado. Fodam-se todos. Agnaldo, desce um rabo de galo aqui pra mim, fazendo o favor." O casal se levantou e já iam embora, Zeca deu o dinheiro para Isabela pagar os dois refrigerantes e foi buscar o carro. Paulo olhou para a amiga claramente puta e falou entre os lábios "desculpa", mas talvez ela não tenha ouvido, entregou o dinheiro para Agnaldo e foi se despedir de nós (de mim) na mesa, chegou perto e fez um aceno sem graça que respondi mandando um beijo e acenando de volta. Olhou para Paulo e disse "Tome jeito, Paulo. Ninguém aqui quer te ver caído morto em algum lugar por causa dessas porcarias que você faz, você é bem melhor do que essa vida." "Estou protegido, Isa. Não se preocupe comigo.", "É, eu sei...", seu celular tocou e foi até a rua atende-lo enquanto esperava pelo namorado e isso foi a última coisa que Isa fez em vida; depois que pisou na calçada, ouvimos aquele som gritado de uma freiada repentina e o Corda preto de Zeca bater e prensar Isabela contra a parede de fora do bar. Saímos correndo até a porta e vi um caminhão passando a toda velocidade pela cena e tive certeza que aquele era o culpado pelo acidente. Zeca saiu do carro desesperado, gritando palavras ininteligíveis e foi até Isa, que já estava inconsciente. Tentamos saber o que ocorreu mas o homem estava em estado de choque e não conseguia falar mais nada, apenas segurava o rosto da namorada e tentava reanima-la enquanto caia em prantos como uma criança. Paulo e o amigo foram ligar para a ambulância e eu vi o caminhão ir embora, seguindo reto a rua do bar, em fuga. Paulo voltou depois de alguns minutos com o copo de pinga na mão e avisou que já tinha ligado para a emergência. Ele olhou para a cena da nossa morta e nosso amigo desesperado tentando acorda-la do sono eterno, uma lágrima rolou de cada olho de Paulo e ele ergueu seu copo à amiga e bebeu. O garotinho que ele havia comprado o salgado apareceu do seu lado e ele tirou-o de lá, indo na direção oposta ao bar, virou para mim e disse que mais tarde nos falávamos. Estava arrasado e chapado demais para lidar ou raciocinar o que havia acontecido. O Sol se abriu e iluminou a rua e o sangue e os corações partidos e ébrios e tive certeza que a única coisa que se passava na cabeça de Paulo era que Deus protege as crianças e os loucos.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Teuto e Bauxito em: O controle.


  • Aonde tá a porra do controle? Perguntou Teuto para Bauxito
Bauxito levantou os olhos, estava deitado no sofá e encarou a televisão por um momento, passava Footloose e aquela música do começo entrava na sua mente como um mantra.
  • Cadê o controle? Tá afim de assistir isso aí? Teuto novamente perguntou e tirou o amigo de seu transe.
  • Não sei, mas essa música é legal – Bauxito levantou as pernas e imitou alguns passos no ar.
Teuto começa a procurar o controle e a música parecia cada vez mais contagiante de alguma forma, haviam pés dançando na televisão e aquilo parecia ser a coisa mais interessante acontecendo em todo o Universo naquele momento. Estavam na casa de Tião, que por sua vez estava no quarto cuidando de sua namorada Petra, que estava passando mal há alguns minutos já. Teuto ouviu o barulho do chuveiro e imaginou que ele estava dando um banho na garota. "Aonde estaria a porra do controle?", pensava e procurava
  • Procura aí o controle, porra, não quero ficar vendo isso.
  • Ahh, tantufaz pra mim, não deve tá passando nada, final de semana é só merda pra tudo quanto é lado. Na tv, nos jornais, nas privadas e nos tribunais.
  • Merda! Reclamou Teuto, e foi para a cozinha ver se havia deixado o controle lá
  • Ei, me traga uns burritos! Pediu Bauxito
Teuto foi em busca do controle e a música da entrada do filme havia acabado, o que entediou instantaneamente o seu único espectador, o chapado Bauxito no sofá espaçoso de Tião. Levantou-se e foi até o quarto de Tião ver se as coisas estavam melhores e aproveitar para ver se algum deles havia levado o controle consigo para cima, no caminho ouviu o estrondoso som de uma gorfada seguida de um peido e o cachorro do rapaz sair correndo escada abaixo, assustado como uma galinha. "Porra, que merda!" e sentiu pena da pobre alma que teria que limpar aquela vomitada e possível esmerdeada que Petra havia acabado de expelir. Bateu na porta do quarto e ouviu a voz dos dois conversando alguma coisa com carinho em suas vozes, ela toda estropiada e exausta em seus braços, com o cheiro daquele peido fedendo suas áureas entrelaçadas pelo sentimento mais puro e nobre.
  • Tudo bem aí com vocês? O controle tá aí? Falou do outro lado da porta
  • Nãããão....uma voz fraca respondeu
  • Vou entrar, e abriu a porta sem ouvir o...
  • NÃO ENTRA!, que tião gritou
Bauxito já havia atravessado a porta quando presenciou o que chama até hoje de o trauma de sua vida humana. Na cama de Tião estava o casal deitado nu, nus e cobertos por vômito amarelo com pedacinhos crocantes no meio, abraçados como que esperando pela chegada do dilúvio, como dois junkies dos mais sujos após acordarem depois de mais uma overdose. O gorfo escorria pela boca e por todo o corpo de Petra, que não sabia o que fazer além de encarar o amigo sem reação, enquanto o peido com cheiro de tortura se dissipava e aquela merda toda sujava a cama e o que havia restado da alma de qualquer um dentro daquele quarto. Tião ensaiou falar algo e até abriu a boca, mas antes da primeira palavra Bauxito já estava descendo a escada e voltando para a sala o mais rápido que conseguia.
"Eu só queria achar o controle...meu Deus", pensava o pobre garoto quando chegou na sala, seu cérebro ainda processava o que havia testemunhado, era difícil. Foi até o lavabo e lavou o rosto com água fria, talvez superasse aquela cena algum dia, antes da sua aposentadoria ou da morte de seus pais, quem sabe. Mas não, aquela cena estaria tatuada eternamente em sua mente, o vômito, a nudez, o olhar penetrante do casal...o horror...o horror. O filme perfeito resultante de uma parceria com David Lynch e John Waters, algo que poderia substituir o Tratamente Ludovico sem grande dificuldade. Desistiu de tentar esquecer daquilo e procurar o controle da televisão, ia voltar para a sala e assistir Footloose até sua cabeça ficar do tamanho de uma abóbora e explodir, espalhando aquele trauma para todos os cantos do cômodo.
Nesse meio tempo, Teuto havia pausado sua busca pelo controle e foi beliscar um pedaço do burrito de Petra, que deu apenas uma abocanhada antes de passar mal por ter bebido umas cachaças a mais, chamou Bauxito para compartilharem daquele belo lanche mexicano, mas ele havia subido para ver como Petra estava. Deu uma bela mordida e mais outra, aquele gosto de carne fazia suas glândulas salivares trabalharem feito escravos bolivianos. Parou de comer antes que acabasse com o lanche da enferma, já tinha comido todo o seu burrito e deixou Bauxito dar umas mordidas, mas ainda tinha fome e comeria todos os burritos, tacos, quesilladas e o México inteiro se estivesse à sua disposição. Não tinha nada pra comer, nada. Já tinham acabado com toda a comida e não podia encontrar nada além de umas bananas gigantes e um pote com doces de banana, "huuum...", salivou e foi pegar os doces de banana. Não estavam lá também. Agora precisava do controle e do doce de banana, pegou um copo e encheu com água da pia, tinha gosto de cano e ferrugem e era quente. Jogou a água na pia, mas sua mãe molhada fez o copo escorregar e espatifar-se como uma taça em cima da bancada da cozinha. Teuto olhou para a merda que tinha acabado de fazer e botou as mãos na cabeça. Olhou para a escada e para a sala para ver se alguém estava por perto, Bauxito estava no banheiro e o casal ainda estava lá em cima. Pegou o vidro com cuidado e foi jogando tudo pela janela da cozinha até o último caquinho na bancada. Estava terminando quando ouviu Bauxito chama-lo:
  • Cara, vem aqui me ajudar.
  • O que?
  • Vem logo, apressou Bauxito
O garoto saiu da cozinha fingindo que nada acontecera e cruzou para a sala sem imaginar que encontraria Bauxito com a mão entalada dentro do vidro de doces de banana, tentando de tudo para se livrar daquilo.
  • Como você fez isso? Riu o amigo
  • Fui pegar no fundo um grandão e minha mãe não saiu mais, puxa aqui pra mim, porra!
  • Por que você tá pálido assim? A Petra piorou?
  • Prefiro não ter que contar sobre o que presenciei hoje para ninguém, nunca!
  • O que? Estranhou o amigo
  • Esquece, me ajuda aqui.
Teuto foi até o amigo e começou a puxar o vidro de doce com força, aquilo não sairia daquela mão tão cedo assim. Tentou mais um pouco e Footloose ainda passava, o controle ainda estava desaparecido.
  • Vem na cozinha que eu tive uma ideia, falou o amigo ajudante.
Voltaram à cozinha e Teuto abriu a geladeira e tirou de lá um pote de margarina:
  • Porra, vai ficar mó bagunça...quebra esse vidro ali na escada de incêndio e tá tu...
  • Nãão, sem quebrar mais nada aqui, interrompeu Teuto
  • O que?
  • Vou passar um pouco disso ao redor da sua mãe e depois a gente puxa com toda a força pra trás.
  • Tá, concordou mesmo sem achar aquilo a melhor das ideias.
Teuto começou a besuntar a mão e o pulso do desastrado amigo e aquilo parecia muito nojento e banhoso. Bauxito olhava com descaso, nada mais era nojento para ele. Nojo havia ganho outro significado para Bauxito aquela noite. O amigo terminou de besuntar e olhou para o outro, que respondeu aquela pergunta mental com um gesto positivo com a cabeça. Teuto começou a puxar novamente o vidro preso na mão do amigo e aquilo estava difícil pra caralho de tirar, puxava cada vez com mais força e Bauxito fazia expressões de dor, os doces de banana estavam parados lá dentro, o grandão estava fechado na mão gorda de Bauxito, esperando para ser comido por ele quando se livrasse daquela porcaria. Teuto apoiou as pernas nas coxas do amigo e usou toda a força que tinha parar tirar de lá, puxou e puxou e aquela cena parecia estar ridícula em sua mente. Relaxou os músculos do corpo por um segundo e depois deu um puxão com a maior força que conseguiu tirar de seu corpo, o vidro soltou nesse puxão e Teuto, é claro, voou para trás, empurrando Bauxito para frente e o vidro caindo no chão, espalhando os doces para todos os lados. Teuto bateu na mesa e quebrou uma das pernas do móvel, Bauxito conseguiu se livrar com o seu doce grandão na mão e, por algum milagre, seu pesado corpo não destruiu a bancada da pia. O barulho havia sido estrondoso, mas não ouviram reação alguma vindo de cima
  • Puta que pariu..., gemeu Teuto
  • Valeu...achei que não ia sair mais, agradeceu Bauxito pegando um dos doces que estavam espalhados no chão e passando-o na manteiga ao redor de sua mão.
Os dois levantaram e viram a bagunça que haviam feito na casa de Tião, açucar no chão, a mesa torta e sem uma das pernas tombou no chão espalhando restos de burrito e cerveja pelo piso. A bancada parecia estar um pouco frouxa, mas não quebrou nada de fato. Bauxito pegou o resto do burrito de Petra e olhou para Teuto, este por sua vez olhou para aonde estavam as bananas gigantes e embaixo delas estava o motivo de grande parte daquilo tudo ter acontecido, imagino:
  • Ah, olha o controle aí! Comemorou
Pegaram o aparelho e voltaram para sala para finalmente tirar Footloose e achar algo mais empolgante.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

smoking hot


When I have the prettiest of the girls
in my arms
I'll write in her arms
poems, tales
cover her body with chronics
of love and lust
about lovers on paradise
kiss her and touch that smooth skin
all painted in black ink
Haikais from the winter
The nakedness of the beauty

I'll watch her using panties and my t-shirt
                    ,the beautiful legs,
                                               the beautiful girls]
opening the refrigerator
looking for some juice or something
And I'll stare at my poems and tales
alll the love chronics
and the haikais
all of them dancing on that body
The best ones I shall ever write

someday.