domingo, 31 de março de 2013

baby, it's alright.

eles querem a certeza  absoluta e os segredos da vida
e da escrita
então beba,
eu diria.

Buscam o que não tem ou o que acham que falta para sua existência.
Beba, eu diria.
Talvez você ache a resposta.
Talvez você encontre o que procura.
Ou então você apenas ficará muito bêbado e esquecerá da pergunta 
E depois pode ser que fique tão bêbado, mas tão bêbado
que se esquecerá de você e de suas duvidas e medos.

E esse, meus amigos, é o truque 
dos mágicos bêbados.

terça-feira, 26 de março de 2013

Pegadas no cimento.


Pegadas de cimento, nós deixamos
pegadas de cimento
na nossa estrada própria
e as pessoas deixam suas pegadas
no nosso terreno
desde que o cimento está frio
e molhado
e sem profundidade alguma.
E deixamos nossos pés
nas calçadas delas;
os caminhos são apenas pegadas
entrelaçadas no cimento fresco
generalizações de fatos e marcas
nas minhas ruas de todas as opiniões.

sexta-feira, 22 de março de 2013

You are almost there, mate.


I'm better alone
and lucid, or almost lucid.

Every dickhead living on this planet
seems to be hanging well
with their coolness and
sweet talk to the sweet ladies.

Me, i'm cool alright
I'm cooling off, getting colder and dryer
not much sincere smiles
and not much bear hugs
and couple fights or
anything to create a couple at all,
mate.

They look like they're doing fine, son.
Better than us
but the hard reality is that they are as fucked up
as I am.
In their own personal ways
on their crazy brand new rags
with crazy sweet girls everywhere for them
and amazing unforgettable nights.

Seems so far away from my nights
My night
My night alone
With everybody at my feet
But feeling lonely as always
as always.

I get the feeling from time to time that
I'm way better alone, by myself
But I don't know...I couldn't know.
Maybe this makes me lucid
or not.

domingo, 17 de março de 2013

Conversas vazias, violão e cigarros.


INTERNA – Quarto de Ivan – Conversas vazias, violão e cigarros

Casa bagunçada de Ivan. O quarto revirado de roupas e outras coisas. Os garotos tocam violão enquanto fumam cigarros e o ambiente está bem esfumaçado e abafado. Um ventilador velho roda cansado atrás de Eric e os dois estão deitados e largados esperando pelo nada. Ao fundo toca o álbum One foot in the grave, do Beck.


ERIC (ouvindo a música atentamente)
  • Essas afinações dele são as melhores.

IVAN (distraído com a fumaça)
  • Hum? Ah...Tudo um tom abaixo em algumas, bem foda mesmo.

ERIC
  • Beck é foda!

IVAN
  • Beck é foda!

Silêncio, tragadas, acordes.



IVAN
  • Quer sair?

ERIC
  • Não, cara.

IVAN
  • Tá uma merda isso, vamos aí. Quer jogar bola com o Ló e o irmão dele?

ERIC
  • Não.

IVAN
  • Vamos, a gente sempre consegue tirar um sarro das idiotices do Leco.

ERIC (solta um riso)
  • Coitado...

IVAN
  • E ae?

ERIC
  • Não.

IVAN
  • Por que?
ERIC
  • Deixa o cara por hoje.

IVAN
  • Cuzão.


ERIC (acendendo outro cigarro)
  • Fome...sede...

IVAN
  • Fome da porra!

ERIC (distraído olhando para as roupas largadas pelo quarto)
  • Ou...vai ter show do Lou Reed?

IVAN
  • Que?

ERIC
  • Sabe se vai ter show do Lou Reed?

IVAN (respondendo sem entender a pergunta)
  • Não, cara.

ERIC
  • Hum...achei que tinha ouvido alguma coisa sobre isso. Acho que foi algum sonho.

Ficam em silêncio um tempo, somente fumaça entra e sai de seus corpos e se dissipa pelo quarto junto com o som tocando o álbum acústico.

IVAN
  • Tava pensando...por que balas de frutas tem gosto de balas de frutas? Bala de morango não tem gosto de morango, tem gosto de bala de morango. Bala de abacaxi tem gosto de bala de abacaxi, sabe? Elas não tem um gosto da fruta...que porra teria o gosto de uma bala de laranja? Não sei, porra...entende? Elas não tem o sabor da fruta mas se vendarem os seus olhos e derem pra você comer uma...você sabe dizer o sabor na maioria das vezes, não?

ERIC (desinteressado)
  • Não sei. Gosto de bala de banana.

IVAN
  • É o melhor exemplo! Como você consegue fazer uma bala de banana? Essas coisas nem combinam juntas, sabe? Mas se você comer uma...baam...você lembra de um bananão na hora, não lembra?

ERIC (levemente nervoso)
  • Pode ser que sim, cara...não sei. Como você espera que eu saiba uma porra dessas? Tenho cara de gourmet de balas de frutas? Tenho crachá das empresas Fini? Não tenho, cara...como você espera que eu saiba que sentido essa porra de papo faz?

IVAN
  • Caralho...quando você ficou com essa coceirinha na buceta, hein? Tá chato pra porra, vai se foder

ERIC
  • Enfia um saco de dentaduras de gelatina no seu cu e ri pro meu caralho, então.

Ivan não responde e olha para o amigo tentando entender de onde vem a agressividade.



IVAN
  • Quer beber então?

ERIC (arregala os olhos, empolgado)
  • Vamos!

IVAN
  • Tem dinheiro aí?

ERIC
  • Nem um centavo.

IVAN
  • pff...não tenho nada também, cara.

ERIC (desanimando novamente)
  • Ahh...

ERIC (soltando fumaça depois de alguns instantes de silêncio)
  • Hum..li esses dias uma história de duas meninas que foram criadas por lobos, velho. Estranho, né?

IVAN (tocando coisas aleatórias no violão)
  • Isso não existe fora da Disney, Eric

ERIC
  • Não, cara...é sério, elas se perderam bebezinhas e foram adotadas pela alcateia.

Ivan toca o violão e traga fumaça.

IVAN
  • Pela alcateia,? Que lugar que foi isso?

ERIC
  • Pela alcateia, bicho. Elas ficavam só de quatro e comiam carne crua ou podre, não sorriam, nem choravam e nem nada, cara...instinto animal puro, uma viagem. Achei que essas coisas eram só de histórias de desenhos infantis. Sabe...Mogli e a porra toda tendo que revelar o segredo do fogo dos homens para o rei chimpanzé.

IVAN
  • Aonde foi isso?

ERIC
  • Sei lá...uma porra dessas só pode acontecer naqueles lados da Índia mesmo.

IVAN
  • Tem lobo na índia?

ERIC
  • Imagino que sim...se eles tem meninas-lobo

Ivan demora a responder, brinca com seu cigarro

IVAN
  • Como eles adotam crianças se eles são lobos?

ERIC
  • Como assim? Eles simplesmente adotaram a porra das duas garotinhas.

IVAN
  • Adotar é coisa de humano. Eles não podem adotar crianças...digo, os lobos.

ERIC
  • Então eles pegaram as crianças como experiência científica?

IVAN
  • Pode ser

ERIC
  • Então não podem adotar duas crianças mas podem e sabem como promover um estudo científico em humanos?

IVAN
  • Podem, eles são lobos, cara.

Tragam ses cigarros e tocam o violão sem compromisso. Silêncio vindo dos dois e tédio bem demarcados.

IVAN
  • Será que os lobos traçavam as menininhas?

Eric traga e tem um olhar reflexivo para a pergunta do amigo.

ERIC
  • Devem ter. Pra eles não faz diferença, eu acho

IVAN
  • Mas são duas garotinhas, Eric

ERIC
  • E eles são lobos. Animais não sabem o que é criança. Pra eles é algo reprodutivo, se acham que já está boa pra criar uns lobinhos, descem a vara canina nelas. Se colocarem a sua avó na frente de um, ele pode devorar o rabo dela ou passar despercebido....ou traçar aquela velha.

Ivan ri.

IVAN
  • Prefere ser estuprado por um senegalês de dois metros ou comido por um lobo com o seu consentimento?

Eric pensa um tempo.

ERIC
  • Difícil...lobos...lobos, cara. Lobos são bem mais legais e tem bem mais classe do que senegaleses. (espera um momento) Aonde fica a Senegália? É Senegália o nome de onde eles vem, né?

IVAN (começando a revirar seus bolsos)
  • Senegália? Acho que não. Acho que era Senegaléia...ou Senegal...É...Senegal. Acho que é Senegal o nome.

ERIC
  • Hum...foda-se isso

IVAN
  • É...(remexe mais os bolsos) Eita, porra! Cinco mangos!

ERIC (animado de novo)
  • Da hora! Porra, achar dinheiro no bolso numa hora dessas me faz pensar...

IVAN (brincando com a nota)
  • Pensar em o que?

ERIC
  • Deus e essas coisas.

IVAN
  • É...somos mais um plano especial de Deus. (levanta do chão) Belo cu...vem tomar umas. Duas barrigudas, que acha?

ERIC
  • Pega uma só e vê se a gente não consegue um fuminho com o Ló com o que sobrar.

IVAN
  • E desde quando ele cobra isso da gente? É parceiro nosso, fecha com a gente.

ERIC (levanta e se alonga)
  • Ahhhh....Não sei se ele fecha tão bem depois que a gente acabou com tudo o que ele tinha e não deixamos nem um traguinho pra depois.


IVAN
  • Ele já deve ter superado isso. Tem problemas maiores que esse com a gente.

Saem do quarto e vão para a rua se embriagar e encontrar Ló e seu irmão Leco.


quinta-feira, 14 de março de 2013


Com o tempo, o tempo
vai roendo o nosso tempo,
até que nossas conversas
e os conselhos que ganhamos
sejam apenas um borrão
de tempos antigos,
de todos os seus contigos
e com o tempo se transformam
em curtos cânticos
que o tempo, enfim, apagará.

segunda-feira, 11 de março de 2013

psychobeat


Estímulos
\/
Organismo
\/
Tensão
\/
Tensão
\/
Tesão, tensão, tesão, tesão
\/
Necessidades, desconforto
Me livre do desprazer!
\/
Tensão, tesão
\/
Tensão
\/
Ação, negação, ação, negação
\/
Estímulos, estímulos externos
\/
Não há redução, não há reação
E com mais ação, negação
e mais
\/
Tensão, tensão
\/
Tensão e tesão
\/
Desconforto, desprazer,
Insatisfação
\/
Necessidade
Necessidades
Nessa idade
tenra idade já vive
com necessidades
\/
+ Estímulos
\/
+organismos tristes
\/
+tensão
\/
\/
Solução de solidão.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Roleta Russa.


Interna – Casa de ANTÔNIO BURGOS – Roleta Russa


Eric, Ivan, Antônio e Estela (acompanhando Antônio) estão no quarto de Antônio na casa de seus pais que haviam viajado no final de semana. Duas latas com lança perfume dentro passam por entre as mãos dos quatro jovens e eles estão jogados cada um em um canto, chapados e conversando. Antônio Burgos levanta da cadeira e deixa sua lata nas mãos de sua garota loira e diz que já volta. Permanecem em silêncio no quarto usando o lança perfume até que o dono da casa volta com um revólver na mão e encosta na têmpora de Ivan.


BURGOS
  • Vai, filho da puta! Levanta essa porra dessa mão na altura da cabeça! Vai, porra!

Ivan faz uma careta exagerada de pavor e começa a rir.

IVAN
  • Caramba, de quem é essa coisa? Do seu pai?

BURGOS(brincando com o tambor aberto da arma)
  • Era do meu tio, mas ele virou um bundão à favor do desarmamento e meu pai comprou dele por cinquenta pilas e mais uma caixa de cerveja pelas balas. Tem umas duas quase cheias delas.

IVAN(pegando a arma e analisando-a)
  • Da hora, cara. Meu avô tem uma .22 parecida, mas é um pouco maior. Olha, Eric...

ERIC (sugando na lata de loló)
  • Porra, animal (risos)...cara...deixa eu ver (ri sem controle)

Estela tem um ataque de risos com a droga ao ver Eric empunhar a arma. Eric ri da moça.

ERIC
  • Nossa, sequelou essa aí.

IVAN
  • Capotou o carrinho de pipoca, Tonho.

Antônio tira a lata das mãos da garota

ERIC
  • Você tem balas pra isso?

BURGOS
  • Tem em algum lugar, mas meu pai é esperto o bastante pra não me falar aonde.

ERIC
  • E se alguém entrar aqui de madrugada e enfiar uma bala na sua orelha depois de estuprar sua mãe e matar seu pai...ele ainda seria inteligente?

BURGOS (olhar distante)
  • Com os amigos que tenho tanto faz de onde vem a bala...

IVAN(baforando)
  • Que?

BURGOS
  • Sei lá, bicho...

ERIC
  • Vixi, tá falando merda. (balança a cabeça) Cacete, esse negócio tá derretendo minha mente que nem aquela baba do Alien.

Ivan começa a rir descontroladamente e Burgos o acompanha no riso. Eric e Estela riem alguns segundos depois dos amigos e o garoto com o revólver pega a lata de Antônio e puxa o ar dentro com força algumas vezes, sente seus pés formigando fortemente e a vista lhe enganando. Levanta do puff em que está sentado e anda pelo quarto com o revólver engatilhado e descarregado na mão. Os três riem da loucura do amigo mas ficam sérios quando ele encosta o cano de ferro embaixo do queixo com um sorriso amedrontador nos lábios.

ERIC(rindo alto e histericamente)
  • Vai, cara! PODEM VIR! VEM, CARA!

Aperta o gatilho e o click seco acompanha o grito de pavor de Estela.

ESTELA
  • Seu retardado! Me roubou toda a brisa, puta que pariu!

Ivan e Burgos ainda davam risada do ocorrido e Eric responde.

ERIC (zombando da garota)
  • Tá descarregada, sua escrota. Vai, Ivan...sua vez (risos)

Ivan pega o revólver e o engatilha, click, nenhum tiro. Ele brinca um pouco com a arma e aperta o gatilho novamente, dessa vez mirando para seu olho

IVAN
  • Ela é bonita, cara. Parece de marfim essa coronha...seu tio mudou drasticamente mesmo.

BURGOS (pegando a lata)
  • Ah, é um cuzão...antes eu ia caçar uns lagartos com ele no meio de um mato sem fim de um sítio lá que ele tinha...mas desde que casou com uma peluda aí virou um cuzão.

ERIC
  • Tem lugar pra caçar nesse país?

BURGOS(baforando)
  • Não...Acho que não...caceeeeete.....

Ivan e Eric se divertem com a situação do amigo e Ivan entrega a arma para ele


IVAN
  • Vai, Tonho, sua vez de provar a coragem dos bem afortunados.

BURGOS
  • Não, meu.

IVAN
  • Vai, cacete, que bichice.

BURGOS(desprezo no olhar e ironia ao falar)
  • Tsc, caras, eu não me rebaixo ao nível das suas brincadeiras. Meu modo de diversão é bem diferente do de vocês. Prefiro sair com uma garota piranhudinha ou beber uma cerveja importada em um pub...não preciso entrar nessas brincadeiras que servem para ludibriar a vida miserá...

ERIC (interrompendo o discurso)
  • Vai toma no seu cu, caralho, e atira logo nessa sua boca, cazzo!

BURGOS
  • Porra! Tá!

Antônio pega a arma e a engatilha

IVAN
  • Tem que baforar bem forte antes de puxar o gatilho, sabe? Assim se você morre vai embora daqui louco loucão.

Burgos não acha graça e bafora a lata por alguns instantes e seu efeito bate mais forte do que das outras vezes. Ouve batuques em seus ouvidos e só enxerga o cano da arma, nada mais. Aponta o gatilho mirando dentro de sua orelha. Click. Todos ficam em silêncio por um tempo.

ERIC
  • Nossa, cacete, que drama hein sua bichinha? Tava descarregada e você parecia que ia se cagar todinho na cueca.

Burgos ainda estava aéreo e demora para responder

BURGOS(recuperando-se do choque)
  • Eu não gosto disso, cara, beleza? Me dá agonia, sei lá...só de pensar no...cano gelado na sua cabeça...ahhh(treme)...merda.

Ivan e Eric se entreolham debochando do amigo

Burgos(nervoso)
  • Ah, vão se foder. Vocês são dois fodidos drogados...sinto muito se não tenho vontade de participar das merdas de dois vagabundos.

Os dois não se importam com os insultos do amigo. Antônio Burgos vira para sua acompanhante loira e estica-lhe a arma.

BURGOS
  • Pra não deixar a brincadeira em aberto, loirinha.

ESTELA
  • Não, também não gosto disso. Brincadeira boba do caramba.

ERIC
  • Faz logo isso aí, gata. Ninguém se machucou até agora. Você vai sentir uma adrenalinazinha correndo quando ouvir aquele som seco.

ESTELA
  • Prefiro sentir isso transando muito com alguém, não no meio de um bando de babacas que nem vocês

ERIC(nervoso)
  • Então vem dá pra mim, piranha! Depois puxa o gatilho dessa merda dentro do seu buraco que for menos arrombado, caralho, porra.

BURGOS
  • Calma, porra, calma! E vai se foder esse seu jeito de falar com minha mulher

ESTELA(surpresa e irritada)
  • SUA mulher?

ERIC
  • Porra, essa mina aí tá só roubando a minha brisa. Todo mundo fez e ela não pode fazer?

BURGOS
  • Loira, faz logo essa idiotice só pra eles pararem de encher o saco.

ESTELA
  • Vocês são infernais, desgraça.

Estela puxa a lata da mão de Burgos e bafora o lança perfume com força repetidas vezes

ERIC(impressionado)
  • Cacete! Ela vai entrar nas paredes.
BURGOS(preocupado)
  • Vai com calma, Estela.

A garota continua puxando o ar dentro da lata como um cachorro ofegante. Depois de mais algumas vezes ela balança a cabeça e joga a lata longe, ri por alguns instantes olhando para o nada e puxa a arma da mão de Burgos com força, que dispara um tiro que assusta a todos. Segundos depois a garota cai pra trás com os cabelos cobrindo o rosto.

IVAN(ao ouvir o tiro)
  • MINHA NOSSA!

Burgos desesperado abraça o corpo de Estela na mesma hora e entra em pânico.


BURGOS
  • Onde foi o tiro? Aonde foi o tiro? Meu Deus! NOSSA! UM TIRO!

ERIC(gritando)
  • PORRA! TINHA UMA BALA NO TAMBOR? VOCÊ É RETARDADO, ANTÔNIO? A PORRA TAVA CARREGADA E VOCÊ DEIXA A GENTE....meu Deus, ela parece mal.

BURGOS(ainda desesperado)
  • Cadê a bala, cara? Estela? Estela?

Eric e Ivan estão parados sem o que dizer para o amigo ou como socorrer a garota

IVAN(se jogando na cama)
  • A gente tá na merda, cara. A gente tá enterrado até o ombro na merda.

ERIC(olhando Burgos abraçado com a garota caída)
  • Liga pra ambulância ou pros pais de alguém?

IVAN(nervoso, gritando)
  • LIGA PRA POLÍCIA ENTÃO, QUE TAL? Porra!

ERIC
  • A gente tem que fazer alguma coisa, porra Ivan. A menina vai morrer aí, isso se já não morreu. (começa a falar mais alto) Caralho, Antônio, você tem bosta nessa cabeça, viado? Você brincou com a porra do tambor antes de dar esse coisa pra gente. E se você tivesse atirado na própria cara? E se eu tivesse atirado na porra da minha cara, porra?!

BURGOS
  • Eu não vi, cara. Você acha que eu ia dar a merda quente pra vocês?

IVAN(olhando o corpo da garota atrás do furo da bala)
  • Mas aonde pegou esse tiro afinal?

Estela dá um grito e começa a respirar ofegante e pesado. Parece em pânico e lágrimas rolam por seus olhos. Todos se assustam com o despertar da moça

ERIC
  • MEU DEUS! Ela tá viva ainda! Caramba velho!

BURGOS(tentando acalmar a garota)
  • Calma loirinha, calma. Obrigado, Jesus! Obrigado por não ter matado essa piranha! Aonde acertou? Você levou um tiro! Aonde pegou a bala!

Estela tosse e chora, demorando algum tempo para responder o companheiro.

ESTELA(lento, acordando)
  • Tiro?...bala?...que bala?

ERIC(surpreso)
  • Que bala?

IVAN (rindo)
  • Cara, olha atrás dela.

Os quatro olham para a parede atrás de Estela e Eric e Ivan começam a rir ao ver um buraco na parede.

ESTELA(confusa)
  • O que aconteceu?

BURGOS(sem entender também)
  • A bala atravessou você? Você não tá sentindo nada?

ESTELA
  • Nada me atingiu, porra. O que me atravessou foi essa coisa dentro dessa lata. Não lembro de nada. Quanto tempo eu fiquei desmaiada?

ERIC(rindo)
  • Desmaiada? A gente pensou que você tava era morta aqui. Você puxou a arma do senhor filho da puta aqui que não avisou que ela tava carregada e a desgraçada disparou. Você caiu dura depois e achamos que você tinha morrido com um tiro. Nem passou pela minha cabeça que você tinha desmaiado. Obrigado, loló!

IVAN
  • Essa porra aí dá parada cardio-respiratória, você deve ter quase morrido mesmo, Estela. Você ia parar de respirar e seu coração ia parar de bater junto, precisamente na mesma hora.

ERIC
  • ÉÉÉ, você ia morrer na horinha viajando nas alturas da chapação eterna, honey baby.

Estela se assusta com o que eles dizem.

BURGOS(tentando acalmar a garota novamente)
  • Ahhh e você é o doutor ER agora, porra? A garota já tá toda fodida e vocês dão mais essa bad pra ela?

IVAN
  • Não fui eu que dei uma arma carregada pra ela brincar.

ERIC(em seguida, provocando)
  • Nem eu!

Estela começa a choramingar de novo

ESTELA
  • Você me deu uma arma carregada pra brincar? Me deu uma arma carregada pra eu apontar na minha cabeça e atirar? Você é um psicopata? Você sabia que tava carregada?!

ERIC (em seguida, novamente atiçando a discussão)
  • SABIA!

BURGOS
  • Cala a boca, porra! Claro que eu não sabia que tinha bala dentro. É sério, loirinha!

ESTELA
  • Você me odeia! Você queria que eu morresse!

BURGOS
  • Claro que não, baby! Eu não sabia, eu juro! Eu não ia dar uma coisa dessas nessa sua mãozinha rosa, não quero que você morra.

ESTELA(histérica)
  • Você quer sim, você queria que eu me matasse pra poder pegar meu filho! Você quer matar a mim e quer matar meus pais(soluçando)....ahhh, não quero morrer...


BURGOS
  • Você tá loucona ainda! Porra, eu também estou, caralho!Para com isso, loirinha. Tá todo mundo bem...não vê?

Estela fica em silêncio um tempo e olha pelo quarto com os olhos molhados

ESTELA (para Burgos)
  • Vai se foder!

Os dois continuam a discutir e Eric e Ivan vão olhar o buraco que a bala fez na parede.

IVAN(pegando a lata de lança perfume e enchendo-a através de um frasco de vidro cheio)
  • Teria sido uma merda que nós nunca tiraríamos de cima de nossas costas.

ERIC(passando o dedo pelo buraco)
  • Cacete, que sorte, cara! Ia atravessar aquela barriguinha branca e lindinha dela. Se fosse eu na frente dessa arma vocês estariam limpando meus miolos da parede a uma altura dessas.

IVAN (desânimo na voz)
  • É, cara, muita sorte



A câmera fica de frente pros dois olhando para o buraco na parede, como se estivesse posicionada dentro de onde pegou o tiro. O casal ainda briga.

terça-feira, 5 de março de 2013

Cão faminto atrás de um coelho fodido.


Cão faminto atrás de um coelho fodido.

Externa: Ivan e Eric caminham pela rua no meio da tarde com suas cabeças mirando o chão, conversam sobre qualquer coisa enquanto marcham até o cemitério.

Ivan:
- Acho engraçado pessoas que são bonitas de frente e quando vemos de perfil parece um papagaio ou a Cruela Cruel comendo um galeto.

Eric:
- Também tem as que são bonitas de perfil mas parecem algo saído de uma floresta negra de um conto medieval quando você vê de frente.

Ivan:
- Você é feio de ambos os pontos de vista.

Eric:
- Eu sei, cara.

Andam alguns passos e passam por um bar próximo a um cruzamento.

Eric:
- Ontem eu estava aqui no bar quase me explodindo com aquela porra de forró eletrônico e então eu vi dois daqueles bolivianos assaltando uma senhorinh italiana. Apareceram vendendo anéis falsos e simplesmente puxaram a bolsa da velha. Ela caiu no chão com a força do puxão daqueles macacos do submundo e em cima de um BOSTÃO, cara! Acredita?

Ivan:
- Cacete...um cagalhão mesmo, bicho? Puta que pariu, deixaram a velha em cima da merda?

Eric:
- É, cara, ela se ralou toda, ficou choramingando até que gorfou tudo na porra do sapata.

Ivan:
- Vixi...

Eric:
- Tinha umas florzinhas e umas joaninhas no sapata da senhora, sabe, desenhados, não de verdade. Acho que aquilo já era...ela cobriu tudo com vômito de gente idosa.

Ivan (nervoso):
- Odeio essa raça! Tinham que vir pra essa porra de bairro mesmo? Vão tomar no cu, cara...

Eric:
- Que fossem lá pra aquele lixo da extrema zona leste...mas fazer o que, bicho, um dia eles desaparecem.

Ivan:
- Desaparecem é o caralho, Eric.

Eric:
- Joguei umas pedras na direção deles mas esses animais correm mais que cão faminto atrás de um coelho fodido, então deixei eles irem.

Ivan:
- Foda...e a velha, ficou bem?

Eric:
- Não cheguei a falar com ela, tinha que ir pra casa fritar uns burgers, tava com fome pra porra.

Ivan:
- Hum...burgers caseiros, cara.



Ivan:
- Lembra aquela puta rampeirona que a gente viu no sábado?

Eric:
- Sei, eu acho.

Ivan:
- Ela tava caída dura no chão antes de ontem, perto da delegacia.

Eric:
- Porra, sério? O que foi?

Ivan:
– Deve ter sido overdose ou ataque cardíaco. Vira e mexe eu passava por aqui e ela tava travada em algum ponto.

Eric (aponta para dois cães revirando o lixo):
– Cacete, esses cães só sabem comer merda e lixo!

Ivan:
  • Coitados...a puta ficou lá na rua de trás da delegacia a madrugada inteira e um pedaço da manha, ninguém sabia que ela tava morta ou então nem tinham ligado se estivesse. Quando finalmente foram tirar tinham dois ratos comendo a carne das tetas dela, Eric.

Eric:
  • Puta merda, que cacete de desgraça. Essas putas da rua embaixo da nossa só tomam no cu. Outro dia tinha outro boliviano e um negão de dois metros espancando aquela gorda de cabelo vermelho que tá sempre com uma bolsinha roxa perto da padaria daquele espanhol lá. Antes de eu passar por eles ela já estava sendo espancando e quando eles saíram da minha visão ela ainda estava apanhando. Não quis nem perguntar se tava tudo em ordem...foda-se, sabe?

Ivan não responde e continua caminhando com a cabeça baixa, caminham mais alguns minutos em silêncio e Eric puxa:

Eric (triste):
  • Era Hilda o nome dela, Hilda Furacão, Ivan. Coitada, cara...
Ivan:
  • Que Hilda, cara?

Eric:
  • A puta finada, Ivan...eu comi há umas três semanas atrás. Triste isso, sei lá...

Ivan:
  • Putz...(silêncio) Mas se ficou na bad achando que foi um dos últimos que comeu aquela lá, fique suave, em três semanas ela rodava mais da metade das nossas ruas por aqui. Essa putaiada só tem cliente velho broxa e boliviano que consegue mais de cinco reais por dia.

Andam mais e entram em um bar aonde Eric pede uma dose de pinga com limão, vira-a rapidamente e pede outra, Ivan faz o mesmo e bebe uma dose no copo americano. Pegam uma cerveja para cada um e voltam para o Sol forte do meio da tarde na rua suja.
Eric e Ivan (abrindo as latas de cerveja)

  • À Hilda!

Dão grandes goles em suas cervejas e continuam andando, Eric ainda tem a prostituta morta na cabeça

    Eric(angustiado):
    - Fico pensando em tudo isso o que eu sou, o que eu vou ser, o que eu posso ser, cara...não posso ser nada. Não vou ser nada, não vou ser nada nem um dia em minha vida. Parece que as pessoas vem e vão e eu continuo sentado querendo esmola e caridade, Ivan. Eu tô de saco cheio, cara. De saco cheio de bolivianos, de saco cheio de putas, de cheirar cola, baforar loló...saco cheio de mim, Ivan. Eu penso que o amanha só pode ser uma merda igual a que é hoje. Todo mundo tá morrendo por aí, cara, e eu só sinto que vivo pra ocupar espaço a cada dia que passa nessa merda desse bairro cheio de merda e lixo e cheio de gente comendo merda e lixo e cães mortos que os nóias pegam de madrugada pra conseguir assar uma perna.

Ivan ouve o amigo em silêncio enquanto bebe de sua lata e pensa um pouco antes de responder.

Ivan(pensativo, compreensivo)

  • Do que adianta você ficar pensando no amanha, velho? Como você espera saber o que vai acontecer com você daqui a porra de trinta anos? Você acha mesmo que não vai acontecer nada em trinta anos que vá fazer sua vida parecer menos inútil? Impossível, cara, impossível. Você acha que não é interessante e que tudo o que você for fazer é um lixo. Cara, você já está fazendo muito mais do que um pedófilo ou um estuprador, não que seja um parâmetro pra medir a filha da putagem de cada um mas já um modo de se ver as coisas. Se você não faz isso ou se é contra isso já mostra que você é menos inútil do que muitas pessoas. Ficando triste assim você só vai jogar fora qualquer chance existente de as coisas mudarem pra melhor pelo menos uma vez. Cazzo, meu avô é um pinguço desde antes de eu nascer, desde antes de meu pai nascer e mesmo assim ele salvou uma porrada de gente quando era bombeiro, entrava naqueles prédios que pareciam a porra do inferno e saía de dentro vomitando as tripas mas com duas crianças em cada ombro.


Eric:
  • Eu não consigo carregar nem minha prima de dois anos no braço, cacete. Mas deixa pra lá isso, que vá à merda junto com todo mundo e com esse bairro enfiado dentro do nosso rabo.

Ivan (cabeça baixa)
  • Me pergunto por que tudo nessa vida é uma merda.

Eric(jogando a lata vazia na rua)
  • Meu amigo, essa é a pergunta de um milhão de euros...


Entram no cemitério.

Portas Sujas e Nomes Falsos (música)


Passos tortos e nomes falsos
E as pessoas seguem seus caminhos
Se você não se misturar
Experimente viver sozinho
Para sempre com uma taça de vinho.

Olhos verdes te fazem ir longe
E você vai até o chão
Sente na cadeira com isso por horas
e mastigue o seu mais novo "não"
Porque você não quer sair do chão
Se há fotos e todas aquelas palavras
Então há pelo que se culpar
Pule na linha do trem, quebre a perna e espera não mais esperar
Espere o trem vir te inocular.

E todas às vezes que você cai bêbado
Você ri e grita se faz passar bem
Mas quando abre a sua porta e vê a sala escura
Acende a luz e chora por quem não vem
Porque ninguém nunca vem.

Quando os sonhos não passam de sonhos
e você de repente acorda
Aquele sono parecia tão bom
E agora lhe restou a corda
Ou o sangue pintará sua porta?

domingo, 3 de março de 2013

Ascari.


Aquele garoto parece só
o de óculos
e cabelos claros.
É só e ninguém sabe o que se passa em sua cabeça,
ou fingem saber.

Aquele garota que toca
está quieto
mas quando abre a boca
sorrisos surgem,
sem problemas.

Aquele garoto não tão satisfeito
anda com suas mãos nos bolsos
enquanto pensa em
propagandas, filmes, livros, discos, músicas....

Ele toca seu blues conosco
nossa rala e rola não é tão grandioso assim,
dançamos em círculos, somos círculos
e paramos
sempre
no
chão.