domingo, 24 de novembro de 2013

varanda, final de tarde.

quando o tempo passar, a banda não vai mais estar por perto
todos voltarão à naturalidade vaga
eu sentarei com a minha turma
enquanto a sua vai caminhando para o norte
e você fica para trás
olhando as colinas da cidade trabalharem a sua barreira
ao Sol.

a varanda ainda está molhada e ela senta
e molha sua saia; o som do mesmo disco rodado
por duas semanas seguintes
continua a rodar em sua varanda,
as letras são dela, as palavras são para ela
a voz vem em seus ouvidos e soa como se fossem cantadas em seu ouvido, para cada um dos dois.

o sol laranja começa sua descida, as nuvens cinzentas cobrem boa parte de sua cor.
mas o fim da tarde ainda é lindo, as nuvens e a poluição misturadas com o sol
fazem todo o sol se colorir com raios rosa e laranja,
enquanto uma leve chuva continua a cair, mesmo após perder quase toda a sua força.

e não há ninguém se molhando nessa chuva, as poucas gotas restantes são guardadas pelas nuvens,
as nuvens parecem tristes para ela.
assim como todo o resto do dia,
e as palavras vindas da voz mais suave a fazem lembrar do que sentia
há algumas semanas. Ela não chora por enquanto.

agora as turmas se vão, as idas ao norte, ao centro e ao leste não parecem os mesmos.
Ela está parada em sua varanda, o sol do final da tarde está em seus momentos finais.
Seus olhos brilham o contraste entre o verde e o vermelho. a música parece mais leal a seus ouvidos
a cada vez que a escuta.

Passa sua mão branca pelo chão úmido, sentindo cada uma das gotículas de chuva ácida de sua cidade.
Sente um pouco de seu coração em cada uma delas, se embriagando com os mililitros de ph corrosivo que caem por aqui regularmente. O frio nos últimos tempos tem sido um amigo muito familiar a ela...

o céu encontra o breu e a Lua cheia mostra sua cara antes mesmo do Sol sumir com a dele.
o encontro dos dois ocorre e ela ainda está parada, ouvindo mais uma vez ao disco de duas semanas.
todos aqueles sons foram feitos para ela, os músicos apenas não sabiam disso ainda.
as legiões do sábado à noite saíram, foram fazer o que devem fazer
ela está sentada na varanda, uma leve garoa volta a cair, relembrando os últimos dias chuvosos e quentes.
coloca sua cabeça para fora da varanda, sentindo as mais leves moléculas de água roçarem em seus cabelos.

ela vira a cabeça para cima e olha para uma luz alguns andarem acima,
as minúsculas gotas de chuva passam pela lâmpada como tropas silenciosas na madrugada
ela encara o sereno de frente e sua música favorita toca
uma grande gota cai em seu olho esquerdo
e se confunde com a lágrima que escorre do seu olho direito.