quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amadorum.

Tentei tocar um pouco durante a madrugada, mas só saia porcaria, não andava inspirado pra nada, era um saco bem mole. Meu sonho era ser que nem os mestres do blues, quanto pior eles se sentiam, melhor eles se saiam musicalmente...comigo é diferente, quanto pior, pior eu toco; quanto melhor, pior eu toco. Mas que maldição, queria pegar um dia e arregaçar as cordas do violão na frente de alguém, ser aplaudido de pé, mesmo que fosse uma pessoa só, de preferência mulher, é claro.
Larguei o violão longe e peguei o baixo, mesma porcaria de doer os ouvidos. Tentei a gaita e até a guitarra, mesmo estando com o amplificador queimado, estava tudo tão sonoramente qualificado quanto um cassino sendo demolido. Chorei por uns minutos, nem sei porque eu chorei, mas gostei daquilo e tentei prolongar, parou e fui beber alguma coisa, leite com cereal no meio da tarde e poucas horas após almoçar bem, ah, já to na merda, sou gordo e feio, manda bala.
Passaram-se duas horas, pensei que fossem 5 dias, fiquei escrevendo um monte de baboseiras no computador, às vezes achava que poderia mandar pra alguém e, com sorte, publica-las, mas aí eu despertava. Não gostava das minhas histórias, mas tinha orgulho de escrever textos longos e cansativos, daqueles que você fica cansado até de rolar o scroll do mouse pra ver o tamanho do texto, me sentia um pouco mais útil quando fazia coisas desse tipo, mas as histórias, ah, as histórias eram as mesmas coisas de sempre, um alter ego meu que se dá tão mal quanto o seu criador, com uma pitada de filho da mãe e arrogante, era legal.
Escrevi uma história meio pulp sobre um cara que se metia com a mulher de um big shot e estava ferrado pra sair da situação, morria e depois acaba. Sem graça, mas ficou enorme. Alguns psicanalistas achariam que faço isso tentando compensar meu trauma com alguma coisa pequena, vish. Meu apartamento alugado parecia gigantesco hoje, adorava aquele lugar, me sentia no paraíso, sozinho lá o dia inteiro, a semana inteira, mês inteiro, dependendo da época, ficava um mês inteiro sem nem ouvir o som da minha própria voz. Mas acabava ligando pra alguém pra sair depois, não aguentava ficar tanto tempo sozinho, é de enlouquecer
Alguém me ligou, uma voz familiar que não conseguia decifrar quem era, falava que eu tinha que ir lá na casa dela arrumar a pia do banheiro que estava quebrada, que eu era a única pessoa por perto que conseguia fazer isso, não faço a mínima idéia de onde tirou isso, única coisa que sou capaz de trocar é de roupa, sometimes.
Liguei um blues no último volume e comecei a fazer pequenos passos e coreografias, ficava me olhando no espelho e dando risada daquela cena deprimente, usando apenas cueca e vendo tanta pança pulando, era engraçado, ficava feliz. Peguei o violão e consegui tocar algo melhor, mas ainda assim tive vontade de quebrar tudo, sentia muita pena de mim mesmo, falava mal de tudo e não corria atrás nem de uma aula de música decente.
Quis passar o dia em casa, já estava assim há uma semana e tinha levado na boa, tava bem aceitável, devia ter engordado uns 15kg nos últimos dias, não tomava banho há três e a barba já era até charmosa no meu rosto. Sinto falta da faculdade quando estou de férias, muito mais do que sentia da escola. Ouvi dois Albert King e fiquei lendo umas duas horas, até as 17h.
Minha cabeça deu uma pontada e lembrei do que o médico disse sobre isso, que a pancada que eu havia levado há um mês atrás ia levar um tempo pra "curar" totalmente, que sentiria pontadas por uns meses, talvez anos e, com a minha sorte, talvez levasse essa lembrança pro resto da minha vida, não ligava muito pra dor física, sempre fui resistente. Na janela tinha uma pomba bem bonitinha, tentei chegar perto pra dar alguma comida, idêntico a uma velha, e lembrei de quando meu primo e eu atirávamos nela com a espingarda de pressão, fiquei com dó da bichinha, precisava de um animal de estimação pra não ficar muito só, um gato? Não, iam pensar que eu sou uma bicha afetada. Cachorro? Em apto. teria que ser um Poodle, Deus me livre. Decidi que ia procurar algum caminhoneiro que me arranjasse um papagaio totalmente ilegal por uns 50 mango, pegava ele filhote e criava o lindinho na mão, aí podia ficar que nem aqueles idosos que tem uns papagaios de 570 anos nas costas.
Falei com o Tião no dia seguinte, Tião era um caminhoneiro conhecido de minha família, sujeito humilde e que tinha uns contatos por ae pra tentar ganhar uns trocados a mais pra colocar uma comida mais jeitosa na mesa de sua família enorme, falou que ia ver o que podia fazer. Exigi um filhote de papagaio bem saudável, parecia uma bicha. Voltei pra casa e esperei cerca de um mês, não saí com ninguém nesse um mês inteiro, só conversava por algumas horas com o pessoal no computador e saia de casa pra fazer compras e pagar contas. Até que no final do mês, finalmente, chegou o bichinho.
Fiquei maravilhado com aquela pequena coisa semi-verde, nem tinha pelo e nem ao menos aquela penugem característica dos filhotes, chegava da faculdade e ficava lá admirando-o o dia inteiro, parecia uma velha aposentada sem outras tarefas mais importantes, mas me divertia bastante, tentava ensinar algumas palavras pra ele mas ele não falava nada, ainda era pequeno demais, ficava ajudando-o a quebrar aquelas pequenas cápsulas em que ficavam suas jovens peninhas, e depois ele ficava no meu ombro ou grudado no minha meia o resto do dia. Passou-se um tempo e já estava com metade do corpo coberto de penas verdes e vivas, muito bonitas, mas ainda não falava nenhuma palavra, o desgraçadinho, comecei a pensar que fosse uma fêmea. Tentava palavras clichês e simples, como "Lorôô" ou "biscoito", "Hernan", "Pai", coisas do tipo...e nada, nem um assobiozinho eu conseguia dele, mas mesmo assim eu não conseguia parar de encara-lo e me divertir o dia inteiro com ele (ou ela) pendurado nas minhas costas, me acompanhando silenciosamente em tudo o que eu fazia pela casa. Keith era o seu nome.
Desencanei de tentar fazer o bicho falar e me conformei que havia adquirido um papagaio fêmea, não me importava, era lindo e companheiro, estava precisando daquilo nos últimos meses. Passaram-se umas boas semanas silenciosas em meu apto. alugado, até que um dia, quando cheguei da faculdade, me deparei com uma cena revoltadora, Keith estava tentanto quebrar o trinco da janela, já havia quebrado um deles e estava prestes a quebrar o outro. "Nãão!" gritei, peguei-o rápida, porém cuidadosamente, e o filho da mãe me deu uma bicada que por pouco não arranca meu dedo do meio, jorrava que nem a porra de uma mangueira, e empapava as penas traseiras de Keith. "Seu porrinha!! Por que você fez isso? Te trato melhor do que trataria meu filho, fruto to meu saco, e você tenta fugir e me da uma bicada que quase me deixa mutilado?!" ficou me olhando com cara de nada, e coloquei-o no meu quarto, trancado e com segurança reforçada nas janelas. Comprei uma gaiola no dia seguinte, uma das grandes, pra ele não se sentir tão preso, apesar disso ser impossível.
Passou-se uns dias e nossa amizade parecia ter voltado, estávamos nos dando bem e, regularmente, deixava-o no ombro durante umas horas e passeava pelo diminuto apartamento, tropeçando em pares de sapatos, mesas e cadeiras, voltei a tentar fazê-lo falar, mas isso era improvável já.
Mas um dia, ao chegar da faculdade e sentar no sofá depois do almoço, comecei a ouvir um sonzinho familiar demais, e que vinha de dentro da gaiola do pássaro, me aproximei e confirmei que ele estava assobiando o tema de Kill Bill, fiquei surpreso e feliz, não sabia o que estava mais, mas havia gostado daquilo, até que quase caí pra trás:

- Ou, ogro, quando você vai me soltar de verdade, hein? Acha que eu me contento só ficando nesse seu ombro suado aí? Fico é muito puto quando olho pra janela e vejo um mundo lá fora e você e eu presos aqui dentro que nem dois imbecis encarcerados. Pelo amor de Deus, me liberta. - ELE falou.
-Mas que po...como assim?! Eu não te ensinei nenhuma dessas palavras! Ogro?! Ninguém me chama assim há uns 3 anos, pelo menos! Como aprendeu isso? Como aprendeu TUDO isso? Papagaios se limitam a repetir 20 palavras, e só repetem, não fazem idéia do que falam, nada faz sentido! O que você é?! - Cochichei, com medo de pensarem que eu era louco se me ouvissem falando sozinho, ou melhor, com um animal e tratando-o como um empresário.
-Não importa, só quero que você me deixa dar umas voadas por ae, eu volto, juro, mas nada dessa porra de gaiola nojenta, isso é coisa de presidiário, não fiz nada pra ninguém e sou um animal livre.
-Se eu te deixar ir, você não volta nunca mais, e vai acabar morrendo de fome ou apedrejado por um bando de trombadinhas por ae, pensa que eu não sei dessas coisas?!
-Não tenho medo de morrer, ogrinho, e outra, eu gosto de você e desse lugar, mas preciso sair de casa, você não entende? Estou trancafiado há tempo demais sem diversão nenhuma, tenho que sair, tenho que pegar umas mulheres, cara! - eu estava começando a concordar.
-Porra, você tem que me prometer que vai vir me ver todos os dias aqui e, se eu não estiver, você vai me esperar ou deixar um bilhete. Vou deixar a comida no mesmo lugar de sempre, você sabe.
-Você vai ter que me prometer também que vai sair dessa casa e vai curtir sua vida por uns dias. Chega dessa merda de depressão.
-Que depressão?! Eu sou animado pra porra.
-Ahh, não me engana, cara. Eu moro com você há tempo o suficiente pra te conhecer por completo. Não minta pra si mesmo - quando terminou de falar isso, caí na real de uma vez por todas.
-Ok, Keith, eu prometo. Mas me visite e tome cuidado, esse mundo é uma merda, seu bostinha.  - falei enquanto destrancava a gaiola
-Não tenho medo dele, e você também não. Mas se eu não tenho, você, no fundo, também não tem! - Falou olhando no fundo dos meus olhos e abrindo suas asas, como se não fizesse isso há anos.
-Até amanha, meu velho. - me despedi
-Grande abraço!
E voou.

Deixei a comida no lugar de sempre, troquei de roupa e saí pela porta da frente. Liguei pra um querido e me encontrei com ele meia hora depois. Na rua, todos me olhavam estranho e com medo, eu ria e ignorava-os. Estava feliz de novo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Hora ACME.

"Alô, Eric? Vem aqui em casa pra gente conversar, saudades de ver e falar com você, vários assuntos em particular pra gente colocar em dia. Vem amanha a tarde, qualquer horário pra mim ta bom, não vou fazer nada amanha. Beijão, lindo, até amanha!" - PIIII - Finalmente a secretária eletrônica me dava alguma notícia boa, alias, finalmente tinha alguma notícia boa depois de um longo intervalo se fodendo.
Naquela tarde eu não tinha ído pra faculdade, naquela semana eu estava deprimido demais pra pensar até em tomar banho, minha barba estava do tamanho da de um lenhador canadense e meu cheiro pior que o de um cachorro de rua podre que nem soube o que era água em vida. Foras, humilhações, brincadeiras de mal gosto e ironias conseguiram acabar comigo naqueles dias, não aguentava mais nenhum ser humano por perto.
Havia conseguido levar dois tiros no saco de duas garotas diferentes: a mais zoada e melhor da faculdade. Já esperava por isso, mas nunca estou preparado para o resultado final. Sei lá o que eu to falando.
Nesse mês tinha abandonado a aula de música, o curso de francês, a academia (que não me mudava em nada, mesmo, estava a mesma banha deprimente) e o psicólogo. Mas pensando bem eu ia no psicólogo só pra ver como teria que me virar no dia-a-dia depois que abrisse um consultório ou coisa do tipo, se é que isso ia acontecer algum dia.
Fiquei estonteamente quando ouvi aquele recado, era uma garota que eu havia ficado há muito tempo e eramos muito amigos até hoje, apesar de ter perdido o contato. Sempre achei que poderia tentar de novo que ela ia aceitar, já que amizade colorida nunca se apaga completamente. Fiquei pensando nela o dia inteiro, quem sabe eu não tinha realmente uma chance de me dar bem amanha? Bom, tomara que sim.
Fui no mercado comprar alguma coisa pra comer, não estava inspirado pra cozinhar nada decente, então fui comer porcaria pelas ruas. Comprei batata frita, frango a passarinho, purê e coca-cola, levei pra casa e ataquei metade de cada item, não sem antes parar pra comer um churrasco grego obrigatório na rua de cima. Tomei banho, banquei o vagabundo na internet por umas 4 horas a fio, escrevi alguma bobagenzinha só pra descontrair e dormi que nem um recém-nascido recém-mamado.
Acordei muito cedo, no horário certo pra ir pra faculdade. Fechei o olho de propósito tentando enganar meu cérebro e enrolei por uns quinze minutos, quando tive que levantar correndo pra ir no banheiro achando que ia me cagar todo, para a minha a surpresa, vomitei 5 vezes seguidas, jatos hollywoodianos, devia ter filmado. Aquele purê estava até verde quando eu comi, mas na hora da fome e da preguiça eu engoli tudo e nem reparei de verdade naquilo, devia saber que ia me foder, pra variar.
Passei o resto da manha deitado no meu sofá cheio de buracos e rasgos de unhadas do meu antigo gato, que tive que deixar na casa dos meus pais, porque ou eu tinha dinheiro pra alimentar o coitado, ou pra me alimentar. Escolhi a pior opção e decidi viver...gordo.
Estava passando uma maratona do Looney Tunes no Cartoon Network da puxa de corda que fiz do vizinho, após colocar cinquentinha no bolso do síndico, o sinal era ótimo e ninguém nunca ia descobrir mesmo. Me matava de rir com aqueles o Coyote levando no rabo toda hora, dava um dó do caramba, ou quando o Pernalonga e o Patolino ficavam decidindo se era temporada de caça ao pato ou ao coelho, mistura de bobeira com nostalgia e inconsciente. Terminei de ver uns episódios rápidos de Johnny Bravo, um clássico, comi uma salada bem leve pra não acontecer mais nada e tomei um suco duvidoso que estava na geladeira há um tempo considerável.
Depois de me trocar, vi que meu frasco de perfume havia acabado, droga, era o que eu mais gostava e não encontrava mais daquele, nem nos genéricos, era uma nota um original e eu andava mais quebrado que o Primo Desossado. Lixo, só queria ficar mais apresentável mas havia gastado as últimas gotas do perfume há 4 noites atrás, quando me encontrei com uns queridos no Kahuna Makuna's, mas deixa pra lá, é só caprichar no desodorante e tentar não suar que nem um gordo, coisa que é impossível. "Vou parar de ser pessimista."- pensei, e fui em direção ao metrô.
Me sentia meio fraco ainda por causa do mal estar que tive de manha, mas ia conseguir aguentar até o final do dia, havia tomado alguns remédio que acreditei que acabariam com aquilo e, psicologicamente, me sentia melhor. Entrei no metrô, fiquei ouvindo um celtic punk qualquer pra dar uma agitada no meu dia, dormi e parei na Barra Funda, era pra ter descido na Sé.
Demorei mais uma boa uma hora pra chegar na estação correta, sem bateria no iPod, me senti verdadeiramente nu sem ouvir música no metrô, costumes que viram vício sem nem percebermos, se bem que ninguém percebe que está viciado até a hora em que fica sem o que a vicia, o que eu to falando?! Desci, estava na Zona Sul, amo aquele lugar. Bom, melhor que a Leste com certeza é!
Mandei uma mensagem pra minha amiga falando que estava chegando na casa dela, mensagem essa que foi rapidamente respondida com as palavras mais ou menos assim "Vou demorar, tive que sair rapidinho e já vou voltar. Beijos <3" - quando li isso imaginei que esperaria 20 minutos, não duas horas embaixo do sol, sem perfume e com o pouco de desodorante que havia passado, considerando que não esperava por tal situação
póros do meu corpo, devido ao suor.
Conversamos por umas belas três horas sem parar, rimos demais, uma ótima conversa, como nos velhos tempos, tinha muita saudades dela já que costumava visita-la toda semana há uns 3 anos, e hoje em dia eu nem lembrava mais o caminho pra chegar em sua casa. "Puta, quanto tempo que eu não via tv com você, a gente só ficava falando bobagem de qualquer coisa que passava ae, fazia graça com tudo que dava pra fazer haha", "Senti tanta falta de você, Ric, a gente se via toda hora, era muito legal", ficamos nesses papinhos de amigos amantes uns 15 minutos, dando risadas nostálgicas, até que fui me aproximando um pouco mais, disfarçadamente. Senti que estava suado demais, fiquei desesperado e falei que ia no banheiro lavar a mão de rua, havia esquecido completamente mesmo.
Tranquei a porta, arranquei a camiseta, abaixei as calças e comecei a dar um banho de gato no meu corpo inteiro, estava nojento, meu Deus, passei em água em TODAS as partes que poderia passar, todas as que poderiam me ser úteis hoje, fiquei uns 2 minutos fazendo isso, peguei o pano de rosto mais próximo e sequei o meu corpo banhoso inteiro com aquilo, fiquei com dó do paninho, era tão fofinho com uns gatinhos laranjas bordados, mas mulheres em primeiro lugar. Passei um litro do desodorante do irmão dela que, por sorte, era o mesmo que o meu e voltei pra sala com ela.
"Então, e aquele seu amigo lá, Carlos eu acho, você vê ele sempre?" "Ah, não sempre, mas de vez em quando vejo sim" - respondi, já arrependido de tudo. "Ah meu, mó lindo ele, traz ele pra cá da próxima vez, aí eu trago a Belita e a gente fica de boa sozinhos aqui" - ahá - ".......Pode ser, legal."
Mais uma hora de conversa, ou melhor, monólogos de sua parte, fiquei quieto e só concordava e quando perguntava eu falava que tava brisando no que passava na tv ou que tava cansado por causa do sol. Falei que ia embora já, tinha que acordar cedo porque tinha faculdade e já estava ficando tarde, fui no banheiro, dei uma bica na privada e outra na pia, dei mais duas na pia, me assegurei de que havia soltado-a da rosca parcialmente, dei mais uma com o bico do tênis usando toda a força das minhas fortes pernas de quem anda de bicicleta todo dia por algumas horas, e fui embora agradecendo a alguma força maior por me fazer tão infantil.

Deus e o Diabo Na Terra do Clichê.

Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa, o cara fez um maldito monólogo sobre como eu tinha ferrado com a vida dele em todos os sentidos possíveis. Eu, já chumbado, não estava prestando atenção nenhuma no que o pobre diabo falava e só concordava com um sorriso amarelo e, regularmente, pedia desculpas com a voz bem baixa e rouca, com preguiça de virar a cabeça.
"Seu filho da puta, você pegou ela e nem ao menos pensou em mim um só segundo! Esperava isso de todo mundo menos de você, seu lixo." pelo que eu me lembro ele estava falando algo assim, já havia bebido demais e suas frases não faziam o menor sentido, e eu também não estava fazendo muito esforço pra entende-las. Enchi o saco e saí de onde estava, fui pra rua e me deu vontade de fumar algum cigarro, apesar de detestar cigarros. Subi a rua em direção ao prédio, lá peguei a minha nova bicicleta (na verdade num era muito nova, mas havia reformado-a a pouco) e saí por ae dando umas voltas pelas ruas mais próximas, pedalar sempre me deu forças pra encarar mais tranquilamente as decepções que eu causo nas pessoas e que ocorrem comigo mesmo, alguns bebem, outros fumam, outros cheiram até abrir um buraco no cérebro, eu simplesmente pedalo até minha perna falhar. Lembro-me de ter pedalado por umas boas 2 horas a fio, sem parar nem pra beber água ou pra arrumar a bunda naquela banco incrivelmente desconfortável que eu tinha ficado com preguiça de trocar por um melhor. Depois disso só me lembro de um estalo aterrorizante e de sentir minha cabeça voar 57 metros em dois segundos.
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Cheguei em casa no começo da madrugada e deitei na cama, não sem antes colocar música no último volume, nem queria saber o que era, coloquei pra tocar aleatoriamente e deitei no sofá, olhando pra tv desligada e vendo meu reflexo mórbido e doentio na tela pequena daquele miserável aparelho que havia pegado no lixo mais próximo, bem vintage.
Todo o meu apartamento alugado tinha um ar vintage, eu andava muito sem grana e tive que implorar pros meus pais darem um pouco de dinheiro, mesmo tendo saído de casa sem a aprovação deles, diziam que eu ia morrer de fome e todo esse assunto de pai que a gente não dá nem um saco de merda em troca. Não preciso dizer que eles novamente estavam certos e eu andava passando fome ultimamente, e mesmo assim continuava uma bola de banha nojenta.
Me assustei com o som do Stooges começando do nada e me veio a idéia de ir na casa de alguém pra comer alguma coisa decente, vesti alguma roupa simples, um pouco de perfume pra ficar mais apresentável e 10 mangos no bolso, coloquei uma camisinha no outro, mesmo sabendo que ela ia morrer lá dentro. Olhei pro espelho e fiquei me admirando por uns 2 minutos.Pensei. Tirei a roupa recém perfumada, deitei na cama e fiquei olhando pra lâmpada até minha retina se reduzir a nada.
Acordei tarde pra caramba no outro dia e decidi ficar lendo Bukowski ao som de The Who, coisa bem clichê, mas adoro o clichê. Depois de umas horas fazendo isso, comi e fui pra rua, procurando algum bar com algum conhecido.
Entrei Kahuna Mahuna's e liguei pra alguns conhecidos, esperei os queridos chegarem e tivemos uma noite agradável conversando sobre todo tipo de cocozagem que recém-adultos, ou melhor, ex-adolescentes podem conversar. Todos ficaram bêbados que nem uns desgraçados, mas me contive em uma ou duas cervejas, me arrependi profundamente logo depois que o primeiro vomitou há 2cm da minha perna, acertando minha meia quase que inteiramente. Acontece, nem fiquei puto, mas esfreguei a meia na cara dele, nem deve ter sentido.
Foi depois de alguns minutos que percebi que não havia nenhuma garota naquela mesa inteira, mais de 8 marmanjos e nenhum par de coxas lisas, brancas e carnudas. Não era eu que ia correr atrás, era mais fácil eu me jogar na frente de um Maserati do que fazer isso, não sei até hoje como consegui transar, mas sei lá. Mandei o mais extrovertido ligar pra alguma amiga em comum e traze-la, mas todos já estavam de saída e nem ao menos ofereceram uma maldita carona, não que eu fosse aceitar de qualquer modo, mamados do jeito que estavam era preferível eu sair rolando morro abaixo até chegar em casa. Descartei a hipótese.
Decidi ir no banheiro dar uma urinada, logo que cheguei  tropecei na maior poça de vomito já registrada pela humanidade e meti minha mão glamurosamente naquele pedaço do inferno, quando fui levantar, meu pé escorregou no chão molhado e espatifei a outra mão com graciosidade no outro lado do inferno, fazendo respingar duas perfeitas gotículas de inferno, uma no meu olho, outra no meu dente. Cuspi, esfreguei e dei risada por uns 5 minutos, passei mais 5 limpando a sujeira e esqueci completamente o que havia ido fazer naquele lugar.
Já que estava sozinho, não conhecia ninguém e não ia fazer nada amanha, decidi ficar bêbado, minha casa situava-se 3 quarteirões depois do bar, estava sossegado. Pedi um whiskey duplo estilo cowboy, nunca tinha pedido isso em um bar e achava muito estiloso quando o faziam. Era ótimo, ainda fiz uma cara de misterioso enquanto tomava-o bem lentamente e pedia outro e mais outro. Comecei a reparar o número de fêmeas que me rodeavam naquele estabelecimento, não tinha mais nenhum cara, ou garota acompanhada, todas estavam lá, bebendo e pedindo pra alguém pagar bebidas pra elas, "Agora sim é minha vez" pensei, talvez fosse. Escolhi uma loira de olho azul e uma boca rosa que fazia qualquer um ficar aos seus pés, não era a mais linda e nem a mais feia, tinha visto ela beber uns 3 drinks, então já não devia estar num nível alto de sobriedade.
Já haviam se passado uns 5 minutos desde que havia começado a conversa mais idiota do mundo com ela e realmente estava empolgado, mais nervoso que um pastor no corredor da morte, suando mais que um pugilista depois de 15 rounds da sua pior luta e podia sentir minha barriga tremendo e as gigantes gotas de suor descendo por todo o volume dela, devia estar com pizzas enormes no suvaco, mas não podia fazer nada, ia me dar bem, finalmente.
Luiza e eu decidimos ir pra fora, perto do carro dela (inventei que tinha deixado meu carro na garagem, já que morava lá perto) conversamos mais alguns poucos minutos e pulei dentro da boca dela, minha língua já ia roçar na dela, quando a mesma simplesmente recuou totalmente e senti suas mãos me empurrando com força, fazendo minha bunda bater com força na porta de seu carro. "QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?!", "É, eu não, achei que você.....desculpa. Por favor, pelo amor de Deus."- sim usei em vão, desculpa também. "VAI EMBORA, SEU PORCO SUADO, NOJENTO!!!"
Caralho, aquilo foi foda. Nunca consegui levar numa boa a humilhação de levar um fora, nunca consegui levar numa boa qualquer tipo de humilhação, sempre quis agradar os outros pra eles não falaram por trás e ficarem rindo de mim depois. Mas era impossível.
Voltei pro bar com a sensação de que até os ácaros daquele lugar estavam olhando e rindo de mim. "É bom você sair daqui, aquela loura é do Miguel", falou o meu companheiro de longa data, Pedro, o barman. Miguel era nada mais, nada menos do que o filho do delegado, o sujeito mais corrupto daquela droga de rua, alias, região...por que não dizer cidade? O cara tinha estourado a cabeça de um de seus companheiros só porque ele tinha brincado com a hipótese deles dois fazerem um ménage com essa garota, a Luiza, mas disso vocês dois já devem saber, não é? Vocês sabem de tudo sempre, mesmo que não façam nada pra mudar.Mas voltando ao ocorrido...Tudo aquilo estava clichê, clichê demais pro meu gosto, mas não sei como, eu esqueci completamente de tudo e voltei a pensar em outras coisas. Não tinha como ficar pior, pedi o que tinham de mais barato e com bastante álcool, bebi umas 4 doses de uma vez, não sei nem como faria pra pagar aquilo no final do mês, mas nem imaginei isso na hora. Levantei pra mijar e tudo subiu de uma só vez na minha cabeça, devo ter ficado parado uma eternidade olhando pra uma bela garra de Absinto que flutuava na estante, fui pro banheiro e, com a pior pontaria de todas, consegui fazer o que desejava, não sem antes molhar toda a região da virilha e minha mão direita com um nível considerável de urina amarela e viscosa. Olhei pro espelho e meus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, não sei porque, mas queria muito chorar, sentar no banheiro e dormir uns 3 dias.
Voltei pro meu lugar no bar e esperei um tempo até melhorar e ir pro apartamento. Nesse pequeno intervalo, um "semi-mendigo" adentrou ao recinto e sentou bem ao meu lado, nem liguei, até que ele decidiu abrir a boca  e se apresentar "É Paulo, cara", disse seu nome sem nem perguntar, "Eric", respondi com cansaço na voz. Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa...

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Acho que meu registro inteiro está ae, não tenho motivo algum pra mentir, ou vocês dois acham que eu tenho? Espero que tenham datilografado tudo no papel. Adoro essa palavra, diga-se de passagem. Eu ainda estou um pouco cansado e talvez haja mais detalhes que esqueci de contar, mas está tudo aí na mão de vocês, as partes mais importantes pelo menos, eu juro. Sei que vocês dois assistiram a tudo e sabem que eu estou certo, não mereço o que falavam que me aguardava aqui, ou mereço?

Até mais.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dogs.

I was passaing by the bridge today and saw two dogs sharing, actually fighting for, the rest of a dead bum that probably died from malnutrition and madness, I guess.

Her black skin it was kind of purple, I imagined that he was passed out since a long time, and the smell it was just desgusting. I had the idea of taking some pictures of the dead body, just for fun, and then post them on the internet, in some web community about dead persons, or dead bums, or even about dead bums feeding hungry dogs with their putrid and useless flesh. The street lights gave it an really interesting shine to the scene, and I was it really amazingly happy with the whole thing.

When the shows ended, I looked around, trying to find somebody that watched all the chapter of these two dogs life's ...there was nobody around, the darkness was surrounding me and my shadow, my brain was saying to me, to run away to some place else, he said to me"Go to somewhere where the lights bring ya some happyness, some good moments, don't watch all the same movie again, please.", and then my heart just said  "Take your time, watch it slowly and see it, see it what happens , watch every detail of this scene and try to absorve everything that the nature are offering for you. Don't take any risk. You'll probably get hurt at the end of this, but, someday, you'll look back and discover that it worth it all the pain, all this anguish was not in vain.



The two cadaverous dogs finished their dinner, finished with their momentary problems, it's momentary 'cause they'll definately gonna come back to this two little bastards, the hungry; loneliness; cold; dangerous situations; motherfuckers and all the fuckin' shits that's our world and this unbelievable good God, that we have 'til the end of the times.

See ya. Sorry for everything.