quinta-feira, 28 de junho de 2012

tragadas, cervejas e o vazio.


   Logo com o primeiro raio de Sol eu acordei e me arrependi disso. Sempre me arrependia disso, na verdade, então não é exatamente algo com o que se possa começar uma história interessante. Não no meu caso, ao menos. E essa talvez não seja uma história interessante, ou talvez seja. De qualquer forma eu também não ligo muito pra isso.
Provavelmente estava de ressaca e minhas ideias ainda passeavam pelas conversas da noite passada com um bando de charlatões inúteis como eu, apenas procurando por alguns trouxas para passar a perna ou algumas garotas para embebedar. Não os julgo por nada disso. Ligo a televisão para ver alguma coisa bacana e lembro que era domingo, desligo o aparelho e deito no sofá de barriga para cima, usando apenas uma cueca azul escuro, com toda aquela banha esparramada por lá e os dedos engordurados com manteiga. Permaneço lá por alguns minutos, gesticulando, falando algumas palavras aleatórias sozinho e assistindo ao lento passar dos minutos da minha incrível existência.
Fumei um pra aquele tédio todo passar e fiquei de bobeira enquanto viajava com alguma música, pensando em muitas coisas e realizando nenhuma. Devo ter escrito algumas baboseiras ou rabiscado umas ideias, mas foi apenas isso o que acontecia por mais ou menos uma hora e meia ou duas.
Eu fedia demais, meu cabelo parecia que haviam mergulhado no óleo uma noite antes e meus olhos eram rodeados por ramelas amareladas gigantescas que mais pareciam meleca. Se bem que ramela é meio que uma meleca mesmo, não é? Vai saber. De qualquer forma eu estava muito fedido e o calor que fazia no dia não estava tornando as coisas muito mais agradáveis. Nem a pau que eu ia tomar banho uma hora daquelas num domingo no qual a melhor parte do dia seria certamente a hora que ele acabasse. Tratei de acostumar com o cheiro e com as minhas mãos engorduradas como sempre fazia nessas situações, enrolei mais um pouco de erva numa seda importada de algum lugar que alguém me presenteou e peguei o telefone para ligar para alguém que quisesse trocar ideias num dia tão vago e não me veio ninguém à mente naquela hora. Disquei a primeira sequencia de números que meu cérebro pescou na minha memória e pensei em algum assunto para conversar com seja lá quem atendesse do outro lado:
  • Alô? - voz feminina
  • E ae, quem é?
  • Renata
  • Renatóideees, como vai?
  • Meu, acabei de acordar, sério. O que você quer?
  • Só papear, coraçón, tô sem nada pra fazer aqui e dúvido muito que a senhora estivesse com grandes planos marcados pra essa hora da manha – respondi enquanto acendia mais um baseadinho
  • Dormir é um grande plano.
  • Por que? Tá uma depressão profunda aqui nessa porra...dia desgraçado do cazzo. Só queria falar com alguém pra não ter que me matar por aqui e sujar o carpete todo com a merda que meu corpo cagaria depois.
  • Por que você só fala merda? Já tá fumado, né? - devia ter me ouvido segurando a fumaça e isso era o bastante pra achar que fumei, o que era o bastante pra ela justificar o que eu falava dizendo que era culpa da erva.
  • Porque eu falo o que sou. E sim, fumei.
  • Por que?
  • Peque?
  • Vai se foder, vou voltar a dormir. Durma também e para de encher o saco dos outros, seu maconheiro.
  • Dorme não, filha. Fica aqui comigo, caralho. Se eu não durmo ninguém...
CLANK.. Desligou.
"Foda-se", pensei comigo mesmo, mas no fundo ela tinha toda a razão mesmo não tendo falado nada. Dormir era sempre o grande plano. Um ótimo plano que funcionava muito bem nas mais diversas situações, sejam elas de tristeza, depressão, decepção, vazio, crises da meia idade, crises financeiras, crises pessoas e crises existênciais. Por isso eu segui o seu conselho e depois de fumar deitei na cama, no maior breu que consegui fazer aquele quarto atingir. Mas minha cabeça era bombardeada com pensamentos profundos e ideias filosóficas, normalmente eu conseguiria dormir com coisas assim na mente, mas acho que esses eram recentes demais e eu queria pensar mais e mais e chegar a novas conclusões e talvez até escrever sobre aquilo mais tarde. Mas na verdade não passavam de coisas idiotas e demorei menos de uma piscada para esquece-los por completo, assim como o mundo não demoraria menos de uma volta para se esquecer de mim quando eu fosse embora desse plano físico.
Não conseguia dormir de jeito nenhum e aquilo estava me deixando louco. Parecia que tudo ao meu redor não passava de lixo e eu era apenas a sombra de mais uma mosca em cima de toda essa podridão. Tudo o que eu fiz até aquele momento de minha vida não era nada e nunca seria nada, assim como todo mundo. Queria tirar aquelas coisas da minha cabeça mas a verdade é que elas queriam sair há muito tempo, estavam presas há tempo demais em suas gaiolas e agora elas iriam se libertar e trazer consigo tudo o que bastava para derrubar alguém. A minha sorte é que eu já estava no chão muito antes de conseguirem me derrubar. Enfiei a cabeça no travesseiro e gritei com a toda a força que eu conseguia, gritei mais vezes e não parava de gritar como uma adolescente que acabou de perder o namoradinho que a deflorou na noite anterior e se sente usada como um animal no abate. Logo depois eu chorei como uma criança e finalmente consegui dormir por algumas horas a mais, em cima daquela fronha babada e molhada por lágrimas, com a minha garganta ainda quente e dolorida devido aos berros de desespero que fizeram eu me sentir leve como uma pluma depois que cessaram.
Acordei um pouco depois do que eu considerava a hora do almoço, comi um amontoado de restos da semana em um prato bem servido e dei uns tragos depois para poder relaxar mais ainda com toda aquela chatice de dia. Não aguentei e liguei a televisão para dar uma olhada rápida e me surpreendi com alguns canais passando programas realmente interessantes. Na verdade eram dois programas e estavam um no fim e outro começado, fiquei com o começado porque era isso ou algum filme de ação que eu prefiro nem começar a comentar sobre.
Não aguentava mais nem um segundo naquela sala rançosa, com cheiro de banha amanhecida, maconha e arroto. Calcei uns chinelos, uma bermuda que ficava caindo e mostrando meu rabo e uma camiseta que achei em algum canto do meu quarto e saí pra dar um rolê pelas ruas aqui perto, encontrar alguém pelos lados do metrô e conversar um pouco, sair daquele ambiente que estava me dando nos nervos.
Chegando até o metrô, pensei em tomar alguma coisa e apalpei um dos bolsos da bermuda, e foi quando tive uma primeira boa notícia nesse dia: no fundo do bolso se encontrava, amassado, vinte mangos amarelinhos esperando para serem gastos. E no bolso da perna outra boa notícia, um pouco de erva que devia estar perdida por lá não faço ideia desde quando. Enrolei em um guardanapo qualquer que arranjei por lá e acendi, tragando e vendo as pessoas andando na passarela em direção à estação, tentando serem úteis no mundo, lutando por uma existência mais notável e não conseguindo nada em troca. Cães ossudos se cheirando e procurando pedaços de comida para poder sobreviver mais um dia, se vangloriando para os outros cães que estavam atrás dos portões das casas, andando com toda a classe que um vagabundo tem, exibindo toda a liberdade que a natureza lhe deu e que aparentemente foi tirada dos cães que estavam do outro lado dos portões. Um deles se aproximou e pelo visto se interessou pelo cheiro da fumaça que estava ao meu redor, cafungando tudo com o seu fucinho e olhando pra mim com cara de miserável. Assoprei um pouco da fumaça em seu rosto e fiquei lá brincando com aquela pobre criatura do mundo, simpática demais para um cão, desgraçado demais para a vida. Foi nesse momento que Fabio surgiu como uma sombra na escuridão e o cão seguiu seu rumo atrás de comida e um pouco de carinho das mãos de alguém que não se importasse em suja-las com seu pêlo castigado pelas ruas amargas e frias daquela merda toda.
Fabio chegou com seu caderno todo envelhecido, um lápis na orelha, seu chapéu que usava todos os dias e seu olhar penetrante, sempre ativo em suas ideias considerada por muitos insanas. Me cumprimentou com poucas palavras, apertando minha mão e foi seguindo em direção a um canto mais vazio, uma espécie de viela que os drogados e maconheiros vira e mexe iam pra lá para fazerem suas coisas. Tirou uma boa quantidade de erva de dentro de um pedaço de saco plástico amarrado com um barbante e começou a enrolar um belo cigarro junto com o que tinha sobrado da minha erva. Fabão era uma das pessoas mais curiosas que havia conhecido nos últimos tempos. Tinha uma espécie de sabedoria espiritual que eu apreciava muito, suas conversas iam e voltavam, transitando entre vários campos espirituais, espaço-temporais, física quântica e filosofia aprofundada. Estava escrevendo um livro há um bom tempo, uma série, e nos mostrava o seu progresso e eu de vez em quando mostrava algumas coisas que escrevia para ele. Ficávamos por lá, fumando, conversando sobre assuntos que dificilmente se encontra alguém para conversar, sentia-me bem à vontade e discutíamos algo sobre o início de toda a vida na Terra, do Planeta e da evolução de todas as espécies e do futuro da Natureza, tudo fluía espontâneamente e com uma naturalidade que fazia eu me sentir bem. O tempo voou que nem uma águia e já estava quase no fim da tarde quando me despedi, completamente emaconhado, daquela figura única, um protótipo no meio de tanta padronização, um freak no meio dos cabelinhos penteados.
Subia para casa e no caminho me lembrei daquelas quase vinte pilas abarrotadas no fundo do meu bolso, aquilo já servia para fechar o dia com chave de platina. Passei no mercadinho do bairro que não sei como ainda estava aberto e peguei um engradado que tivesse mais cerveja pelo menor preço possível. Com o troco peguei um chiclete e assim acabou toda a minha grana da semana, eu acho.
Chegando em casa eu tirei toda a roupa e voltei a ficar no meu estado natural, de cueca e mais nada, com aquela catinga ainda no meu corpo e suor seco misturando novamente com o líquido que voltava após subir as ruas do meu bairro. Enfiei todas as cervejas no fundo do freezer e dei uma golada em uma vodka que tinha por lá. Não sou muito de bebidas quentes, mas já que era pra chapar, chapemos direito. Acendi uma cigarrilha (lembrei de um maço que deixava escondido atrás dos dvd's para não ficar fumando todos os dias) e sentei para ver se escrevia algo, nada saiu e eu só fiquei ali, olhando para a tela do computador e tragando fumaça, pensando em alguma nova tatuagem ou o próximo livro que iria comprar. Enrolei por mais meia hora, caguei, lavei as mãos, comi uma maçã e decidi pegar uma cerveja no freezer estando fria ou quente.
Estava meio quente ainda mas nem me importei. Me rendi novamente à televisão e fiquei alguns minutos passando pelos canais, deixando em alguns desenhos por uns instantes e sorvendo cerveja e queimando tabaco. Desliguei e deixei uma música tocando enquanto virava mais latinhas dentro do copo e ia bebendo um tanto quanto rápido, algumas mais quentes e outras já mostrando uma temperatura mais baixa – "daqui umas duas já estarão todas quentes" - pensei. E sim, estavam ficando mais geladas e aquilo animava o final da minha tarde. Uma tarde em que busquei nada mais do que prazer e ócio, e acho que não consegui muito de nenhum dos dois.
Tudo isso aqui parece muito deprimente e inútil, imagino. Ninguém que se pegue na vontade de ler algo interessante ou educativo pegaria para ler um "conto" tão vazio e vulgar como esse. E é exatamente esse o problema de tudo, ultimamente. O vazio que parece me comer cada dia mais, cada dia mais um pedacinho da minha alma e da minha existência. Ansiedade por algo novo, pela ampliação do horizonte e da perceptividade, será que ninguém fica se perguntando sobre qualquer uma dessas coisas? Pelo amor, está tudo fodido e somos apenas o fruto de mais alguma foda. Uma foda que começa pelas nossas bundas e sai pelas nossas bocas, e nem nos damos conta disso, passando por aqui, passando por todos os lugares que passamos dentro do insignificante espaço de tempo em que habitamos esse pequeno pedaço de galáxia e nem nos damos conta disso. E na verdade acho que ninguém quer se dar conta disso, melhor viver iludido pela máxima de que precisamos fazer algo útil nessa porra, que para sermos felizes precisamos, de alguma forma, sermos úteis para toda a sociedade. Talvez, em termos filosóficos e pessoais, nos colocando somente no plano físico e nada mais além disso, temos a necessidade de usar nossos esforços mentais e braçais para benefício da humanidade e do nosso ser social. Mas talvez tudo isso seja em vão e nada do que fazemos importe muito. Nada pelo que batalhamos seja de interesse para outros universos e outras civilizações. Não somos nada no final de tudo, mas isso muita gente já sabe, imagino.
Terminei todas aquelas cervejas e já estava bem baleado no final da última. Tocava alguma música do Gong quando acendi uma última ponta que achei no cinzeiro para terminar a minha noite, enrolei-a com um pouco de tabaco para render mais e comecei a simplesmente falar sozinho por um tempo. Sentado no sofá, de cueca e um fedor que deve ser crime em algumas culturas, bem bêbado, de barriga vazia e chapado, fiquei conversando comigo mesmo por um bom tempo, enquanto tomava uns copos de água e comia uns amendoins. Tudo parecia bem no final. Havia conversado com os meus demônios ao longo do dia inteiro e eles me deixariam em paz por uns dias e eu os agradeci por tanta gentileza. Olhei para o relógio, o tempo havia voado novamente, ou estava muito louco e não lembrava de tudo o que aconteceu naquela sala, só via uma bagunça um tanto quanto chata. Apenas me levantei, subi as escadas e me joguei na cama com toda a vontade. Depois disso só lembro de acordar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Portas


Chuto a atual realidade
misturando-a com o que vejo ao meu redor
e o que sinto na presença da natureza e do meu ser interior querendo sair e se rastejar pelos campos verdes do nosso paraíso.
Não sei se nossa presença seria magnífica
se é apenas mais um universo no meio de bilhões
uma existência insignificante no meio de tantas outras

somos o ponto na sombra da bosta da mosca em cima das fezes do universo em que vivemos.
E nossa natureza parece ser irrelevante.
Lutando contra a miséria e causando mais ainda
nos desvencilhando do aprisionamento filosófico; em busca das respostas no obscuro.
Dimensões e planos espirituais. Pura energia cósmica ao nosso redor. Resquícios de uma passagem por essa galáxia.
Enteógenos no aumento da percepção dimensional, real e xamanista

Filhos das primeiras estrelas.
Fomos e voltaremos a ser apenas matéria espalhada pelo infinito. Nossa matéria se acomodou nesse plano
e a ele estamos aprisionados
junto à essa carcaça, constantemente julgada.
Mas das estrelas nós viemos e um dia a elas pertenceremos novamente.
Assim como tudo no funcionamento cíclico universal.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

laughing out loud


Give it a try
run for it
stop being you, man
all the damn time

you don't care about shit, you say
well, me neither, baby
sexless life, i'm not the strongest dude around here
or around anywhere
surrounded by chicks
joking and making them laugh
that's my role on this plot
that's my job on earth, man, my mission
you gotta love your mission, ya know
and it makes me feel blue almost everyday

but i guess that someday, maybe, i'll get used to it.

thank you, guys.


Maybe i'm the ugliest person around
and don't have any idea of how get girls. And maybe i'm fat and disgusting, dumb and silly.
Maybe i'll die alone, old and sick
and stay there, lying on the ground
with worms and maggots eating my ass
untill someone call the police because of the stinky smell.
But I still can write a few good poems
that make me feel better than you all
together.
And I
thank you
for that.
Suckers.