domingo, 15 de janeiro de 2012

façanha

comediantes em cima de um palco
fazendo piadas com judeus
padres
pedófilos
risadas forçadas
etílicas
risadas com dinheiro envolvido
você força um riso
nada sai
prefere ficar quieto e fingir que se diverte
nada mais tem graça hoje em dia, baby

agradece por não estar lá no meio, tendo gastado mais de trinta reais para estar naquele inferno de piadas ridículas
situações ridículas
vergonha alheia
agradece pela falta de liberdade
de dinheiro
de esperança
de felicidade
e de colhões que a vida lhe deu
agradece por ser um covarde em cima do muro
rindo apenas das coisas que fala
rindo apenas quando está com o menor número de pessoas
o possível
rindo quando a bela namorada de seu amigo
tira sarro de você
antes isso do que um tiro na cabeça
antes um saco de merda do que um tiro
mas não sabemos o motivo de tal preferência

amor seria um balde de ovos com bosta entrando na sua orelha
esperança é tão vaga quanto a pura felicidade que tanto procuramos
os quinze por cento de pura felicidade que podemos encontrar durante a vida
são mais difíceis de se encontrar do que uma agulha num agulheiro
mas continuamos tentando, é claro
nada mais fácil do que continuar tentando
continuar fingindo
continuar aceitando
e engolindo
engolindo rios de merda numa golada só
comendo um mundo de bigatos pelas beiradas
aproveitando cada abocanhada
como um cão aproveita cada fiapo de carne em um osso velho e podre

     sem liberdade
              sem amor
     sem dinheiro
                        sem sorte
sem estudo
                                    sem trabalho
mas nada mais fácil do que
continuar
tentando

VAMOS! escrevam, estudem. VIVAM!
hey, mas só não nos perguntem
a receita
para tal
façanha.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Bucólico [parte 5]

o céu aberto.


Estrada molhada
caminhões em velocidade baixa
bateria acabando, ouvindo músicas etílicas
melancólicas, com um toque de
blues
gaitas distorcidas e todo o pacote
plantações de milho pelo caminho
montanhas e nuvens caindo do céu
cinzento
um verde sem fim
algumas pequenas casas, vilarejos
comércios
perdidos no meio de tudo isso
o barulho do vento entrando pela janela aberta
o tempo se abrindo
saindo do cinzento para o branco
o cinto de segurança está me estrangulando
cortando minha jugular
carros passam como balas de fuzil ao nisso lado
não estou nem
perto
de casa
torres de rádio solitárias
bambuzais na margem da estrada
placas indicando a travessia de bovinos
rádio captando mal o sinal
um som granulado
vintage

estou chegando em casa, baby

Bucólico [parte 4]

roupas empapadas e o raiar da lua.

noite chuvosa novamente
e fria
mais fria que as últimas três
comendo um pão seco com queijo branco
coca cola sem gás
em um copo plástico de champagne
usado
daqueles que fazem um corte na sua boca se não tomar
cuidado
com a golada

um filme de ação na tv
comerciais tristes na tela
livros e revistas ao meu redor
com certeza preciso de
um
banho

situação ta braba

minhas roupas que ando usando há dias,
jogadas no chão
misturadas com outras roupas
meu suor já está seco
e nojento
preguiça de ligar o ventilador
e se o ligasse sentiria frio na espinha,
certeza;

amanha volto para casa
para a cidade natal
cidade cinzenta
sem graça
sem nada pra fazer
não muito diferente daqui,
no fundo
não tenho certeza do que posso fazer aqui
e nem muita certeza do que posso fazer por lá,
tampouco
acho que a única certeza que tenho na cabeça agora
é a de que sem dúvida
não tomarei
um banho
hoje.

Bucólico [parte 3]

santos imaculados e igrejas douradas.



angustiado
preso em um quarto
primeiro dia do ano
uma diarréia corroendo meu cu de dentro pra fora
com a mesma roupa há dias, fedendo a suor
com o tempo cinzento e uma chuva indo e voltando de meia em meia hora
com o intestino tão cheio de comida que não consigo mais beber um gole de água
nem consigo pensar em cerveja
cheiro de terra e mato molhado
atendentes morenas com longos cabelos
e um aparelho no dente
com suas vozes fanhas, com um jeito de safadas em seu olhar
olhando diretamente dentro do seu olho
fazendo-o sofrer pensando em como seria te-las
garotos se drogando na porta de igreja
em cima de uma colina
bela vista para
se drogar
rolhas e tampas de plástico vagabundo cobrindo todo o chão da cidade
assim como os vestígios de fogos de artifício, milhares deles.

duas garotas andando pela rua, despreocupadas
a branca com uma pele maravilhosa, coloração pura.

carros espirrando água das ruas em cima dos pedestres
eu querendo cagar pela sexta vez no dia,
de saco
cheio
de toda a decoração natalina.

na recepção de um hotel bucólico escrevendo o que acontece ao meu redor
e ao redor da mente
para tentar não ficar louco tão rápido
ainda tenho um dia aqui
sem internet
sem telefone
sem bebida
sem mulher

igrejas douradas e santos imaculados
ruas com pedras irregulares
não almoce e saia para andar de carro por elas
ou seu estofado não durará muito tempo.
lojas de artesanato a cada esquina que olho, hippies vendendo suas bugigangas para turistas endinheirados
minha família e eu fingindo ter dinheiro.

rapazes ricos com loiras perfeitas
mendigos com uma garrafa pet vazia nas mãos
dançando pelas ruas; animados
entretendo aos ricos
sem música alguma.

Bucólico [parte2]

os cães ladram e as pessoas continuam.





Turistas pela cidade
completamente cheia
mesmo com toda sua falta do que fazer
mesmo com a fina chuva
caindo
em suas cabeças
pessoas rindo e comendo pelo centro
hippies francesas
loiras e com a pele branca queimada pelo sol
sem se depilar embaixo dos braços e na perna
com um sotaque delicioso de se ouvir
os olhos ainda avermelhados pela fumaça que foi pra cuca
sorrindo para os visitantes
sendo simpáticas
lindo
cães molhados
e carentes
se esfregando em todos
procurando alguma alma que lhe dê comida e algum amor
ou uma caminha quente
não encontrarão
talvez uns pedaços de pão velho
e babado

o chão de pedra irrita para andar
principalmente de carro
a pé tem que se tomar cuidado para não quebrar um pé
correr por lá, sem chance
morte na certa
ou uns quatro dentes a menos, se sobreviver
comida boa
e cara
pessoas ricas
e pobres, os moradores da cidade mesmo

cultura, pessoas fantasiadas
sei lá que fantasia que é
mas casa bem com o aspecto histórico do lugar
com toda a baboseira de lugar cultural
um lugar bonito, claro
histórico, sim
interessantíssimo.
.
nada como lugares assim
para escrever e olhar dentro
da alma
puída.

Bucólico [parte 1]

tentando limpar a alma cagada,  para as donas de casa conservadoras e idosos fortes o bastante.

É isso amigos, o último do ano
;comi muito
caguei
li
dormi
acordei
caguei
soquei uma
me sinto 100% agora; escrevendo
como se pudesse levantar cinco defenders de uma vez só, com um braço
mas me sentiria um tanto quanto imbecil o fazendo.

ouvindo white stripes e fazendo as últimas tarefas do ano, li os últimos livros, bati as últimas punhetas, talvez até as últimas
cagadas,
não estou muito afim de ter um último banho, que vá fedendo que nem um porco
todos estarão tão bêbados que vão achar que eles é que estão fedendo

claro que bukowski foi o último de 2011,
e 2012 começará também com ele.

Véspera de ano novo
em uma cidade to interior
de um estado do interior
deus
há de querer
que eu beba
ou encontre algum hippie
que me dê um baseado,
bom, não custa nada sonhar.

Escrevendo o último poema de 2011, me sentindo bem no momento
arrotando torresmo e feijão tropeiro há mais de três horas
com uma leve diarréia e me sentindo sozinho
pensando em como seria estar com uma loira
ou uma
ruiva
nesse momento;
provavelmente não estaria escrevendo, amigos
provavelmente não estaria solitário, amigos
provavelmente não teria precisado socar uma ou comer até passar mal todos os dias,
colegas

mas acho que prefiro comer até desmaiar
ou a masturbação mesmo
mulheres dão muitos problemas, vocês sabem
não valem lá muita merda, se elas mesmas reconhecem isso...

não aguento mais uma semana nesse lugar quieto
nasci para o agito
para aguentar ambulâncias, helicópteros, sequestradores e molestadores de criancinhas
na cidade grande
com reportagens sensacionalistas
falando o que a dona de casa brasileira quer ouvir
o que o aposentado cansado e com os olhos leitosos quer falar
enquanto bebe uma cerveja sem álcool na sua cadeira de balanço, pensando em quantos anos
ou dias
ele ainda terá nesse chiqueiro fedendo a merda
que chamamos de planeta;;

costumo me pegar pensando em situações desse tipo
"cristo, como deve ser horrível ter uma mente lúcida, um corpo acabado pela idade e pelo sofrimento da vida, e ainda ter que aguentar o mundo até os 97 anos, rezando para algum deus piedoso que te leve logo, sem sofrimento e sem encheção de saco da família."

pobres idosos, e pensar que há quem os desrespeite
alguém que tem a audácia de viver 80 anos sem tentar suícidio ou ao menos pensar seriamente no assunto
merece meu respeito total.

mas o interior da uma fortalecida na alma, acredito
a simpatia dos moradores, a comida boa
a cultura por todos os lados
a inspiração e a VONTADE de escrever.
coisas que muito raramento encontrará nos grandes centros.
C'est la vie.

feliz ano novo, seja feliz.
bom, ao menos tente.