quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A little roach


Well, its 7:30 in the morning and I'm
kinda high
listening to Ry Cooder playing with his
SL
   I
    DE
he's playing peacefully
as I feel right now
i guess
with things in my head
a bit
slow
and my nice dawn friend
the morning sun
making everything a bit easier going;

the bass notes hits
my thoughts
and a black dove with a
white feather above his head
do his robot dance daily moves
and I smile for the streets
and they look sad to me
a billion of sad faces
of sad people
everybody, you know
me too
but i feel fine right now, i guess

the sun has been blocked by the dark clouds
and that's the end of this poem

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Versos aos Cães e aos malcheirosos de minha cidade


A pupila se dilata para canos gigantes
e fumegantes das indústrias
Os bares de samba estão fechados e sem vida
Essa cidade sem folclore
Nosso folclore sem cidade
Nossa cultura a gente engole
Filhos do Poeta de Andrade
que fazem jus ao seu criador literário
Correndo Transando Bebendo Pitando
Fedendo Matando Sofrendo Cheirando
chorando
Belas bundas redondas para o deleite de nossa
óptica
apenas,
sem tocar
sem morder
sem exagerar nesse desfrute visual
porque isso sim é considerado
Feio;

Os filhos dessa pátria cinza e amarela
sempre acham o jeito mais fácil
Todos eles
Todas elas
Todos nós
é a Paulicéia Desvairada mais vibrante do que nunca,
Modernistas fariam a Festa no século XXI
ou seriam sumariamente apedrejados
pixados
e teriam seus óculos roubados nos bancos das praças paulistas
cariocas curitibanas
nordestinas
norte ao sul com pinceladas
raivosas e ensandecidas
de artistas de rua
do leste ao oeste
mas o Estado Colorido Corroído
terra mãe de tantos Macunaímas
Preguiça da boa e tabaco de qualidade
em ruas onde qualquer vira lata é um charme de personalidade e caráter
cães negros revirando latas de lixo
com mais estilo do que muitos homens feitos
que já vi;

latrina
batina
lugar de macunaíma
e cordilheiras de cocaína
indo e vindo como ônibus numa avenida
nas ruas perfumadas com carbono
-que horas são, por favor?
O silêncio constrangedor morto por buzinas
e motoristas xingando as
mamães
uns dos outros,
a invejável ausência de carinho
& amor
do mundo civilizado,
temos as mais belas
e estúpidas garotas
Venham Todos! do quarto ou quinto mundo
Se apaixonem! Oh! Lindo!!
se apaixonem e gozem da paixão recíproca
da cidade
e da cidade...apenas.

domingo, 26 de agosto de 2012

Nas entrelinhas


por Viviane Sanchez


Melhor assim. Afinal, o que resta depois que as pessoas vão embora além do vazio imenso da existência escancarada e sem preceitos ou companhias para amenizá-la?
É mais fácil quando elas não entram completamente, mas ficam de maneira prévia avisando a sua disponibilidade de fazê-lo. Quando não insistem pra que você peça pela presença delas e simplesmente estão satisfeitas em desejar uma boa noite, e talvez, boa sorte daqui pra frente.
Difícil é precisar dessa gente. Só é mais difícil decidir o que é o pior: prender-se a essa necessidade ou deixar os projetos começados por mim a esmo, pela metade.
Foram tantas questões não respondidas perdurando durante tanto tempo, que eu já cheguei a esquecer da fugacidade das coisas não palpáveis. Cheguei a me esquecer de que tudo na vida é efêmero – e eu e minhas convicções não deixamos de estar inclusas. Um mundo tão grande de sensações e ao mesmo tempo, nada além de um buraco de incertezas que pairam sobre o ar pesado que ainda insistimos, praticamente obrigados, em compartilhar.

Não é mais aquela antiga sensação de que tudo está fora de seu devido lugar. Dessa vez, é além. É questionar qual é o real lugar de tudo. Como é possível dizer sim ou não sem antes perpassar os terrenos obscuros e solitários do talvez?
Eu não sou capaz de me deixar levar e há quem afirme veementemente que isso é uma irrefutável qualidade. Eu nego e refuto: é um fardo. Ninguém me detém, ninguém me entristece, ninguém me faz derramar sequer uma lágrima. Nem mesmo eu. Sou uma fortaleza. Uma compilação de muros que antes me protegiam, e que agora nada são além de barreiras que me impedem de sentir qualquer merda que não seja dor e culpa pelos meus próprios atos e decisões, que tão friamente, só podem ser executados por alguém assim, como eu.


On dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout

Parait qu'le bonheur est à portée de main

Alors on tend la main et on se retrouve fou”

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O dia em que Carolina vacilou.


   Carolina se despia para o banho na suíte que dormia com seu marido todas as noites. Atrasada para encontrar umas amigas, ligou o chuveiro com pressa e sentou para dar uma cagada no vaso que era apertado demais com a pia. Se limpou de qualquer jeito e, num salto só, entrou no chuveiro, aonde a água quente se misturava, evaporava e condensava no azulejo branco do banheiro.
No quarto ao lado, no meio de ursinhos e pôneis desenhados na parede, com uma fraca luz do início da tarde entrando pela persiana fechada estava Felipe, trajando shorts e uma camiseta velha, com um livro de fábulas na cintura, em cima de sua virilha e cobrindo sua ereção enquanto olhava para sua filha Fabrícia dormindo. A garota havia caído no sono há algum já, sua pele branca e seu rosto angelical descansavam tranquilamente na cama com temas de princesas e outros finais felizes. Felipe mordia os lábios com desejo, olhando para a garota e passando sua mão engordurada por cima da cueca, querendo ouvir a hora em que o chuveiro iria desligar e sua mulher partiria por longas horas de diversão com suas amigas chatas:
  • Ainda está aí, papai? - acordava a garota de repente
  • Hum...ah, estava vendo você dormir, minha princesinha – respondeu o pai assustado – Tão lindinha
A garota se levantou lentamente e ficou sentada na cama com os olhos fechados por pequenos ramelas
  • Olha aí você com cara de joelho – brincou o pai e a criança riu
  • Quero brincar, pai. Brinca comigo?
  • Claro, meu céu. Quando a mamãe sair a gente brinca só nós dois. O que acha, princesinha?
  • Uhum, legal – sorriu a menina, abrindo um grande bocejo e deitando novamente na cama. Seu pai estava a ponto de se explodir na poltrona ao lado
A pequena Fabrícia levantou de seu leito e esfregou os olhos com as mãos, seus belos olhos cor de mel se revelaram para o pai e a fraca luz que vinha da persiana os faziam brilhar como duas lâmpadas enfraquecidas, e aquilo era lindo. O pai assistia sua filha despertar com toda a sua delicadeza e em sua mente se passavam filmes e conquistas, pensamentos e delírios sexuais cozinhavam em sua cabeça, temperados pela imagem da garotinha usando apenas uma calcinha rosa e sua camisetinha amarelo claro. A menina entrou no banheiro para falar alguma coisa para a mãe e Felipe fechou os olhos, respirou fundo e contou até dez. Precisava de calma e paciência para fazer o que queria fazer. Não que essa fosse sua primeira em algo assim, mas certamente podemos entender toda a precaução de Felipe e toda a sua...Chuveiro desligou.
Suas pupilas dilataram e o coração disparou como uma rajada de fuzil. No outro quarto ele ouvia a menina rindo de alguma coisa que a mãe falava e sua ansiedade crescia na mesma medida que seu desejo. Queria gritar para Carolina sair logo de casa, mas sabia que isso só levantaria suspeitas ou alguma discussão desnecessária. Foi na cozinha beber uma água e relaxar sua cabeça azucrinada. O labrador da casa estava deitado no chão do corredor e Felipe passou por ele despercebido. Sua mulher estava no processo de se arrumar lá em seu quarto e ouvia o barulho de cabides se debatendo dentro do armário de mogno e de sapatos cindo da sapateira e fazendo aquele som oco no chão:
  • Tem o que comer de noite, mulher? - gritou da cozinha
  • O que? - gritou Carol do quarto
  • Volta que horas? - berrou de volta
  • Só mais de noite. Por que?
  • Não tem nada pra comer! Me traz uns burgers aí, moreco!
  • Eu trago
Felipe agarrou uma cerveja na geladeira e abriu o armário para pegar uns amendoins. Encheu uma cumbuca com os petiscos e foi com os amendoins e a lata até a sala, ligou a televisão e abriu um sorriso e uma cerveja. O futebol passava e os passos da mulher e da filha vinham pela escada depois de alguns minutos de troca de roupas lá em cima. Deu um grande e agradecido gole na cerveja e sua vontade era de chutar sua amada pelo rabo para sair fora de lá logo:
  • Amor, estamos indo – disse Carolina
  • Ué, vai levar a Fabricinha também? - perguntou
  • Eu queria ir no shopping com a mamãe, pai. - sorriu a filha, mas se sentindo mal por ter deixado o pai na mão
  • Ah, princesa! Vai me deixar aqui sem ninguém? Vou chorar a tarde inteira sem você, minha lindinha.
  • Para de ser bobo, Fê. De noite estamos aí com seus burgers e você esquece a solidão – brincou a mulher
Felipe riu e disfarçou sua vontade de esganar as duas até a luz da vida deixar seus corpos da melhor forma que achou.
  • Ok, mas voltem logo.
Sentou no sofá de novo e virou um grande gole na cerveja. Talvez fumasse uns cigarros mais tarde e depois socasse umas para aliviar sua tensão e raiva das duas. Estava tão absorto em seus pensamentos de como aproveitar aquela tarde e metade da noite sozinho sem sua princesinha, que nem percebeu quando o jogo acabou, a porta da casa bateu, o motor do carro ligou e ficou lá parado uns segundos e o cachorro veio correndo do corredor até a porta como se estivesse fugindo de um monstro.

                             ''                                              ''                                                    ''

Carolina e Fabrícia deram tchau para o marido e pai que parecia estar prestando muita atenção no jogo que passava na televisão e fecharam a porta de casa. A mãe abriu o carro e a filha pulou para o branco de trás com uma expressão um tanto quanto melancólica em seu rostinho:
  • Que carinha é essa, Fabi? Triste? - a mãe olhava pelo retrovisor enquanto dava partida no motor
  • Ah, não queria deixar o papai aí. Ele falou que ia brincar comigo agora.
  • Quer ficar aí com ele? Até melhor, vai ser cansativo pra você ficar o dia inteiro no shopping.
  • Eu quero! - abriu a porta e esperou a mãe sair com o carro enquanto acenava para ela da garagem.
A mulher saia com o carro e olhou no retrovisor novamente. Viu a garota abrir a porta de casa e o labrador negro passar por suas pernas, correndo de dentro da casa. Ele olhou para o carro indo embora e o portão se fechando e começou a latir com toda a força que podia. Carolina achou aquilo muito estranho e o som do latido do cachorro realmente a fez se sentir agoniada de certa forma. Mas esqueceu daquilo tudo quando o portão da garagem se fechou e o labrador negro voltou para o seu canto dentro casa com o rabo entre as pernas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O jeito do Universo resolver as coisas num período de cinco anos.


Há tantas coisas na sua cabeça agora
que nem me atrevo a puxar conversa
não há
nada
mais chato do que você se sentir uma merda e alguém tentando te fazer sentir melhor
Falhando &
falhando.
Nossa vida é uma constante falha
e dilemas
nossa cabeça é tão fodida quanto uma
puta suja e desgraçada;
e o universo não mudará isso
o universo trabalha misteriosamente
te dá cinco anos de lucidez
e depois te larga no meio da total loucura, parado nos cantos
quieto e semi morto
pensando se a sua missão nessa bagunça é a filosofia profunda
ou um tiro na porra da sua boca;
e xingamos o universo e suas manias esculumelentas
começamos a duvidar que algo bom aconteça
que cinco anos é mais do que merecemos
agora acabou e não temos nada
nunca teremos mais nada
e nunca seremos nada
porque o universo parece não desejar isso para nós;

mas ele trabalha com vibrações e ironias
sarcasmo é sua principal característica
brinca com nossos seres por uns momentos
e depois nos deixa apodrecer na calçada,
com uma veia estourada no olho
ou uma viola velha e um fumo pra pitar.

E depois ele te dá mais cinco anos para você se recompor e esquecer de toda a sua influência em nossas vidas, meu caro.

A heroína


  • Quando você vai parar de enfiar essa MERDA no seu corpo? - perguntou Laura com desespero em sua voz
Burno não respondeu, não queria e não podia responder no momento. Se encontrava sentado em um canto fedido de seu quarto, com grandes olheiras e barba por fazer, usando apenas um pequeno e apertado shorts que deixava sua coxa branca à mostra. Um elástico grande ainda prendia a circulação de seu braço e um pequeno filete de sangue escorria sem pressa de um minúsculo furo feito com a seringa, por onde uma generosa dose de heroína entrara e agora corria pelo seu organismo, entorpecendo seus sentidos e fazendo-o se sentir bem como não se sentia há dias:
  • Você quer mesmo continuar com isso? Você estava indo bem todos esses dias!
  • Foda-se – murmurou com esforço, sua cabeça pendendo de um lado para o outro, como se estivesse solta no pescoço
  • Isso nunca vai te fazer se sentir bem, você sabe disso.
  • Aí que você se engana, gatinha. Hehehe – cuspiu e soltou uma risada cadavérica enquanto a saliva densa balançava como uma teia de aranha pelo seu queixo
  • Olha o seu estado! Nojento, jogado nesse canto aí sozinho. O que você quer esconder de todos? - Laura agora tinha lágrimas querendo rolar pelos seus olhos verdes
Bruno novamente não respondeu nada, encostou sua cabeça na parede descascada do cômodo bagunçado e ficou como que em transe por alguns segundos, olhando para o teto e ouvindo sua amiga dar pequenos soluços. Se levantou lentamente de seu refugio, deixando gotas de sangue, seringas e outras coisas que completavam o cenário junkie no chão de madeira negra. A luz do dia batia nos olhos verdes ou azuis e no cabelo moreno de Laura, sua boca rosada tremulava com o horror da cena de alguém viver em tais condições e não fazer absolutamente nada para sair disso.
O rapaz desceu as escadas estreitas e seguiu para o banheiro, Laura o seguia como uma mãe desesperada, talvez imaginando que ele estivesse doidão demais para percebe-la. Bruno abriu a torneira e deixou a água correr livre uns instantes, um pequeno prêmio por ter deixado-a envelhecendo naquele encanamento por tantos dias em que simplesmente não lembrou de jogar uma água pelo corpo. Fez uma concha com as mãos e encheu com água fria da torneira, abaixou a cabeça na altura da pia e lavou o rosto com aquela água gelada, deixando escorrer elo seu peito até os pés. Repetiu o processo todo mais algumas vezes até parar de sentir o óleo acumulado no seu rosto dos dias que não chegou nem perto do chuveiro. Laura assistia a tudo ainda como uma sombra, suas lágrimas já haviam cessado e agora olhava para o amigo ainda com tristeza, mas a sensação de estar ao seu lado ainda lhe causava um estranho conforto, mesmo em ocasiões como a que se encontravam agora. Olhar para aquele rapaz a fazia lembrar das risadas que deram juntos anos atrás, quando ainda eram inocência e tesão, sem amores destruindo suas almas e químicas comendo o que sobrou.
O jovem terminava de jogar água e sabão pelo seu antebraço manchado com sangue seco que havia escorrido há pouco, pegou um pano e secou bem o rosto, depois passou no braço, por cima da região ainda havia se picado e que agora tinha uma bola roxa de hematomas consequentes de seus atos:
  • Você está com outra cara agora! - sorriu a garota quando Bruno saiu do banheiro
  • Eu estava só o caco mesmo
  • Há quanto tempo você não usava?
  • Três dias. Quase morri de tanto cagar e não dormi nada bem – riu o jovem
Laura permaneceu quieta e foi com o amigo até a sala, se sentaram no sofá laranja e ficara sem falar nada por alguns minutos. A luz do Sol da tarde entrava como uma brisa pela porta aberta, alguns pássaros perdidos na cidade assobiavam em busca das poucas árvores que ainda restavam nesse planeta. A amiga pensava no livro que lia ou no filme que assistiria com um garoto naquela noite, imaginava se ainda tinha algum dinheiro para ir ou se o seu encontro bancaria tudo, como de costume. Ela olhou para o lado quando se desvencilhou de seus devaneios e Bruno a encarava com uma cara sem expressão, seus olhos sem brilho pareciam admira-la e aquilo assustou a garota:
  • Bom, acho que eu já vou indo, tenho que passar em casa, tomar banho e sair. Vou no cinema com o Rafa...
  • Você é a garota mais bonita que eu conheço – interrompeu o amigo, abrindo um sorriso que mostrava seus dentes amarelados
  • Ah, valeu. Você nunca tinha dito isso antes – falou bem surpresa
  • Acho que nunca mesmo. Fica mais aí, gatinha, depois te levo até em casa. Só tomo um banho qualquer só pra variar..
  • Eu tenho que ir, meu. Demoro uma eternidade pra me arrumar, você sabe.
  • Fica e vê se tem algum bagulho pra gente comer enquanto eu procuro algum bagulho pra gente fumar por aqui.
  • Não dá, cara. Tenho que esperar minha mãe ainda pra pegar uma grana e sair, né – respondeu finalizando a conversa
Bruno respondeu com um resmungo e a garota riu. Levantaram quase que ao mesmo tempo e foram se despedir. O Sol da tarde ainda reluzia em seus olhos verdes ou azuis e seu sorriso branco lembrou a Bruno um estranho tipo de paraíso idealizado. Se beijaram no rosto e Laura seguiu para o êxtase de sua vida e Bruno ainda desfrutava da sua completa anestesia do ser.

domingo, 19 de agosto de 2012

cinzeiro

Parado lá como se falasse com vibrações e dimensões
pombas voando sobre nossas cabeças
umas trinta delas
o frio e o vento rasgam nossas peles
enquanto duas belas garotas passam por nós e não nos percebem,
ele com sua arte
parado como estátua, estudando o movimento
de tudo
eu com um caderno e minha cara de matusquela
A praça está cinza, as árvores estão cinzas
os portões e os carros
tudo cinza, a cidade é cinza
               como uma gigantesca sinfonia monótona
               um monstruoso fluxo de água com fuligem
                           [mas disso já sabiamos]
Há dois garis limpando a sargeta
com habilidade, talvez invejando as pessoas
trabalhando em cubículos
aconchegantes
imaginando como seriam suas vidas sem a dose diária de
cinzas
outras pessoas
arrumadas e cheirosas
hidratadas e aceitas
voam por nossos olhos como o
batalhão de pombos
fugindo da miséria
e da verdadeira poesia
passando reto e despercebidos por nós
garis, pombos, poetas, artesãos
sans-culottes
e pelo deja-vu de pombos podres
talvez sisntam inveja dos garis e dos artesãos
e dos poetas e dos pombos robóticos
por estarem nas ruas
do lado de fora do muro
ao invés de cubículos com as fotos da família e lembretes lembrando-lhes responsabilidades questionáveis.
O artista volta com café em suas mãos
e uma linda loira passa por nós, sem olhar em nossas caras,
o cinza colide em nossas faces
como o vento frio e cortante.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

um jeito bem caro de se acender as coisas.


Uma chama dançante como uma havaiana
chamativa e perigosa lembrando-me ciganas
implorando para ler suas mãos
enquanto passa por alguma rua movimentada
debaixo do sol.
Um clique metálico seco e o metal quente massageia suas mãos
como o toque de uma ruiva
o cheiro de fluído de marca
me distrai por alguns instantes
me sinto de alguma forma
bem;
desenhos em seu corpo prateado, dando ênfase ao seu cabelo cor de fogo
após riscar uma minúscula pedra
fagulhas e calor
e um preço alto;
tiro sua roupa brilhante sem ouvir um ruído de descontentamento
igualmente brilhante
o meu líquido de ignição entra por baixo e percorre todo o seu interior
Ilustração: Edmilson Silva
e meus dedos correm por entre sua cabeça, quando se faz o clique seco
e risca a pedra que levanta o que
arde.
evaporando o seu fluído
para o ar
perdendo sua pequena batalha para a poderosa força quente natural
um pequenino prazer metálico
com um insignificante estalo no seu fecho
e meus dedos dançando solto pelos motivos de sua única e simples existência.
Alimento de uma faísca imperceptível
que se transforma em um estranho
e rápido tipo
de prazer.

sábado, 11 de agosto de 2012

Violão véio ou Quando joguei a oportunidade da minha vida pelo ralo.


Voltava para a casa debaixo do Sol e com uma camiseta preta e bermuda preta.
Algumas músicas do Jethro Tull passavam pela minha cabeça
e suor escorria de todos cantos do meu corpo
e meu nariz escorria e meus olhos estavam
cansados
e não tinha tomado banho ainda, detalhe
mas continuei andando e não dando a mínima
como sempre]
muita coisa passando pela cabeça
mais do que o normal
muito mais rápido
e ansioso
que o normal~]
Leon me acompanhava durante tudo isso
e sua cadela
Rubi.
-mas a parte deles nisso não é importante
não a que estou escrevendo agora
nesse momento
pelo menos-
e me despedi dos dois
e segui reto para casa,
com o Sol e as sombras das árvores me acompanhando
como sempre
e os buracos da rua estragando mais as bolhas
dos meus pés
e eu não dando a mínima, como sempre;

e na rua de cima da praça
no meio do lixo e de uns panos rotos
no meio de caixas de pizza sustentando gerações e mais gerações
de formigas
menores até do que NÓS,
tinha um violão véio
bem quizumbado
empoeirado
largado & abandonado;
subi a praça e peguei o violão do meio do lixo
estava mais fodido do que imaginei
sem metade das cordas
as que restavam estavam tão fodidas quanto o resto
as tarraxas estavam soltas,
era adorável;
tirei algumas notas e
na minha cabeça
vi o futuro: o tonante restaurado
cordas de aço e peças novas
mantendo sua originalidade e as farpas
que os anos deixam, o violão que me levaria à música!:
a dona da casa e do violão véio apareceu
sorri envergonhado
por estar fuçando no lixo da mulher
mas continuava não dando a mínima]
-pode pegar à vontade, se quiser!
-ah, sim. Obrigado.
Ela volta para casa
um senhor japonês sai do seu carro e entra na sua casa
devagar
fecha o portão
devagar
vai para dentro
devagar...

eu tiro mais algumas notas do violão
e ainda pensando que daqui uns anos ele estaria comigo
na capa do meu disco
afinado em sol, ou ré, ou lá
abertos
com um slide fazendo-o gritar
um grito rouco e ancião]

olho para o violão novamente
toco mais algumas notas desafinadas
das poucas cordas que restaram
encosto-o no lixo novamente
e continuo seguindo para casa

imaginando que podia ter acabado de deixar uma grande oportunidade se esvair
como poeira
de minhas mãos
'aquele violão poderia ter mudado a minha vida'
pensei por um momento
mas continuei andando
e entrei em casa não dando a mínima
como sempre.


romantismo


Gastei mais de quarenta reais
em ligações com uma
garota de olhos verdes
conversamos por mais de meia hora
eu a fiz rir algumas vezes
ela me faz rir algumas outras vezes
e eu sabia que gastaria uma boa
grana com aquelas risadas
mas eu continuava sorrindo e conversando
e era como se sua voz e
seu jeito desajeitado
estivessem sendo refletidos pelo telefone
e eu podia sentir seus olhos verdes
olhando diretamente para meus olhos mortos
com a sua brancura se juntando à minha
no inverno ou na noite escaldante
ao redor de folhas secas ou deitados em flores campestres;
com sua beleza ofuscando a minha feiura e tornando tudo melhor
e até o meu sorriso porco e meus olhos mortos
se tornariam mais verdes para mim

gastei mais de quarenta reais
em ligações com uma
garota de olhos verdes
e não consegui nem a
porra
de um beijo.
E agora estou na miséria.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

crepúsculo dos derrotados


Corro Corro Corro Corro Corro Corro e
Corro de mim mesmo como uma virgem do violentador
sou um fodido tentando vencer algo
e não consigo vencer nem eu mesmo
não venço nada porque
nada
não merece
nada;

Aos outros uma saca de batatas e coroas de louro com espumantes franceses]
para mim, pauladas tenebrosas em minhas bolas inúteis.
Ofereço apenas desconcerto, risadas vazias
e vergonha
estresse prejuízo e nojo
asco e falsa insanidade

Escrevendo falsidades e pensamentos impulsivos
tendo como companheiro de vez em quando
apenas a porra do por do sol
o consolo dos caídos e esquecidos
e refúgio dos pobres imbecis
que nunca ganharão nada.

A vida além do palhaço.


Não sabia o que era beijar alguém há tanto que já simplesmente não fazia diferença alguma. Via as pessoas andando saltitantes pelas ruas, com seus relacionamentos saudáveis e sexo descompromissado para todos, menos para um, e sentia urticária.
"Na outra vida fui o bobo do vilarejo" – dizia
Alguns riam, alguns não, alguns sentiam pena enquanto ganhavam um boquete embaixo da mesa e exibiam seus pescoços manchados de roxo
Eu era chutado no cu pela vira todos os malditos dias desde a hora que comecei a existir, e já aceitava que seria assim para sempre. O mascote, bobo da corte, o louquinho, palhaço. Afinal de contas, todos devem ter alguma missão em suas vidas, algum objetivo notório e nobre, ou algo baixo e insignificante.
Não sei em o que eu me encaixava, nunca fui de encaixar em padrões, sejam eles físicos, filosóficos, comportamentais ou qualquer outro. Apenas observava e tentava estudar os loucos e os fracassados, me dando conta de que no mínimo eu era um deles. No máximo eu era o porta voz dos imbecis e dos chutados, seu Messias, uma admirável porção de merda gordurosa e mal cheirosa.
A felicidade plena é tão utópica quanto a definição de sociedade, e não somos feliz o tempo todo, é claro.
Não somos felizes em nem uma fração de tempo de nossas vidas. As pessoas nascem e morrem e no meio de tudo isso tem suas almas devoradas e dilaceradas pelo mundo todo, mas ainda dizem estar vivendo a completa felicidade eterna.
A verdade, para mim, é que a maior parte da porcentagem de nossas vidas é triste e banal, e os últimos dez ou quinze por cento de alegria estão espalhados ao longo de nosso tempo, em pequenas e quase imperceptíveis momentos e situações, apenas o suficiente para não cairmos na melancolia destruidora.
É a forma que o universo achou para que a humanidade inteira não se mate e não fique muito convencida de sia o mesmo tempo.
Mas é claro que há falhas nessas duas adaptações
E claro que todos os humanos pensam em se apagar ao menos uma vez na vida.
E a vida às vezes parece tão vazia quanto a contagem de mulheres que tive
E mais insignificante do que [eu]
o número dessas garotas que sentiram algo por mim
além de risos e um
leve
arrependimento ou nojo.
Quanto ao resto da vida, acho que talvez valha a pena viver e tentar sentir algo além de emoções humanas e urbanas, além de catarradas e loirinhas ou ruivas aconchegantes e quentinhas
talvez valha a pena tentar
e encontraremos a gozada fenomenal
que é a nossa verdadeira
iluminação
e você não precisa ser
nada
além
do que você já é;
açougueiro, artesão, executivo
ladrão, genocida ou um
diminuto
palhaço.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

failure


I don't know anything about all the other things
i'm not good at all
i'm not brillant
or handsome; not that i care about this
well, at least not for now.
But i failed in everything. It's normal
like Peter Fonda and Dennis Hopper in Easy Rider
like the 60's
like Rock N Roll
or Van Gogh
I failed like you and your friends
like our culture
and the indians;

so don't you dare come here, in my homeland
my center of eternity
and start saying that things will be alright
that everybody finds somebody
one day

and don't say that I'm smart and talented
because i'm useless
and a freaking
fucking
failure.

Um domingo na cidade


Caminhos estranhamentos tortos e irreconhecíveis
para nós, estranhos e estranhas
nossas cabeças enroladas
no barulho
na fumaça
no luto eterno que é o
domingo, dia de criança jogar biriba e
velho jogando bingo..

A tarde cai o cinza não,
me sinto em uma Liverpool fodido pelo rabo
Andamos e Andamos e Andamos
e depois sobe
               sobe
                sobe
e depois anda e anda e anda
e anda
e a noite se revela com seu belo luar
                                                        [não se esqueça da participação so Sol]

e os caixas não funcionam ou
não existem ou não era para arranjarmos uma grana naquele domingo
e devíamos ter ficado em casa, e anda e anda e anda
um dois três quatro
Tcharããã
CASH

e anda e anda e anda e anda
rápido e mais ráido
meu tênis fodendo meu pé e suas
                                   bolhas bolhas bubbles
                                                              ploc

E anda e anda e desce e
e desce e desce e vira
e desce
                          Veneno Veneno Veneno Veneno
                          árvores aves Terra crepúsculo
sobe mais
anda mais; Veneno
e mais; Veneno
foda-se; Veneno

dois envenados por essa proximidade de novas portas de conhecimento uni-universal e com os nossos corpos moídos

e tudo por ter errado o maldito ônibus.

destroyer


Talvez a melhor coisa para se fazer agora seja
escrever
e depois ler
e depois tentar dormir
apesar de que será difícil demais com essa rinite e todos esses espirros e todo esse agito e toda essa infelicidade se distanciando e voltando de tempos em tempos
algumas músicas parecem acalmar
outras te fazem ser um louco
um maníaco
a dura realização de dopamina forjada
a destruição de mentes e habilidades
e futuras habilidades
e a destruição de mentes importantes e mentes insignificantes para essa imensidão momentânea planetária ou a mais clara e amarga vida dos mundos que nos cercam atualmente
parcialmente
mente
um queijo suíço no lugar do domínio do seu próprio corpo.

domingo, 5 de agosto de 2012

ruas decadentes de uma década atrás.


Estávamos
meu pai e eu
passando pelas vielas da zona norte
indo para o hospital
ou o asilo
ou o manicômio, ou a escola
ou para o inferno, ou para a vida;
não me lembro e não faz diferença,
mas estava escuro
um
breu ~
                           as sombras batendo como ondas pelas paredes de concreto, portas e janelas da
periferia
                           pequenos pontos de luz e chama me faz imaginar cigarros
ou                       algo do tipo. Beberrões ordinários e malditos
jogados na sarjeta e nas caçambas
                           pombas e gatos dilacerados nos pisos da zona norte
e da zona da cidade ~
um carro velho e fodido passa como se fosse uma
                                                                                   bala
na escuridão
rangendo peças e anos de servidão ao ser humano;
achamos que iria explodir de tão fodido que estava o pobre do carro;
"olha que filho duma puta! Louco!" - pai

viramos a esquina escura
coberta por sombras
e sujeira
e mijo de mamíferos das mais diversas espécies urbanas,
e lá estava
         o carro &
os carros, dando a luz que mais iluminava aquele ambiente desde sua existência
mais que o próprio sol ou a noite
com suas luzes de ameaça paz e sangue
os carros iluminavam
quatro ou cinco ou seis
homens
abordando
quatro ou cinco ou seis
homens
os homens do carro
fodido ~
estavam deitados, revistados e humilhados.

meu pai dentro do
carro
comentou,
eu comentei
e rimos &
foi legal.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

...and then they just keep walking.

i'm desgusting and i stink
like a fat bum
outside the church after an strong
summer rain
when the sun is there
shining in the asses of all
the citizens;
the people looking at the
ugly and dirty bum, that crack fuck

they spit on his face
step on him, they laugh for a moment
                                            [and then they just keep walking.