segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Bucólico [parte 4]

roupas empapadas e o raiar da lua.

noite chuvosa novamente
e fria
mais fria que as últimas três
comendo um pão seco com queijo branco
coca cola sem gás
em um copo plástico de champagne
usado
daqueles que fazem um corte na sua boca se não tomar
cuidado
com a golada

um filme de ação na tv
comerciais tristes na tela
livros e revistas ao meu redor
com certeza preciso de
um
banho

situação ta braba

minhas roupas que ando usando há dias,
jogadas no chão
misturadas com outras roupas
meu suor já está seco
e nojento
preguiça de ligar o ventilador
e se o ligasse sentiria frio na espinha,
certeza;

amanha volto para casa
para a cidade natal
cidade cinzenta
sem graça
sem nada pra fazer
não muito diferente daqui,
no fundo
não tenho certeza do que posso fazer aqui
e nem muita certeza do que posso fazer por lá,
tampouco
acho que a única certeza que tenho na cabeça agora
é a de que sem dúvida
não tomarei
um banho
hoje.

Bucólico [parte 3]

santos imaculados e igrejas douradas.



angustiado
preso em um quarto
primeiro dia do ano
uma diarréia corroendo meu cu de dentro pra fora
com a mesma roupa há dias, fedendo a suor
com o tempo cinzento e uma chuva indo e voltando de meia em meia hora
com o intestino tão cheio de comida que não consigo mais beber um gole de água
nem consigo pensar em cerveja
cheiro de terra e mato molhado
atendentes morenas com longos cabelos
e um aparelho no dente
com suas vozes fanhas, com um jeito de safadas em seu olhar
olhando diretamente dentro do seu olho
fazendo-o sofrer pensando em como seria te-las
garotos se drogando na porta de igreja
em cima de uma colina
bela vista para
se drogar
rolhas e tampas de plástico vagabundo cobrindo todo o chão da cidade
assim como os vestígios de fogos de artifício, milhares deles.

duas garotas andando pela rua, despreocupadas
a branca com uma pele maravilhosa, coloração pura.

carros espirrando água das ruas em cima dos pedestres
eu querendo cagar pela sexta vez no dia,
de saco
cheio
de toda a decoração natalina.

na recepção de um hotel bucólico escrevendo o que acontece ao meu redor
e ao redor da mente
para tentar não ficar louco tão rápido
ainda tenho um dia aqui
sem internet
sem telefone
sem bebida
sem mulher

igrejas douradas e santos imaculados
ruas com pedras irregulares
não almoce e saia para andar de carro por elas
ou seu estofado não durará muito tempo.
lojas de artesanato a cada esquina que olho, hippies vendendo suas bugigangas para turistas endinheirados
minha família e eu fingindo ter dinheiro.

rapazes ricos com loiras perfeitas
mendigos com uma garrafa pet vazia nas mãos
dançando pelas ruas; animados
entretendo aos ricos
sem música alguma.

Bucólico [parte2]

os cães ladram e as pessoas continuam.





Turistas pela cidade
completamente cheia
mesmo com toda sua falta do que fazer
mesmo com a fina chuva
caindo
em suas cabeças
pessoas rindo e comendo pelo centro
hippies francesas
loiras e com a pele branca queimada pelo sol
sem se depilar embaixo dos braços e na perna
com um sotaque delicioso de se ouvir
os olhos ainda avermelhados pela fumaça que foi pra cuca
sorrindo para os visitantes
sendo simpáticas
lindo
cães molhados
e carentes
se esfregando em todos
procurando alguma alma que lhe dê comida e algum amor
ou uma caminha quente
não encontrarão
talvez uns pedaços de pão velho
e babado

o chão de pedra irrita para andar
principalmente de carro
a pé tem que se tomar cuidado para não quebrar um pé
correr por lá, sem chance
morte na certa
ou uns quatro dentes a menos, se sobreviver
comida boa
e cara
pessoas ricas
e pobres, os moradores da cidade mesmo

cultura, pessoas fantasiadas
sei lá que fantasia que é
mas casa bem com o aspecto histórico do lugar
com toda a baboseira de lugar cultural
um lugar bonito, claro
histórico, sim
interessantíssimo.
.
nada como lugares assim
para escrever e olhar dentro
da alma
puída.

Bucólico [parte 1]

tentando limpar a alma cagada,  para as donas de casa conservadoras e idosos fortes o bastante.

É isso amigos, o último do ano
;comi muito
caguei
li
dormi
acordei
caguei
soquei uma
me sinto 100% agora; escrevendo
como se pudesse levantar cinco defenders de uma vez só, com um braço
mas me sentiria um tanto quanto imbecil o fazendo.

ouvindo white stripes e fazendo as últimas tarefas do ano, li os últimos livros, bati as últimas punhetas, talvez até as últimas
cagadas,
não estou muito afim de ter um último banho, que vá fedendo que nem um porco
todos estarão tão bêbados que vão achar que eles é que estão fedendo

claro que bukowski foi o último de 2011,
e 2012 começará também com ele.

Véspera de ano novo
em uma cidade to interior
de um estado do interior
deus
há de querer
que eu beba
ou encontre algum hippie
que me dê um baseado,
bom, não custa nada sonhar.

Escrevendo o último poema de 2011, me sentindo bem no momento
arrotando torresmo e feijão tropeiro há mais de três horas
com uma leve diarréia e me sentindo sozinho
pensando em como seria estar com uma loira
ou uma
ruiva
nesse momento;
provavelmente não estaria escrevendo, amigos
provavelmente não estaria solitário, amigos
provavelmente não teria precisado socar uma ou comer até passar mal todos os dias,
colegas

mas acho que prefiro comer até desmaiar
ou a masturbação mesmo
mulheres dão muitos problemas, vocês sabem
não valem lá muita merda, se elas mesmas reconhecem isso...

não aguento mais uma semana nesse lugar quieto
nasci para o agito
para aguentar ambulâncias, helicópteros, sequestradores e molestadores de criancinhas
na cidade grande
com reportagens sensacionalistas
falando o que a dona de casa brasileira quer ouvir
o que o aposentado cansado e com os olhos leitosos quer falar
enquanto bebe uma cerveja sem álcool na sua cadeira de balanço, pensando em quantos anos
ou dias
ele ainda terá nesse chiqueiro fedendo a merda
que chamamos de planeta;;

costumo me pegar pensando em situações desse tipo
"cristo, como deve ser horrível ter uma mente lúcida, um corpo acabado pela idade e pelo sofrimento da vida, e ainda ter que aguentar o mundo até os 97 anos, rezando para algum deus piedoso que te leve logo, sem sofrimento e sem encheção de saco da família."

pobres idosos, e pensar que há quem os desrespeite
alguém que tem a audácia de viver 80 anos sem tentar suícidio ou ao menos pensar seriamente no assunto
merece meu respeito total.

mas o interior da uma fortalecida na alma, acredito
a simpatia dos moradores, a comida boa
a cultura por todos os lados
a inspiração e a VONTADE de escrever.
coisas que muito raramento encontrará nos grandes centros.
C'est la vie.

feliz ano novo, seja feliz.
bom, ao menos tente.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O velho chileno.

    Estava na pausa para o almoço da IBM, empresa em que Marc trabalhava há um tempo razoável e tirava uma quantia igualmente razoável no final do mês para um homem que quase sempre viveu sozinho. Marc não estava querendo gastar dinheiro no almoço, e nem estava com tanta fome assim, para falar a verdade, então decidiu ir para casa, comer um lanche simples, adiantar um pouco da limpeza da bagunça que a casa se encontrava naquela última semana em que estava sem tempo para nada e depois voltar ao trabalho. No caminho parou seu Ford em frente a um bar que ficava na esquina de sua casa e pediu uma cerveja; Marc nunca mais tomara cerveja e nem gostava mais do sabor, mas foi tomado por uma vontade súbita e avassaladora de degustar uma garrafa de cerveja gelada, pelos velhos tempos. Pagou sua cerveja, comprou umas cigarrilhas baianas que viu no caixa do bar e seguiu para sua casa.
Desceu até sua casa à pé, deixando o carro em frente a padaria e fumando uma das cigarrilhas baianas com aroma de chocolate. No longo portão de dona Ana viu o gato malhado que jurava estar morto há anos, já que o gato era velho desde que ele se lembra, o gato sorriu para ele, ele sorriu de volta com fumaça de chocolate na boca e continuou caminhando em direção a seu mais do que velho portão enferrujado e destruído pelo tempo, da casa que era de sua família há muitos anos, e ele era o único que ainda morava com lá. Seu pai havia passado uns últimos meses, se não me engano até uns anos naquela casa, seus anos finais ao lado do filho, quase abandonado pelo resto da família.
Depois de fechar o portão com dificuldade, Marc abriu seu caminho por entre os matos e ervas daninhas que cresciam que nem bambu em seu quintal completamente largado, ao lado do antigo Fusca 66' de seu pai, que mais parecia um monumento bombardeado do que uma carcaça de carro. Jogou a bagana da cigarrilha no meio daquele matagal, sem se importar nem um pouco se poderia botar fogo na casa, ainda mais depois que ouviu um barulho fraco de água corrente vindo da cozinha e imaginou ter esquecido a torneira aberta a manha inteira.
"ahh, merda"
Se aproximou e percebeu que a porta estava completamente aberta. Pegou uma pedaço de pau que tinha no chão no quintal e correu pra dentro de casa, pra tentar pegar o filho da puta no flagrante. Mas não era nada. Bom, não era nada de ruim. Era algo bom. Algo comum. Era seu pai, lavando a louça no escuro, como sempre fez.
"Pai?"
"ôô negrão, veio para o almoço con tu padre?" - disse René, com seu velho sotaque do Chile, que Marc tinha certeza que ele sempre dava uma exagerada pra nunca se esquecer da vvelha língua.
"ah, quis adiantar umas coisas aqui. Por que você tem essa mania de fazer tudo no escuro, pai? Uma luizinha ligada por alguns minutos não vai sair mais caro na conta...e ainda por cima, eu pago."
"ahh, deixa pra lá isso. Faz um cafecito para nosotros enquanto termino de lavar essa louça."

Marc foi preparar o café e acendeu as luzes e abriu as janelas da casa, querendo tirar um pouco aquele cheiro de mofo que ficava na casa quando estava fechada por muito tempo. Pediu a René, seu velho pai, que contasse suas histórias dos tempos de pugilista, depois dos tempos de exército, depois da sua chegada ao Brasil, depois como conheceu sua mãe, Louisse, depois de alguns cafés e de mais liberdade dentro das conversas, foram compartilhando histórias das diversas amantes que ambos tiveram durante suas vidas, quando eram mais novas (e algumas até quando mais velhos, por que não?). Marc sempre adorava ouvir as histórias de seu pai, de ver suas fotos como pugilista, suas lembranças do exército, desde pequeno ele sempre pedia para o pai contar as mesmas histórias, e o velho René sempre as contava no mesmo tom, como se fosse a primeira vez que as tivesse contando para um ouvinte completamente novo. Marc acendeu uma cigarrilha de chocolate e seu pai, curioso, perguntou:
"Que cigarro é esse aí, nego?"
"é uma daquelas cigarrilhas, pai, sabe? De chocolate, o cheiro incomoda o senhor?"
"Incomoda é você não me dar uma logo, vai."
Marc sorriu e acendeu a cigarrilha para seu pai, que adoçava mais uma pequena dose de café.
Pai e filho não perceberam, mas ficaram mais de duas horas papeando, Marc já havia percebido que tinha perdido a hora para o trabalho, mas simplesmente fingiu que não tinha visto e, ao ver o primeiro bocejo de sono de seu pai, percebeu que o velho já estava ficando com sono, mesmo tendo bebido tanto café. Levantou da cadeira feliz, não tinha uma conversa daqueles com seu velho há muitos anos, uma vez ou outra ele contava uma história, mas dessa vez foram todas de uma vez só, que nem quando era criança.
"Foi boa a conversa, mas tenho que ir trabalhar, pai"
"E eu tengo que dormir, negão" disse, já começando a subir a estreita escada que dava para o quarto.
De repente Marc lembrou de uma coisa.
"Ei, pai, pai!"
"Hola?"
"Pai, desculpa ser rude, mas não sei como posso perguntar isso de uma outra forma...mas o senhor não está morto?"
René sorriu um pouco e era possível ver o buraco de seus dentes da frente, e disse, ainda sorrindo:
"Negão, ninguém morre nisso aqui. A morte não existe."
Marc viu seu pai subindo as escadas com a mesma tranquilidade com a qual sempre subia para se deitar no meio da tarde, em direção ao quarto iluminado pela luz do dia. Ouviu os passos do pai no quarto, o barulho da janela se fechando com dificuldade, e a cama rangendo com o peso pena de seu velho pai René. Marc sorriu, acendeu mais uma cigarrilha e foi buscar seu carro na padaria, passando novamente pelo gato malhado, que agora parecia ter uma coloração bege.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ginger.

This one just hit me on my mind
i was not expecting  to type today, maybe in the morning
                                                        but i oversleep and the day has roll over
like buffalos running on the rivers
and here i am now
9pm
wearing only my underwear, as usual
thinking about girls, as usual. suffering again
as usual.

this one
i dedicated to my redhead
the redhead of my life
with her pink and beautiful lip
white skin
little breasts
great ass
great body
i love her
with her delicated way of being.
and the worst part of this poem
is that i don't  have her
because i'm the ugliest motherfucker in the whole world
ya know whata mean? i know you know.
The sad part of the poem is that the redhead
with all that great and soft skin
don't even know that i exist
and, in fact, if she already saw me
i'm pretty sure that she want to see me dead
cos' i expel ugliness and sorrow
and they don't want someone like that.

but i'd do anything to have her
to prove to her
that i worth some shit
that i can worth at least a little shit
that even the ugliest and fattest of the guys around her
can be a nice guy too
or not. but i'd like to try someday
i'd like to have balls to talk to girls like
my redhead
courage to face her evil look
with those dark green eyes
kissing other boys
handsome boys
who play the guitar very well
who know how to treat a girl like a man
but in the end we're all children
looking for some other children
to fuck
while the losers,
the fat,
the mentally ill
and the geeks
they get weak
and their souls begin to disappear

but the redhead, with that orange or red hair
with that cute lip
little hands & white skin
with her face full of little freckles
and their simple cloathes
she's never gonna lost her soul
no.
her soul is there, quite, happy, grinning at my face
and my soul is going away
sometimes i just don't feel her anymore
but i always gonna take care to not let the last
spark
of soul
go away from me.
Until there, if a keep my eyes on her and my finger typing
i'm gonna live another day.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

até a vista, meu velho.

Esse vai ser sem rodeios, sem metáforas e palavras difíceis
Dyorgines morreu
está morto
e, obviamente, tinha a vida
inteira
pela frente
mesmo que fosse um caminho deprimente e
vazio
ainda tinha ele inteiro a percorrer
mas a vida é triste e as coisas nunca acontecem
e quando acontecem,
alguém morre
alguém decente morre
e os pedaços de merda com pés andam por aí
conseguindo garotas
amigos
dinheiro do papai e da mamãe
rindo
bebendo
trepando
e Dyorgines está morto
com uma veia estourada na cabeça
relaxado
e sinto inveja dele, um pouco
não; bastante.
Está livre
de todo mundo
e do ódio de todo mundo
e do seu próprio ódio, também.
tão
bonito
ver alguém ser livre finalmente
sinto pena por ter sofrido tanto
e pena de sua família
mas ficarão bem
todos ficam
até eu, comendo meu skittles
e me masturbando vez ou outra
fico bem no final de tudo
Dyorgines ficará bem.

digo,
se tiver alguma merda após a vida, ela TEM que ser no mínimo melhor
do que isso aqui
porque convenhamos
tá tudo uma merda.
e ele conseguiria ir pra esse lado bom
porque era um cara bom
apesar de quieto
e de ter se fodido a vida inteira em todas as escolas que passou
passando por todos os tipos de merda
de filhos da puta
big shots
gostosões; fodões
sofrendo na mão deles
como tantos outros coitados por aí.
tive muita sorte, apesar de tudo. impressionante

Dyorgines morreu
e outros vão morrer
quem ler isso vai morrer
quem escreveu isso vai morrer
e temos que agradecer por isso; quem sabe assim
se formos inovando dia a dia a raça humana
um dia apareça alguém bom de novo
existem muitos dos maus
estão por aí em qualquer lugar que você for ou imaginar
se chutar uma árvore eles caem que nem pequenas amoras maduras
no final de setembro
e os bons são como as pequenas criancinhas que pegam as amoras
sem parar para ver o que tem dentro
e as colocam na boca
porque gostaram da aparência.

Temos os bons também,
mas os bons morrem cedo demais.