E no calor carioca eu me encontrava novamente, em pleno outono e eu me encontrava de cueca sentado na poltrona de vovô, ouvindo um samba paulista de qualidade, por incrível que pareça, e olhava para o mar com olhos revoltados, preso naquela cadeira de rodas maldita, aquela prisão com rodas que havia privado-me de um dos maiores prazeres que eu conseguia desfrutar quando bem entendesse e sem precisar pagar por isso, andar.
Enrolei um cigarro cumprido, havia herdado um bom tabaco do meu avô, coisa de primeira, enrolei em uma seda que havia comprado e acendi aquele mini charuto com o meu Zippo que papai havia dado pra mim antes de eu nascer, coisa de estilo. Não tragava, estava só querendo apreciar o sabor do tabaco dentro da minha boca e o toque suave da seda importada nos meus lábios, perfumando toda a minha face e minha garganta com um cheiro nostálgico, um cheiro antigo. Desci para procurar um bom whisky de meu avô dentro da cristaleira mas não tinha nada, só coisa barata, não valiam nada, queria me propor uma tarde digna de um boêmio, mesmo que fosse em casa. E ao som de João Gilberto, Sergio Mendes, Stan Getz e Vinicius, eu passei minha quente tarde sozinho na minha moradia, uma das melhores tardes que eu tinha em tempos.
Devo ter fumado mais dois daqueles cigarros elitizados e fui na banca perto do metrô pra comprar um charuto, reservei uma quantia satisfatória de dinheiro para conseguir comprar um fumo aceitável, na banca o rapaz tinha todas as qualidades, dando então, uma ótima gama de sabores, países e prazeres. Comprei um baiano, lembro-me de ter visto Antonio Brasileiro fumando um desses em uma entrevista certa vez, com seu panama na cabeça e sua voz rouca e tranquila, exalando a felicidade carioca para o entrevistador e perdendo-se entre a fumaça e as bufadas de seu baiano, como se refletisse sobre uma vida inteira nos intervalos entre cada tragada que dava. Foi no dia dessa entrevista, que encontrava-me no auge dos meus nove anos de idade, que interessei-me pela incrível vida boêmia, vida que acompanhava passivamente, dia após dia, assistindo meu avô e seus amigos saindo para bares e puteiros, sambando no meio da rua ou até mesmo dentro de casa, nas noites mais frias do inverno. Lembro-me perfeitamente de Oswaldo, amigo falecido há tempos de meu avô, bêbado com uma rapariga que apanhara na rua e entrando em nossa casa, senti o cheiro de tabaco e whisky importado lá do meu quarto e fui ver o que se passava, cheguei justo no momento de ver vovó expulsando o velho a vassouradas e chutando o traseiro flácido da rapariga barata pra fora de nossa propriedade. Até hoje dou risada ao lembrar dessa cena, cena essa que marcou toda minha vida de um modo positivo, pelo menos para mim, que regi minha vida inteira baseando-me nessas histórias e testemunhos da noite carioca que meu avô me proporcionava toda semana depois do trabalho.
Ainda me sentia triste pela falta do bom whisky escocês que havia acabado há algumas semanas e tentei contentar-me com os americanos que meu avô, Olávio, havia deixado para mim. Eram de ótima qualidade também, mas não era nada comparado aos scotchs que ganhava de seus amigos, amigos esses que tinham ótimos contatos lá fora e gozavam de um estilo de vida magnífico em Copacabana, filhos de famílias tradicionais do Rio e íntimos dos militares desde antes do golpe de Estado. Nunca invejei nenhum chegado de Olávio, os mesmo privilégios que eles tinham , concediam a meu avô e a mim algumas vezes, como na vez que fomos nas corridas de cavalo e apostei toda a minha mesada no maior cavalo que vi, claro que perdi tudo, mas vovô e seu amigo pagaram minha aposta e dobraram, dando metade do que apostei a mais cada um, e assim conseguia dinheiro para a compra de meus novos discos de samba e, futuramente, gastar com as moças.
E dessa forma eu segui toda a minha infância e adolescencia, às custas de vovô e, regularmente, da boa vontade de seus amigos mais bem afortunados que nós. A cada dia que se passava eu ficava mais fascinado pelo estilo de vida do meu pai adotivo, mesmo acompanhando com meus ouvidos apurados o choro fino e desesperado de minha avó Benta, preocupada com o paradeiro do velho ou pensando nas vagabundas que rodeavam-no constantemente e que, com certeza, o velhaco sabia muito bem como trata-las.
Quando estava mais moço, lá com os meus dezessete ou dezoito anos, Olávio começou a me chamar às escondidas de vovó, nas madrugadas de sexta feira, para acompanha-lo no samba que rolava na quadra que encontrava-se há alguns quarteirões de nosso prédio e, aos sábados, na feijoada que se estendia até a madrugada de domingo, recheada de sambistas e mulatas devassas embriagadas e doidas atrás de um bom partido branco do alto escalão carioca, eu era perfeito para esse molde. Ótimos finais de semana aqueles, ótimas semanas também, ótima vida a que eu tinha aliás, tive a sorte de ser criado pelo melhor partido do Rio de Janeiro, não tinha problemas na escola, nos estudos, adorava ler, tinha dinheiro, comida boa, sombra e água fresca, tudo porporcionado pelos melhores avós da região.
Relembrando de todas essas memórias de meu querido Olávio e da minha Bentinha, movi minha prisão móvel até o elevador e decidi dar um passeio pelo calçadão, cumprimentando todos no caminho, era conhecido na área desde os tempos do samba na rua, do carnaval que pulava alegrando a criançada e das bebedeiras constantes com os mais variados tipos da cidade, de músicas a poetas, de mendigos a burgueses magnatas donos de grandes fatias do Rio em outrora. Parei no café preferido de Olávinho e pedi o de sempre, o café extra forte com um croissant de manteiga seguido de um folhado para começar e horas de leitura do livro que estivesse desfrutando na semana.
Dessa vez não levei nenhum livro, jornal ou revista científica, apenas degustei lentamente cada mordida quente daquele croissant parisiense e do mais saboroso café brasileiro que havia tomado em toda minha vida. Acendi outro daqueles charutos, havia achado uma caixa de havanos escondida no armário e quase infartei de euforia, e pensei que aquela seria, com certeza, uma ótima noite pra um quase idoso cidadão carioca. Os últimos meses haviam sido desastrasos, com a morte de vovô e da Bentinha, tinha tudo e não tinha nada ao mesmo tempo, com todo o dinheiro, nome, privilégio e posses que haviam me deixado, e ao mesmo tempo sem o meu principal companheiro de samba, de mulheres e de boêmia, e sem minha Bentinha, que sempre cuidou de mim como a um filho, melhor até talvez. Muitos pensaram que eu havia provocado o acidente para poder ficar com tudo deles de uma vez por todas, já que não conseguia esperar pela inevitável e breve morte que chegava para ambos. Aquilo era inaceitável, com o nome que tinha e que herdei dos meus velhos, tratei de dar um jeito nos monstros que falaram tal infâmia de mim e dos meus pais, mas isso nunca fez parar os comentários isolados que voavam pelo ar vez ou outra, quando eu dava o ar de minha graça nas calçadas e quiosques de frente para o mar. Passei a não ligar mais para nada daquilo. Apenas apreciava meus cigarros, charutos, cafés, cervejas e croissants amanteigados nos mais variados pontos de comércio da região, sempre envolto em uma pequena roda de pessoas, interessadas nas histórias de um apaixonado pelo samba, um senhor da meia idade que já havia se divertido o suficiente para muitas vidas, e também querendo gozar um pouco de minha mão aberta e boa vontade em pagar bebidas para todos, mas não fazia a mínima diferença pra mim, ainda conseguia algumas mulatas e louras nos finais de semana, mesmo estando confinado naquela gaiola com rodas.
Vez ou outra alguém me pedia para contar da noite que Lávo e Bentinha se foram e quase fui junto com eles, provavelmente eram os que desconfiavam de minha inocência naquilo tudo, não gostava de falar sobre aquilo mas quando menos percebia já havia me entregado totalmente aos fatos e contando daquela noite, quando voltávamos do centenário de um amigo dos meus pais/avós, mais um daqueles que, se você quiser saber como chegou tão bem aos 100, basta eu dizer-lhe que era mais um dos amigos de Olávio que gozavam da boa vida e íntimo dos generais e conservadoristas dos tempos de golpe. Estávamos voltando completamente embriagados da comemoração, todos menos Benta, não bebia mais do que uma taça de vinho ou um copo bem servido de cerveja européia, mas vovô e eu éramos dois funis ambulantes desde sempre e estávamos completamente embriagados de champagne, whisky, cerveja e os mais caros e finos tipos de vinhos que podia se encontrar na cidade. Olávinho e eu berrávamos alguma velha canção de Milton Nascimento, enquanto eu dirigia e vovó tampava seu rosto com as mãos, rezando para não acontecer nada, há muitos anos havia desistido de tentar insistir para vovô e eu não bebermos e dirigirmos, mas claro que sempre esquecíamos disso depois de estar com tudo girando na cabeça. Depois só me lembro de uma buzina bem hollywoodiana e de acordar um dia depois no hospital, com o médico trazendo imediatamente a notícia do falecimento imediato de meus avós após um jeep há 80km/h arrebentar com seu para choque poderoso a lateral direita do carro, destroçando o pescoço de vovô e quase deixando Bentinha dividida em duas partes.
O mais engraçado de contar essa história era a cara dos espectadores quando eu terminava de contar tudo isso dando leves risinhos de canto, como se estivesse me divertindo em contar sobre a violenta, recente e trágica morte das pessoas que me cuidaram muito melhor do que cuidariam de um filho e que me deixaram tudo o que conseguiram construir em suas longas e bem aproveitadas vidas. Nessas horas apenas resumo a explicação dos risos às memórias de vovô e eu quando presenciávamos e riamos por longos minutos dos frequentes acidentes que aconteciam a beira-mar, embriagados e perfumados com o tabaco dos charutos cubanos dos amigos íntimos de militares. Depois dos momentos de nostalgia compartilhada com os ouvintes, alcanço o panama, encaixo-o no cabeça, termino o charuto, pago a conta da noite e rodo até o prédio em que fui criado, há poucos metros da praia e da vida boa.
segunda-feira, 7 de março de 2011
sexta-feira, 4 de março de 2011
Le prisonnier.
Levantou a cabeça rapidamente, logo após inalar uma diminuta carreira de cocaína vagabunda que arranjara nalgum canto daquele chiqueiro apelidado de cadeia. Seu ânus ainda latejava de dor; ele, um garoto francês, branco, barbeado e com um rosto suave, ele, que antes fora um bom namorado, fiel à sua amada, quase sempre pelo menos, agora jazia no fundo de sua cela fétida, gemendo baixinho e encontrando algum consolo no pouco de pó que encontrara nos utensílios do último condenado que fora esfaqueado lá. Seu rosto, inchado e roxo, também revelava pequenos filetes de sangue se originando dentro do nariz e por baixo de seus cabelos louros e encaracolados, não fazia a mais vaga idéia de o que havia acontecido com seu amigo, que também estava em algum lugar daquele inferno, ou não.
Sentou-se no canto mais escuro possível, baixou sua cabeça, encostando-a nos joelhos, e lá ficou por horas, sentindo a dor em sue traseiro ir e voltar lentamente, como uma bola de praia quicando pela areia molhada e dura, uma bela morena com seios fartos se aproximava dela, jogava para o mesmo e lá ficavam, rindo e correndo um atrás do outro que nem duas criança no auge de suas infâncias. Acordou. Olhou para o lado, realmente achando que era em casa, bom, de fato era sua casa, sua casa pelos próximos xxx anos, e era bom se acostumar rapidamente, ou iria sofrer as consequências bem mais do que já estava sofrendo desde que entrara lá, há menos de um dia.
Uma briga entre 5 condenados emergiu, quinze minutos após sair daquele sonho que outrora foi tão próximo e real, não conseguia achar outra saída a não ser se adaptar. Fez movimentos rápidos pra tentar ficar o mais longe o possível da briga, mesmo sendo uma tarefa quase impossível, todos os habitantes do cubículo já se mostravam bem entusiasmados, esperando o movimento do próximo só para poderem fazer parte daquela fanfarra, levavam na diversão, a vida era uma merda e a única maneira de anima-la era brigando, cheirando, fumando e transando entre eles mesmo, usando novatos caucasianos como ele, fantasiando serem louras, de pele branca e olhos claros, mulatas de olhos verde, morenas devassas e o que mais a imaginação pudesse trazer. Os carcereiros chegaram e amenizaram toda a algazarra utilizando de seus sprays e cacetetes como ferramentas, saira ileso de uma briga presidiária, era um homem, um homem forte, um homem branco e forte.
Acordou no dia seguinte antes de todos, resolveu que seria dessa forma todos os dias, faria um esforço interior incrível para acordar antes dos outros e poder ter o controle de todos pelo menos nesse horário, poder imaginar que, se quisesse, bastava pegar um dos travesseiros vagabundos e afundar no rosto do dono da cela, obstruindo suas vias respiratórios e conseguindo, então, respeito mútuo de toda a comunidade carcerária. É claro que ele tinha noção que Hollywood estava há bilhões de quilometros daquele lugar, que ele não sabia nem de perto onde era. Não queria saber também.
Todas as noites era violentado por 2 ou 3 gigantes, pretos que encontravam-se no direito de fazer tal coisa, logo com ele, um branco, um francês, um ariano. Ah, se tivessem idéia do que ele poderia fazer com esses crioulos há poucos meses atrás, a época de ouro, onde tudo era possível pra ele e sua família, sua namorada continuava intacta, com seu corpo perfeito e sotaque italiano bem leve quando pronunciava seu francês fluente, seu francês suave, que pronunciava lentamente e sem confiança alguma, sempre insegura quanto a isso e tantas outras coisas, se deleitava observando os suaves movimentos de sua boca e língua enquanto falava francês delicadamente e escorregava lentamente no italiano, corando-se inteira logo depois que ele tirava sarro de sua falha. Constantemente ele se recordava de certa manha, quando acordaram juntos, como sempre, ela nua em cima de seu corpo também despido, ela ainda dormia e ele só olhava para seu rosto perfeito, seu cabelo moreno e naturalmente liso e macio, sua face ainda perfeita, sem os hematomas, cortes, sangue e partes esmagadas em que agora se encontrava.
Chorou por dentro quando mais um negro, o maior deles, se aproximou de suas nádegas e apertou-as como se fosse uma vadia, uma prostituta qualquer que pagara pouco para possuir por uma hora, estuprou-o lenta e doloridamente, como sempre, e depois retirou-se para o seu canto na cela, deixando-o deitado nu em posição fetal, sentindo o morno do sêmen percorrendo e cortando toda a nádega esquerda.
No dia seguinte recebeu uma carta, uma carta muito bem escrita, muito bela e com um perfume suave em volta do papel bem característico, sentiu-se no paraíso quando a viu, mas no inferno quando a leu. Sua namorada continuava em coma, em estado gravíssimo de saúde, seus pais e os de sua namorada estavam há dois passos da depressão.
Passaram-se dias, alguns, e já sentia-se um pouco menos novato naquele lugar e já havia trocado palavras com alguns dos amáveis senhores que o faziam companhia no recinto. Também já não era mais o novato na cela, outro havia pegado seu concorrido lugar de violentado diariamente, um garoto Assumpção, um tal que ninguém devia mexer, ou seu avô, amigo dos militares, botaria no rabo de todos, segundo suas próprias palavras. Era violentado por dois de uma só vez quando terminava algum de seus entusiasmados discursos sobre sua família tradicional e rica. Era um nojento.
No almoço sentava com os mais brancos, eram mais tolerantes, preferia os neo nazistas, tinham respeito até dos negrinhos, apesar de não passarem de grandes filhos da puta metido a valentões, mas ainda deixavam-o andar com eles, já que era francês, branco e burguês.
Certa noite conseguiu descolar um baseado com um de seus novos amigos de cela, um dos únicos que não havia estuprado o rapaz quando esse adentrou ao sistema carcerário por considerar uma "coisa de negros e chicanos", ainda bem, pensou o francês. Acendeu o fino cigarro de marijuana, tomando cuidado para o cheiro não alcançar as narinas perfuradas de cocaína dos outros condenados e acaba com a festa, em poucas tragadas ele desapareceu com o cigarro e sentou-se relaxado no chão, preparando-se para ter o melhor momento de sua vida em muitas semanas. Sentiu o formigamento nos pés e fechou seus olhos, imaginando a praia branca de seus sonhos, com a devassa que há pouco ocupava o lugar de sua namorada, futura mulher e mãe de seus filhos, aquela que agora jazia em alguma cama de hospital, completamente inconsciente das coisas que aconteciam no mundo, com seu rosto parcialmente desfigurado e um trauma sexual que levaria para o resto de sua vida. Imaginou os dois se amando na cama do hotel de frente para o mar da viagem do ano passado, ela intercalando sorrisos e gemidos baixos, enquanto ele agarrava seus cabelos escuros com orgulho, como se estivesse mostrando para todos o que ele possuia, o que ele podia amar todos os dias, pelo resto de sua vida. Começou a lembrar de seu rosto desfigurado, pensando se deveria mesmo ter visto aquela cena, se devia mesmo ter discutido com ela por um motivo bobo, uma maldita bebedeira idiota, nada demais, tudo estava acabado, haviam detonado ela, ela nunca mais voltaria a ser o que era e ele estava realmente bem com aquilo, a amaria da mesma forma, mas ela, ahh ela, com toda a teimosia feminina, nunca o perdoaria, nunca. Nunca.
Não haviam passando nem 15 minutos, mas achou que eram 3 horas de viagem. Rezava para estar acabando logo, estava péssimo, chorando, soluçando alto e achando que acordava a todos com seus gritos, gritando pelo nome dela, pelo nome dos filhos que ele planejara ter com ela e agora estava tudo por água abaixo, nunca mais a amaria como amara nas noites de inverno, nas de verão, outono e primavera, seu corpo nu deitado sobre o dele, sorrindo suavemente graças a seus doces sonhos, que imaginava ser com ele. Gritava para dentro, o tempo todo, estava no maior silêncio do mundo, mas o pânico batera e ele não sabia mais o que fazer, queria gritar pelos seus pais, queria ir embora de lá, logo agora que estava se acostumando com aquilo, logo agora que iria conquistar respeito? Chorava, soluçava por seu estado, imbecil, inútil, deplorável, chorando por mulher, por dinheiro? Logo ele que queria tanto ser útil na sociedade? Vomitou no canto onde dormia, secou com um cobertor velho e dormiu aonde conseguiu, com fome, sede e prevendo um torcicolo na manha seguinte.
Agora fazia leves trabalhos na cadeia, na verdade era só um local de repouso para os traficantes, que continuavam fazendo o que faziam nas ruas lá dentro, só que com segurança e saúde garantida. Levava pequenas quantidades de narcóticos para outras celas, negociava e cobrava cigarros, travestis, bebidas, privilégios e o que mais tivesse algum valor naquele mundo paralelo. Seu respeito aumentara, assim como sua ansiedade e depressão, de dia fazia o papel de protegido pelos chefões da cela, aquele que não era mais estuprado e que já podia estuprar, e de noite era um maricas, era um covarde, com medo do escuro, com medo da rua, com medo de sua deformada namorada, temia que ela aparecesse durante seu sono e o vingasse, jogando óleo quente no seu rosto, chutando sua face até deforma-la por completo, esmagando-a com um extintor.
A correspondência chegou, trouxe uma coisa que ele não via há tempos, uma carta. Uma bela carta, perfumada e tudo o mais, com um belo papel macio e muito bem escrita, esperava boas novas, mas a realidade voltou e bateu em sua cabeça bem de leve, mandando-o acordar de seu momento breve e descuidado de ecstasy. Sua namorada finalmente falecera, carta contava com detalhes seus últimos entediantes segundos de vida, não sentiu nada, nem viu, nem ouviu, nem cheirou nada antes de morrer, estava em seu coma profundo ainda, seu rosto limpo com cicatrizes profundas deformando-o e ainda era possível ver seu belo rosto por baixo de toda aquela crosta produto da podridão de um sem alma, um que teve o que mereceu, que a essas horas simplesmente não existe mais. Le prisonnier avait disparu et à sa place il n'y a rien.
Sentou-se no canto mais escuro possível, baixou sua cabeça, encostando-a nos joelhos, e lá ficou por horas, sentindo a dor em sue traseiro ir e voltar lentamente, como uma bola de praia quicando pela areia molhada e dura, uma bela morena com seios fartos se aproximava dela, jogava para o mesmo e lá ficavam, rindo e correndo um atrás do outro que nem duas criança no auge de suas infâncias. Acordou. Olhou para o lado, realmente achando que era em casa, bom, de fato era sua casa, sua casa pelos próximos xxx anos, e era bom se acostumar rapidamente, ou iria sofrer as consequências bem mais do que já estava sofrendo desde que entrara lá, há menos de um dia.
Uma briga entre 5 condenados emergiu, quinze minutos após sair daquele sonho que outrora foi tão próximo e real, não conseguia achar outra saída a não ser se adaptar. Fez movimentos rápidos pra tentar ficar o mais longe o possível da briga, mesmo sendo uma tarefa quase impossível, todos os habitantes do cubículo já se mostravam bem entusiasmados, esperando o movimento do próximo só para poderem fazer parte daquela fanfarra, levavam na diversão, a vida era uma merda e a única maneira de anima-la era brigando, cheirando, fumando e transando entre eles mesmo, usando novatos caucasianos como ele, fantasiando serem louras, de pele branca e olhos claros, mulatas de olhos verde, morenas devassas e o que mais a imaginação pudesse trazer. Os carcereiros chegaram e amenizaram toda a algazarra utilizando de seus sprays e cacetetes como ferramentas, saira ileso de uma briga presidiária, era um homem, um homem forte, um homem branco e forte.
Acordou no dia seguinte antes de todos, resolveu que seria dessa forma todos os dias, faria um esforço interior incrível para acordar antes dos outros e poder ter o controle de todos pelo menos nesse horário, poder imaginar que, se quisesse, bastava pegar um dos travesseiros vagabundos e afundar no rosto do dono da cela, obstruindo suas vias respiratórios e conseguindo, então, respeito mútuo de toda a comunidade carcerária. É claro que ele tinha noção que Hollywood estava há bilhões de quilometros daquele lugar, que ele não sabia nem de perto onde era. Não queria saber também.
Todas as noites era violentado por 2 ou 3 gigantes, pretos que encontravam-se no direito de fazer tal coisa, logo com ele, um branco, um francês, um ariano. Ah, se tivessem idéia do que ele poderia fazer com esses crioulos há poucos meses atrás, a época de ouro, onde tudo era possível pra ele e sua família, sua namorada continuava intacta, com seu corpo perfeito e sotaque italiano bem leve quando pronunciava seu francês fluente, seu francês suave, que pronunciava lentamente e sem confiança alguma, sempre insegura quanto a isso e tantas outras coisas, se deleitava observando os suaves movimentos de sua boca e língua enquanto falava francês delicadamente e escorregava lentamente no italiano, corando-se inteira logo depois que ele tirava sarro de sua falha. Constantemente ele se recordava de certa manha, quando acordaram juntos, como sempre, ela nua em cima de seu corpo também despido, ela ainda dormia e ele só olhava para seu rosto perfeito, seu cabelo moreno e naturalmente liso e macio, sua face ainda perfeita, sem os hematomas, cortes, sangue e partes esmagadas em que agora se encontrava.
Chorou por dentro quando mais um negro, o maior deles, se aproximou de suas nádegas e apertou-as como se fosse uma vadia, uma prostituta qualquer que pagara pouco para possuir por uma hora, estuprou-o lenta e doloridamente, como sempre, e depois retirou-se para o seu canto na cela, deixando-o deitado nu em posição fetal, sentindo o morno do sêmen percorrendo e cortando toda a nádega esquerda.
No dia seguinte recebeu uma carta, uma carta muito bem escrita, muito bela e com um perfume suave em volta do papel bem característico, sentiu-se no paraíso quando a viu, mas no inferno quando a leu. Sua namorada continuava em coma, em estado gravíssimo de saúde, seus pais e os de sua namorada estavam há dois passos da depressão.
Passaram-se dias, alguns, e já sentia-se um pouco menos novato naquele lugar e já havia trocado palavras com alguns dos amáveis senhores que o faziam companhia no recinto. Também já não era mais o novato na cela, outro havia pegado seu concorrido lugar de violentado diariamente, um garoto Assumpção, um tal que ninguém devia mexer, ou seu avô, amigo dos militares, botaria no rabo de todos, segundo suas próprias palavras. Era violentado por dois de uma só vez quando terminava algum de seus entusiasmados discursos sobre sua família tradicional e rica. Era um nojento.
No almoço sentava com os mais brancos, eram mais tolerantes, preferia os neo nazistas, tinham respeito até dos negrinhos, apesar de não passarem de grandes filhos da puta metido a valentões, mas ainda deixavam-o andar com eles, já que era francês, branco e burguês.
Certa noite conseguiu descolar um baseado com um de seus novos amigos de cela, um dos únicos que não havia estuprado o rapaz quando esse adentrou ao sistema carcerário por considerar uma "coisa de negros e chicanos", ainda bem, pensou o francês. Acendeu o fino cigarro de marijuana, tomando cuidado para o cheiro não alcançar as narinas perfuradas de cocaína dos outros condenados e acaba com a festa, em poucas tragadas ele desapareceu com o cigarro e sentou-se relaxado no chão, preparando-se para ter o melhor momento de sua vida em muitas semanas. Sentiu o formigamento nos pés e fechou seus olhos, imaginando a praia branca de seus sonhos, com a devassa que há pouco ocupava o lugar de sua namorada, futura mulher e mãe de seus filhos, aquela que agora jazia em alguma cama de hospital, completamente inconsciente das coisas que aconteciam no mundo, com seu rosto parcialmente desfigurado e um trauma sexual que levaria para o resto de sua vida. Imaginou os dois se amando na cama do hotel de frente para o mar da viagem do ano passado, ela intercalando sorrisos e gemidos baixos, enquanto ele agarrava seus cabelos escuros com orgulho, como se estivesse mostrando para todos o que ele possuia, o que ele podia amar todos os dias, pelo resto de sua vida. Começou a lembrar de seu rosto desfigurado, pensando se deveria mesmo ter visto aquela cena, se devia mesmo ter discutido com ela por um motivo bobo, uma maldita bebedeira idiota, nada demais, tudo estava acabado, haviam detonado ela, ela nunca mais voltaria a ser o que era e ele estava realmente bem com aquilo, a amaria da mesma forma, mas ela, ahh ela, com toda a teimosia feminina, nunca o perdoaria, nunca. Nunca.
Não haviam passando nem 15 minutos, mas achou que eram 3 horas de viagem. Rezava para estar acabando logo, estava péssimo, chorando, soluçando alto e achando que acordava a todos com seus gritos, gritando pelo nome dela, pelo nome dos filhos que ele planejara ter com ela e agora estava tudo por água abaixo, nunca mais a amaria como amara nas noites de inverno, nas de verão, outono e primavera, seu corpo nu deitado sobre o dele, sorrindo suavemente graças a seus doces sonhos, que imaginava ser com ele. Gritava para dentro, o tempo todo, estava no maior silêncio do mundo, mas o pânico batera e ele não sabia mais o que fazer, queria gritar pelos seus pais, queria ir embora de lá, logo agora que estava se acostumando com aquilo, logo agora que iria conquistar respeito? Chorava, soluçava por seu estado, imbecil, inútil, deplorável, chorando por mulher, por dinheiro? Logo ele que queria tanto ser útil na sociedade? Vomitou no canto onde dormia, secou com um cobertor velho e dormiu aonde conseguiu, com fome, sede e prevendo um torcicolo na manha seguinte.
Agora fazia leves trabalhos na cadeia, na verdade era só um local de repouso para os traficantes, que continuavam fazendo o que faziam nas ruas lá dentro, só que com segurança e saúde garantida. Levava pequenas quantidades de narcóticos para outras celas, negociava e cobrava cigarros, travestis, bebidas, privilégios e o que mais tivesse algum valor naquele mundo paralelo. Seu respeito aumentara, assim como sua ansiedade e depressão, de dia fazia o papel de protegido pelos chefões da cela, aquele que não era mais estuprado e que já podia estuprar, e de noite era um maricas, era um covarde, com medo do escuro, com medo da rua, com medo de sua deformada namorada, temia que ela aparecesse durante seu sono e o vingasse, jogando óleo quente no seu rosto, chutando sua face até deforma-la por completo, esmagando-a com um extintor.
A correspondência chegou, trouxe uma coisa que ele não via há tempos, uma carta. Uma bela carta, perfumada e tudo o mais, com um belo papel macio e muito bem escrita, esperava boas novas, mas a realidade voltou e bateu em sua cabeça bem de leve, mandando-o acordar de seu momento breve e descuidado de ecstasy. Sua namorada finalmente falecera, carta contava com detalhes seus últimos entediantes segundos de vida, não sentiu nada, nem viu, nem ouviu, nem cheirou nada antes de morrer, estava em seu coma profundo ainda, seu rosto limpo com cicatrizes profundas deformando-o e ainda era possível ver seu belo rosto por baixo de toda aquela crosta produto da podridão de um sem alma, um que teve o que mereceu, que a essas horas simplesmente não existe mais. Le prisonnier avait disparu et à sa place il n'y a rien.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Mr. Hank quer se divertir um pouco.
Dirigi com a Zed até o puteiro mais sujo daquela região, nem sabia em que área da cidade aquilo se encontrava, mas era bem porco, com uma aparência vintage, parecia ser bem barato, ia transar com facilidade, sem grandes problemas.
Um ano fiquei. Um ano sem comer ninguém, nem pensava em mais nenhuma outra coisa, queria alguém a qualquer custo, namoradas não prestavam, amigas não prestavam, só queria algo livre. Tratei de encher o rabo de álcool logo assim que atravessei a porta, não conseguia nem olhar para a puta se estivesse sóbrio, sem nada pra barrar minha vergonha e insegurança.
O lugar era grande, cheio de mulheres da vida fácil e velhos fétidos e pervertidos, esperando desesperadamente uma virgem, uma garota pura...ou um desconto. Sentei o traseiro num assento que parecia mais higienizado e pedi um hi-fi e comecei a analisar o lugar e as mulheres belas e semi nuas dançando, estava mais para semi belas e nuas dançando ao som de Dusty Springfield. Caralho, que coisa maravilhosa! Ainda me sentia sóbrio e pedi um whisky, virei a diminuta dose em um gole e ordenei outro, não estava ficando bêbado de jeito maneira. Pensei em dar um teco, mas decidi faze-lo só depois da diversão, brochar com uma prostituta deve ser entristecedor em níveis soberbos, hehe. Encontrei o Cid e ficamos trocando uma idéia sobre a semana, aquilo me emputecia extremamente, falar de trabalho no único lugar em que trabalho devia fiar de fora. É que nem..sei lá, falar de incesto em uma igreja evangélica. Era de cortar os pulsos. Falei que ia ao banheiro e desapareci por um bom tempo, com uma esperança de me livrar daquela conversa deplorável, esperei, sentado num lugar escuro e deserto no fundo do estabelecimento, por cerca de meia hora, ele deve ter achado que fui soltar uma bosta singular.
Nesse meio tempo, fiquei bebendo tudo o que consegui e não me sentia bêbado o suficiente ainda. Desisti de esperar e voltei pra mesa com a desculpa da cagalhança única.
Quis um lap dance primeiro, queria fazer as coisas com calma e aproveitar aquela noite até o última centavo do meu medíocre salário, tinha batido duas punhetas antes de ir pra lá, pra não ter que jogar 500 contos de réis fora em 5 minutos. A garota dançando era maravilhosa, quis possui-la ali mesmo, mas iam enfiar uma trolha bem preta no meu rabo branco se o fizesse, ela era loira, boca e seios rosados, coisa magnífica de se ver, uma bunda e coxa que nunca tinha visto ou fodido antes. Era estupenda, mas não consegui mais prestar atenção depois de uns minutos, tinha muitas coisas na minha cabeça, muitas decepções e foras, e não sabia como deixa-las de lado, pedi outra dose cavalar de bourbon e tentei prestar atenção naquele fantástico conjunto de pele branca, sem roupa alguma, se esfregando no meu corpo, como alguns animais antes de se acasalarem.
Quanto ela terminou o espetáculo, tentei beija-la e levei um tapa ardido e sonoro no rosto, ela foi embora e fiquei parado lá, admirando de longe aquela peça que nunca faria uma dança dessas pra um cara como eu, se não fosse pagando um preço exorbitante. Nenhum faria, alias. Pedi e engoli duas cervejas e comecei a sentir fome, acendi um charuto barato que tinha comprado no jornaleiro momentos antes e saciei a fome com tabaco ordinário e soluções etílicas das mais baratas.
Começou a tocar um blues bem lento e cheio de feeling, chutei que fosse Dixon, estava ouvindo ao som e puxando o charuto, quando adentraram dois sujeitos altos, um deles com um tatuagem que começa no pescoço e se estendia até o braço esquerdo, ambos com ternos e o outro estava com silver tape envolvido em uma mão empapada de sangue, imaginei. Reconheci os dois sujeitos de algum lugar, mas não sabia de onde.
Passaram-se dois minutos depois da chega do tipos, e foi quando ouvi um estalo grosso e alto, aterrorizante e familiar, foi no mesmo momento que olhei e vi uma morena que havia me servido caindo inanimada no chão e uma grande poça rubro se revelou debaixo dela. O de mão fodida havia atirado nela sem motivo aparente, e foi aí que pensei que tudo ia acabar ali mesmo, sem transar, vai se foder Deus. Estava com as calças dois quilos mais pesada.
Os dois irmãos( eu acho) começaram a atirar em todo mundo que viam, com suas calibre 12 com cano cortado em uma mão e uma .45 na outra, já jaziam uns 7 corpos sangrando no chão e eu só pensava em um lugar pra me esconder. Pensei no clichê "atrás do balcão", mas desisti, era fácil por fogo lá com toda aquela bebida, saí correndo pra um lugar mais escuro, não só eu, dezenas faziam o mesmo, buscando um lugar pra se esconder, se trombando e caindo, escorregando nos riachos de sangue que já se conectavam em um só, bem grande. Senti a perna queimar e fraquejar automaticamente, gritei algo com o susto.
O da mão ferrada gritou para o irmão me apagar, SLOM, e o desgraçado acertou há 2 cm do meu nariz, quase arrancando-o. Berrei e xinguei-os, falando que só fui lá pra tentar transar. Pareciam estar se divertindo com o meu desespero, nem olhavam mais pras pessoas à minha volta, infelizmente. Apontaram as quatro armas pra minha cabeça ao mesmo tempo, nessa hora fiquei sem o que falar, pensar, cagar e mijar, não havia mais nada no meu corpo, sempre falei que no meu leito de morte, mesmo sendo um ateu a vida inteira, eu ia rezar mais que um católico misturado com evangélico pra tentar a salvação, não teria nada a perder mesmo. Mas na hora nem pensei em rezar, só fiquei encarando aqueles quatro canos fumegantes apontados pra minha fuça e prontos pra cuspir chumbada no meu asqueroso rosto, não ia ficar tão pior, pelo menos.Também não pensei na famosa expressão hollywoodiana de que "sua vida inteira passa pelos seus olhos", única coisa que passava por eles era gente despedaçada e membros sem donos jorrando sangue naquela carpete vagabundo. Fechei os olhos e, ao abri-los, meio que me surpreendi ao ver dois canos a menos apontados pro meu rosto, o da mão fodida olhou pra mim com cara de surpresa, tentando se lembrar de mim, parecia. Parece que lembrou e olhou pro irmão. Se perguntaram se era mesmo eu, o famoso escritor, aquele que sua mãe lia pra eles há pouco tempo atrás, eu estava sem palavras, só ficava ouvindo a conversa e me arrastando lentamente pra trás.
-Hey, Wank, pode ir. Vai embora daqui.
Não falei nada, levantei o rabo de lá e me dirigi até a porta em passos largos, pensei em corrigir aquele "W" dele, mas não vi motivo para isso, não havia motivo pra reclamar de mais nada.
Na porta, quase saindo, vi o corpo desfigurado do pobre Cid, o cara era gente boa, apesar de ser um mala sem alça, chequei seu pulso, mesmo sabendo que já tinha ido pro espaço há um tempo. Remexi seus bolsos, peguei sua carteira, um couro bem bonito, com umas notas mais bonitas ainda dentro, guardei no bolso e tratei de sair daquele buraco.
Entrei no conversível herdado do meu tio e, ao dar partida na caranga, a loira estupenda do lad dance pulou junto comigo, fingiu-se de morta e fugiu quando não olhavam, que nem nos filmes. Me beijos e fomos embora. Tinha dinheiro no bolso e ia transar. A noite foi boa.
Um ano fiquei. Um ano sem comer ninguém, nem pensava em mais nenhuma outra coisa, queria alguém a qualquer custo, namoradas não prestavam, amigas não prestavam, só queria algo livre. Tratei de encher o rabo de álcool logo assim que atravessei a porta, não conseguia nem olhar para a puta se estivesse sóbrio, sem nada pra barrar minha vergonha e insegurança.
O lugar era grande, cheio de mulheres da vida fácil e velhos fétidos e pervertidos, esperando desesperadamente uma virgem, uma garota pura...ou um desconto. Sentei o traseiro num assento que parecia mais higienizado e pedi um hi-fi e comecei a analisar o lugar e as mulheres belas e semi nuas dançando, estava mais para semi belas e nuas dançando ao som de Dusty Springfield. Caralho, que coisa maravilhosa! Ainda me sentia sóbrio e pedi um whisky, virei a diminuta dose em um gole e ordenei outro, não estava ficando bêbado de jeito maneira. Pensei em dar um teco, mas decidi faze-lo só depois da diversão, brochar com uma prostituta deve ser entristecedor em níveis soberbos, hehe. Encontrei o Cid e ficamos trocando uma idéia sobre a semana, aquilo me emputecia extremamente, falar de trabalho no único lugar em que trabalho devia fiar de fora. É que nem..sei lá, falar de incesto em uma igreja evangélica. Era de cortar os pulsos. Falei que ia ao banheiro e desapareci por um bom tempo, com uma esperança de me livrar daquela conversa deplorável, esperei, sentado num lugar escuro e deserto no fundo do estabelecimento, por cerca de meia hora, ele deve ter achado que fui soltar uma bosta singular.
Nesse meio tempo, fiquei bebendo tudo o que consegui e não me sentia bêbado o suficiente ainda. Desisti de esperar e voltei pra mesa com a desculpa da cagalhança única.
Quis um lap dance primeiro, queria fazer as coisas com calma e aproveitar aquela noite até o última centavo do meu medíocre salário, tinha batido duas punhetas antes de ir pra lá, pra não ter que jogar 500 contos de réis fora em 5 minutos. A garota dançando era maravilhosa, quis possui-la ali mesmo, mas iam enfiar uma trolha bem preta no meu rabo branco se o fizesse, ela era loira, boca e seios rosados, coisa magnífica de se ver, uma bunda e coxa que nunca tinha visto ou fodido antes. Era estupenda, mas não consegui mais prestar atenção depois de uns minutos, tinha muitas coisas na minha cabeça, muitas decepções e foras, e não sabia como deixa-las de lado, pedi outra dose cavalar de bourbon e tentei prestar atenção naquele fantástico conjunto de pele branca, sem roupa alguma, se esfregando no meu corpo, como alguns animais antes de se acasalarem.
Quanto ela terminou o espetáculo, tentei beija-la e levei um tapa ardido e sonoro no rosto, ela foi embora e fiquei parado lá, admirando de longe aquela peça que nunca faria uma dança dessas pra um cara como eu, se não fosse pagando um preço exorbitante. Nenhum faria, alias. Pedi e engoli duas cervejas e comecei a sentir fome, acendi um charuto barato que tinha comprado no jornaleiro momentos antes e saciei a fome com tabaco ordinário e soluções etílicas das mais baratas.
Começou a tocar um blues bem lento e cheio de feeling, chutei que fosse Dixon, estava ouvindo ao som e puxando o charuto, quando adentraram dois sujeitos altos, um deles com um tatuagem que começa no pescoço e se estendia até o braço esquerdo, ambos com ternos e o outro estava com silver tape envolvido em uma mão empapada de sangue, imaginei. Reconheci os dois sujeitos de algum lugar, mas não sabia de onde.
Passaram-se dois minutos depois da chega do tipos, e foi quando ouvi um estalo grosso e alto, aterrorizante e familiar, foi no mesmo momento que olhei e vi uma morena que havia me servido caindo inanimada no chão e uma grande poça rubro se revelou debaixo dela. O de mão fodida havia atirado nela sem motivo aparente, e foi aí que pensei que tudo ia acabar ali mesmo, sem transar, vai se foder Deus. Estava com as calças dois quilos mais pesada.
Os dois irmãos( eu acho) começaram a atirar em todo mundo que viam, com suas calibre 12 com cano cortado em uma mão e uma .45 na outra, já jaziam uns 7 corpos sangrando no chão e eu só pensava em um lugar pra me esconder. Pensei no clichê "atrás do balcão", mas desisti, era fácil por fogo lá com toda aquela bebida, saí correndo pra um lugar mais escuro, não só eu, dezenas faziam o mesmo, buscando um lugar pra se esconder, se trombando e caindo, escorregando nos riachos de sangue que já se conectavam em um só, bem grande. Senti a perna queimar e fraquejar automaticamente, gritei algo com o susto.
O da mão ferrada gritou para o irmão me apagar, SLOM, e o desgraçado acertou há 2 cm do meu nariz, quase arrancando-o. Berrei e xinguei-os, falando que só fui lá pra tentar transar. Pareciam estar se divertindo com o meu desespero, nem olhavam mais pras pessoas à minha volta, infelizmente. Apontaram as quatro armas pra minha cabeça ao mesmo tempo, nessa hora fiquei sem o que falar, pensar, cagar e mijar, não havia mais nada no meu corpo, sempre falei que no meu leito de morte, mesmo sendo um ateu a vida inteira, eu ia rezar mais que um católico misturado com evangélico pra tentar a salvação, não teria nada a perder mesmo. Mas na hora nem pensei em rezar, só fiquei encarando aqueles quatro canos fumegantes apontados pra minha fuça e prontos pra cuspir chumbada no meu asqueroso rosto, não ia ficar tão pior, pelo menos.Também não pensei na famosa expressão hollywoodiana de que "sua vida inteira passa pelos seus olhos", única coisa que passava por eles era gente despedaçada e membros sem donos jorrando sangue naquela carpete vagabundo. Fechei os olhos e, ao abri-los, meio que me surpreendi ao ver dois canos a menos apontados pro meu rosto, o da mão fodida olhou pra mim com cara de surpresa, tentando se lembrar de mim, parecia. Parece que lembrou e olhou pro irmão. Se perguntaram se era mesmo eu, o famoso escritor, aquele que sua mãe lia pra eles há pouco tempo atrás, eu estava sem palavras, só ficava ouvindo a conversa e me arrastando lentamente pra trás.
-Hey, Wank, pode ir. Vai embora daqui.
Não falei nada, levantei o rabo de lá e me dirigi até a porta em passos largos, pensei em corrigir aquele "W" dele, mas não vi motivo para isso, não havia motivo pra reclamar de mais nada.
Na porta, quase saindo, vi o corpo desfigurado do pobre Cid, o cara era gente boa, apesar de ser um mala sem alça, chequei seu pulso, mesmo sabendo que já tinha ido pro espaço há um tempo. Remexi seus bolsos, peguei sua carteira, um couro bem bonito, com umas notas mais bonitas ainda dentro, guardei no bolso e tratei de sair daquele buraco.
Entrei no conversível herdado do meu tio e, ao dar partida na caranga, a loira estupenda do lad dance pulou junto comigo, fingiu-se de morta e fugiu quando não olhavam, que nem nos filmes. Me beijos e fomos embora. Tinha dinheiro no bolso e ia transar. A noite foi boa.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Amadorum.
Tentei tocar um pouco durante a madrugada, mas só saia porcaria, não andava inspirado pra nada, era um saco bem mole. Meu sonho era ser que nem os mestres do blues, quanto pior eles se sentiam, melhor eles se saiam musicalmente...comigo é diferente, quanto pior, pior eu toco; quanto melhor, pior eu toco. Mas que maldição, queria pegar um dia e arregaçar as cordas do violão na frente de alguém, ser aplaudido de pé, mesmo que fosse uma pessoa só, de preferência mulher, é claro.
Larguei o violão longe e peguei o baixo, mesma porcaria de doer os ouvidos. Tentei a gaita e até a guitarra, mesmo estando com o amplificador queimado, estava tudo tão sonoramente qualificado quanto um cassino sendo demolido. Chorei por uns minutos, nem sei porque eu chorei, mas gostei daquilo e tentei prolongar, parou e fui beber alguma coisa, leite com cereal no meio da tarde e poucas horas após almoçar bem, ah, já to na merda, sou gordo e feio, manda bala.
Passaram-se duas horas, pensei que fossem 5 dias, fiquei escrevendo um monte de baboseiras no computador, às vezes achava que poderia mandar pra alguém e, com sorte, publica-las, mas aí eu despertava. Não gostava das minhas histórias, mas tinha orgulho de escrever textos longos e cansativos, daqueles que você fica cansado até de rolar o scroll do mouse pra ver o tamanho do texto, me sentia um pouco mais útil quando fazia coisas desse tipo, mas as histórias, ah, as histórias eram as mesmas coisas de sempre, um alter ego meu que se dá tão mal quanto o seu criador, com uma pitada de filho da mãe e arrogante, era legal.
Escrevi uma história meio pulp sobre um cara que se metia com a mulher de um big shot e estava ferrado pra sair da situação, morria e depois acaba. Sem graça, mas ficou enorme. Alguns psicanalistas achariam que faço isso tentando compensar meu trauma com alguma coisa pequena, vish. Meu apartamento alugado parecia gigantesco hoje, adorava aquele lugar, me sentia no paraíso, sozinho lá o dia inteiro, a semana inteira, mês inteiro, dependendo da época, ficava um mês inteiro sem nem ouvir o som da minha própria voz. Mas acabava ligando pra alguém pra sair depois, não aguentava ficar tanto tempo sozinho, é de enlouquecer
Alguém me ligou, uma voz familiar que não conseguia decifrar quem era, falava que eu tinha que ir lá na casa dela arrumar a pia do banheiro que estava quebrada, que eu era a única pessoa por perto que conseguia fazer isso, não faço a mínima idéia de onde tirou isso, única coisa que sou capaz de trocar é de roupa, sometimes.
Liguei um blues no último volume e comecei a fazer pequenos passos e coreografias, ficava me olhando no espelho e dando risada daquela cena deprimente, usando apenas cueca e vendo tanta pança pulando, era engraçado, ficava feliz. Peguei o violão e consegui tocar algo melhor, mas ainda assim tive vontade de quebrar tudo, sentia muita pena de mim mesmo, falava mal de tudo e não corria atrás nem de uma aula de música decente.
Quis passar o dia em casa, já estava assim há uma semana e tinha levado na boa, tava bem aceitável, devia ter engordado uns 15kg nos últimos dias, não tomava banho há três e a barba já era até charmosa no meu rosto. Sinto falta da faculdade quando estou de férias, muito mais do que sentia da escola. Ouvi dois Albert King e fiquei lendo umas duas horas, até as 17h.
Minha cabeça deu uma pontada e lembrei do que o médico disse sobre isso, que a pancada que eu havia levado há um mês atrás ia levar um tempo pra "curar" totalmente, que sentiria pontadas por uns meses, talvez anos e, com a minha sorte, talvez levasse essa lembrança pro resto da minha vida, não ligava muito pra dor física, sempre fui resistente. Na janela tinha uma pomba bem bonitinha, tentei chegar perto pra dar alguma comida, idêntico a uma velha, e lembrei de quando meu primo e eu atirávamos nela com a espingarda de pressão, fiquei com dó da bichinha, precisava de um animal de estimação pra não ficar muito só, um gato? Não, iam pensar que eu sou uma bicha afetada. Cachorro? Em apto. teria que ser um Poodle, Deus me livre. Decidi que ia procurar algum caminhoneiro que me arranjasse um papagaio totalmente ilegal por uns 50 mango, pegava ele filhote e criava o lindinho na mão, aí podia ficar que nem aqueles idosos que tem uns papagaios de 570 anos nas costas.
Falei com o Tião no dia seguinte, Tião era um caminhoneiro conhecido de minha família, sujeito humilde e que tinha uns contatos por ae pra tentar ganhar uns trocados a mais pra colocar uma comida mais jeitosa na mesa de sua família enorme, falou que ia ver o que podia fazer. Exigi um filhote de papagaio bem saudável, parecia uma bicha. Voltei pra casa e esperei cerca de um mês, não saí com ninguém nesse um mês inteiro, só conversava por algumas horas com o pessoal no computador e saia de casa pra fazer compras e pagar contas. Até que no final do mês, finalmente, chegou o bichinho.
Fiquei maravilhado com aquela pequena coisa semi-verde, nem tinha pelo e nem ao menos aquela penugem característica dos filhotes, chegava da faculdade e ficava lá admirando-o o dia inteiro, parecia uma velha aposentada sem outras tarefas mais importantes, mas me divertia bastante, tentava ensinar algumas palavras pra ele mas ele não falava nada, ainda era pequeno demais, ficava ajudando-o a quebrar aquelas pequenas cápsulas em que ficavam suas jovens peninhas, e depois ele ficava no meu ombro ou grudado no minha meia o resto do dia. Passou-se um tempo e já estava com metade do corpo coberto de penas verdes e vivas, muito bonitas, mas ainda não falava nenhuma palavra, o desgraçadinho, comecei a pensar que fosse uma fêmea. Tentava palavras clichês e simples, como "Lorôô" ou "biscoito", "Hernan", "Pai", coisas do tipo...e nada, nem um assobiozinho eu conseguia dele, mas mesmo assim eu não conseguia parar de encara-lo e me divertir o dia inteiro com ele (ou ela) pendurado nas minhas costas, me acompanhando silenciosamente em tudo o que eu fazia pela casa. Keith era o seu nome.
Desencanei de tentar fazer o bicho falar e me conformei que havia adquirido um papagaio fêmea, não me importava, era lindo e companheiro, estava precisando daquilo nos últimos meses. Passaram-se umas boas semanas silenciosas em meu apto. alugado, até que um dia, quando cheguei da faculdade, me deparei com uma cena revoltadora, Keith estava tentanto quebrar o trinco da janela, já havia quebrado um deles e estava prestes a quebrar o outro. "Nãão!" gritei, peguei-o rápida, porém cuidadosamente, e o filho da mãe me deu uma bicada que por pouco não arranca meu dedo do meio, jorrava que nem a porra de uma mangueira, e empapava as penas traseiras de Keith. "Seu porrinha!! Por que você fez isso? Te trato melhor do que trataria meu filho, fruto to meu saco, e você tenta fugir e me da uma bicada que quase me deixa mutilado?!" ficou me olhando com cara de nada, e coloquei-o no meu quarto, trancado e com segurança reforçada nas janelas. Comprei uma gaiola no dia seguinte, uma das grandes, pra ele não se sentir tão preso, apesar disso ser impossível.
Passou-se uns dias e nossa amizade parecia ter voltado, estávamos nos dando bem e, regularmente, deixava-o no ombro durante umas horas e passeava pelo diminuto apartamento, tropeçando em pares de sapatos, mesas e cadeiras, voltei a tentar fazê-lo falar, mas isso era improvável já.
Mas um dia, ao chegar da faculdade e sentar no sofá depois do almoço, comecei a ouvir um sonzinho familiar demais, e que vinha de dentro da gaiola do pássaro, me aproximei e confirmei que ele estava assobiando o tema de Kill Bill, fiquei surpreso e feliz, não sabia o que estava mais, mas havia gostado daquilo, até que quase caí pra trás:
- Ou, ogro, quando você vai me soltar de verdade, hein? Acha que eu me contento só ficando nesse seu ombro suado aí? Fico é muito puto quando olho pra janela e vejo um mundo lá fora e você e eu presos aqui dentro que nem dois imbecis encarcerados. Pelo amor de Deus, me liberta. - ELE falou.
-Mas que po...como assim?! Eu não te ensinei nenhuma dessas palavras! Ogro?! Ninguém me chama assim há uns 3 anos, pelo menos! Como aprendeu isso? Como aprendeu TUDO isso? Papagaios se limitam a repetir 20 palavras, e só repetem, não fazem idéia do que falam, nada faz sentido! O que você é?! - Cochichei, com medo de pensarem que eu era louco se me ouvissem falando sozinho, ou melhor, com um animal e tratando-o como um empresário.
-Não importa, só quero que você me deixa dar umas voadas por ae, eu volto, juro, mas nada dessa porra de gaiola nojenta, isso é coisa de presidiário, não fiz nada pra ninguém e sou um animal livre.
-Se eu te deixar ir, você não volta nunca mais, e vai acabar morrendo de fome ou apedrejado por um bando de trombadinhas por ae, pensa que eu não sei dessas coisas?!
-Não tenho medo de morrer, ogrinho, e outra, eu gosto de você e desse lugar, mas preciso sair de casa, você não entende? Estou trancafiado há tempo demais sem diversão nenhuma, tenho que sair, tenho que pegar umas mulheres, cara! - eu estava começando a concordar.
-Porra, você tem que me prometer que vai vir me ver todos os dias aqui e, se eu não estiver, você vai me esperar ou deixar um bilhete. Vou deixar a comida no mesmo lugar de sempre, você sabe.
-Você vai ter que me prometer também que vai sair dessa casa e vai curtir sua vida por uns dias. Chega dessa merda de depressão.
-Que depressão?! Eu sou animado pra porra.
-Ahh, não me engana, cara. Eu moro com você há tempo o suficiente pra te conhecer por completo. Não minta pra si mesmo - quando terminou de falar isso, caí na real de uma vez por todas.
-Ok, Keith, eu prometo. Mas me visite e tome cuidado, esse mundo é uma merda, seu bostinha. - falei enquanto destrancava a gaiola
-Não tenho medo dele, e você também não. Mas se eu não tenho, você, no fundo, também não tem! - Falou olhando no fundo dos meus olhos e abrindo suas asas, como se não fizesse isso há anos.
-Até amanha, meu velho. - me despedi
-Grande abraço!
E voou.
Deixei a comida no lugar de sempre, troquei de roupa e saí pela porta da frente. Liguei pra um querido e me encontrei com ele meia hora depois. Na rua, todos me olhavam estranho e com medo, eu ria e ignorava-os. Estava feliz de novo.
Larguei o violão longe e peguei o baixo, mesma porcaria de doer os ouvidos. Tentei a gaita e até a guitarra, mesmo estando com o amplificador queimado, estava tudo tão sonoramente qualificado quanto um cassino sendo demolido. Chorei por uns minutos, nem sei porque eu chorei, mas gostei daquilo e tentei prolongar, parou e fui beber alguma coisa, leite com cereal no meio da tarde e poucas horas após almoçar bem, ah, já to na merda, sou gordo e feio, manda bala.
Passaram-se duas horas, pensei que fossem 5 dias, fiquei escrevendo um monte de baboseiras no computador, às vezes achava que poderia mandar pra alguém e, com sorte, publica-las, mas aí eu despertava. Não gostava das minhas histórias, mas tinha orgulho de escrever textos longos e cansativos, daqueles que você fica cansado até de rolar o scroll do mouse pra ver o tamanho do texto, me sentia um pouco mais útil quando fazia coisas desse tipo, mas as histórias, ah, as histórias eram as mesmas coisas de sempre, um alter ego meu que se dá tão mal quanto o seu criador, com uma pitada de filho da mãe e arrogante, era legal.
Escrevi uma história meio pulp sobre um cara que se metia com a mulher de um big shot e estava ferrado pra sair da situação, morria e depois acaba. Sem graça, mas ficou enorme. Alguns psicanalistas achariam que faço isso tentando compensar meu trauma com alguma coisa pequena, vish. Meu apartamento alugado parecia gigantesco hoje, adorava aquele lugar, me sentia no paraíso, sozinho lá o dia inteiro, a semana inteira, mês inteiro, dependendo da época, ficava um mês inteiro sem nem ouvir o som da minha própria voz. Mas acabava ligando pra alguém pra sair depois, não aguentava ficar tanto tempo sozinho, é de enlouquecer
Alguém me ligou, uma voz familiar que não conseguia decifrar quem era, falava que eu tinha que ir lá na casa dela arrumar a pia do banheiro que estava quebrada, que eu era a única pessoa por perto que conseguia fazer isso, não faço a mínima idéia de onde tirou isso, única coisa que sou capaz de trocar é de roupa, sometimes.
Liguei um blues no último volume e comecei a fazer pequenos passos e coreografias, ficava me olhando no espelho e dando risada daquela cena deprimente, usando apenas cueca e vendo tanta pança pulando, era engraçado, ficava feliz. Peguei o violão e consegui tocar algo melhor, mas ainda assim tive vontade de quebrar tudo, sentia muita pena de mim mesmo, falava mal de tudo e não corria atrás nem de uma aula de música decente.
Quis passar o dia em casa, já estava assim há uma semana e tinha levado na boa, tava bem aceitável, devia ter engordado uns 15kg nos últimos dias, não tomava banho há três e a barba já era até charmosa no meu rosto. Sinto falta da faculdade quando estou de férias, muito mais do que sentia da escola. Ouvi dois Albert King e fiquei lendo umas duas horas, até as 17h.
Minha cabeça deu uma pontada e lembrei do que o médico disse sobre isso, que a pancada que eu havia levado há um mês atrás ia levar um tempo pra "curar" totalmente, que sentiria pontadas por uns meses, talvez anos e, com a minha sorte, talvez levasse essa lembrança pro resto da minha vida, não ligava muito pra dor física, sempre fui resistente. Na janela tinha uma pomba bem bonitinha, tentei chegar perto pra dar alguma comida, idêntico a uma velha, e lembrei de quando meu primo e eu atirávamos nela com a espingarda de pressão, fiquei com dó da bichinha, precisava de um animal de estimação pra não ficar muito só, um gato? Não, iam pensar que eu sou uma bicha afetada. Cachorro? Em apto. teria que ser um Poodle, Deus me livre. Decidi que ia procurar algum caminhoneiro que me arranjasse um papagaio totalmente ilegal por uns 50 mango, pegava ele filhote e criava o lindinho na mão, aí podia ficar que nem aqueles idosos que tem uns papagaios de 570 anos nas costas.
Falei com o Tião no dia seguinte, Tião era um caminhoneiro conhecido de minha família, sujeito humilde e que tinha uns contatos por ae pra tentar ganhar uns trocados a mais pra colocar uma comida mais jeitosa na mesa de sua família enorme, falou que ia ver o que podia fazer. Exigi um filhote de papagaio bem saudável, parecia uma bicha. Voltei pra casa e esperei cerca de um mês, não saí com ninguém nesse um mês inteiro, só conversava por algumas horas com o pessoal no computador e saia de casa pra fazer compras e pagar contas. Até que no final do mês, finalmente, chegou o bichinho.
Fiquei maravilhado com aquela pequena coisa semi-verde, nem tinha pelo e nem ao menos aquela penugem característica dos filhotes, chegava da faculdade e ficava lá admirando-o o dia inteiro, parecia uma velha aposentada sem outras tarefas mais importantes, mas me divertia bastante, tentava ensinar algumas palavras pra ele mas ele não falava nada, ainda era pequeno demais, ficava ajudando-o a quebrar aquelas pequenas cápsulas em que ficavam suas jovens peninhas, e depois ele ficava no meu ombro ou grudado no minha meia o resto do dia. Passou-se um tempo e já estava com metade do corpo coberto de penas verdes e vivas, muito bonitas, mas ainda não falava nenhuma palavra, o desgraçadinho, comecei a pensar que fosse uma fêmea. Tentava palavras clichês e simples, como "Lorôô" ou "biscoito", "Hernan", "Pai", coisas do tipo...e nada, nem um assobiozinho eu conseguia dele, mas mesmo assim eu não conseguia parar de encara-lo e me divertir o dia inteiro com ele (ou ela) pendurado nas minhas costas, me acompanhando silenciosamente em tudo o que eu fazia pela casa. Keith era o seu nome.
Desencanei de tentar fazer o bicho falar e me conformei que havia adquirido um papagaio fêmea, não me importava, era lindo e companheiro, estava precisando daquilo nos últimos meses. Passaram-se umas boas semanas silenciosas em meu apto. alugado, até que um dia, quando cheguei da faculdade, me deparei com uma cena revoltadora, Keith estava tentanto quebrar o trinco da janela, já havia quebrado um deles e estava prestes a quebrar o outro. "Nãão!" gritei, peguei-o rápida, porém cuidadosamente, e o filho da mãe me deu uma bicada que por pouco não arranca meu dedo do meio, jorrava que nem a porra de uma mangueira, e empapava as penas traseiras de Keith. "Seu porrinha!! Por que você fez isso? Te trato melhor do que trataria meu filho, fruto to meu saco, e você tenta fugir e me da uma bicada que quase me deixa mutilado?!" ficou me olhando com cara de nada, e coloquei-o no meu quarto, trancado e com segurança reforçada nas janelas. Comprei uma gaiola no dia seguinte, uma das grandes, pra ele não se sentir tão preso, apesar disso ser impossível.
Passou-se uns dias e nossa amizade parecia ter voltado, estávamos nos dando bem e, regularmente, deixava-o no ombro durante umas horas e passeava pelo diminuto apartamento, tropeçando em pares de sapatos, mesas e cadeiras, voltei a tentar fazê-lo falar, mas isso era improvável já.
Mas um dia, ao chegar da faculdade e sentar no sofá depois do almoço, comecei a ouvir um sonzinho familiar demais, e que vinha de dentro da gaiola do pássaro, me aproximei e confirmei que ele estava assobiando o tema de Kill Bill, fiquei surpreso e feliz, não sabia o que estava mais, mas havia gostado daquilo, até que quase caí pra trás:
- Ou, ogro, quando você vai me soltar de verdade, hein? Acha que eu me contento só ficando nesse seu ombro suado aí? Fico é muito puto quando olho pra janela e vejo um mundo lá fora e você e eu presos aqui dentro que nem dois imbecis encarcerados. Pelo amor de Deus, me liberta. - ELE falou.
-Mas que po...como assim?! Eu não te ensinei nenhuma dessas palavras! Ogro?! Ninguém me chama assim há uns 3 anos, pelo menos! Como aprendeu isso? Como aprendeu TUDO isso? Papagaios se limitam a repetir 20 palavras, e só repetem, não fazem idéia do que falam, nada faz sentido! O que você é?! - Cochichei, com medo de pensarem que eu era louco se me ouvissem falando sozinho, ou melhor, com um animal e tratando-o como um empresário.
-Não importa, só quero que você me deixa dar umas voadas por ae, eu volto, juro, mas nada dessa porra de gaiola nojenta, isso é coisa de presidiário, não fiz nada pra ninguém e sou um animal livre.
-Se eu te deixar ir, você não volta nunca mais, e vai acabar morrendo de fome ou apedrejado por um bando de trombadinhas por ae, pensa que eu não sei dessas coisas?!
-Não tenho medo de morrer, ogrinho, e outra, eu gosto de você e desse lugar, mas preciso sair de casa, você não entende? Estou trancafiado há tempo demais sem diversão nenhuma, tenho que sair, tenho que pegar umas mulheres, cara! - eu estava começando a concordar.
-Porra, você tem que me prometer que vai vir me ver todos os dias aqui e, se eu não estiver, você vai me esperar ou deixar um bilhete. Vou deixar a comida no mesmo lugar de sempre, você sabe.
-Você vai ter que me prometer também que vai sair dessa casa e vai curtir sua vida por uns dias. Chega dessa merda de depressão.
-Que depressão?! Eu sou animado pra porra.
-Ahh, não me engana, cara. Eu moro com você há tempo o suficiente pra te conhecer por completo. Não minta pra si mesmo - quando terminou de falar isso, caí na real de uma vez por todas.
-Ok, Keith, eu prometo. Mas me visite e tome cuidado, esse mundo é uma merda, seu bostinha. - falei enquanto destrancava a gaiola
-Não tenho medo dele, e você também não. Mas se eu não tenho, você, no fundo, também não tem! - Falou olhando no fundo dos meus olhos e abrindo suas asas, como se não fizesse isso há anos.
-Até amanha, meu velho. - me despedi
-Grande abraço!
E voou.
Deixei a comida no lugar de sempre, troquei de roupa e saí pela porta da frente. Liguei pra um querido e me encontrei com ele meia hora depois. Na rua, todos me olhavam estranho e com medo, eu ria e ignorava-os. Estava feliz de novo.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
A Hora ACME.
"Alô, Eric? Vem aqui em casa pra gente conversar, saudades de ver e falar com você, vários assuntos em particular pra gente colocar em dia. Vem amanha a tarde, qualquer horário pra mim ta bom, não vou fazer nada amanha. Beijão, lindo, até amanha!" - PIIII - Finalmente a secretária eletrônica me dava alguma notícia boa, alias, finalmente tinha alguma notícia boa depois de um longo intervalo se fodendo.
Naquela tarde eu não tinha ído pra faculdade, naquela semana eu estava deprimido demais pra pensar até em tomar banho, minha barba estava do tamanho da de um lenhador canadense e meu cheiro pior que o de um cachorro de rua podre que nem soube o que era água em vida. Foras, humilhações, brincadeiras de mal gosto e ironias conseguiram acabar comigo naqueles dias, não aguentava mais nenhum ser humano por perto.
Havia conseguido levar dois tiros no saco de duas garotas diferentes: a mais zoada e melhor da faculdade. Já esperava por isso, mas nunca estou preparado para o resultado final. Sei lá o que eu to falando.
Nesse mês tinha abandonado a aula de música, o curso de francês, a academia (que não me mudava em nada, mesmo, estava a mesma banha deprimente) e o psicólogo. Mas pensando bem eu ia no psicólogo só pra ver como teria que me virar no dia-a-dia depois que abrisse um consultório ou coisa do tipo, se é que isso ia acontecer algum dia.
Fiquei estonteamente quando ouvi aquele recado, era uma garota que eu havia ficado há muito tempo e eramos muito amigos até hoje, apesar de ter perdido o contato. Sempre achei que poderia tentar de novo que ela ia aceitar, já que amizade colorida nunca se apaga completamente. Fiquei pensando nela o dia inteiro, quem sabe eu não tinha realmente uma chance de me dar bem amanha? Bom, tomara que sim.
Fui no mercado comprar alguma coisa pra comer, não estava inspirado pra cozinhar nada decente, então fui comer porcaria pelas ruas. Comprei batata frita, frango a passarinho, purê e coca-cola, levei pra casa e ataquei metade de cada item, não sem antes parar pra comer um churrasco grego obrigatório na rua de cima. Tomei banho, banquei o vagabundo na internet por umas 4 horas a fio, escrevi alguma bobagenzinha só pra descontrair e dormi que nem um recém-nascido recém-mamado.
Acordei muito cedo, no horário certo pra ir pra faculdade. Fechei o olho de propósito tentando enganar meu cérebro e enrolei por uns quinze minutos, quando tive que levantar correndo pra ir no banheiro achando que ia me cagar todo, para a minha a surpresa, vomitei 5 vezes seguidas, jatos hollywoodianos, devia ter filmado. Aquele purê estava até verde quando eu comi, mas na hora da fome e da preguiça eu engoli tudo e nem reparei de verdade naquilo, devia saber que ia me foder, pra variar.
Passei o resto da manha deitado no meu sofá cheio de buracos e rasgos de unhadas do meu antigo gato, que tive que deixar na casa dos meus pais, porque ou eu tinha dinheiro pra alimentar o coitado, ou pra me alimentar. Escolhi a pior opção e decidi viver...gordo.
Estava passando uma maratona do Looney Tunes no Cartoon Network da puxa de corda que fiz do vizinho, após colocar cinquentinha no bolso do síndico, o sinal era ótimo e ninguém nunca ia descobrir mesmo. Me matava de rir com aqueles o Coyote levando no rabo toda hora, dava um dó do caramba, ou quando o Pernalonga e o Patolino ficavam decidindo se era temporada de caça ao pato ou ao coelho, mistura de bobeira com nostalgia e inconsciente. Terminei de ver uns episódios rápidos de Johnny Bravo, um clássico, comi uma salada bem leve pra não acontecer mais nada e tomei um suco duvidoso que estava na geladeira há um tempo considerável.
Depois de me trocar, vi que meu frasco de perfume havia acabado, droga, era o que eu mais gostava e não encontrava mais daquele, nem nos genéricos, era uma nota um original e eu andava mais quebrado que o Primo Desossado. Lixo, só queria ficar mais apresentável mas havia gastado as últimas gotas do perfume há 4 noites atrás, quando me encontrei com uns queridos no Kahuna Makuna's, mas deixa pra lá, é só caprichar no desodorante e tentar não suar que nem um gordo, coisa que é impossível. "Vou parar de ser pessimista."- pensei, e fui em direção ao metrô.
Me sentia meio fraco ainda por causa do mal estar que tive de manha, mas ia conseguir aguentar até o final do dia, havia tomado alguns remédio que acreditei que acabariam com aquilo e, psicologicamente, me sentia melhor. Entrei no metrô, fiquei ouvindo um celtic punk qualquer pra dar uma agitada no meu dia, dormi e parei na Barra Funda, era pra ter descido na Sé.
Demorei mais uma boa uma hora pra chegar na estação correta, sem bateria no iPod, me senti verdadeiramente nu sem ouvir música no metrô, costumes que viram vício sem nem percebermos, se bem que ninguém percebe que está viciado até a hora em que fica sem o que a vicia, o que eu to falando?! Desci, estava na Zona Sul, amo aquele lugar. Bom, melhor que a Leste com certeza é!
Mandei uma mensagem pra minha amiga falando que estava chegando na casa dela, mensagem essa que foi rapidamente respondida com as palavras mais ou menos assim "Vou demorar, tive que sair rapidinho e já vou voltar. Beijos <3" - quando li isso imaginei que esperaria 20 minutos, não duas horas embaixo do sol, sem perfume e com o pouco de desodorante que havia passado, considerando que não esperava por tal situação
póros do meu corpo, devido ao suor.
Conversamos por umas belas três horas sem parar, rimos demais, uma ótima conversa, como nos velhos tempos, tinha muita saudades dela já que costumava visita-la toda semana há uns 3 anos, e hoje em dia eu nem lembrava mais o caminho pra chegar em sua casa. "Puta, quanto tempo que eu não via tv com você, a gente só ficava falando bobagem de qualquer coisa que passava ae, fazia graça com tudo que dava pra fazer haha", "Senti tanta falta de você, Ric, a gente se via toda hora, era muito legal", ficamos nesses papinhos de amigos amantes uns 15 minutos, dando risadas nostálgicas, até que fui me aproximando um pouco mais, disfarçadamente. Senti que estava suado demais, fiquei desesperado e falei que ia no banheiro lavar a mão de rua, havia esquecido completamente mesmo.
Tranquei a porta, arranquei a camiseta, abaixei as calças e comecei a dar um banho de gato no meu corpo inteiro, estava nojento, meu Deus, passei em água em TODAS as partes que poderia passar, todas as que poderiam me ser úteis hoje, fiquei uns 2 minutos fazendo isso, peguei o pano de rosto mais próximo e sequei o meu corpo banhoso inteiro com aquilo, fiquei com dó do paninho, era tão fofinho com uns gatinhos laranjas bordados, mas mulheres em primeiro lugar. Passei um litro do desodorante do irmão dela que, por sorte, era o mesmo que o meu e voltei pra sala com ela.
"Então, e aquele seu amigo lá, Carlos eu acho, você vê ele sempre?" "Ah, não sempre, mas de vez em quando vejo sim" - respondi, já arrependido de tudo. "Ah meu, mó lindo ele, traz ele pra cá da próxima vez, aí eu trago a Belita e a gente fica de boa sozinhos aqui" - ahá - ".......Pode ser, legal."
Mais uma hora de conversa, ou melhor, monólogos de sua parte, fiquei quieto e só concordava e quando perguntava eu falava que tava brisando no que passava na tv ou que tava cansado por causa do sol. Falei que ia embora já, tinha que acordar cedo porque tinha faculdade e já estava ficando tarde, fui no banheiro, dei uma bica na privada e outra na pia, dei mais duas na pia, me assegurei de que havia soltado-a da rosca parcialmente, dei mais uma com o bico do tênis usando toda a força das minhas fortes pernas de quem anda de bicicleta todo dia por algumas horas, e fui embora agradecendo a alguma força maior por me fazer tão infantil.
Naquela tarde eu não tinha ído pra faculdade, naquela semana eu estava deprimido demais pra pensar até em tomar banho, minha barba estava do tamanho da de um lenhador canadense e meu cheiro pior que o de um cachorro de rua podre que nem soube o que era água em vida. Foras, humilhações, brincadeiras de mal gosto e ironias conseguiram acabar comigo naqueles dias, não aguentava mais nenhum ser humano por perto.
Havia conseguido levar dois tiros no saco de duas garotas diferentes: a mais zoada e melhor da faculdade. Já esperava por isso, mas nunca estou preparado para o resultado final. Sei lá o que eu to falando.
Nesse mês tinha abandonado a aula de música, o curso de francês, a academia (que não me mudava em nada, mesmo, estava a mesma banha deprimente) e o psicólogo. Mas pensando bem eu ia no psicólogo só pra ver como teria que me virar no dia-a-dia depois que abrisse um consultório ou coisa do tipo, se é que isso ia acontecer algum dia.
Fiquei estonteamente quando ouvi aquele recado, era uma garota que eu havia ficado há muito tempo e eramos muito amigos até hoje, apesar de ter perdido o contato. Sempre achei que poderia tentar de novo que ela ia aceitar, já que amizade colorida nunca se apaga completamente. Fiquei pensando nela o dia inteiro, quem sabe eu não tinha realmente uma chance de me dar bem amanha? Bom, tomara que sim.
Fui no mercado comprar alguma coisa pra comer, não estava inspirado pra cozinhar nada decente, então fui comer porcaria pelas ruas. Comprei batata frita, frango a passarinho, purê e coca-cola, levei pra casa e ataquei metade de cada item, não sem antes parar pra comer um churrasco grego obrigatório na rua de cima. Tomei banho, banquei o vagabundo na internet por umas 4 horas a fio, escrevi alguma bobagenzinha só pra descontrair e dormi que nem um recém-nascido recém-mamado.
Acordei muito cedo, no horário certo pra ir pra faculdade. Fechei o olho de propósito tentando enganar meu cérebro e enrolei por uns quinze minutos, quando tive que levantar correndo pra ir no banheiro achando que ia me cagar todo, para a minha a surpresa, vomitei 5 vezes seguidas, jatos hollywoodianos, devia ter filmado. Aquele purê estava até verde quando eu comi, mas na hora da fome e da preguiça eu engoli tudo e nem reparei de verdade naquilo, devia saber que ia me foder, pra variar.
Passei o resto da manha deitado no meu sofá cheio de buracos e rasgos de unhadas do meu antigo gato, que tive que deixar na casa dos meus pais, porque ou eu tinha dinheiro pra alimentar o coitado, ou pra me alimentar. Escolhi a pior opção e decidi viver...gordo.
Estava passando uma maratona do Looney Tunes no Cartoon Network da puxa de corda que fiz do vizinho, após colocar cinquentinha no bolso do síndico, o sinal era ótimo e ninguém nunca ia descobrir mesmo. Me matava de rir com aqueles o Coyote levando no rabo toda hora, dava um dó do caramba, ou quando o Pernalonga e o Patolino ficavam decidindo se era temporada de caça ao pato ou ao coelho, mistura de bobeira com nostalgia e inconsciente. Terminei de ver uns episódios rápidos de Johnny Bravo, um clássico, comi uma salada bem leve pra não acontecer mais nada e tomei um suco duvidoso que estava na geladeira há um tempo considerável.
Depois de me trocar, vi que meu frasco de perfume havia acabado, droga, era o que eu mais gostava e não encontrava mais daquele, nem nos genéricos, era uma nota um original e eu andava mais quebrado que o Primo Desossado. Lixo, só queria ficar mais apresentável mas havia gastado as últimas gotas do perfume há 4 noites atrás, quando me encontrei com uns queridos no Kahuna Makuna's, mas deixa pra lá, é só caprichar no desodorante e tentar não suar que nem um gordo, coisa que é impossível. "Vou parar de ser pessimista."- pensei, e fui em direção ao metrô.
Me sentia meio fraco ainda por causa do mal estar que tive de manha, mas ia conseguir aguentar até o final do dia, havia tomado alguns remédio que acreditei que acabariam com aquilo e, psicologicamente, me sentia melhor. Entrei no metrô, fiquei ouvindo um celtic punk qualquer pra dar uma agitada no meu dia, dormi e parei na Barra Funda, era pra ter descido na Sé.
Demorei mais uma boa uma hora pra chegar na estação correta, sem bateria no iPod, me senti verdadeiramente nu sem ouvir música no metrô, costumes que viram vício sem nem percebermos, se bem que ninguém percebe que está viciado até a hora em que fica sem o que a vicia, o que eu to falando?! Desci, estava na Zona Sul, amo aquele lugar. Bom, melhor que a Leste com certeza é!
Mandei uma mensagem pra minha amiga falando que estava chegando na casa dela, mensagem essa que foi rapidamente respondida com as palavras mais ou menos assim "Vou demorar, tive que sair rapidinho e já vou voltar. Beijos <3" - quando li isso imaginei que esperaria 20 minutos, não duas horas embaixo do sol, sem perfume e com o pouco de desodorante que havia passado, considerando que não esperava por tal situação
póros do meu corpo, devido ao suor.
Conversamos por umas belas três horas sem parar, rimos demais, uma ótima conversa, como nos velhos tempos, tinha muita saudades dela já que costumava visita-la toda semana há uns 3 anos, e hoje em dia eu nem lembrava mais o caminho pra chegar em sua casa. "Puta, quanto tempo que eu não via tv com você, a gente só ficava falando bobagem de qualquer coisa que passava ae, fazia graça com tudo que dava pra fazer haha", "Senti tanta falta de você, Ric, a gente se via toda hora, era muito legal", ficamos nesses papinhos de amigos amantes uns 15 minutos, dando risadas nostálgicas, até que fui me aproximando um pouco mais, disfarçadamente. Senti que estava suado demais, fiquei desesperado e falei que ia no banheiro lavar a mão de rua, havia esquecido completamente mesmo.
Tranquei a porta, arranquei a camiseta, abaixei as calças e comecei a dar um banho de gato no meu corpo inteiro, estava nojento, meu Deus, passei em água em TODAS as partes que poderia passar, todas as que poderiam me ser úteis hoje, fiquei uns 2 minutos fazendo isso, peguei o pano de rosto mais próximo e sequei o meu corpo banhoso inteiro com aquilo, fiquei com dó do paninho, era tão fofinho com uns gatinhos laranjas bordados, mas mulheres em primeiro lugar. Passei um litro do desodorante do irmão dela que, por sorte, era o mesmo que o meu e voltei pra sala com ela.
"Então, e aquele seu amigo lá, Carlos eu acho, você vê ele sempre?" "Ah, não sempre, mas de vez em quando vejo sim" - respondi, já arrependido de tudo. "Ah meu, mó lindo ele, traz ele pra cá da próxima vez, aí eu trago a Belita e a gente fica de boa sozinhos aqui" - ahá - ".......Pode ser, legal."
Mais uma hora de conversa, ou melhor, monólogos de sua parte, fiquei quieto e só concordava e quando perguntava eu falava que tava brisando no que passava na tv ou que tava cansado por causa do sol. Falei que ia embora já, tinha que acordar cedo porque tinha faculdade e já estava ficando tarde, fui no banheiro, dei uma bica na privada e outra na pia, dei mais duas na pia, me assegurei de que havia soltado-a da rosca parcialmente, dei mais uma com o bico do tênis usando toda a força das minhas fortes pernas de quem anda de bicicleta todo dia por algumas horas, e fui embora agradecendo a alguma força maior por me fazer tão infantil.
Deus e o Diabo Na Terra do Clichê.
Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa, o cara fez um maldito monólogo sobre como eu tinha ferrado com a vida dele em todos os sentidos possíveis. Eu, já chumbado, não estava prestando atenção nenhuma no que o pobre diabo falava e só concordava com um sorriso amarelo e, regularmente, pedia desculpas com a voz bem baixa e rouca, com preguiça de virar a cabeça.
"Seu filho da puta, você pegou ela e nem ao menos pensou em mim um só segundo! Esperava isso de todo mundo menos de você, seu lixo." pelo que eu me lembro ele estava falando algo assim, já havia bebido demais e suas frases não faziam o menor sentido, e eu também não estava fazendo muito esforço pra entende-las. Enchi o saco e saí de onde estava, fui pra rua e me deu vontade de fumar algum cigarro, apesar de detestar cigarros. Subi a rua em direção ao prédio, lá peguei a minha nova bicicleta (na verdade num era muito nova, mas havia reformado-a a pouco) e saí por ae dando umas voltas pelas ruas mais próximas, pedalar sempre me deu forças pra encarar mais tranquilamente as decepções que eu causo nas pessoas e que ocorrem comigo mesmo, alguns bebem, outros fumam, outros cheiram até abrir um buraco no cérebro, eu simplesmente pedalo até minha perna falhar. Lembro-me de ter pedalado por umas boas 2 horas a fio, sem parar nem pra beber água ou pra arrumar a bunda naquela banco incrivelmente desconfortável que eu tinha ficado com preguiça de trocar por um melhor. Depois disso só me lembro de um estalo aterrorizante e de sentir minha cabeça voar 57 metros em dois segundos.
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Cheguei em casa no começo da madrugada e deitei na cama, não sem antes colocar música no último volume, nem queria saber o que era, coloquei pra tocar aleatoriamente e deitei no sofá, olhando pra tv desligada e vendo meu reflexo mórbido e doentio na tela pequena daquele miserável aparelho que havia pegado no lixo mais próximo, bem vintage.
Todo o meu apartamento alugado tinha um ar vintage, eu andava muito sem grana e tive que implorar pros meus pais darem um pouco de dinheiro, mesmo tendo saído de casa sem a aprovação deles, diziam que eu ia morrer de fome e todo esse assunto de pai que a gente não dá nem um saco de merda em troca. Não preciso dizer que eles novamente estavam certos e eu andava passando fome ultimamente, e mesmo assim continuava uma bola de banha nojenta.
Me assustei com o som do Stooges começando do nada e me veio a idéia de ir na casa de alguém pra comer alguma coisa decente, vesti alguma roupa simples, um pouco de perfume pra ficar mais apresentável e 10 mangos no bolso, coloquei uma camisinha no outro, mesmo sabendo que ela ia morrer lá dentro. Olhei pro espelho e fiquei me admirando por uns 2 minutos.Pensei. Tirei a roupa recém perfumada, deitei na cama e fiquei olhando pra lâmpada até minha retina se reduzir a nada.
Acordei tarde pra caramba no outro dia e decidi ficar lendo Bukowski ao som de The Who, coisa bem clichê, mas adoro o clichê. Depois de umas horas fazendo isso, comi e fui pra rua, procurando algum bar com algum conhecido.
Entrei Kahuna Mahuna's e liguei pra alguns conhecidos, esperei os queridos chegarem e tivemos uma noite agradável conversando sobre todo tipo de cocozagem que recém-adultos, ou melhor, ex-adolescentes podem conversar. Todos ficaram bêbados que nem uns desgraçados, mas me contive em uma ou duas cervejas, me arrependi profundamente logo depois que o primeiro vomitou há 2cm da minha perna, acertando minha meia quase que inteiramente. Acontece, nem fiquei puto, mas esfreguei a meia na cara dele, nem deve ter sentido.
Foi depois de alguns minutos que percebi que não havia nenhuma garota naquela mesa inteira, mais de 8 marmanjos e nenhum par de coxas lisas, brancas e carnudas. Não era eu que ia correr atrás, era mais fácil eu me jogar na frente de um Maserati do que fazer isso, não sei até hoje como consegui transar, mas sei lá. Mandei o mais extrovertido ligar pra alguma amiga em comum e traze-la, mas todos já estavam de saída e nem ao menos ofereceram uma maldita carona, não que eu fosse aceitar de qualquer modo, mamados do jeito que estavam era preferível eu sair rolando morro abaixo até chegar em casa. Descartei a hipótese.
Decidi ir no banheiro dar uma urinada, logo que cheguei tropecei na maior poça de vomito já registrada pela humanidade e meti minha mão glamurosamente naquele pedaço do inferno, quando fui levantar, meu pé escorregou no chão molhado e espatifei a outra mão com graciosidade no outro lado do inferno, fazendo respingar duas perfeitas gotículas de inferno, uma no meu olho, outra no meu dente. Cuspi, esfreguei e dei risada por uns 5 minutos, passei mais 5 limpando a sujeira e esqueci completamente o que havia ido fazer naquele lugar.
Já que estava sozinho, não conhecia ninguém e não ia fazer nada amanha, decidi ficar bêbado, minha casa situava-se 3 quarteirões depois do bar, estava sossegado. Pedi um whiskey duplo estilo cowboy, nunca tinha pedido isso em um bar e achava muito estiloso quando o faziam. Era ótimo, ainda fiz uma cara de misterioso enquanto tomava-o bem lentamente e pedia outro e mais outro. Comecei a reparar o número de fêmeas que me rodeavam naquele estabelecimento, não tinha mais nenhum cara, ou garota acompanhada, todas estavam lá, bebendo e pedindo pra alguém pagar bebidas pra elas, "Agora sim é minha vez" pensei, talvez fosse. Escolhi uma loira de olho azul e uma boca rosa que fazia qualquer um ficar aos seus pés, não era a mais linda e nem a mais feia, tinha visto ela beber uns 3 drinks, então já não devia estar num nível alto de sobriedade.
Já haviam se passado uns 5 minutos desde que havia começado a conversa mais idiota do mundo com ela e realmente estava empolgado, mais nervoso que um pastor no corredor da morte, suando mais que um pugilista depois de 15 rounds da sua pior luta e podia sentir minha barriga tremendo e as gigantes gotas de suor descendo por todo o volume dela, devia estar com pizzas enormes no suvaco, mas não podia fazer nada, ia me dar bem, finalmente.
Luiza e eu decidimos ir pra fora, perto do carro dela (inventei que tinha deixado meu carro na garagem, já que morava lá perto) conversamos mais alguns poucos minutos e pulei dentro da boca dela, minha língua já ia roçar na dela, quando a mesma simplesmente recuou totalmente e senti suas mãos me empurrando com força, fazendo minha bunda bater com força na porta de seu carro. "QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?!", "É, eu não, achei que você.....desculpa. Por favor, pelo amor de Deus."- sim usei em vão, desculpa também. "VAI EMBORA, SEU PORCO SUADO, NOJENTO!!!"
Caralho, aquilo foi foda. Nunca consegui levar numa boa a humilhação de levar um fora, nunca consegui levar numa boa qualquer tipo de humilhação, sempre quis agradar os outros pra eles não falaram por trás e ficarem rindo de mim depois. Mas era impossível.
Voltei pro bar com a sensação de que até os ácaros daquele lugar estavam olhando e rindo de mim. "É bom você sair daqui, aquela loura é do Miguel", falou o meu companheiro de longa data, Pedro, o barman. Miguel era nada mais, nada menos do que o filho do delegado, o sujeito mais corrupto daquela droga de rua, alias, região...por que não dizer cidade? O cara tinha estourado a cabeça de um de seus companheiros só porque ele tinha brincado com a hipótese deles dois fazerem um ménage com essa garota, a Luiza, mas disso vocês dois já devem saber, não é? Vocês sabem de tudo sempre, mesmo que não façam nada pra mudar.Mas voltando ao ocorrido...Tudo aquilo estava clichê, clichê demais pro meu gosto, mas não sei como, eu esqueci completamente de tudo e voltei a pensar em outras coisas. Não tinha como ficar pior, pedi o que tinham de mais barato e com bastante álcool, bebi umas 4 doses de uma vez, não sei nem como faria pra pagar aquilo no final do mês, mas nem imaginei isso na hora. Levantei pra mijar e tudo subiu de uma só vez na minha cabeça, devo ter ficado parado uma eternidade olhando pra uma bela garra de Absinto que flutuava na estante, fui pro banheiro e, com a pior pontaria de todas, consegui fazer o que desejava, não sem antes molhar toda a região da virilha e minha mão direita com um nível considerável de urina amarela e viscosa. Olhei pro espelho e meus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, não sei porque, mas queria muito chorar, sentar no banheiro e dormir uns 3 dias.
Voltei pro meu lugar no bar e esperei um tempo até melhorar e ir pro apartamento. Nesse pequeno intervalo, um "semi-mendigo" adentrou ao recinto e sentou bem ao meu lado, nem liguei, até que ele decidiu abrir a boca e se apresentar "É Paulo, cara", disse seu nome sem nem perguntar, "Eric", respondi com cansaço na voz. Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa...
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Acho que meu registro inteiro está ae, não tenho motivo algum pra mentir, ou vocês dois acham que eu tenho? Espero que tenham datilografado tudo no papel. Adoro essa palavra, diga-se de passagem. Eu ainda estou um pouco cansado e talvez haja mais detalhes que esqueci de contar, mas está tudo aí na mão de vocês, as partes mais importantes pelo menos, eu juro. Sei que vocês dois assistiram a tudo e sabem que eu estou certo, não mereço o que falavam que me aguardava aqui, ou mereço?
Até mais.
"Seu filho da puta, você pegou ela e nem ao menos pensou em mim um só segundo! Esperava isso de todo mundo menos de você, seu lixo." pelo que eu me lembro ele estava falando algo assim, já havia bebido demais e suas frases não faziam o menor sentido, e eu também não estava fazendo muito esforço pra entende-las. Enchi o saco e saí de onde estava, fui pra rua e me deu vontade de fumar algum cigarro, apesar de detestar cigarros. Subi a rua em direção ao prédio, lá peguei a minha nova bicicleta (na verdade num era muito nova, mas havia reformado-a a pouco) e saí por ae dando umas voltas pelas ruas mais próximas, pedalar sempre me deu forças pra encarar mais tranquilamente as decepções que eu causo nas pessoas e que ocorrem comigo mesmo, alguns bebem, outros fumam, outros cheiram até abrir um buraco no cérebro, eu simplesmente pedalo até minha perna falhar. Lembro-me de ter pedalado por umas boas 2 horas a fio, sem parar nem pra beber água ou pra arrumar a bunda naquela banco incrivelmente desconfortável que eu tinha ficado com preguiça de trocar por um melhor. Depois disso só me lembro de um estalo aterrorizante e de sentir minha cabeça voar 57 metros em dois segundos.
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Cheguei em casa no começo da madrugada e deitei na cama, não sem antes colocar música no último volume, nem queria saber o que era, coloquei pra tocar aleatoriamente e deitei no sofá, olhando pra tv desligada e vendo meu reflexo mórbido e doentio na tela pequena daquele miserável aparelho que havia pegado no lixo mais próximo, bem vintage.
Todo o meu apartamento alugado tinha um ar vintage, eu andava muito sem grana e tive que implorar pros meus pais darem um pouco de dinheiro, mesmo tendo saído de casa sem a aprovação deles, diziam que eu ia morrer de fome e todo esse assunto de pai que a gente não dá nem um saco de merda em troca. Não preciso dizer que eles novamente estavam certos e eu andava passando fome ultimamente, e mesmo assim continuava uma bola de banha nojenta.
Me assustei com o som do Stooges começando do nada e me veio a idéia de ir na casa de alguém pra comer alguma coisa decente, vesti alguma roupa simples, um pouco de perfume pra ficar mais apresentável e 10 mangos no bolso, coloquei uma camisinha no outro, mesmo sabendo que ela ia morrer lá dentro. Olhei pro espelho e fiquei me admirando por uns 2 minutos.Pensei. Tirei a roupa recém perfumada, deitei na cama e fiquei olhando pra lâmpada até minha retina se reduzir a nada.
Acordei tarde pra caramba no outro dia e decidi ficar lendo Bukowski ao som de The Who, coisa bem clichê, mas adoro o clichê. Depois de umas horas fazendo isso, comi e fui pra rua, procurando algum bar com algum conhecido.
Entrei Kahuna Mahuna's e liguei pra alguns conhecidos, esperei os queridos chegarem e tivemos uma noite agradável conversando sobre todo tipo de cocozagem que recém-adultos, ou melhor, ex-adolescentes podem conversar. Todos ficaram bêbados que nem uns desgraçados, mas me contive em uma ou duas cervejas, me arrependi profundamente logo depois que o primeiro vomitou há 2cm da minha perna, acertando minha meia quase que inteiramente. Acontece, nem fiquei puto, mas esfreguei a meia na cara dele, nem deve ter sentido.
Foi depois de alguns minutos que percebi que não havia nenhuma garota naquela mesa inteira, mais de 8 marmanjos e nenhum par de coxas lisas, brancas e carnudas. Não era eu que ia correr atrás, era mais fácil eu me jogar na frente de um Maserati do que fazer isso, não sei até hoje como consegui transar, mas sei lá. Mandei o mais extrovertido ligar pra alguma amiga em comum e traze-la, mas todos já estavam de saída e nem ao menos ofereceram uma maldita carona, não que eu fosse aceitar de qualquer modo, mamados do jeito que estavam era preferível eu sair rolando morro abaixo até chegar em casa. Descartei a hipótese.
Decidi ir no banheiro dar uma urinada, logo que cheguei tropecei na maior poça de vomito já registrada pela humanidade e meti minha mão glamurosamente naquele pedaço do inferno, quando fui levantar, meu pé escorregou no chão molhado e espatifei a outra mão com graciosidade no outro lado do inferno, fazendo respingar duas perfeitas gotículas de inferno, uma no meu olho, outra no meu dente. Cuspi, esfreguei e dei risada por uns 5 minutos, passei mais 5 limpando a sujeira e esqueci completamente o que havia ido fazer naquele lugar.
Já que estava sozinho, não conhecia ninguém e não ia fazer nada amanha, decidi ficar bêbado, minha casa situava-se 3 quarteirões depois do bar, estava sossegado. Pedi um whiskey duplo estilo cowboy, nunca tinha pedido isso em um bar e achava muito estiloso quando o faziam. Era ótimo, ainda fiz uma cara de misterioso enquanto tomava-o bem lentamente e pedia outro e mais outro. Comecei a reparar o número de fêmeas que me rodeavam naquele estabelecimento, não tinha mais nenhum cara, ou garota acompanhada, todas estavam lá, bebendo e pedindo pra alguém pagar bebidas pra elas, "Agora sim é minha vez" pensei, talvez fosse. Escolhi uma loira de olho azul e uma boca rosa que fazia qualquer um ficar aos seus pés, não era a mais linda e nem a mais feia, tinha visto ela beber uns 3 drinks, então já não devia estar num nível alto de sobriedade.
Já haviam se passado uns 5 minutos desde que havia começado a conversa mais idiota do mundo com ela e realmente estava empolgado, mais nervoso que um pastor no corredor da morte, suando mais que um pugilista depois de 15 rounds da sua pior luta e podia sentir minha barriga tremendo e as gigantes gotas de suor descendo por todo o volume dela, devia estar com pizzas enormes no suvaco, mas não podia fazer nada, ia me dar bem, finalmente.
Luiza e eu decidimos ir pra fora, perto do carro dela (inventei que tinha deixado meu carro na garagem, já que morava lá perto) conversamos mais alguns poucos minutos e pulei dentro da boca dela, minha língua já ia roçar na dela, quando a mesma simplesmente recuou totalmente e senti suas mãos me empurrando com força, fazendo minha bunda bater com força na porta de seu carro. "QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?!", "É, eu não, achei que você.....desculpa. Por favor, pelo amor de Deus."- sim usei em vão, desculpa também. "VAI EMBORA, SEU PORCO SUADO, NOJENTO!!!"
Caralho, aquilo foi foda. Nunca consegui levar numa boa a humilhação de levar um fora, nunca consegui levar numa boa qualquer tipo de humilhação, sempre quis agradar os outros pra eles não falaram por trás e ficarem rindo de mim depois. Mas era impossível.
Voltei pro bar com a sensação de que até os ácaros daquele lugar estavam olhando e rindo de mim. "É bom você sair daqui, aquela loura é do Miguel", falou o meu companheiro de longa data, Pedro, o barman. Miguel era nada mais, nada menos do que o filho do delegado, o sujeito mais corrupto daquela droga de rua, alias, região...por que não dizer cidade? O cara tinha estourado a cabeça de um de seus companheiros só porque ele tinha brincado com a hipótese deles dois fazerem um ménage com essa garota, a Luiza, mas disso vocês dois já devem saber, não é? Vocês sabem de tudo sempre, mesmo que não façam nada pra mudar.Mas voltando ao ocorrido...Tudo aquilo estava clichê, clichê demais pro meu gosto, mas não sei como, eu esqueci completamente de tudo e voltei a pensar em outras coisas. Não tinha como ficar pior, pedi o que tinham de mais barato e com bastante álcool, bebi umas 4 doses de uma vez, não sei nem como faria pra pagar aquilo no final do mês, mas nem imaginei isso na hora. Levantei pra mijar e tudo subiu de uma só vez na minha cabeça, devo ter ficado parado uma eternidade olhando pra uma bela garra de Absinto que flutuava na estante, fui pro banheiro e, com a pior pontaria de todas, consegui fazer o que desejava, não sem antes molhar toda a região da virilha e minha mão direita com um nível considerável de urina amarela e viscosa. Olhei pro espelho e meus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, não sei porque, mas queria muito chorar, sentar no banheiro e dormir uns 3 dias.
Voltei pro meu lugar no bar e esperei um tempo até melhorar e ir pro apartamento. Nesse pequeno intervalo, um "semi-mendigo" adentrou ao recinto e sentou bem ao meu lado, nem liguei, até que ele decidiu abrir a boca e se apresentar "É Paulo, cara", disse seu nome sem nem perguntar, "Eric", respondi com cansaço na voz. Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa...
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Acho que meu registro inteiro está ae, não tenho motivo algum pra mentir, ou vocês dois acham que eu tenho? Espero que tenham datilografado tudo no papel. Adoro essa palavra, diga-se de passagem. Eu ainda estou um pouco cansado e talvez haja mais detalhes que esqueci de contar, mas está tudo aí na mão de vocês, as partes mais importantes pelo menos, eu juro. Sei que vocês dois assistiram a tudo e sabem que eu estou certo, não mereço o que falavam que me aguardava aqui, ou mereço?
Até mais.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Dogs.
I was passaing by the bridge today and saw two dogs sharing, actually fighting for, the rest of a dead bum that probably died from malnutrition and madness, I guess.
Her black skin it was kind of purple, I imagined that he was passed out since a long time, and the smell it was just desgusting. I had the idea of taking some pictures of the dead body, just for fun, and then post them on the internet, in some web community about dead persons, or dead bums, or even about dead bums feeding hungry dogs with their putrid and useless flesh. The street lights gave it an really interesting shine to the scene, and I was it really amazingly happy with the whole thing.
When the shows ended, I looked around, trying to find somebody that watched all the chapter of these two dogs life's ...there was nobody around, the darkness was surrounding me and my shadow, my brain was saying to me, to run away to some place else, he said to me"Go to somewhere where the lights bring ya some happyness, some good moments, don't watch all the same movie again, please.", and then my heart just said "Take your time, watch it slowly and see it, see it what happens , watch every detail of this scene and try to absorve everything that the nature are offering for you. Don't take any risk. You'll probably get hurt at the end of this, but, someday, you'll look back and discover that it worth it all the pain, all this anguish was not in vain.
The two cadaverous dogs finished their dinner, finished with their momentary problems, it's momentary 'cause they'll definately gonna come back to this two little bastards, the hungry; loneliness; cold; dangerous situations; motherfuckers and all the fuckin' shits that's our world and this unbelievable good God, that we have 'til the end of the times.
See ya. Sorry for everything.
Her black skin it was kind of purple, I imagined that he was passed out since a long time, and the smell it was just desgusting. I had the idea of taking some pictures of the dead body, just for fun, and then post them on the internet, in some web community about dead persons, or dead bums, or even about dead bums feeding hungry dogs with their putrid and useless flesh. The street lights gave it an really interesting shine to the scene, and I was it really amazingly happy with the whole thing.
When the shows ended, I looked around, trying to find somebody that watched all the chapter of these two dogs life's ...there was nobody around, the darkness was surrounding me and my shadow, my brain was saying to me, to run away to some place else, he said to me"Go to somewhere where the lights bring ya some happyness, some good moments, don't watch all the same movie again, please.", and then my heart just said "Take your time, watch it slowly and see it, see it what happens , watch every detail of this scene and try to absorve everything that the nature are offering for you. Don't take any risk. You'll probably get hurt at the end of this, but, someday, you'll look back and discover that it worth it all the pain, all this anguish was not in vain.
The two cadaverous dogs finished their dinner, finished with their momentary problems, it's momentary 'cause they'll definately gonna come back to this two little bastards, the hungry; loneliness; cold; dangerous situations; motherfuckers and all the fuckin' shits that's our world and this unbelievable good God, that we have 'til the end of the times.
See ya. Sorry for everything.
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