Estavam sentados
jogando na televisão não muito popular dela
e grande; bêbados, um
pouco
haviam voltado da festa
de tarde
e passaram na casa da
garota nesse meio tempo.
Ela queria mudar de
roupa. "Vamos jogar enquanto não chega a hora de ir", "Ok"
A garota morena de
olhos azuis vidrou na televisão e apertava os botões como numa
sequência padronizada que decorou com o tempo
ele a assistiu jogar
porque não sabia jogar
então preferia ver os
outros jogando e rir de suas frustrações quando eles se davam mal
no jogo.
Começou a chover forte
as grandes gotas de
água batiam como pedras
no telhado transparente
do jardim de inverno
da casa da garota de
cabelos negros
trovões
raios
chuva carregada de
cansaço do ano inteiro
estava esfriando
ela estava de regata
branca
camuflando-se em sua
pele branca
ele viu os reflexos dos
tiros e explosões do videogame
nos belos olhos da
morena
e sorriu para si mesmo.
Ela continuou vidrada
com a boca meio aberta
dando-lhe um toque bobo
e infantil
engraçadinho.
mais chuva
mais raios
não havia bebida.
KABOOM
Até mais, luz.
sua companhia foi
agradável até agora.
escuro
o que iluminava agora
era o cinza céu despencando milhares de litros de água
e o estrondoso jardim
de inverno era a trilha sonora.
um olhou para a cara do
outro
cara de idiotas
riram
os raios iluminavam
seus olhos de gato
os dele não eram tão
legais assim
mas enxergavam, o que
era basicamente o necessário.
sentaram-se no sofá
escuro e conversaram
sobre morte e vida após
ela
sobre música,
mulheres, homens, cosmologia
jogos, fotos, bebedeiras,
doideiras, ruivas, chuvas...
chuva continuava e
continuava
água escorria dos
cantos que nem os cabelos lisos de uma cigana escorrem por seus
ombros.
o tempo passou, eles
não o viram chegar
estavam praticamente
sóbrios
"Mas na festa tem
mais", disse e sorriu debochadamente seu sorriso branco como a
regata e como a pele .
deitaram cada um em um
canto do sofá
seus pés estavam de
frente um para o do outro
ficaram se encarando
minutos se passaram
como cavalos em campos abertos
"Vamos na chuva
mesmo" sugeriu ele
ela hesitou
"Foda-se então"
Foram até a porta e
abriram-na
o dilúvio diante de
seus olhos
olharam um para o outro
e riram novamente
ficaram lá observando
aquela água sem fim
os relâmpagos
refletiam em seus olhos
ele encarou-a com um
sorriso sem graça
ela não esperava
quando se aproximou
uma mão foi em sua
nuca, por trás dos cabelos negros
a outra em sua cintura
encostou-a contra o
batente da porta
gentilmente
beijaram-se
um tanto quanto
demorado
com as pequenas
gotículas que rebatiam no chão umedecendo seus rostos e seus lábios
rosados e grandes
ela sentindo o calor do
corpo dele
com o frio molhado do
batente da porta
afastaram-se
não falaram nada e ele
sorriu para ela
ela sorriu envergonhada
e ainda surpresa
ele não sabia aonde
enfiar a cara
Mas valeu a pena.
"Vai", ele
disse
pegou em sua mão e
foram batendo de frente com a chuva quase fria
eles riam
a chuva berrava seus
trovões para eles
a corrida e o riso
esquentaram seus corpos
tentavam ir pelos
lugares cobertos
mas eram poucos para
muita chuva
muito chuva para
qualquer coisa
mas estavam chegando ao
metrô.
andaram, andaram,
correram, coberto, corre, corre, carro joga água neles, xingamentos,
risadas, beijo, corre, coberto, corre
Metrô.
Muitas pessoas lá,
filas
o metrô estava sem
luz, é claro
ficaram sem expressão
sem rir
o cabelo dele escorria
água como a cera de uma vela ardente
os cabelos morenos da
garota pingavam como se estivesse acabado de sair da banheira
e já começavam a
enrolar lentamente
ela reclamou e ele
disse apenas
"Deixa isso pra
lá"
A noite começou a cair
ao lado da tempestade
as luzes de fim de ano
se acenderam uma a uma,
mesmo sem luz foram se acendendo uma a uma
por alguma brincadeira da luz
mesmo sem luz foram se acendendo uma a uma
por alguma brincadeira da luz
os dois se abraçaram com o
frio
e ficaram sentados na
entrada da estação
vendo as luzes
laranjas, roxas, pisca, verdes, azuis, pisca, amarelas, vermelhas,
pisca pisca pisca
essas também refletiam
nos belos olhos claros da garota
e até um pouco nos
dele, não tão legais assim
a regata ensopada dela
deixava seu sutiã completamente à mostra
e ela se escondeu atrás
dele, com vergonha dos transeuntes ensopados.
As pessoas saiam da
estação putas
a luz tinha fugido de
todos os lugares!
Eles estavam
indiferentes
e agora esperavam se
secar e a chuva cessar e a luz voltar e enquanto isso
não acontecia
eles se contentavam com
os relâmpagos no céu
e as luzes de natal
e ele tinha o prazer
que ela não possuía
de observar as luzes e
os relâmpagos refletidos em seus belos e distraídos olhos claros.
Sorriu.
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