Voltava para a casa
debaixo do Sol e com uma camiseta preta e bermuda preta.
Algumas músicas do
Jethro Tull passavam pela minha cabeça
e suor escorria de
todos cantos do meu corpo
e meu nariz escorria e
meus olhos estavam
cansados
e não tinha tomado
banho ainda, detalhe
mas continuei andando e
não dando a mínima
como sempre]
muita coisa passando
pela cabeça
mais do que o normal
muito mais rápido
e ansioso
que o normal~]
Leon me acompanhava
durante tudo isso
e sua cadela
Rubi.
-mas a parte deles
nisso não é importante
não a que estou
escrevendo agora
nesse momento
pelo menos-
e me despedi dos dois
e segui reto para casa,
com o Sol e as sombras
das árvores me acompanhando
como sempre
e os buracos da rua
estragando mais as bolhas
dos meus pés
e eu não dando a
mínima, como sempre;
e na rua de cima da
praça
no meio do lixo e de
uns panos rotos
no meio de caixas de
pizza sustentando gerações e mais gerações
de formigas
menores até do que
NÓS,
tinha um violão véio
bem quizumbado
empoeirado
largado &
abandonado;
subi a praça e peguei
o violão do meio do lixo
estava mais fodido do
que imaginei
sem metade das cordas
as que restavam estavam
tão fodidas quanto o resto
as tarraxas estavam
soltas,
era adorável;
tirei algumas notas e
na minha cabeça
vi o futuro: o tonante
restaurado
cordas de aço e peças
novas
mantendo sua
originalidade e as farpas
que os anos deixam, o
violão que me levaria à música!:
a dona da casa e do
violão véio apareceu
sorri envergonhado
por estar fuçando no
lixo da mulher
mas continuava não
dando a mínima]
-pode pegar à vontade,
se quiser!
-ah, sim. Obrigado.
Ela volta para casa
um senhor japonês sai
do seu carro e entra na sua casa
devagar
fecha o portão
devagar
vai para dentro
devagar...
eu tiro mais algumas
notas do violão
e ainda pensando que
daqui uns anos ele estaria comigo
na capa do meu disco
afinado em sol, ou ré,
ou lá
abertos
com um slide fazendo-o
gritar
um grito rouco e
ancião]
olho para o violão
novamente
toco mais algumas notas
desafinadas
das poucas cordas que
restaram
encosto-o no lixo
novamente
e continuo seguindo
para casa
imaginando que podia
ter acabado de deixar uma grande oportunidade se esvair
como poeira
de minhas mãos
'aquele violão poderia
ter mudado a minha vida'
pensei por um momento
mas continuei andando
e entrei em casa não
dando a mínima
como sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário