sábado, 11 de agosto de 2012

Violão véio ou Quando joguei a oportunidade da minha vida pelo ralo.


Voltava para a casa debaixo do Sol e com uma camiseta preta e bermuda preta.
Algumas músicas do Jethro Tull passavam pela minha cabeça
e suor escorria de todos cantos do meu corpo
e meu nariz escorria e meus olhos estavam
cansados
e não tinha tomado banho ainda, detalhe
mas continuei andando e não dando a mínima
como sempre]
muita coisa passando pela cabeça
mais do que o normal
muito mais rápido
e ansioso
que o normal~]
Leon me acompanhava durante tudo isso
e sua cadela
Rubi.
-mas a parte deles nisso não é importante
não a que estou escrevendo agora
nesse momento
pelo menos-
e me despedi dos dois
e segui reto para casa,
com o Sol e as sombras das árvores me acompanhando
como sempre
e os buracos da rua estragando mais as bolhas
dos meus pés
e eu não dando a mínima, como sempre;

e na rua de cima da praça
no meio do lixo e de uns panos rotos
no meio de caixas de pizza sustentando gerações e mais gerações
de formigas
menores até do que NÓS,
tinha um violão véio
bem quizumbado
empoeirado
largado & abandonado;
subi a praça e peguei o violão do meio do lixo
estava mais fodido do que imaginei
sem metade das cordas
as que restavam estavam tão fodidas quanto o resto
as tarraxas estavam soltas,
era adorável;
tirei algumas notas e
na minha cabeça
vi o futuro: o tonante restaurado
cordas de aço e peças novas
mantendo sua originalidade e as farpas
que os anos deixam, o violão que me levaria à música!:
a dona da casa e do violão véio apareceu
sorri envergonhado
por estar fuçando no lixo da mulher
mas continuava não dando a mínima]
-pode pegar à vontade, se quiser!
-ah, sim. Obrigado.
Ela volta para casa
um senhor japonês sai do seu carro e entra na sua casa
devagar
fecha o portão
devagar
vai para dentro
devagar...

eu tiro mais algumas notas do violão
e ainda pensando que daqui uns anos ele estaria comigo
na capa do meu disco
afinado em sol, ou ré, ou lá
abertos
com um slide fazendo-o gritar
um grito rouco e ancião]

olho para o violão novamente
toco mais algumas notas desafinadas
das poucas cordas que restaram
encosto-o no lixo novamente
e continuo seguindo para casa

imaginando que podia ter acabado de deixar uma grande oportunidade se esvair
como poeira
de minhas mãos
'aquele violão poderia ter mudado a minha vida'
pensei por um momento
mas continuei andando
e entrei em casa não dando a mínima
como sempre.


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