Parado lá como se
falasse com vibrações e dimensões
pombas voando sobre
nossas cabeças
umas trinta delas
o frio e o vento rasgam
nossas peles
enquanto duas belas
garotas passam por nós e não nos percebem,
ele com sua arte
parado como estátua,
estudando o movimento
de tudo
eu com um caderno e
minha cara de matusquela
A praça está cinza,
as árvores estão cinzas
os portões e os carros
tudo cinza, a cidade é
cinza
como
uma gigantesca sinfonia monótona
um
monstruoso fluxo de água com fuligem
[mas disso já
sabiamos]
Há dois garis limpando
a sargeta
com habilidade, talvez
invejando as pessoas
trabalhando em
cubículos
aconchegantes
imaginando como seriam
suas vidas sem a dose diária de
cinzas
outras pessoas
arrumadas e cheirosas
hidratadas e aceitas
voam por nossos olhos
como o
batalhão de pombos
fugindo da miséria
e da verdadeira poesia
passando reto e
despercebidos por nós
garis, pombos, poetas,
artesãos
sans-culottes
e pelo deja-vu de
pombos podres
talvez sisntam inveja
dos garis e dos artesãos
e dos poetas e dos
pombos robóticos
por estarem nas ruas
do lado de fora do muro
ao invés de cubículos
com as fotos da família e lembretes lembrando-lhes responsabilidades
questionáveis.
O artista volta com
café em suas mãos
e uma linda loira passa
por nós, sem olhar em nossas caras,
o cinza colide em
nossas faces
como o vento frio e
cortante.
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