domingo, 5 de agosto de 2012

ruas decadentes de uma década atrás.


Estávamos
meu pai e eu
passando pelas vielas da zona norte
indo para o hospital
ou o asilo
ou o manicômio, ou a escola
ou para o inferno, ou para a vida;
não me lembro e não faz diferença,
mas estava escuro
um
breu ~
                           as sombras batendo como ondas pelas paredes de concreto, portas e janelas da
periferia
                           pequenos pontos de luz e chama me faz imaginar cigarros
ou                       algo do tipo. Beberrões ordinários e malditos
jogados na sarjeta e nas caçambas
                           pombas e gatos dilacerados nos pisos da zona norte
e da zona da cidade ~
um carro velho e fodido passa como se fosse uma
                                                                                   bala
na escuridão
rangendo peças e anos de servidão ao ser humano;
achamos que iria explodir de tão fodido que estava o pobre do carro;
"olha que filho duma puta! Louco!" - pai

viramos a esquina escura
coberta por sombras
e sujeira
e mijo de mamíferos das mais diversas espécies urbanas,
e lá estava
         o carro &
os carros, dando a luz que mais iluminava aquele ambiente desde sua existência
mais que o próprio sol ou a noite
com suas luzes de ameaça paz e sangue
os carros iluminavam
quatro ou cinco ou seis
homens
abordando
quatro ou cinco ou seis
homens
os homens do carro
fodido ~
estavam deitados, revistados e humilhados.

meu pai dentro do
carro
comentou,
eu comentei
e rimos &
foi legal.

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