quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A vida além do palhaço.


Não sabia o que era beijar alguém há tanto que já simplesmente não fazia diferença alguma. Via as pessoas andando saltitantes pelas ruas, com seus relacionamentos saudáveis e sexo descompromissado para todos, menos para um, e sentia urticária.
"Na outra vida fui o bobo do vilarejo" – dizia
Alguns riam, alguns não, alguns sentiam pena enquanto ganhavam um boquete embaixo da mesa e exibiam seus pescoços manchados de roxo
Eu era chutado no cu pela vira todos os malditos dias desde a hora que comecei a existir, e já aceitava que seria assim para sempre. O mascote, bobo da corte, o louquinho, palhaço. Afinal de contas, todos devem ter alguma missão em suas vidas, algum objetivo notório e nobre, ou algo baixo e insignificante.
Não sei em o que eu me encaixava, nunca fui de encaixar em padrões, sejam eles físicos, filosóficos, comportamentais ou qualquer outro. Apenas observava e tentava estudar os loucos e os fracassados, me dando conta de que no mínimo eu era um deles. No máximo eu era o porta voz dos imbecis e dos chutados, seu Messias, uma admirável porção de merda gordurosa e mal cheirosa.
A felicidade plena é tão utópica quanto a definição de sociedade, e não somos feliz o tempo todo, é claro.
Não somos felizes em nem uma fração de tempo de nossas vidas. As pessoas nascem e morrem e no meio de tudo isso tem suas almas devoradas e dilaceradas pelo mundo todo, mas ainda dizem estar vivendo a completa felicidade eterna.
A verdade, para mim, é que a maior parte da porcentagem de nossas vidas é triste e banal, e os últimos dez ou quinze por cento de alegria estão espalhados ao longo de nosso tempo, em pequenas e quase imperceptíveis momentos e situações, apenas o suficiente para não cairmos na melancolia destruidora.
É a forma que o universo achou para que a humanidade inteira não se mate e não fique muito convencida de sia o mesmo tempo.
Mas é claro que há falhas nessas duas adaptações
E claro que todos os humanos pensam em se apagar ao menos uma vez na vida.
E a vida às vezes parece tão vazia quanto a contagem de mulheres que tive
E mais insignificante do que [eu]
o número dessas garotas que sentiram algo por mim
além de risos e um
leve
arrependimento ou nojo.
Quanto ao resto da vida, acho que talvez valha a pena viver e tentar sentir algo além de emoções humanas e urbanas, além de catarradas e loirinhas ou ruivas aconchegantes e quentinhas
talvez valha a pena tentar
e encontraremos a gozada fenomenal
que é a nossa verdadeira
iluminação
e você não precisa ser
nada
além
do que você já é;
açougueiro, artesão, executivo
ladrão, genocida ou um
diminuto
palhaço.

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