sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O grande perdedor ou As verdadeiras antenas transmissoras da cidade grande não quebram nunca.



Foi tirar as baratas do quintal
e todas elas subiram por suas pernas e entraram dentro de sua bermuda
não usava cueca no momento.

Dançava e sapateava pelo quintal infestado
tentando se livrar dos animais nojentos que andavam por seu corpo
com suas anteninhas sensoriais maiores que seus corpos.
Bateu o braço no pescoço de sua velha avó, que caiu ao chão gemendo de dor
"Vó!" ele grita enquanto os insetos nojentos continuam subindo nele e agora em sua avó que pena para levantar-se do chão frio.

Pula        Pula

      Pula
                        Pula
Baratas caem e ele pisa e as esmaga
descalço.
O caldo branco leitoso de seus corpos sai pelos vãos de seus dedos agora asquerosos.

"PORRA!"

Levanta sua avó do chão rapidamente e sai correndo para dentro da casa.
Desodorante, isqueiro, corre até o quintal aonde as baratas correm

pra lá          aqui
                                                pra cá
    acolá

Acende o isqueiro e mira o desodorante aonde há uma pequena conferência das blattodeas rindo da cara dos dois
FUUUUUUUUUUUUUUUU uma cusparada de fogo nervoso e barulhento
Saem correndo com seus corpos horríveis em chamas, desesperadas sentindo o fogo devora-lhes tudo
Vai em um outro grupo na parede, três delas
FUUUUUUUUUU, caem no chão
continua correndo pelo quintal. FUUUU,  FUUU
FUUU
"Tem uma dúzia delas ali!"
FUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU....
UUUUUU....
Acertou o lixo que estava pendurado na parede
sacolas plásticas e garrafas vazias, junto a papéis e caixas de pizza com nada além de azeitonas e formigas atrás de queijo dentro
Tudo começa a ser engolido rapidamente pelo fogo
e a fumaça e as chamas saem das mais diversas cores
E seria bonito se não fosse trágico
Porque o lixo está pegando fogo
ao lado da cortina da cozinha,
e as baratas continuavam saindo do buraco no chão do quintal
saiam como batalhões e iam atrás dele e da avó que agora dava pulos em cima de uma cadeira, desesperada.
"FOGO! FOGO, MEU NETO! PELO AMOR DE DEUS!"

Ele corre até o tanque de lavar roupa e começa a encher um balde com água
dentro dele, num canto, haviam três baratas
numa orgia blattaria.
E faziam um som curioso e pareciam não ligar para a água que iria afoga-las a qualquer momento
estavam no ápice do seu êxtase.

Ele olha aquilo
Elas olham pra ele
E ele jura ter ouvido
"Que porra você tá olhando, cuzão?"

Vomita tudo dentro do balde
e o vômito derruba as baratas transonas dentro do redemoinho de água e gorfo diluído
E o fogo consumia o lixo e agora chegava na cortina
e sua avó na cadeira, em choque a ponto de não soltar mais um ruído.

Ele volta zonzo com o balde na mão e as três baratas alegres afogadas dentro
Joga a água no lixo flamejante e as baratas e o vômito diluído batem na parede e caem dentro das chamas da lixeira.
"MAIS!' ele grita para ele mesmo
Vai e enche o balde
Encher aquilo parecia levar uma eternidade.....................................................................................cheio
Correu...jogou a água no fogo, ainda nada
CORREU, ENCHEU, SUANDO FRIO, BARATAS SAINDO DO CHÃO E CORRENDO E DANÇANDO E TRANSANDO E  ELE E A AVÓ NO MEIO DAQUELA SURUBA COSMOPOLITA
.........................................................................cheio

Correu, correu....MERDA, tropeçou e o balde e ele voaram e seu corpo derrubou a cadeira da avó
que caiu
novamente
no chão.
Em cima
das baratas
livres
pelo quintal.

"Desculpa, vó! Pelo amor de deus, vó! A senhora tá bem, vó?!"
A velha começa a chorar
O fogo começa a estalar na cozinha
a lixeira já se foi, sua energia foi para a cortina outrora branca do cômodo
Ele levanta a velhota, baratas sobem por sua perna, tronco, cabeça, pescoço
ele já nem as sente
A velha surta quando sente as perninhas peludas dos bichos ao redor do corpo dela
sai correndo
entra na cozinha agora alaranjada e esfumaçada pelo fogo que consumia tudo rapidamente

Imaginou que seria o fim, as baratas comeriam a ele e à sua avózinha
ou isso ou o fogo incontrolável
E foi sua burrice a culpada de tudo.
E parado no meio do quintal, com os bichos escrotos ao redor dele e nele
vira o pescoço para o lado.
Encontra a mangueira furada que achou que não serviria para mais nada depois que a acertou com uma espingarda de pressão
repetidas vezes, bêbado.

Corre, pisa no maior número de nojentas possível.
O chão molhado e a gosminha das voadoras quase o derruba novamente, mas segura firme
Pega a mangueira rapidamente e a liga na torneira
abre um fluxo grande de água, ouve o barulho por dentro da mangueira laranja.
Vuuuuuuuuuuush.....

Corre até a porta da cozinha com a água saindo pelos diversos furos da mangueira
Mira e joga toda a água que consegue em todos os focos de incêndio dentro da cozinha
já que o lixo já tinha ido pro saco.
Sua avó grita no quarto ao lado, as baratas ainda deviam estar no seu cabelo ou pescoço
Ele volta com sua razão aos poucos
enquanto o fogo é controlado
gradativamente
até que
o fogo
some.

E ele vira seus olhos para o quintal, sem tempo para alívio
E começa a inundar o chão e as paredes com a água fria que saia da mangueira de borracha laranja.
E elas começam a ser levadas pela água, até o final do corredor, todas elas
as mortas, as esmagadas, as queimadas, as voadoras, as vivas, as sexualmente ativas, todas elas
até o final do corredor
e ele mira no buraco no chão de onde elas brotaram
larga o jato de água
e volta-se ao isqueiro e desodorante de novo
as baratas ainda saindo do buraco
ele queima todas por cerca de cinquenta segundos
a chama saia e sentia seu rosto quente, ao lado do fogo
ouvia barulho de sofrimento blattodea
elas estavam sofrendo, ele estava feliz
e as outras continuavam sendo levadas até o final do corredor, pela água da mangueira furada.

Quando termina com o buraco e sente que não saíra mais nada dali. Vê que tudo acabou.
Até agora.
Vai até o final do quintal  e começo do corredor, aonde, no final, estão as baratas supostamente afogadas
mas
Ele vê que elas não estão afogadas ou mortas, além das que já estavam afogadas ou mortas antes de terem sido levadas pela água
as que desceram com vida estavam se aglomerando no final do corredor
todas elas
e pareciam ser bem mais agora
Faziam um som
e ele sabia que elas estavam rindo
que a mangueira foi apenas diversão para elas
e viu algumas que fritou com o desodorante
de pé
e algumas que esmagou com o pé
esmagadas mas vivas ainda
todas rindo dele.
E do buraco elas voltaram a sair, e iam pelo caminho da água
escorrendo como que num tobogã até o final do corredor
e se aglomerando novamente com as outras.
Pelas paredes, pelo chão, pelo ralo, por tudo
e então dezenas de pares de antenas avançam
e ele não consegue acreditar no que seus olhos estão revelando
e sai correndo até a cozinha chamuscada
Fecha a porta que divide a cozinha do antro cosmopolita.

SILÊNCIO
Antenas lá fora
Sua avó chorando aqui dentro.
Silêncio desconfortável
e ele sabe o que pode melhorar aquilo

Abre a geladeira e pega uma cerveja no fundo.
Ouve o papagaio da sua avó gritar lá fora, com as baratas subindo em sua gaiola.
Segue pelo corredor que liga a cozinha na sala, passando pelo quarto da avó que agora já exagerava na dose
"Já apaguei o fogo, vó. Fica tranquila, as baratas estão todas mortas"
E segue, pensa, volta até a porta da avó
"Mas não abra a porta  do quintal de jeito nenhum!"
Vai para a sala.

Senta-se e liga a televisão
abre a cerveja e o som do lacre é sempre um prazer suave.
Uma baratinha pequena e marrom claro passeia por seu pescoço suado
Ele dá um gole em sua cerveja,
"Huuuuummm..."
Gelada.

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