terça-feira, 6 de novembro de 2012

Teuto e Bauxito em: O controle.


  • Aonde tá a porra do controle? Perguntou Teuto para Bauxito
Bauxito levantou os olhos, estava deitado no sofá e encarou a televisão por um momento, passava Footloose e aquela música do começo entrava na sua mente como um mantra.
  • Cadê o controle? Tá afim de assistir isso aí? Teuto novamente perguntou e tirou o amigo de seu transe.
  • Não sei, mas essa música é legal – Bauxito levantou as pernas e imitou alguns passos no ar.
Teuto começa a procurar o controle e a música parecia cada vez mais contagiante de alguma forma, haviam pés dançando na televisão e aquilo parecia ser a coisa mais interessante acontecendo em todo o Universo naquele momento. Estavam na casa de Tião, que por sua vez estava no quarto cuidando de sua namorada Petra, que estava passando mal há alguns minutos já. Teuto ouviu o barulho do chuveiro e imaginou que ele estava dando um banho na garota. "Aonde estaria a porra do controle?", pensava e procurava
  • Procura aí o controle, porra, não quero ficar vendo isso.
  • Ahh, tantufaz pra mim, não deve tá passando nada, final de semana é só merda pra tudo quanto é lado. Na tv, nos jornais, nas privadas e nos tribunais.
  • Merda! Reclamou Teuto, e foi para a cozinha ver se havia deixado o controle lá
  • Ei, me traga uns burritos! Pediu Bauxito
Teuto foi em busca do controle e a música da entrada do filme havia acabado, o que entediou instantaneamente o seu único espectador, o chapado Bauxito no sofá espaçoso de Tião. Levantou-se e foi até o quarto de Tião ver se as coisas estavam melhores e aproveitar para ver se algum deles havia levado o controle consigo para cima, no caminho ouviu o estrondoso som de uma gorfada seguida de um peido e o cachorro do rapaz sair correndo escada abaixo, assustado como uma galinha. "Porra, que merda!" e sentiu pena da pobre alma que teria que limpar aquela vomitada e possível esmerdeada que Petra havia acabado de expelir. Bateu na porta do quarto e ouviu a voz dos dois conversando alguma coisa com carinho em suas vozes, ela toda estropiada e exausta em seus braços, com o cheiro daquele peido fedendo suas áureas entrelaçadas pelo sentimento mais puro e nobre.
  • Tudo bem aí com vocês? O controle tá aí? Falou do outro lado da porta
  • Nãããão....uma voz fraca respondeu
  • Vou entrar, e abriu a porta sem ouvir o...
  • NÃO ENTRA!, que tião gritou
Bauxito já havia atravessado a porta quando presenciou o que chama até hoje de o trauma de sua vida humana. Na cama de Tião estava o casal deitado nu, nus e cobertos por vômito amarelo com pedacinhos crocantes no meio, abraçados como que esperando pela chegada do dilúvio, como dois junkies dos mais sujos após acordarem depois de mais uma overdose. O gorfo escorria pela boca e por todo o corpo de Petra, que não sabia o que fazer além de encarar o amigo sem reação, enquanto o peido com cheiro de tortura se dissipava e aquela merda toda sujava a cama e o que havia restado da alma de qualquer um dentro daquele quarto. Tião ensaiou falar algo e até abriu a boca, mas antes da primeira palavra Bauxito já estava descendo a escada e voltando para a sala o mais rápido que conseguia.
"Eu só queria achar o controle...meu Deus", pensava o pobre garoto quando chegou na sala, seu cérebro ainda processava o que havia testemunhado, era difícil. Foi até o lavabo e lavou o rosto com água fria, talvez superasse aquela cena algum dia, antes da sua aposentadoria ou da morte de seus pais, quem sabe. Mas não, aquela cena estaria tatuada eternamente em sua mente, o vômito, a nudez, o olhar penetrante do casal...o horror...o horror. O filme perfeito resultante de uma parceria com David Lynch e John Waters, algo que poderia substituir o Tratamente Ludovico sem grande dificuldade. Desistiu de tentar esquecer daquilo e procurar o controle da televisão, ia voltar para a sala e assistir Footloose até sua cabeça ficar do tamanho de uma abóbora e explodir, espalhando aquele trauma para todos os cantos do cômodo.
Nesse meio tempo, Teuto havia pausado sua busca pelo controle e foi beliscar um pedaço do burrito de Petra, que deu apenas uma abocanhada antes de passar mal por ter bebido umas cachaças a mais, chamou Bauxito para compartilharem daquele belo lanche mexicano, mas ele havia subido para ver como Petra estava. Deu uma bela mordida e mais outra, aquele gosto de carne fazia suas glândulas salivares trabalharem feito escravos bolivianos. Parou de comer antes que acabasse com o lanche da enferma, já tinha comido todo o seu burrito e deixou Bauxito dar umas mordidas, mas ainda tinha fome e comeria todos os burritos, tacos, quesilladas e o México inteiro se estivesse à sua disposição. Não tinha nada pra comer, nada. Já tinham acabado com toda a comida e não podia encontrar nada além de umas bananas gigantes e um pote com doces de banana, "huuum...", salivou e foi pegar os doces de banana. Não estavam lá também. Agora precisava do controle e do doce de banana, pegou um copo e encheu com água da pia, tinha gosto de cano e ferrugem e era quente. Jogou a água na pia, mas sua mãe molhada fez o copo escorregar e espatifar-se como uma taça em cima da bancada da cozinha. Teuto olhou para a merda que tinha acabado de fazer e botou as mãos na cabeça. Olhou para a escada e para a sala para ver se alguém estava por perto, Bauxito estava no banheiro e o casal ainda estava lá em cima. Pegou o vidro com cuidado e foi jogando tudo pela janela da cozinha até o último caquinho na bancada. Estava terminando quando ouviu Bauxito chama-lo:
  • Cara, vem aqui me ajudar.
  • O que?
  • Vem logo, apressou Bauxito
O garoto saiu da cozinha fingindo que nada acontecera e cruzou para a sala sem imaginar que encontraria Bauxito com a mão entalada dentro do vidro de doces de banana, tentando de tudo para se livrar daquilo.
  • Como você fez isso? Riu o amigo
  • Fui pegar no fundo um grandão e minha mãe não saiu mais, puxa aqui pra mim, porra!
  • Por que você tá pálido assim? A Petra piorou?
  • Prefiro não ter que contar sobre o que presenciei hoje para ninguém, nunca!
  • O que? Estranhou o amigo
  • Esquece, me ajuda aqui.
Teuto foi até o amigo e começou a puxar o vidro de doce com força, aquilo não sairia daquela mão tão cedo assim. Tentou mais um pouco e Footloose ainda passava, o controle ainda estava desaparecido.
  • Vem na cozinha que eu tive uma ideia, falou o amigo ajudante.
Voltaram à cozinha e Teuto abriu a geladeira e tirou de lá um pote de margarina:
  • Porra, vai ficar mó bagunça...quebra esse vidro ali na escada de incêndio e tá tu...
  • Nãão, sem quebrar mais nada aqui, interrompeu Teuto
  • O que?
  • Vou passar um pouco disso ao redor da sua mãe e depois a gente puxa com toda a força pra trás.
  • Tá, concordou mesmo sem achar aquilo a melhor das ideias.
Teuto começou a besuntar a mão e o pulso do desastrado amigo e aquilo parecia muito nojento e banhoso. Bauxito olhava com descaso, nada mais era nojento para ele. Nojo havia ganho outro significado para Bauxito aquela noite. O amigo terminou de besuntar e olhou para o outro, que respondeu aquela pergunta mental com um gesto positivo com a cabeça. Teuto começou a puxar novamente o vidro preso na mão do amigo e aquilo estava difícil pra caralho de tirar, puxava cada vez com mais força e Bauxito fazia expressões de dor, os doces de banana estavam parados lá dentro, o grandão estava fechado na mão gorda de Bauxito, esperando para ser comido por ele quando se livrasse daquela porcaria. Teuto apoiou as pernas nas coxas do amigo e usou toda a força que tinha parar tirar de lá, puxou e puxou e aquela cena parecia estar ridícula em sua mente. Relaxou os músculos do corpo por um segundo e depois deu um puxão com a maior força que conseguiu tirar de seu corpo, o vidro soltou nesse puxão e Teuto, é claro, voou para trás, empurrando Bauxito para frente e o vidro caindo no chão, espalhando os doces para todos os lados. Teuto bateu na mesa e quebrou uma das pernas do móvel, Bauxito conseguiu se livrar com o seu doce grandão na mão e, por algum milagre, seu pesado corpo não destruiu a bancada da pia. O barulho havia sido estrondoso, mas não ouviram reação alguma vindo de cima
  • Puta que pariu..., gemeu Teuto
  • Valeu...achei que não ia sair mais, agradeceu Bauxito pegando um dos doces que estavam espalhados no chão e passando-o na manteiga ao redor de sua mão.
Os dois levantaram e viram a bagunça que haviam feito na casa de Tião, açucar no chão, a mesa torta e sem uma das pernas tombou no chão espalhando restos de burrito e cerveja pelo piso. A bancada parecia estar um pouco frouxa, mas não quebrou nada de fato. Bauxito pegou o resto do burrito de Petra e olhou para Teuto, este por sua vez olhou para aonde estavam as bananas gigantes e embaixo delas estava o motivo de grande parte daquilo tudo ter acontecido, imagino:
  • Ah, olha o controle aí! Comemorou
Pegaram o aparelho e voltaram para sala para finalmente tirar Footloose e achar algo mais empolgante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário