- Aonde tá a porra do controle? Perguntou Teuto para Bauxito
Bauxito levantou os
olhos, estava deitado no sofá e encarou a televisão por um momento,
passava Footloose e aquela música do começo entrava na sua mente
como um mantra.
- Cadê o controle? Tá afim de assistir isso aí? Teuto novamente perguntou e tirou o amigo de seu transe.
- Não sei, mas essa música é legal – Bauxito levantou as pernas e imitou alguns passos no ar.
Teuto começa a
procurar o controle e a música parecia cada vez mais contagiante de
alguma forma, haviam pés dançando na televisão e aquilo parecia
ser a coisa mais interessante acontecendo em todo o Universo naquele
momento. Estavam na casa de Tião, que por sua vez estava no quarto
cuidando de sua namorada Petra, que estava passando mal há alguns
minutos já. Teuto ouviu o barulho do chuveiro e imaginou que ele
estava dando um banho na garota. "Aonde estaria a porra do
controle?", pensava e procurava
- Procura aí o controle, porra, não quero ficar vendo isso.
- Ahh, tantufaz pra mim, não deve tá passando nada, final de semana é só merda pra tudo quanto é lado. Na tv, nos jornais, nas privadas e nos tribunais.
- Merda! Reclamou Teuto, e foi para a cozinha ver se havia deixado o controle lá
- Ei, me traga uns burritos! Pediu Bauxito
Teuto foi em busca
do controle e a música da entrada do filme havia acabado, o que
entediou instantaneamente o seu único espectador, o chapado Bauxito
no sofá espaçoso de Tião. Levantou-se e foi até o quarto de Tião
ver se as coisas estavam melhores e aproveitar para ver se algum
deles havia levado o controle consigo para cima, no caminho ouviu o
estrondoso som de uma gorfada seguida de um peido e o cachorro do
rapaz sair correndo escada abaixo, assustado como uma galinha.
"Porra, que merda!" e sentiu pena da pobre alma que teria
que limpar aquela vomitada e possível esmerdeada que Petra havia
acabado de expelir. Bateu na porta do quarto e ouviu a voz dos dois
conversando alguma coisa com carinho em suas vozes, ela toda
estropiada e exausta em seus braços, com o cheiro daquele peido
fedendo suas áureas entrelaçadas pelo sentimento mais puro e nobre.
- Tudo bem aí com vocês? O controle tá aí? Falou do outro lado da porta
- Nãããão....uma voz fraca respondeu
- Vou entrar, e abriu a porta sem ouvir o...
- NÃO ENTRA!, que tião gritou
Bauxito já havia
atravessado a porta quando presenciou o que chama até hoje de o
trauma de sua vida humana. Na cama de Tião estava o casal deitado
nu, nus e cobertos por vômito amarelo com pedacinhos crocantes no
meio, abraçados como que esperando pela chegada do dilúvio, como
dois junkies dos mais sujos após acordarem depois de mais uma
overdose. O gorfo escorria pela boca e por todo o corpo de Petra, que
não sabia o que fazer além de encarar o amigo sem reação,
enquanto o peido com cheiro de tortura se dissipava e aquela merda
toda sujava a cama e o que havia restado da alma de qualquer um
dentro daquele quarto. Tião ensaiou falar algo e até abriu a boca,
mas antes da primeira palavra Bauxito já estava descendo a escada e
voltando para a sala o mais rápido que conseguia.
"Eu só queria
achar o controle...meu Deus", pensava o pobre garoto quando
chegou na sala, seu cérebro ainda processava o que havia
testemunhado, era difícil. Foi até o lavabo e lavou o rosto com
água fria, talvez superasse aquela cena algum dia, antes da sua
aposentadoria ou da morte de seus pais, quem sabe. Mas não, aquela
cena estaria tatuada eternamente em sua mente, o vômito, a nudez, o
olhar penetrante do casal...o horror...o horror. O filme perfeito
resultante de uma parceria com David Lynch e John Waters, algo que
poderia substituir o Tratamente Ludovico sem grande dificuldade.
Desistiu de tentar esquecer daquilo e procurar o controle da
televisão, ia voltar para a sala e assistir Footloose até sua
cabeça ficar do tamanho de uma abóbora e explodir, espalhando
aquele trauma para todos os cantos do cômodo.
Nesse meio tempo,
Teuto havia pausado sua busca pelo controle e foi beliscar um pedaço
do burrito de Petra, que deu apenas uma abocanhada antes de passar
mal por ter bebido umas cachaças a mais, chamou Bauxito para
compartilharem daquele belo lanche mexicano, mas ele havia subido
para ver como Petra estava. Deu uma bela mordida e mais outra, aquele
gosto de carne fazia suas glândulas salivares trabalharem feito
escravos bolivianos. Parou de comer antes que acabasse com o lanche
da enferma, já tinha comido todo o seu burrito e deixou Bauxito dar
umas mordidas, mas ainda tinha fome e comeria todos os burritos,
tacos, quesilladas e o México inteiro se estivesse à sua
disposição. Não tinha nada pra comer, nada. Já tinham acabado com
toda a comida e não podia encontrar nada além de umas bananas
gigantes e um pote com doces de banana, "huuum...", salivou
e foi pegar os doces de banana. Não estavam lá também. Agora
precisava do controle e do doce de banana, pegou um copo e encheu com
água da pia, tinha gosto de cano e ferrugem e era quente. Jogou a
água na pia, mas sua mãe molhada fez o copo escorregar e
espatifar-se como uma taça em cima da bancada da cozinha. Teuto
olhou para a merda que tinha acabado de fazer e botou as mãos na
cabeça. Olhou para a escada e para a sala para ver se alguém estava
por perto, Bauxito estava no banheiro e o casal ainda estava lá em
cima. Pegou o vidro com cuidado e foi jogando tudo pela janela da
cozinha até o último caquinho na bancada. Estava terminando quando
ouviu Bauxito chama-lo:
- Cara, vem aqui me ajudar.
- O que?
- Vem logo, apressou Bauxito
O garoto saiu da
cozinha fingindo que nada acontecera e cruzou para a sala sem
imaginar que encontraria Bauxito com a mão entalada dentro do vidro
de doces de banana, tentando de tudo para se livrar daquilo.
- Como você fez isso? Riu o amigo
- Fui pegar no fundo um grandão e minha mãe não saiu mais, puxa aqui pra mim, porra!
- Por que você tá pálido assim? A Petra piorou?
- Prefiro não ter que contar sobre o que presenciei hoje para ninguém, nunca!
- O que? Estranhou o amigo
- Esquece, me ajuda aqui.
Teuto foi até o
amigo e começou a puxar o vidro de doce com força, aquilo não
sairia daquela mão tão cedo assim. Tentou mais um pouco e Footloose
ainda passava, o controle ainda estava desaparecido.
- Vem na cozinha que eu tive uma ideia, falou o amigo ajudante.
Voltaram à cozinha
e Teuto abriu a geladeira e tirou de lá um pote de margarina:
- Porra, vai ficar mó bagunça...quebra esse vidro ali na escada de incêndio e tá tu...
- Nãão, sem quebrar mais nada aqui, interrompeu Teuto
- O que?
- Vou passar um pouco disso ao redor da sua mãe e depois a gente puxa com toda a força pra trás.
- Tá, concordou mesmo sem achar aquilo a melhor das ideias.
Teuto começou a
besuntar a mão e o pulso do desastrado amigo e aquilo parecia muito
nojento e banhoso. Bauxito olhava com descaso, nada mais era nojento
para ele. Nojo havia ganho outro significado para Bauxito aquela
noite. O amigo terminou de besuntar e olhou para o outro, que
respondeu aquela pergunta mental com um gesto positivo com a cabeça.
Teuto começou a puxar novamente o vidro preso na mão do amigo e
aquilo estava difícil pra caralho de tirar, puxava cada vez com mais
força e Bauxito fazia expressões de dor, os doces de banana estavam
parados lá dentro, o grandão estava fechado na mão gorda de
Bauxito, esperando para ser comido por ele quando se livrasse daquela
porcaria. Teuto apoiou as pernas nas coxas do amigo e usou toda a
força que tinha parar tirar de lá, puxou e puxou e aquela cena
parecia estar ridícula em sua mente. Relaxou os músculos do corpo
por um segundo e depois deu um puxão com a maior força que
conseguiu tirar de seu corpo, o vidro soltou nesse puxão e Teuto, é
claro, voou para trás, empurrando Bauxito para frente e o vidro
caindo no chão, espalhando os doces para todos os lados. Teuto bateu
na mesa e quebrou uma das pernas do móvel, Bauxito conseguiu se
livrar com o seu doce grandão na mão e, por algum milagre, seu
pesado corpo não destruiu a bancada da pia. O barulho havia sido
estrondoso, mas não ouviram reação alguma vindo de cima
- Puta que pariu..., gemeu Teuto
- Valeu...achei que não ia sair mais, agradeceu Bauxito pegando um dos doces que estavam espalhados no chão e passando-o na manteiga ao redor de sua mão.
Os dois levantaram e
viram a bagunça que haviam feito na casa de Tião, açucar no chão,
a mesa torta e sem uma das pernas tombou no chão espalhando restos
de burrito e cerveja pelo piso. A bancada parecia estar um pouco
frouxa, mas não quebrou nada de fato. Bauxito pegou o resto do
burrito de Petra e olhou para Teuto, este por sua vez olhou para
aonde estavam as bananas gigantes e embaixo delas estava o motivo de
grande parte daquilo tudo ter acontecido, imagino:
- Ah, olha o controle aí! Comemorou
Pegaram o aparelho e
voltaram para sala para finalmente tirar Footloose e achar algo mais
empolgante.
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