quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ao inseto voador misterioso que foi acidentalmente esmagado por minhas páginas.


Me desculpe, esmaguei-te
poderias ter sido esmagado por entre as folhas de
Dosto ou Hemingway
encontrarias teu momento último
por entre palavras de Machado,
sido parte de obras imortais de Manuel Bandeira
ou um poema de Drummond
Grudado num quadro de Tarsila
Uma música de Chico Buarque de Hollanda
seus zumbidos zumbindo com as zabumbas da Nação Zumbi; mas não.

Cismou de pousar em meu caderno sem valor
arranjando um jeito que ainda me é desconhecida,
                                                               e aqui permanecerá]
e agora fará parte de minhas palavras
parado
grudado
morto
Sem zumbido, sem mãos expulsando-te dos lugares que queres zumbir.

estás estático
como as palavras, como os poetas mortos ou abandonados
e sinto por você, meu amigo mosca
e agradeço-lhe tão nobre companhia numa hora em que é, por certo, necessária.
E agradeço-lhe novamente por embelezar minha página
és a mórbida visão mais agradável que jamais conheci.

Me desculpe, inseto voador misterioso
minhas palavras não importam-te de nada
mesmo quando estavas zumbindo pela vida e pelos ares do mundo.
Elas não eram-lhe importante
mas não posso oferecer-te mais nada além delas
e rodea-lo com essas palavras em seu óbito
à tua memória
como uma coroa de letras.

Porém, foste imortalizado
estarás vivo por toda a eternidade desse caderno
nessa folha de margem amarela
e muitos insetos não morrem com tal prestígio.
São esmagados por mãos odiosas
vozes turbulentas
pés gigantes esmagam teus semelhantes...
mas você, seu mosca,
morreu rapidamente, sem raiva, sem dor
prensado pelo meu caderno
e pelos contos e poemas
pelas folhas rotas e sentimentos destruídos
e simplesmente deixou de existir
até agora.

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