Me desculpe,
esmaguei-te
poderias ter sido
esmagado por entre as folhas de
Dosto ou Hemingway
encontrarias teu
momento último
por entre palavras de
Machado,
sido parte de obras
imortais de Manuel Bandeira
ou um poema de Drummond
Grudado num quadro de
Tarsila
Uma música de Chico
Buarque de Hollanda
seus zumbidos zumbindo
com as zabumbas da Nação Zumbi; mas não.
Cismou de pousar em meu
caderno sem valor
arranjando um jeito que
ainda me é desconhecida,
e aqui permanecerá]
e agora fará parte de
minhas palavras
parado
grudado
morto
Sem zumbido, sem mãos
expulsando-te dos lugares que queres zumbir.
estás estático
como as palavras, como
os poetas mortos ou abandonados
e sinto por você, meu
amigo mosca
e agradeço-lhe tão
nobre companhia numa hora em que é, por certo, necessária.
E agradeço-lhe
novamente por embelezar minha página
és a mórbida visão
mais agradável que jamais conheci.
Me desculpe, inseto
voador misterioso
minhas palavras não
importam-te de nada
mesmo quando estavas
zumbindo pela vida e pelos ares do mundo.
Elas não eram-lhe
importante
mas não posso
oferecer-te mais nada além delas
e rodea-lo com essas
palavras em seu óbito
à tua memória
como uma coroa de
letras.
Porém, foste
imortalizado
estarás vivo por toda
a eternidade desse caderno
nessa folha de margem
amarela
e muitos insetos não
morrem com tal prestígio.
São esmagados por mãos
odiosas
vozes turbulentas
pés gigantes esmagam
teus semelhantes...
mas você, seu mosca,
morreu rapidamente, sem
raiva, sem dor
prensado pelo meu
caderno
e pelos contos e poemas
pelas folhas rotas e
sentimentos destruídos
e simplesmente deixou
de existir
até agora.
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