domingo, 19 de junho de 2011

a pomba sem cu de Minas Gerais

me sentei em uma escadaria, debaixo do sol de
Minas Gerais
um trânsito mais
calor mais
espera
esperava minha mãe comprar uns doces caseiros
da região
então meu pai e eu sentamo-nos diante de um
monumento e ficamos espreitando os movimentos das pessoas
dentro de seus carros dentro de congestionamentos
pequenos congestionamentos
porque lá não tem espaço nem para um peido
quanto mais para trânsitos quilométricos.

a esperamos debaixo do calor naquela cidade
histórica
com turistas idiotas mais ridículos do que nós
vestidos como idiotas
:sempre pensei que turista era uma espécie de gente,
:não uma condição temporária; sempre vestidos tão horripilantemente
:com roupas que não são de suas cidades natais, nem de sua cultural nacional
:quando pequeno achei que haviam lojas especiais com roupas para turistas
:só isso explicava o quão ridículo eles eram.

olhava maravilhado para as pedras semi-preciosas que papai
comprara para mim
colecionávamos coisas assim quando pequeno
eu
e meus primos
o pai contava algo sobre a arquitetura da praça
e eu prestava atenção no movimento parado dos carros
das pessoas dentro dos carros e
da vida
dentro daquele mini-congestionamento

um estouro seco e algumas pessoas olham alguns metros de onde
estávamos
uma pomba voa
suas tripas caem no chão
ela continua voando
sem as tripas
provavelmente se sentindo bem mais leve agora que estava sem
sua maquina de fazer bosta
e ela voa metros e mais metros
e bate a cabeça em uma porta roxa de um casa antiga
e cai morta
e os carros voltam a andar; pessoas voltam a comprar; “vish” meu pai comenta

minha mãe chega com um saco cheio de doces de Minas Gerais
e vamos embora


guardei minhas pedras metódicamente organizadas, levanto-me com meu pai
e seguimos passeando pela cidade
as tripas ensanguentadas da pomba continuam largadas no meio da rua
separadas vários metros de sua dona
que jaz abaixo de uma porta púrpura
manchada com sangue.

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