não me lembro a que horas cheguei na casa de Bill Boccardo. lembro apenas de estar um dia de merda – como hoje - e queria apenas chegar na casa de Bill e conversar até o começo da manha.
“Bill, como faço pra chegar? essas porras de ônibus são tudo igual, puta merda”
me passou um caminho pelo telefone do jeito bem explicado, rápido e demorado ao mesmo tempo, como ele sempre fazia. falava demais, de um jeito apaixonado, apaixonado por suas convicções e sempre querendo ensinar-me sobre a vida, sobre a energia, sobre o ser. era foda.
chego em sua casa, como já disse, com um tempo de merda. depois de pegar um metrô de merda e um ônibus de merda. não ligava para nada disso, toda a merda se acertava depois.
“Aííí, Eric!” – cumprimentou do jeito calmo de sempre, quando cheguei no seu quarto e encontrei-o deitado – “Nem sabe, cara. fui pegar uma caixa lá embaixo, na garagem, quando fui subir a escada de volta eu pisei em falso e fodi o pé, olha.
mostrou-me o pé inchado como duas batatas, fiz uma cara de aflição e senti a dor na minha perna.
“puta merda, nem vai dar pra gente sair hoje de noite, então? avisava que eu nem viria até aqui encher o saco. doendo?
“incomoda pra cacete. mas vou no hospital agora com a Ingrid, aí você fica aqui. fica à vontade, pô. você sabe que é de casa, Eric.”
de fato eu era de casa, me sentia bem lá, tímido como em todo lugar, mas bem. poderia ficar lá numa boa esperando o regresso dos dois que provavelmente seria rápido, não havia quebrado nada. lembrei de um porém.
“putz, Bill, eu tinha chamado a Jane pra vir aqui passar o dia com a gente, agora ela já deve estar chegando, mora aqui perto.”
“aahhhh, relaxa. ficam aqui na boa, comam o que quiserem, pode jogar aí, vê tv, filme, aqui tem tudo, pqp. à vontade. vai ficar sozinho com a Jane, que acha disso? haaahahahaaa” disse com sua risada grossa.
eu ri.
Jane Campagnelli era uma amiga de infância de Ingrid Nustievich. não sei como resumir a história, mas o importante é que Ingrid namorava Bill, meu amigo de infância, e Jane acabou virando amiga de todos nós um tempo depois. e, claro, era um tesão.
Jane e eu éramos grandes amigos, pelo menos era o que ela queria de mim. obviamente eu queria fode-la com todo o tesão que a juventude proporcionava a um garoto gordo e ridículo como eu. mas não era apenas físico, a filha da puta acionava toda a porra do meu sistema emocional, vê-la me dava apertos no peito, sentir o cheiro dela em alguma outra garota causava-me falta de ar, ver a pele branca dela de perto e não poder encostar e revelar suas intimidades rosadas e maravilhosas causava-me câncer, não tê-la deixava-me nesse estado.
campainha estridente e irritante toca.
abro. Jane com seu sorriso de garota francesa da década de 20 olha pra mim e eu tento fotografar o momento no meu cérebro pra guardar pra mais tarde.não consigo. abro o portão.
Campa estava com um forte resfriado e sua saúde andava uma merda há mais de duas semanas, conversamos um pouco e nos despedimos de Bill e Ingrid, que rumam para o hospital para cuidar da dupla de batatas que tomaram conta do pé de Bill Boccardo.
deitamos na cama e ficamos olhando um para o outro, o desenho animado que passava na TV era bobo, mas engraçado. encostei minha mão em sua coxa, enquanto encarava seus olhos verde-oliva, bem pequenos e discretos, e ela fez o mesmo com as minhas costas. o tema de abertura do desenho tocava, e começamos a cantarolar ele com a boca fechada, e acompanhar ao ritmo com as mãos no corpo um do outro. a sincronia perfeita fez nós dois rirmos que nem um novo casal no dia dos namorados.me aproximei dela, sempre olhando em seus olhos pequenos que me faziam parecer um idiota. comecei a passar a mão lentamente por toda a região do tronco dela, lentamente, até um pedaço de merda defumada sentiria minha paixão por ela só de chegar perto daquela cama.
o fato de Jane estar doente não fazia a mínima diferença para mim, gripe eu aguentava e, por ela, acho que aguentaria umas semanas de cama, me fodendo que nem um filho da puta por uma simples foda, mas eu estava disposto a aguentar sem pensar duas vezes.
quando minha mão alcançou seus peitos e revelou-os aos meus olhos, meu corpo, mente, coração, rola, alma, nada estava conseguindo segurar mais a vontade que eu tinha de possui-la lá mesmo. de beija-la por longos minutos, devagar, dizer que a amava e que queria ter ela só pra mim, mesmo que fosse por pouco tempo, que queria tentar fazer a juventude dela valer a pena apenas um pouco e não ser essa merda ignorante que é a de todos nós foi. não conseguia fazer isso.
subi sua camiseta, no nervosismo não consegui tirar o sutiã e ela o fez com um sorrisinho envergonhado – meu coração pulava, minhas pernas tremiam, mas ela não percebia, ou percebia e fingia não perceber- passei a mão por fora de sua calça, depois por fora da calcinha, depois dentro da calcinha. ela gemeu. gemeu do modo mais lindo que eu jamais havia ouvido. nada forçado, ela gostava. meu corpo inteiro tremia e o mundo inteiro girava, meus dois dedos estavam latejando de dor, mas eu não queria parar. não queria nunca mais perder aquele rosto de vista, aquela expressão que ela fazia enquanto meus dedos doloridos faziam parte de seu corpo, ou ao menos tentavam.
Jane estava sem roupa nenhuma na cama de Bill Boccardo, a visão de seu corpo nu era milhões de vezes melhor que eu jamais consegui imaginar. seus seios pequenos, brancos e rosados no meio. sua barriga perfeita e lisa, sua pele macia como a de nenhuma outra mulher, sua coxa perfeita, a melhor bunda que tinha visto na vida. e era REALMENTE a bunda mais incrível do mundo. não acreditava que aquilo estava acontecendo e, de fato, falei isso pra ela com a voz mais animada e inocente do mundo. o mundo era lindo e a humanidade era perfeita. todos se amavam, todos faziam amor despreocupados. despreocupados com a guerra, a morte, a vida, a política, a bomba H, a merda.
mas a humanidade enoja, o mundo fede, a guerra mata, a morte é superficial, a política rouba, a bomba destroi e a vida é uma merda.
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