quinta-feira, 4 de abril de 2013

Recue.


   "Ele tinha bebido três garrafas de vinho, três garrafas de vinho branco, ou duas de branco e um tinto seco...não sei, sei lá. Mas ele tinha tomado muito álcool naqueles dias anteriores e já estava ficando meio senil pelo cansaço do corpo e da mente fodida dele. Sempre pensei que a morte da filha somado ao fato de a única mulher que ele teve na vida larga-lo e sumir com o primo dele duas semanas depois realmente foderam a cabeça do cara. Mulheres, né brow...você fica louco de qualquer forma no final das coisas.
Enfim, sei que o fígado dele já tava trabalhando mais que Cubatão todo aquele goró e ele começou a cheirar pó pra não ter um coma alcoólico. Deve ter achado mais garrafas ou saiu pra comprar e mamou tudo rapidinho...cheirando cocaína pra cacete no processo, tudo aquilo, sabe? Começou a detonar o quarto inteiro do hotelzinho chulé que estava hospedado e devia estar vazio porque ninguém reclamou por horas.
Ele sempre carregava um revólver com ele, aqueles Smith & Wesson estilo Tex, manja? Era fodona aquela peça. Uma vez ele levou geral pro sítio do pai da ex mulher e trouxe a Smith junto com umas caixas de munição..saia um fumacê desgraçado daquele cano...muito legal...ah, sim. Então, ele carregava o revólver sempre na cintura, principalmente quando ia no bar. Era doido varrido, doido de pedra. Mas nunca saia do sério também, era bem calmo até bêbado e sabia maneirar bem quando mandava coca pa nareba. Ninguém sabia bem porque carregava aquela coisa, nem ele devia saber, mas vira e mexe ele levantava a camiseta apertada na barriga e mostrava a coronha de marfim brilhando no sol pro pessoal da mesa.
Bom, voltando ao revólver no hotel com o cara bêbado e fodido. Depois de um tempo, quando as drogas tavam acabando e o goró já era, ele começou a se sentir mais no cu do mundo ainda e se desesperou de vez. Ligou pra emergência e disse no telefone "Alguém vem aqui no hotel tal na rua tal do quarto tal, que eu acho que meu vizinho se matou! Sim! Ouvi um tiro e uma coisa pesada caindo no chão..ele tá todo fodido na cabeça, sabem? Sim, sim...venham o quanto antes." Ele conseguiu fazer a voz parecer sóbria a ligação inteira e desligou o telefone, acabou com o que tinha da droga e tirou o revólver da gaveta. Não tirou da cintura porque o cara estava peladão no quarto há dias...gostava disso...bom, ele engatilhou a arma e colocou o cano na boca. Imagina aquela coisa gelada na sua guela....ahhh...só de pensar dá agonia, bicho. Ele esperou passar um tempo, esperou a cocaína vasculhar o último tanto de coragem que tinha dentro dele e então puxou o gatilho."

"Cacete...que cu, hein, cara...quem te contou essa história?"

"Ele que me contou essa história"

"Ele que contou essa história? Que porra? Ele não morreu com um tiro no céu da boca?"

"Hahaha, não, cara. Quando a ambulância chegou eles já entraram no quarto com o saco preto para corpos já aberto, toda aquela meleca de pedaço de rosto era bem asquerosa...até que um dos caras teve a formalidade de ver se ele tinha pulso e voìla! Ele estava vivinho ainda. Ele não acertou o cérebro, sabe? A arma recuou e destruiu toda a cara dele. Explodiu o nariz, a boca, um dos olhos e todo o conceito que ele tinha sobre azar na vida. Fui encontrar com ele no hospital e vomitei por dois dias depois...ele conversava comigo pelo computador, digitando a história toda. As lágrimas caíam só de um dos olhos dele, o resto tava tudo enfaixado e sujo de sangue...o indivíduo não tem mais nenhum motivo pra viver nessa merda de agora em diante...tá na mesma porcaria de antes só que hoje com a pior dor da vida dele e a cara monstruosiada. Tá fodido.

"Puta-que-pariu"

"Eu sei, cara...foda"

"Tem gente que nasceu pra se foder mesmo. Por isso nem reclamo mais"

"Nem eu. Quer ir beber?"

"Vamos"


Foram.

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