Ela anda pelos túneis
cinzentos subterrâneos
e as poucas pessoas
passam umas pelas outras como almas desatentas
e desumildes.
Ela anda apressada,
apressada mas com classe por eles, usando seu casaco vermelho forte
seu batom vermelho
forte
seu cabelo naturalmente
vermelho.
Ele caminha com as mãos
nos bolsos e o olhar frio.
Não há moral em seu
ser, seus conflitos não o fazem precisar
se identificar, sem
escolha
ele não tem o que
fazer.
Ele enxerga a garota de
vermelho e todas as outras ficam em preto e branco.
O homem de chapéu
cinza escuro e jaqueta preta conecta sua alma à da moça.
Ou isso é o que ele
pensa.
Ele a quer em sua
cadeira, amarrada.
Ele está atrás de
caça.
As pessoas passam por
ele, ele esbarra em algumas delas.
Não percebe, não dá
bola, o vermelho brilha em suas pupilas contraídas .
Seus olhos fitam o
objeto de desejo de seu inconsciente.
Inconsciente que agora
parece ter dominado o consciente
e se tornado toda a sua
consciência.
Indiferente.
A moça de vermelho
segue parada na escada rolante, descendo lentamente para o seu
destino.
Ela sabe que é centro
das atenções, seu cabelo e seus modos sempre demonstraram isso
muito bem.
Ela sabia a impressão
que causava.
E gostava de vê-los se
matando por ela.
Ela anda despreocupada,
e na espera de ser
caçada
preparando sua chutada
para mais uma alma
machucada.
Ele está logo atrás.
A luz do trem vem como
as luzes finais que você enxergaria em seu leito de morte.
O som irritante dos
trilhos rangendo,
as campainhas
as conversinhas
os mapas e
os casais de
adolescentes nos primeiros e últimos vagões
Ela não quer contato
com eles.
Ele não quer contato
com ninguém além
dela.
A porta abre.
Ela entra.
Ele entra.
Duas portas de
distância
Cinco pessoas em todo o
vagão.
Seu dia de sorte.
Seu dia de azar, doce.
Eles permanecem
sentados, cada um em um canto
de frente um para o
outro de certo modo.
Ele ainda não tirou os
olhos dela desde a hora em que a viu.
Seu cérebro não
registrou mais nada depois que fitou aqueles olhos e aquele cabelo
e aquelas roupas e
andar.
O instinto foi igual ao
de um felino furioso.
Ela ouve música e olha
pela janela
Garoa e luzes.
Ela sente o olhar
penetrante de um senhor de chapéu.
Talvez um velho safado
e solitário.
Ela olha para ele, olha
dentro de seus olhos por dois segundos
sorri com o canto da
boca
e desvia o olhar logo
depois, de volta para a
Garoa e luzes.
Ele sorri logo depois,
seus dentes amarelos pelo tabaco.
Ela não teria a menor
chance essa noite.
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