Odiava o ano novo e
odiava toda aquela areia entrando por todos os cantos de seu corpo.
Mas a última noite
daquele ano tenebroso estava aí e Amanda queria apenas que aquilo
tudo acabasse de uma vez, com o mundo junto.
Nascida na praia,
desejava a cidade grande desde que se lembra.
Mas era nascida e
criada na praia.
Sua pele morena pelos
anos de Sol no litoral chamava a vista dos turistas, pirados atrás
de uma caiçara de aspecto selvagem e morena como ela.
Mas a garota não dava
a mínima.
Não naquela noite, de
ressaca, enchendo a cara sozinha novamente
Uma garrafa de vinho
pela metade em suas mãos, a segunda da noite.
Um gole bukowskiano.
Estava deprimida como
nunca e as pessoas pareciam tão verdadeiramente alegres e havia uma
compaixão generalizada naquela praia que serviu apenas para deixar
Amanda mais pra baixo do que já estava.
10, 9, 8 ,7 ,6, 5, 4,
3, 2, 1...
Barulhos, abraços,
dentes sorridentes, beijos, velas, luz, muita luz e cores
Solidão para uma
"Feliz ano novo,
Amanda"
Um gole bukowskiano,
dos grandes.
Virou a garrafa de
vinho e o líquido escorreu um pouco pelo seu queixo e longo pescoço.
Jogou a garrafa longe.
Sozinha e bela
À luz dos fogos e
velas.
Um ponto só no meio
dos pontos.
Olhava para o teto do
mundo e para mais nada além dele. A melhor coisa que ela podia ter
visto naquele final e começo de ano.
Os fogos explodiam
por todos os cantos do céu negro.
Chuva de fogo, bela
como ela
De tal forma que um
rapaizinho que observava a bela Amanda e nada mais além dela,
impressionado com a solidão de uma pessoa tão bonita como aquela,
de alguém que não deveria estar nunca sem alguém
Mas ela estava assim.
E ele viu quando a
garota melancólica deixou escapar um sorriso discreto para o céu
pontilhado de fogo e luz naquela noite de ano novo. Os olhos dela
brilharam. E dentre todos os brilhos daquela noite, o brilho de sua
melancolia bateu como pedrinhas nas janelas da alma do rapaz.
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