quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Viva o rubro nas janelas da alma.



Odiava o ano novo e odiava toda aquela areia entrando por todos os cantos de seu corpo.

Mas a última noite daquele ano tenebroso estava aí e Amanda queria apenas que aquilo tudo acabasse de uma vez, com o mundo junto.

Nascida na praia, desejava a cidade grande desde que se lembra.

Mas era nascida e criada na praia.

Sua pele morena pelos anos de Sol no litoral chamava a vista dos turistas, pirados atrás de uma caiçara de aspecto selvagem e morena como ela.
Mas a garota não dava a mínima.
Não naquela noite, de ressaca, enchendo a cara sozinha novamente

Uma garrafa de vinho pela metade em suas mãos, a segunda da noite.

Um gole bukowskiano.

Estava deprimida como nunca e as pessoas pareciam tão verdadeiramente alegres e havia uma compaixão generalizada naquela praia que serviu apenas para deixar Amanda mais pra baixo do que já estava.
10, 9, 8 ,7 ,6, 5, 4, 3, 2, 1...

Barulhos, abraços, dentes sorridentes, beijos, velas, luz, muita luz e cores
Solidão para uma
"Feliz ano novo, Amanda"

Um gole bukowskiano, dos grandes.

Virou a garrafa de vinho e o líquido escorreu um pouco pelo seu queixo e longo pescoço.

Jogou a garrafa longe.

Sozinha e bela
À luz dos fogos e velas.

Um ponto só no meio dos pontos.

Olhava para o teto do mundo e para mais nada além dele. A melhor coisa que ela podia ter visto naquele final e começo de ano.

Os fogos explodiam por todos os cantos do céu negro.
Chuva de fogo, bela como ela

De tal forma que um rapaizinho que observava a bela Amanda e nada mais além dela, impressionado com a solidão de uma pessoa tão bonita como aquela, de alguém que não deveria estar nunca sem alguém
Mas ela estava assim.

E ele viu quando a garota melancólica deixou escapar um sorriso discreto para o céu pontilhado de fogo e luz naquela noite de ano novo. Os olhos dela brilharam. E dentre todos os brilhos daquela noite, o brilho de sua melancolia bateu como pedrinhas nas janelas da alma do rapaz.

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