Enquanto assistem
televisão e conversam
Enquanto comem e bebem
e bebem e bebem
Penso no litoral negro,
perto da madrugada
Nas luzes da cidade
mais próxima, separadas de mim por milhões e milhões e
milhões
de moléculas de água
e grãos de areia mal quebrados
não há ondas aqui,
não há Sol nesses dias
ilha neblina
como a névoa densa que
me ronda desde não sei mais; já cansei de contar
[mas isso não é sobre mim
nem sobre tv ou álcool
ou brisa
talvez sobre ventos e
barcos camuflados na noite
sobre o monte iluminado
por casas dos moradores da cidade próxima da ilha
que faz parecer um
navio naufragando no breu
eternamente à deriva
talvez seja sobre o Sol
que não deu muito as caras por aqui esses dias
e talvez seja pra você,
por sua causa.
por que o que escrevo
nos últimos tempos não é para mim ou para os outros
é pra você
é seu, para que eu
tenha você de alguma forma por alguns minutos, tenha de alguma forma
que seja fora dos meus pensamentos vagos e românticos, tenha você
além da minha eterna fantasia de um admirável loser gordo.
como tento ter o mundo
aos meus olhos quando me perco em devaneios olhando para o mar escuro
para os barcos e iates
e lanchas milionários esperando seus donos pomposos
com suas loiras e
morenas e ruivas e japas
como tento tantas
coisas que não dão em nada, tantas outras, tantos fracassos
eles tem o status, eles
tem as porções de camarão mais caras e baldes de cerveja gelada
ao seu lado as mais
belas acompanhantes
e eu tenho eu, minha
cerveja só, meu livro, minha cabeça
e meus dedos inquietos
amém.
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