Oscilações de dispneia, medo, manias, tristeza, auto-flagelo por gosto, decepções, obsessão por algum tipo de conhecimento, derrota em tudo o que tentou fazer nos últimos tempos, vitória de seus inimigos sobre ele todas às vezes que era derrotado interior ou exteriormente. Peter C. R estava acostumado com todos esses sintomas de seu cotidiano entediante, deprimente e começando a se tornar destrutivo. Sua fraqueza mental encontrava-se em um nível altíssimo, todos os problemas que para os outros poderia parecer vagal, para ele não era, para ele era tudo mais difícil, não sabia lidar com a perda de o que considerava seus bens, mesmo não sendo nada.
Peter gostava de andar sozinho e escrever para suas amigas, não conseguia fazer mais nenhum dos dois. Tudo o que fazia agora era tentar encontrar conhecimento em algum livro de algum autor clássico, que escreveu dezenas de livros clássicos, e imagina ser um deles um dia, imagina que, um dia, autografaria os seios de fãs loucas por seus discos e livros. Ele, Peter C.R., garoto que outrora chorava mentalmente, sozinho, em seu diminuto quarto, agora era ovacionado e desejado por todos, ele, Pete, dono de uma personalidade adorável e simpatia única em um mundo de ignorantes, estúpidas e desgraças.
Peter C. R andava triste ultimamente, com sua rotina baseada em trabalho-casa-trabalho, com sua falta de inteligência, andava triste vendo sua juventude se despedindo e não podendo fazer nada para se divertir com ela, desanimado vendo tanta futilidade e ignorância ao seu redor, e descobrindo fazer parte desse grupo de pessoas. Pete não conseguia se tornar inteligente, queria ser inteligente, fazia coisas de pessoas inteligentes, mas considerava-se um retardado, um jovem traumatizado com a juventude, com as mulheres, com os inteligentes, com os burros, com ele.
A música, que antigamente animava Pete C.R, agora deprimia o mesmo, deixava-o angustiado, mas ele entrava nela, se sentia em casa com ela. Se não estivesse ouvindo alguma coisa, Pete preferia enlouquecer e ser internado. Sonha em ser um músico/escritor de sucesso, uma pessoa humilde, simpática e caridosa que faria de tudo para alegrar aqueles que o adoravam. Sabia que seria adorável se um dia tivesse a oportunidade de viver tal sonho.
O jovem Pete também tinha uma paixão pela mente e razão humana que gostava de demonstrar para todos, gostava que pensassem que ele fosse ser um bom profissional, que ele fosse um garoto estudioso e apaixonado pelo aprendizado dos problemas e doenças do ser humano, uma raça que precisa ser examinada e diagnosticada.
Outrora muito extrovertido, agora Pete revelava-se um garoto mais recluso, mais introspectivo, mais quieto, como preferir. Não conseguia mais falar com os outros do mesmo modo que falava quando era mais garoto. Com garotas? Não conseguia nem olhar no rosto, quanto mais conversar ou olhar nos olhos. Tinha um medo, o medo, o que apavorava-o todos os dias, a humilhação.
A humilhação, ou melhor, o medo da humilhação, era algo que contornava toda a existência de nosso personagem durante todos os dias de sua miserável vida. E esse receio de infância crescia a cada hora que passava, a cada livro que lia, a cada filme que via e a cada decepção que tinha. A cada vez que se sentia triste com algo, Pete se fechava mais em seu mundo, em seu muro, "The Wall", como o próprio gostava de chamar para si mesmo, já que era um grande fã do álbum de mesmo nome de um grupo musical que admirava há tempos.
O medo da vergonha era um agravante em seu quadro psicológico, um agravante em seus problemas mentais, que julgava serem apenas aflições adolescentes, mas que temia durarem para sempre. Tinha medo de que desaprovassem-no e pensassem que ele fosse um mal educado, um cretino burguês que pisasse nos outros. Mas não, Peter apenas tinha medo, medo do mundo ao seu redor julga-lo erroneamente. Ele fazia de tudo para agradar a todos, até àqueles que o subestimavam e chutavam-o, não ligava para isso, não ligava para esse tipo de humilhação, pensava que a boa ação e a bondade venceriam as opiniões formadas, mas no fundo sabia que tudo seria igual.
Escrevia constantemente textos sobre ele mesmo, sobre seu passado, presente e esperado, sonhado, impossível futuro. Colocava todas as suas angústias em textos que considerava baratos e sem valor, mas que no fundo significavam sua salvação da loucura total, da solidão absoluta, da tristeza eterna.
Temia a solidão. Temia não ter alguém ao seu lado, temia não agradar aqueles à sua volta. Queria ser um bom filho, sobrinho, tio, avô, pai. Quando saia de um lugar, a primeira coisa que pensavam era o que as pessoas falariam dele, quase sempre imaginava que falariam mal, já que ninguém nunca havia elogiado-o verdadeiramente, elogiado-o sem ter falsidade ou piedade na voz. Tinha certeza que os elogios para ele dirigidos eram sempre cuspidos da boca para fora pelas pessoas, para que parassem de ouvir os desabafos de Peter C R. Percebe-se que diversos tipos de medo contornam a vida de Peter. O medo da solidão, o medo da desaprovação, medo da humilhação, medo da ignorância, medo do inconsciente, medo do mundo ao redor. Peter viveu assim.
O que jurou ser passageiro não passou, o que dizia ser bobagem não era, o que jurava procurar tratamento não procurou. E assim Peter C Rockwell foi engolido pelas suas angustias até o último dia de sua lastimável vida, vida essa que teve fim em uma cama de solteiro, sozinho, sujo, chorando e agradecendo por não ter enfrentado os seus medos de frente durante a sua existência esquecida.
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