segunda-feira, 4 de abril de 2011

American Beauty.

Nunca escrevi uma crítica antes e era uma coisa que eu queria fazer já há um bom tempo. Acontece que eu não sabia que filme escolher para uma primeira crítica, um mais específico, cabeça, cult, underground...ou um que fosse mais comercial, como uma comédia, um terror barato e coisas do gênero. Fui adiando essa minha vontade e escrevendo outras baboseiras, quando esses dias peguei para rever uma pérola do cinema moderno americano, um filme obrigatório, um filme excepcional, excelente em todos os aspectos que enfoca,  da fotografia até a direção, passando pela trilha sonora, atuações e um roteiro, desculpem o linguajar aqui usado, fodido.
Não viso, com essa crítica, desmembrar a película inteira, pedaço por pedaço, tentando buscar uma espécie de auto-conhecimento do mesmo para mim. Então, como um modesto novato no mundo do cinema e, principalmente, das críticas, vou tentar pegar pedaços desse clássico atual, de preferência desnudar esse lado social do filme, o lado do American Way of Life sendo destruído minuto após minuto do filme tendo, como arma, uma atuação brilhante de Kevin Spacey e de Annette Benning, e atuações coadjuvantes incríveis, como as de Wes Bentley e Thora Birch.
American Beauty, como mencionei, trata de destruir o famoso sonho americano, o sonho suburbano de uma família de classe média alta, com uma casa grande em um bairro tranquilo, carros na garagem e felicidade para toda a vida. Isso é o que o mundo tem como fachada ao pensar na vida em um bairro americano, mas o roteirista Alan Ball decidiu mostrar a fundo como é, verdadeiramente, a vida de quase todas as famílias felizes americanas e, pra não me acharem um anti-estadunidense, de muitas outras ao redor do mundo.

Lester Burnham (Kevin Space) é um típico pai norte americano, de uma típica família, típico bairro, rua, mulher, filha e vizinhos. Trabalha há 14 anos em uma empresa e não subiu um degrau sequer em todo esse tempo, apesar de, no começo do filme, mostrar-se um tanto quanto dedicado no crescimento próprio.
Sua mulher, Carolyn Burnham (Annette Benning), é uma frustrada corretora de imóveis que vive em uma competição dentro de si mesma contra Buddy Kane (Peter Gallagher), o Rei dos Imóveis  de toda a região, como o próprio se auto-intitula.
A filha desse casal, Jane Burnham (Thora Birch), é uma típica adolescente, como o próprio pai fala durante o filme, insegura, indecisa e que, claro, se acha feia.
Nos primeiros minutos do filme podemos ver o quão vazia é a vida de todos os membros da casa, especialmente a de Kevin Spacey, é possível notar a insignificância de sua existência logo na primeira cena, quando ele está se masturbando e o próprio diz: Esse é o ponto mais alto de todos os meus dias. (o filme é narrado pelo próprio personagem).
A falta de diálogos entre os três chega a chamar a atenção, alias, o excesso de diálogos forçados , como que para manter uma certa formalidade familiar e a verdade não transcender as barreiras da ilusão, todos os três não suportam o modo como levam suas vidas.

O filme dá início à sua história quando os pais vão ver Jane se apresentar no jogo de basquete da escola, com as cheerleaders, mesmo com a adolescente rezando para que os mesmos não compareçam e poupem-na da vergonha alheia. Mas Lester e Carolyn aparecem e, durante a apresentação, Lester põe os olhos na amiga de Jane,  Angela Hayes (Mena Suvari, linda), outra adolescente insegura ao extremo, aspirante a modelo e que se gaba de todas os homens que a desejam tanto, e é nessa cena que podemos ver a mudança drástica do personagem, em suas feições, como se ele já estivesse pronto para despirocar, mas precisava do estopim, e a amiga de sua filha explodiu tudo a seu redor.
A partir dessa cena podemos ver a mudança clara de vida do personagem. Durante um jantar no emprego de sua mulher, enquanto a mesma dá em cima de seu futuro amante, Buddy Kane, Lester conhece esse garoto, outro adolescente suburbano que agora era seu vizinho, filho de um militar homofóbico e conservador, conseguia todo o seu dinheiro vendendo maconha de boa qualidade enquanto os pais pensavam que era com um “trabalho honesto”,  Ricky Fitts (Wen Bentley), é apresentado como um freak e é constantemente esculhambado pela superficial Angela, que o chama de doente mental, mas, ao longo do filme, o mesmo revela-se um garoto extremamente sensível e com olhos diferentes para a beleza do mundo, sempre com uma câmera em suas mãos, trata de filmar o que ele acha de mais lindo no mundo, o que há de mais lindo e que os olhos não podem ver a princípio, uma dessas belezas é a sua repentina paixão, Jane Burnham.
Lester faz amizade com o simpático e inteligente Ricky, enquanto o pai do garoto desconfia de uma suposta relação homossexual entre os dois.
Chegado esse ponto, podemos perceber o alívio que os personagens sentem agora que estão achando algum sentido em suas vidas. Lester abandonando seu emprego insuportável e sem perspectivas de sucesso futuro, mas conseguindo salário de um ano e com benefícios graças a um suborno muito bem feito. Carolyn tendo um caso com o seu rival nos negócios, Buddy Kane e aliviando as pressões do dia-a-dia em um stand de tiro que seu amante a leva, e Jane, sempre revoltada com seus pais, mas sentindo-se cada dia mais segura e mulher enquanto constrói seu relacionameno com Ricky Fitts. Mas mesmo com a mudança drástica que suas vidas exteriores tem levado, dentro de casa a falta de contato da família ainda é extrema, mas Lester Burhnam começa a se mostrar um homem em casa e não atura mais a mal criação e ódio da filha ou a falta de respeito da esposa para com ele, reflexos óbvios da “despirocada” que o personagem deu de sua vida e realidade, outros desses reflexos podem ser percebidos com grande facilidade, o personagem começa a malhar e cuidar mais de seu corpo, realiza sonhos antigos, como o de comprar um 1970 Pontiac Firebird (belíssimo carro, diga-se de passagem)
E, por outro lado temos os que vou chamar de “personagens secundários”, mesmo não merecendo essa descrição, já que todos estão no mesmo barco patético do modo de vida americano e apresentam reações em cadeia que irão movimentar todo o filme,  como por exemplo a paixão avassaladora de Lester pela promíscua Angela, ou do Coronel homofóbico, vivido por Chris Cooper que, no final, revela-se um gay enrustido, inseguro como quase todos os personagens do filme e repreendido quando criança por um pai homofóbico como ele, provavelmente outro militar de carreira, que não suportava diferenças em sua América perfeita.

Terminado de apresentar minha visão social do filme, a visão de toda uma América criada em cima de ilusões baratas, criadas para impulsionaro capitalismo do país e enganar toda uma sociedade, pretendo, agora, mostrar minha opinião sobre o subtítulo do filme, que fez todos refletirem sobre o que quer dizer.
Look Closer (Olha mais de perto, traduzindo ao pé da letra) tem dois signifcados para mim, não sei qual o diretor  Sam Mendes prefere, acredito que sejam os dois, já que ambos parecem estar corretos  e já vi outros críticos compartilharem da mesma opinião comigo.
 1º Olhe mais de perto, nem tudo é do modo como você acha que é, como você vê nos filmes utópicos hollywoodianos, a sociedade vive uma ilusão de vida boa, com dinheiro extra no banco e dois carros em uma garagem espaçosa, mas esquecem de viver suas vidas como devem viver, casamentos saturados de mentiras, sorrisos falsos e traição, filhos traumatizados e problemáticos que preferem não ter os pais que tem, querem um “pai-modelo”, como Jane menciona no filme, pais que realmente se preocupem em como foi o dia do filho na escola e não só perguntem para fazer o social barato de cada dia. Olhe mais de perto e veja o que o conservadorismo que muitos nutrem até hoje pode trazer, pessoas frustradas fisica e mentalmente, pessoas como o coronel pai de Ricky Fitts, homofóbico, conservador e durão, que mais cedo ou mais tarde vão revelar quem realmente são, ou viver uma vida desgraçada até o dia de sua morte.

Olhe mais de perto, a beleza que todos almejam hoje em dia, a beleza de Angela Hayes é, em grande parte das vezes, cheia de podridão por dentro, mesmo que isso soa clichê, todos sabem que é a verdade, toda a futilidade e ignorância que recheiam pessoas bajuladas desde pequenas, convencidas de sua beleza, ou não, que usam isso apenas como escudo para sua excessiva falta de orgulho e insegurança extrema, machucando os outros ou usando-os para elevar seu ego constantemente e viver, mais uma vez a ilusão do sonho americano ou de qualquer outro sonho, o sonho de ser modelo, exceder os limites da beleza natural, da fama e dinheiro. Olhe mais de perto novamente e veja a beleza não só nas coisas que são logo de cara tão bonitas, como Angela Hayes, não estou falando da lamentável beleza interior, não, por favor, me refiro à beleza que todo o planeta nos oferece diariamente, nesse filme representado por um saco sendo levado por uma leve brisa, como se estivesse dançando, ou pelo pássaro morto no chão, ou pelo mendigo que congelou até a morte, coisas que a princípio parecem horripilantes, mas só é necessário que você olhe mais de perto.

Querendo finalizar essa minha modesta e leiga dissertação sobre um filme tão bem feito, gostaria de lembrar como é o impacto que todos esses personagens clichês tem em você, adolescentes inseguros, casais infelizes porém juntos, coronéis preconceituosos e que, no fundo são todos hipócritas e, também, inseguros? Tudo isso já foi visto centenas de vezes por todos nós, fãs de cinema, dezenas, centenas, milhares de vezes, certo? Em meu ver, não está tudo certo. O modo como vemos o modo de vida das famílias do filme faz com quem tenhamos certeza de que muitas outras na America vivam do mesmo modo. Não é a toa que esse é um dos filmes preferidos dos estadunidenses.
E se me falassem que esse filme mudou a vida de milhares de pessoas, eu não me surpreenderia nem um pouco. Nem um pouco.

Um comentário:

  1. Excelente crítica Hernann! Ficou muito boa mesmo, amor.. Espero que continue escrevendo e compartilhando comigo e com quem mais se interesse pela boa escrita as tuas coisas!
    Eu amo você seu hipócrita ♥

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