domingo, 3 de abril de 2011

O flautista dos portões do amanhecer.

O flautista dos portões do amanhecer apita e aperta com suavidade todas as notas de sua escala, 
rodopia e saltita por entre os arbustos verdes e com formas fálicas. Antes, atravessando árvores velhas, cobertas de insetos monstruosos e musgos venenosos, era possível ver a vivalma que habitava as redondezas, caçava e sustentava-se da benevolência divina da natureza, devolvendo o que consumira e desjejuando-se com ar e água pura e fria.
Hoje, do frio, só restara sua carcaça podre, carcumida por vermes insgnificantes, tão insignificantes quanto sua refeição e a refeição de suas crias, ninguém o caçara, comera, matara ou torturara, não! Escolhera isso, inocentemente, escolhera o sofrimento e a frieza da existência de todos os seres vivos que cobrem a face desse planeta, escolhera ser devorado pela tristeza, solidão, decepção, vermes, pessoas, animais e ignorância.
Agora nem o flautista dos portões do amanhecer consegue mais despertar a alegria da criatura, nem de toda a cidade que o idolatrava, os agudos de seu pífaro fazem acordar a angustia do defunto que jaz nas redondezas e o desespero dos moradores de sua cidadela natal, lugar aquele que outrora acolhera com tanto carinho e agrado o flautista e suas flautas e pífaros, esperando o amanhecer todos os dias, ansiosos com o som agudo e agradável, vindo do portão, que acordaria-os em poucas horas e os acompanharia pelo resto do dia naquele lugar que, agora, era engolido pela neblina pesada e sufocante de seus habitantes.

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