Surtei.
Eu estava praticamente enfartando, minha perna sangrava com a minha incisão feita a pouco, incisão essa que não tive coragem de continuar, a lâmina passara com força, mas no fundo minha mão não apertava nada, só apertava o cabo, não pressionava, tinha medo, medo da dor física usada pra acabar com a psicológica, medo dos sermões, do pensamento automático das pessoas, da julgamento que meu cérebro faria e já estava fazendo sobre tal atitude.
Estou tremendo e não consigo digitar nada, quero chorar mas não posso, mais cortes e sem pausa na dor. Queria estar sozinho aqui, queria ser diferente, queria morrer, acho. Não, talvez morrer seja radical demais até pra mim. Quero chorar, isso, novamente digo que quero chorar por semanas e colocar em dia tudo o que anda acontecendo, queria poder passar um canivete afiado por toda a extensão de meus braços e pernas e sair correndo de dentro de mim mesmo, sair correndo da juventude e do meu estado, da minha insegurança e da minha feiura, obesidade, burrice, inocência, ausência de talento.
Quero ver sangue, quero uma depressão profunda, quero motivos para poder reclamar como gente, não como um típico jovem clichê. Quero mulher e quero dinheiro. Mas pra que dinheiro quando se tem mulher? Talvez o mesmo interfira na qualidade das ditas cujas. Quero sentir a dor, sofrer fisicamente e perder litros de sangue, não quero tremer, e nem quero ficar com essa vontade de chorar impedida, como quando você vai espirrar e não consegue faze-lo. A sensação é pior. Minha vontade de gritar com todas as forças encontra-se suprimida novamente. A vontade de encontrar-me com a morte também.
Depois da tempestade vem a bonança. Só para os idiotas, os que enxergam beleza em tempo integral na vida e nas pessoas. Para mim, Eric C. Rockwell, depois da tempestade vem a enchente destruidora, arrasadora e assassina, vem a depressão e vontade de sangrar. Mas a bonança pode ser explicada, sim. Essa bonança nada mais é do que o nosso nível de adrenalina abaixando e tudo parecendo mais claro, veja só, já consigo digitar, ficar parado como uma estátua e aproveitar a música que toca nos meus ouvidos. Minha boca e membros encontram-se num interessante estado anestésico, como aquela sensação que temos depois da segunda cerveja, a boca macia e a mão mais aquecida, não bêbado, nem nada do tipo, apenas psicologicamente anestesiado, essa anestesia que não nos priva da dor, apenas nos acalma em sua brisa natural, fazendo-nos pensar mais lentamente, como se estivéssemos sobre efeitos da Cannabis Sativa, ah, a Cannabis.
Não quero mais escrever.
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