leon grita meu nome várias vezes do portão
e quando finalmente ouço e ele finalmente entra
começamos a falar de assuntos corriqueiros e
bobos
vamos esquecer assim que mudarmos cada palavra
me troco e saímos daqui o mais rápido
o possível
para entrarmos em sua casa e ele procurar
dentro de uma luva de boxe
uma pequena coisa da cor das fezes de algum
animal
de cheiro forte
e uso conhecido
e proibido
ao longo do mundo
ele começa o que alguns chama de
arte
no seu quarto
com sua irmã
mulher
e avô
sentados na sala
vendo tv
programas sensacionalistas e inválidos
que não valem a pena nem que tenha sintonizado-os
alguma vez na vida;
e sua irmã
sua maravilhosa
pura
rosada
irmã
entra no quarto
e nos assusta
quase nos flagrando
e flagrando seu inocente irmão.
mas não pega ninguém
e não vê não
ou fingi não ver nada
mas não importa para mim
nem para ele
e ela entrega o presente de aniversário dela para ele
uma calça cara
“ahh olha só, valeu tha”
“haha, nada demais, le”
e eu apenas admiro-a lentamente
tentando salvar um pedaço de seu rosto na minha mente
e apreciar um pouco os olhos azulados dela
mesclando com sua pele branquíssima
e sua boca rosada e linda
:se tem algo lindo nesse mundo
:se tem algo lindo nesse mundo
algo que vale a pena que soframos
são as bocas rosadas dessas mulheres:
e ela sai do quarto timidamente
e olho para o chão timidamente
enquanto ela volta para seu canto no sofá da sala
e com os programas sensacionalistas que não valem a pena serem sintonizados
:acho que são sintonizados, não sei:
leon sai e termina sua
arte
lentamente
e despreocupadamente
sem medo dos problemas
do desemprego
dos estudos
sem medo da vida
e muito menos da morte
apenas continua enrolando e
lambendo
aquele pequeno papelzinho
um guardanapo de lanchonete
cortado com saliva
guarda no bolso aquilo e descemos as escadas
dou um tchau tímido à sua família
e sua irmã
com aquela boca inesquecível
e olhos da cor do paraíso
e tenho vontade de agarra-la
mas volto à minha realidade
e saimos da casa
e meu coração volta a bater normalmente novamente
livrando-me do nervosismo que é em situações como
esta.
andamos uns metros e acendemos sem pestanejar aquele comprido
e gordo
baseado
e passamos de mão para mão
enquanto subimos e descemos ruas e mais ruas de nosso bairro
e me canso rápido
e sinto o cheiro forte que vem das minhas mãos
e da minha boca
e do ar
a nossa volta
e minhas pernas já estão mais amaciadas
minhas mãos aquecidas e úmidas
meus olhos pequenos e marejados
e percebo que esse é o melhor momento que tenho desde
muito tempo
e tento aproveitar enquanto estamos a caminho do metrô
encontrar um pessoal
alguns que vão sumir da minha vida em pouco tempo
outros que vão demorar para sumir
mas vão sumir de qualquer forma;
e uma garota diabólica me encara e canta algo sem sentido para mim e
para leon
e o rosto dela olhando para os meus
olhos
marejados
enquanto tentava não olhar para ela
e a estação parecia não chegar nunca;
nunca;
e nunca;
e quando saímos do trem
a corja
de pessoas
ao redor de nós
me dá vontade de vomitar
e sinto como se não conseguisse
lidar com aquela realidade
de pessoas ridículas
e no caminho para aquele bar
sinto que vou me arrepender de tudo aquilo
mas leon e eu continuamos caminhando por lá
com nossas cabeças flutuando por cima de nós
papeando coisas
sem muita profundidade
como nos velhos tempos;
ficamos naquele bar de esquina
por horas
no frio nórdico que fazia
sentindo cheiro de cigarros
etílicos
bucetas novas
rosas
que nunca teremos
se esfregando nas mãos de outros sujeitos
metidos a marginais
a bêbados
a viciados e conseguindo
tudo o que querem
sempre
e eu e leon continuamos tentando não falar muito
tentando sair de perto do cheiro de tabaco vagabundo queimado
mas cada vez sendo mais bombardeados com esse cheiro
e o excesso de pessoas ao nosso redor
conhecidas e não conhecidas
decentes e marginais
me fazem ter mais crença na minha teoria
de que todos os bares
de todos os tipos
só são o refúgio
dos mais diferentes tipos de imbecis
que temos nas nossas cidades
e realmente me sinto inferior a todas as outras pessoas que conseguem se divertir
fora dos bares
e me sinto mal por haver tantas outras pessoas passando por nós
em seus carros e motos
com suas famílias e mulheres e filhos e acompanhantes e transas casuais e amigas de foda
e me sinto envergonhado porque eles estão olhando para nós
cada um de nós tentando ser um melhor que o outro
em um bar semi-limpo de uma cidade toda suja;
conversas sobre brigas e ressacas são predominantes em recintos assim
cheias de exageros e gírias
execráveis
cheios de garotos da periferia que conseguem tudo o que querem
usando os mais diferentes meios
-legais ou ilegais-
e nunca tomando em seus
cus.
e me sinto mal novamente pensando nisso
a vontade de voltar pra cá era forte
e comento com leon sobre isso
que ainda estava preso em seus devaneios esfumaçados
“é, vamo”
responde cansado
e voltamos para nosso bairro
quando sentimos que nosso momento em um lugar daqueles
já passou há muito tempo.
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