segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Deus e o Diabo Na Terra do Clichê.

Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa, o cara fez um maldito monólogo sobre como eu tinha ferrado com a vida dele em todos os sentidos possíveis. Eu, já chumbado, não estava prestando atenção nenhuma no que o pobre diabo falava e só concordava com um sorriso amarelo e, regularmente, pedia desculpas com a voz bem baixa e rouca, com preguiça de virar a cabeça.
"Seu filho da puta, você pegou ela e nem ao menos pensou em mim um só segundo! Esperava isso de todo mundo menos de você, seu lixo." pelo que eu me lembro ele estava falando algo assim, já havia bebido demais e suas frases não faziam o menor sentido, e eu também não estava fazendo muito esforço pra entende-las. Enchi o saco e saí de onde estava, fui pra rua e me deu vontade de fumar algum cigarro, apesar de detestar cigarros. Subi a rua em direção ao prédio, lá peguei a minha nova bicicleta (na verdade num era muito nova, mas havia reformado-a a pouco) e saí por ae dando umas voltas pelas ruas mais próximas, pedalar sempre me deu forças pra encarar mais tranquilamente as decepções que eu causo nas pessoas e que ocorrem comigo mesmo, alguns bebem, outros fumam, outros cheiram até abrir um buraco no cérebro, eu simplesmente pedalo até minha perna falhar. Lembro-me de ter pedalado por umas boas 2 horas a fio, sem parar nem pra beber água ou pra arrumar a bunda naquela banco incrivelmente desconfortável que eu tinha ficado com preguiça de trocar por um melhor. Depois disso só me lembro de um estalo aterrorizante e de sentir minha cabeça voar 57 metros em dois segundos.
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Cheguei em casa no começo da madrugada e deitei na cama, não sem antes colocar música no último volume, nem queria saber o que era, coloquei pra tocar aleatoriamente e deitei no sofá, olhando pra tv desligada e vendo meu reflexo mórbido e doentio na tela pequena daquele miserável aparelho que havia pegado no lixo mais próximo, bem vintage.
Todo o meu apartamento alugado tinha um ar vintage, eu andava muito sem grana e tive que implorar pros meus pais darem um pouco de dinheiro, mesmo tendo saído de casa sem a aprovação deles, diziam que eu ia morrer de fome e todo esse assunto de pai que a gente não dá nem um saco de merda em troca. Não preciso dizer que eles novamente estavam certos e eu andava passando fome ultimamente, e mesmo assim continuava uma bola de banha nojenta.
Me assustei com o som do Stooges começando do nada e me veio a idéia de ir na casa de alguém pra comer alguma coisa decente, vesti alguma roupa simples, um pouco de perfume pra ficar mais apresentável e 10 mangos no bolso, coloquei uma camisinha no outro, mesmo sabendo que ela ia morrer lá dentro. Olhei pro espelho e fiquei me admirando por uns 2 minutos.Pensei. Tirei a roupa recém perfumada, deitei na cama e fiquei olhando pra lâmpada até minha retina se reduzir a nada.
Acordei tarde pra caramba no outro dia e decidi ficar lendo Bukowski ao som de The Who, coisa bem clichê, mas adoro o clichê. Depois de umas horas fazendo isso, comi e fui pra rua, procurando algum bar com algum conhecido.
Entrei Kahuna Mahuna's e liguei pra alguns conhecidos, esperei os queridos chegarem e tivemos uma noite agradável conversando sobre todo tipo de cocozagem que recém-adultos, ou melhor, ex-adolescentes podem conversar. Todos ficaram bêbados que nem uns desgraçados, mas me contive em uma ou duas cervejas, me arrependi profundamente logo depois que o primeiro vomitou há 2cm da minha perna, acertando minha meia quase que inteiramente. Acontece, nem fiquei puto, mas esfreguei a meia na cara dele, nem deve ter sentido.
Foi depois de alguns minutos que percebi que não havia nenhuma garota naquela mesa inteira, mais de 8 marmanjos e nenhum par de coxas lisas, brancas e carnudas. Não era eu que ia correr atrás, era mais fácil eu me jogar na frente de um Maserati do que fazer isso, não sei até hoje como consegui transar, mas sei lá. Mandei o mais extrovertido ligar pra alguma amiga em comum e traze-la, mas todos já estavam de saída e nem ao menos ofereceram uma maldita carona, não que eu fosse aceitar de qualquer modo, mamados do jeito que estavam era preferível eu sair rolando morro abaixo até chegar em casa. Descartei a hipótese.
Decidi ir no banheiro dar uma urinada, logo que cheguei  tropecei na maior poça de vomito já registrada pela humanidade e meti minha mão glamurosamente naquele pedaço do inferno, quando fui levantar, meu pé escorregou no chão molhado e espatifei a outra mão com graciosidade no outro lado do inferno, fazendo respingar duas perfeitas gotículas de inferno, uma no meu olho, outra no meu dente. Cuspi, esfreguei e dei risada por uns 5 minutos, passei mais 5 limpando a sujeira e esqueci completamente o que havia ido fazer naquele lugar.
Já que estava sozinho, não conhecia ninguém e não ia fazer nada amanha, decidi ficar bêbado, minha casa situava-se 3 quarteirões depois do bar, estava sossegado. Pedi um whiskey duplo estilo cowboy, nunca tinha pedido isso em um bar e achava muito estiloso quando o faziam. Era ótimo, ainda fiz uma cara de misterioso enquanto tomava-o bem lentamente e pedia outro e mais outro. Comecei a reparar o número de fêmeas que me rodeavam naquele estabelecimento, não tinha mais nenhum cara, ou garota acompanhada, todas estavam lá, bebendo e pedindo pra alguém pagar bebidas pra elas, "Agora sim é minha vez" pensei, talvez fosse. Escolhi uma loira de olho azul e uma boca rosa que fazia qualquer um ficar aos seus pés, não era a mais linda e nem a mais feia, tinha visto ela beber uns 3 drinks, então já não devia estar num nível alto de sobriedade.
Já haviam se passado uns 5 minutos desde que havia começado a conversa mais idiota do mundo com ela e realmente estava empolgado, mais nervoso que um pastor no corredor da morte, suando mais que um pugilista depois de 15 rounds da sua pior luta e podia sentir minha barriga tremendo e as gigantes gotas de suor descendo por todo o volume dela, devia estar com pizzas enormes no suvaco, mas não podia fazer nada, ia me dar bem, finalmente.
Luiza e eu decidimos ir pra fora, perto do carro dela (inventei que tinha deixado meu carro na garagem, já que morava lá perto) conversamos mais alguns poucos minutos e pulei dentro da boca dela, minha língua já ia roçar na dela, quando a mesma simplesmente recuou totalmente e senti suas mãos me empurrando com força, fazendo minha bunda bater com força na porta de seu carro. "QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?!", "É, eu não, achei que você.....desculpa. Por favor, pelo amor de Deus."- sim usei em vão, desculpa também. "VAI EMBORA, SEU PORCO SUADO, NOJENTO!!!"
Caralho, aquilo foi foda. Nunca consegui levar numa boa a humilhação de levar um fora, nunca consegui levar numa boa qualquer tipo de humilhação, sempre quis agradar os outros pra eles não falaram por trás e ficarem rindo de mim depois. Mas era impossível.
Voltei pro bar com a sensação de que até os ácaros daquele lugar estavam olhando e rindo de mim. "É bom você sair daqui, aquela loura é do Miguel", falou o meu companheiro de longa data, Pedro, o barman. Miguel era nada mais, nada menos do que o filho do delegado, o sujeito mais corrupto daquela droga de rua, alias, região...por que não dizer cidade? O cara tinha estourado a cabeça de um de seus companheiros só porque ele tinha brincado com a hipótese deles dois fazerem um ménage com essa garota, a Luiza, mas disso vocês dois já devem saber, não é? Vocês sabem de tudo sempre, mesmo que não façam nada pra mudar.Mas voltando ao ocorrido...Tudo aquilo estava clichê, clichê demais pro meu gosto, mas não sei como, eu esqueci completamente de tudo e voltei a pensar em outras coisas. Não tinha como ficar pior, pedi o que tinham de mais barato e com bastante álcool, bebi umas 4 doses de uma vez, não sei nem como faria pra pagar aquilo no final do mês, mas nem imaginei isso na hora. Levantei pra mijar e tudo subiu de uma só vez na minha cabeça, devo ter ficado parado uma eternidade olhando pra uma bela garra de Absinto que flutuava na estante, fui pro banheiro e, com a pior pontaria de todas, consegui fazer o que desejava, não sem antes molhar toda a região da virilha e minha mão direita com um nível considerável de urina amarela e viscosa. Olhei pro espelho e meus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas, não sei porque, mas queria muito chorar, sentar no banheiro e dormir uns 3 dias.
Voltei pro meu lugar no bar e esperei um tempo até melhorar e ir pro apartamento. Nesse pequeno intervalo, um "semi-mendigo" adentrou ao recinto e sentou bem ao meu lado, nem liguei, até que ele decidiu abrir a boca  e se apresentar "É Paulo, cara", disse seu nome sem nem perguntar, "Eric", respondi com cansaço na voz. Ele veio conversar comigo, se é que pode-se chamar aquilo de conversa...

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Acho que meu registro inteiro está ae, não tenho motivo algum pra mentir, ou vocês dois acham que eu tenho? Espero que tenham datilografado tudo no papel. Adoro essa palavra, diga-se de passagem. Eu ainda estou um pouco cansado e talvez haja mais detalhes que esqueci de contar, mas está tudo aí na mão de vocês, as partes mais importantes pelo menos, eu juro. Sei que vocês dois assistiram a tudo e sabem que eu estou certo, não mereço o que falavam que me aguardava aqui, ou mereço?

Até mais.

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