"Alô, Eric? Vem aqui em casa pra gente conversar, saudades de ver e falar com você, vários assuntos em particular pra gente colocar em dia. Vem amanha a tarde, qualquer horário pra mim ta bom, não vou fazer nada amanha. Beijão, lindo, até amanha!" - PIIII - Finalmente a secretária eletrônica me dava alguma notícia boa, alias, finalmente tinha alguma notícia boa depois de um longo intervalo se fodendo.
Naquela tarde eu não tinha ído pra faculdade, naquela semana eu estava deprimido demais pra pensar até em tomar banho, minha barba estava do tamanho da de um lenhador canadense e meu cheiro pior que o de um cachorro de rua podre que nem soube o que era água em vida. Foras, humilhações, brincadeiras de mal gosto e ironias conseguiram acabar comigo naqueles dias, não aguentava mais nenhum ser humano por perto.
Havia conseguido levar dois tiros no saco de duas garotas diferentes: a mais zoada e melhor da faculdade. Já esperava por isso, mas nunca estou preparado para o resultado final. Sei lá o que eu to falando.
Nesse mês tinha abandonado a aula de música, o curso de francês, a academia (que não me mudava em nada, mesmo, estava a mesma banha deprimente) e o psicólogo. Mas pensando bem eu ia no psicólogo só pra ver como teria que me virar no dia-a-dia depois que abrisse um consultório ou coisa do tipo, se é que isso ia acontecer algum dia.
Fiquei estonteamente quando ouvi aquele recado, era uma garota que eu havia ficado há muito tempo e eramos muito amigos até hoje, apesar de ter perdido o contato. Sempre achei que poderia tentar de novo que ela ia aceitar, já que amizade colorida nunca se apaga completamente. Fiquei pensando nela o dia inteiro, quem sabe eu não tinha realmente uma chance de me dar bem amanha? Bom, tomara que sim.
Fui no mercado comprar alguma coisa pra comer, não estava inspirado pra cozinhar nada decente, então fui comer porcaria pelas ruas. Comprei batata frita, frango a passarinho, purê e coca-cola, levei pra casa e ataquei metade de cada item, não sem antes parar pra comer um churrasco grego obrigatório na rua de cima. Tomei banho, banquei o vagabundo na internet por umas 4 horas a fio, escrevi alguma bobagenzinha só pra descontrair e dormi que nem um recém-nascido recém-mamado.
Acordei muito cedo, no horário certo pra ir pra faculdade. Fechei o olho de propósito tentando enganar meu cérebro e enrolei por uns quinze minutos, quando tive que levantar correndo pra ir no banheiro achando que ia me cagar todo, para a minha a surpresa, vomitei 5 vezes seguidas, jatos hollywoodianos, devia ter filmado. Aquele purê estava até verde quando eu comi, mas na hora da fome e da preguiça eu engoli tudo e nem reparei de verdade naquilo, devia saber que ia me foder, pra variar.
Passei o resto da manha deitado no meu sofá cheio de buracos e rasgos de unhadas do meu antigo gato, que tive que deixar na casa dos meus pais, porque ou eu tinha dinheiro pra alimentar o coitado, ou pra me alimentar. Escolhi a pior opção e decidi viver...gordo.
Estava passando uma maratona do Looney Tunes no Cartoon Network da puxa de corda que fiz do vizinho, após colocar cinquentinha no bolso do síndico, o sinal era ótimo e ninguém nunca ia descobrir mesmo. Me matava de rir com aqueles o Coyote levando no rabo toda hora, dava um dó do caramba, ou quando o Pernalonga e o Patolino ficavam decidindo se era temporada de caça ao pato ou ao coelho, mistura de bobeira com nostalgia e inconsciente. Terminei de ver uns episódios rápidos de Johnny Bravo, um clássico, comi uma salada bem leve pra não acontecer mais nada e tomei um suco duvidoso que estava na geladeira há um tempo considerável.
Depois de me trocar, vi que meu frasco de perfume havia acabado, droga, era o que eu mais gostava e não encontrava mais daquele, nem nos genéricos, era uma nota um original e eu andava mais quebrado que o Primo Desossado. Lixo, só queria ficar mais apresentável mas havia gastado as últimas gotas do perfume há 4 noites atrás, quando me encontrei com uns queridos no Kahuna Makuna's, mas deixa pra lá, é só caprichar no desodorante e tentar não suar que nem um gordo, coisa que é impossível. "Vou parar de ser pessimista."- pensei, e fui em direção ao metrô.
Me sentia meio fraco ainda por causa do mal estar que tive de manha, mas ia conseguir aguentar até o final do dia, havia tomado alguns remédio que acreditei que acabariam com aquilo e, psicologicamente, me sentia melhor. Entrei no metrô, fiquei ouvindo um celtic punk qualquer pra dar uma agitada no meu dia, dormi e parei na Barra Funda, era pra ter descido na Sé.
Demorei mais uma boa uma hora pra chegar na estação correta, sem bateria no iPod, me senti verdadeiramente nu sem ouvir música no metrô, costumes que viram vício sem nem percebermos, se bem que ninguém percebe que está viciado até a hora em que fica sem o que a vicia, o que eu to falando?! Desci, estava na Zona Sul, amo aquele lugar. Bom, melhor que a Leste com certeza é!
Mandei uma mensagem pra minha amiga falando que estava chegando na casa dela, mensagem essa que foi rapidamente respondida com as palavras mais ou menos assim "Vou demorar, tive que sair rapidinho e já vou voltar. Beijos <3" - quando li isso imaginei que esperaria 20 minutos, não duas horas embaixo do sol, sem perfume e com o pouco de desodorante que havia passado, considerando que não esperava por tal situação
póros do meu corpo, devido ao suor.
Conversamos por umas belas três horas sem parar, rimos demais, uma ótima conversa, como nos velhos tempos, tinha muita saudades dela já que costumava visita-la toda semana há uns 3 anos, e hoje em dia eu nem lembrava mais o caminho pra chegar em sua casa. "Puta, quanto tempo que eu não via tv com você, a gente só ficava falando bobagem de qualquer coisa que passava ae, fazia graça com tudo que dava pra fazer haha", "Senti tanta falta de você, Ric, a gente se via toda hora, era muito legal", ficamos nesses papinhos de amigos amantes uns 15 minutos, dando risadas nostálgicas, até que fui me aproximando um pouco mais, disfarçadamente. Senti que estava suado demais, fiquei desesperado e falei que ia no banheiro lavar a mão de rua, havia esquecido completamente mesmo.
Tranquei a porta, arranquei a camiseta, abaixei as calças e comecei a dar um banho de gato no meu corpo inteiro, estava nojento, meu Deus, passei em água em TODAS as partes que poderia passar, todas as que poderiam me ser úteis hoje, fiquei uns 2 minutos fazendo isso, peguei o pano de rosto mais próximo e sequei o meu corpo banhoso inteiro com aquilo, fiquei com dó do paninho, era tão fofinho com uns gatinhos laranjas bordados, mas mulheres em primeiro lugar. Passei um litro do desodorante do irmão dela que, por sorte, era o mesmo que o meu e voltei pra sala com ela.
"Então, e aquele seu amigo lá, Carlos eu acho, você vê ele sempre?" "Ah, não sempre, mas de vez em quando vejo sim" - respondi, já arrependido de tudo. "Ah meu, mó lindo ele, traz ele pra cá da próxima vez, aí eu trago a Belita e a gente fica de boa sozinhos aqui" - ahá - ".......Pode ser, legal."
Mais uma hora de conversa, ou melhor, monólogos de sua parte, fiquei quieto e só concordava e quando perguntava eu falava que tava brisando no que passava na tv ou que tava cansado por causa do sol. Falei que ia embora já, tinha que acordar cedo porque tinha faculdade e já estava ficando tarde, fui no banheiro, dei uma bica na privada e outra na pia, dei mais duas na pia, me assegurei de que havia soltado-a da rosca parcialmente, dei mais uma com o bico do tênis usando toda a força das minhas fortes pernas de quem anda de bicicleta todo dia por algumas horas, e fui embora agradecendo a alguma força maior por me fazer tão infantil.
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